Proposta de comunicado do MPLA

Cota
0034.000.043
Tipologia
Comunicado
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
1962
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

 [Sem data – antes da fuga de A. Neto] MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA MPLA 51, Avenida Tombeur de Tabora – C.P. 720 LÉOPOLDVILLE A luta que o povo angolano trava com o opressor colonialista e fascista tem um eco elevado na voz dos seus intelectuais. Paralelamente ao fogo popular foi-se criando nos últimos dez anos, com uma coesão profunda entre o povo e estes, uma unidade que se viria [a] traduzir na estruturação de uma literatura nova para o mundo: a literatura angolana. Surgiram poetas, contistas, prosadores, críticos, descontentes e inconformistas levantando a realidade do seu povo, percursores do deflagrar da luta em 4 de Fevereiro de 61. Cada intelectual angolano é um homem do povo, pela terra livre de Angola. Aproveitando a visita a Angola da missão diplomática brasileira em Portugal e porque fechadas todas as portas de um convívio com a cultura de outros países, ­incluídos os mais autênticos valores portugueses, os escritores angolanos contactaram com o adido cultural daquela Embaixada, Prof. Thiers Moreira. A polícia política portuguesa (PIDE) acusou-os imediatamente de atentarem contra a segurança externa do estado tentando estabelecer o diálogo com os seus colegas do Brasil. E com este pretexto foram encarcerados os Poetas António Jacinto (a voz mais alta da poesia revolucionária da angolanidade), António Cardoso, Henrique Guerra, Aires Almeida Santos, Tomás Jorge, os Contistas Luandino Vieira, Mário Guerra, somando-se aos já detidos Poeta Agostinho Neto (líder do povo angolano e Presidente de Honra do Movimento Popular de Libertação de Angola), P. Joaquim Pinto de Andrade (Doutor em Teologia e Membro do Conselho Executivo da Sociedade Africana de Cultura – SAC), Jornalistas Domingos Van-Dunen e Helder Neto, Vieira Dias e Gabriel Leitão (componentes e criadores do conjunto musical angolano N’Gola Ritmos). Os repetidos apelos do MPLA e a pressão de altas personalidades do mundo da cultura internacional em favor do Dr. Agostinho Neto, permitiram que fosse ­transferido da prisão onde se encontrava para uma residência vigiada em Lisboa. Entretanto o Poeta António Jacinto, que para evitar maior número de prisões e o recrudescimento das torturas, assumiu a inteira responsabilidade dos actos imputados aos companheiros, sofre, com António Cardoso, os mais cruéis maus-tratos perigando as suas vidas. Intelectuais Brasileiros! Intelectuais de todos os países! Povo livre de todo o mundo! O regime de Salazar e sua polícia inhumana [sic] visam a destruição física de todos os intelectuais angolanos que não conseguiram escapar à sua fúria devastadora. Pretende arrasar o património cultural de um povo, impedindo todas as suas ­autênticas manifestações e calar nas prisões até à sua liquidação os seus mentores. Pretende manter por todos os meios o obscurantismo, sufocar por todos os processos a força nova de um contributo cultural ao mundo. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) denuncia mais este crime de lesa-Angola e lesa-Humanidade. Apela para a vossa certeza de homens livres para que protesteis, exijais por ­telegramas, cartas, marchas, perante o Presidente da República Portuguesa e Salazar contra a destruição da cultura angolana; contra a prisão dos escritores, artistas e milhares de angolanos detidos; para que seja enviado um corpo médico internacional que observe nos locais as condições em que se encontram os nacionalistas angolanos, prisioneiros. Léopoldville, O COMITÉ DIRECTOR [Bilhete manuscrito de Costa Andrade para Viriato] Caro Viriato: Vai uma cópia do comunicado que o Mário me propôs que fizesse e que vós ­deveríeis aprovar. Por barco segue a documentação a que me refiro na 1ª das 3 cartas que hoje te envio conjuntamente. Desculparás o tom da segunda, mas na verdade desespera, depois de tantas voltas, de tantas conversas, ouvir reacções como ouvi à notícia que junto. O que provocou tal reacção foi a referência a um possível acordo – Ben Kheda – Holden. É urgente uma declaração vossa e se possível o apoio do GRA do MPLA. Aguardo ansiosamente notícias tuas. Crê-me e aceita um forte abraço do [assinatura de Costa Andrade]

Proposta de Comunicado do MPLA, com um apontamento manuscrito de Costa Andrade no fim (Léopoldville)

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