Fundo ATD

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Tendo começado por se constituir a partir do material produzido no âmbito do "Projecto Trilhos", o Fundo ATD inclui actualmente toda a documentação de interesse histórico de que Associação Tchiweka de Documentação é proprietária. Essa documentação, adquirida por diversas vias, foi quase sempre generosamente cedida por pessoas que estiveram directa ou indirectamente envolvidas na luta pela independência das colónias portuguesas. Em alguns casos, a documentação entregue pôde ser tratada e classificada como uma "colecção"; noutros casos foi incluída na "documentação vária", mas a sua origem é assinalada sempre que possível.

O Fundo ATD inclui, até ao presente, os seguintes Sub-Fundos:


Projecto Trilhos

Reúne todo o Arquivo resultante do Projecto "Angola – Nos Trilhos da Independência" (2010-2015), nomeadamente documentação audiovisual (entrevistas, registos audiovisuais, registos sonoros) e derivados (documentos textuais resultantes das transcrições) e ainda os documentos textuais, fotográficos e outros entregues pelos entrevistados no âmbito do Projecto e que não constituam Colecções individualizadas.


ATD / Documentação vária

Neste Sub-fundo se reúne documentação de todo o tipo, cedida por diversas entidades individuais ou colectivas, ao longo dos anos de actividade da ATD, sempre que não se justifique a constituição de um Sub-fundo ou Colecção individualizada.

 


Sub-fundos pessoais

Organizados com base na documentação reunida e cedida pelos próprios (ou por outros em seu nome) quando o volume e/ou o tipo de documentação justifiquem tratá-la como uma "colecção" individualizada.

 

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    Colecção ATD / Albertino Almeida

    Albertino dos Santos Fonseca Almeida (n. 1936 em Marialva, Portugal) estudou Direito em Coimbra, cumpriu o serviço militar em Angola (Damba 1961-1963) e formou-se depois na Universidade de Lisboa. Regressou a Angola como magistrado do Ministério Público. Exerceu várias funções, numa carreira marcada por episódios de confronto com a situação colonial. Após 25 de Abril de 1974 participou na criação do Movimento Democrático de Angola (MDA), sendo co-autor e editor do Relatório sobre os graves incidentes nos muceques de Luanda em Julho de 1974 (Massacres em Luanda, África Editora, 1974). Foi membro da "Comissão de Inquérito ao Campo de S. Nicolau". Esteve presente nos acordos de Alvor (Janeiro de 1975) como assessor jurídico de Agostinho Neto. Após a nomeação do Governo de transição trabalhou com Lopo do Nascimento, primeiro-ministro pelo MPLA. Foi também o primeiro Embaixador de Portugal em Moçambique (1975). O núcleo principal da Colecção ATD /Albertino Almeida, agora on-line, é constituído por depoimentos, correspondência e um relatório da "Comissão de Inquérito ao Campo de S. Nicolau", criada após o 25 de Abril para averiguar crimes cometidos naquele Campo pela PIDE-DGS e as autoridades coloniais, mas desactivada em Agosto. Outros documentos da Colecção Albertino Almeida referem-se à sua acção em 1968 no Moxico, contra a DIAMANG, enquanto Ajudante do Procurador da República. A documentação foi entregue por Albertino Almeida à ATD em 2012, quando foi entrevistado no âmbito do Projecto Trilhos.

     

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    Colecção ATD / Marga Holness

    Margarita Holness, conhecida como Marga Holness (193…-2016), cidadã britânica, militante anticolonialista, trabalhou para o MPLA em Dar-es-Salaam na década de 60, como tradutora de programas de rádio, boletins e relatórios. Após a independência, foi viver para Angola, com o marido e a filha, tendo funções de tradução e secretariado junto do presidente Agostinho Neto. Mais tarde regressou a Inglaterra, onde continuou a trabalhar para Angola, ainda antes do estabelecimento da embaixada angolana em Londres. Traduziu a poesia de Agostinho Neto e obras de outros escritores angolanos. Publicou livros de informação sobre Angola e de denúncia do apartheid. Em Maio de 2012 entregou à ATD várias pastas com centenas de documentos, incluindo material de imprensa (recortes, publicações periódicas). Parte da documentação são cópias das traduções realizadas para o MPLA em Dar-Es-Salaam, sendo outra parte importante os dossiers temáticos organizados pela própria Marga Holness, nomeadamente sobre a UNITA, a FNLA, o julgamento dos mercenários em Luanda (1976), a "Comissão Internacional de Inquérito aos Crimes do Apartheid na África Austral" (1981) e outras questões relativas à África do Sul e Namíbia. O inventário e digitalização da documentação estão ainda em curso.

     

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    Colecção ATD / Luandino Vieira

    Luandino Vieira / José Vieira Mateus da Graça (n. 1935 na Lagoa de Furadouro, Portugal) viveu desde a infância em Luanda, na fronteira entre "o asfalto" e "o museke", o que marcaria profundamente a sua escrita e a sua militância política.
    Detido e solto em 1959, voltou a ser preso em 1961 por defender, com o MPLA, a independência de Angola. Condenado a 14 anos de prisão, foi enviado em 1964 para o Campo prisional do Tarrafal (Cabo Verde) saindo em liberdade condicional em 1972. Entretanto, o seu livro "Luuanda" ganhou um Prémio da Sociedade Portuguesa de Escritores (1965), o que resultou na extinção desta pelo governo de Salazar.
    No Tarrafal conseguiu preservar a sanidade mental e a criatividade literária. Publicadas mais tarde, as obras ali imaginadas deram a Luandino Vieira um lugar cimeiro na literatura angolana.
    Regressou a Angola em 1975. Foi co-fundador da União dos Escritores Angolanos (Secretário-geral em 1975-1980 e 1985-1992), Director da Televisão Popular de Angola (1975-1978) e Director do Instituto Angolano de Cinema (1979-1984). Vive em Portugal desde1993.
    Em 2006 venceu o Prémio Camões (que recusou) e em 2008 recebeu o Prémio Nacional de Cultura e Artes (Angola). O livro "Papéis da Prisão (1962-1971)" (2015) é um importante testemunho dos anos passados na Cadeia de S. Paulo e no Tarrafal.
    Luandino Vieira é membro da Associação Tchiweka de Documentação.

     

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    Colecção ATD / Mbeto Traça

    Mbeto Traça / Humberto Monteiro Traça (n. 1941, Sumbe, Angola) viveu no Kwanza-Sul e Luanda até ir para a Universidade em Portugal. Em 1963 foi preso em Lisboa pela PIDE, por pertencer ao MPLA e por tentativa de fuga. Foi libertado e incorporado compulsivamente na 1ª Companhia Disciplinar do exército português. Desertou em Junho de 1964, conseguindo chegar a França com um passaporte falso. Dali partiu para o Congo-Brazzaville, juntando-se às forças de guerrilha do MPLA, tendo actuado em Cabinda (II Região militar) e no Leste de Angola (III Região militar). Foi também representante do MPLA na Argélia e na Tanzânia.
    Voltou a Luanda em Novembro de 1974 com a primeira delegação oficial do MPLA, chefiada por Lúcio Lara. Na transição para a Independência, foi delegado do MPLA no Kwanza-Sul e membro do Estado-Maior da Frente Centro-Sul das FAPLA.
    Após a Independência, foi delegado da TAAG e depois regressou às Forças Armadas. Esteve na Força Aérea, coordenou a Comissão instaladora da Academia das Forças Armadas Angolanas (FAA) e foi Director geral do Instituto de Defesa Nacional das FAA. Tem a patente de general. Foi adido militar na embaixada de Angola em Portugal.
    Mbeto Traça é membro da Associação Tchiweka de Documentação.

     

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    Colecção ATD / João Vieira Lopes

    João Baptista de Castro Vieira Lopes / Bavil (1932-2012), médico e nacionalista angolano nascido em Luanda, fez estudos universitários em Coimbra e Lisboa.
    Cedo teve actividades políticas, no MUD-Juvenil (Coimbra), na Casa dos Estudantes do Império, no Clube Marítimo Africano (Lisboa) e na organização clandestina do Movimento Anti-Colonialista (MAC). Em 1961 co-organizou a fuga de Portugal de cerca de uma centena de estudantes africanos.
    No final desse ano integrou em Léopoldville/Kinshasa o Comité Director do MPLA e o Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados (CVAAR).
    Em 1963 deixou essas actividades e foi exercer medicina na Argélia. Colaborou no Centro de Estudos Angolanos. Regressou ao MPLA no final de 1964, assumindo nos anos seguintes a responsabilidade dos Serviços de Assistência Médica Militar na 2ª Região (Congo-Brazzaville e Cabinda).
    Em 1974 participou na criação da "Revolta Activa" (tendência que se opunha à liderança de Agostinho Neto) e foi um dos seus representantes no fracassado Congresso de Lusaka. Após a independência de Angola foi médico, professor universitário e dirigente de organizações cívicas como a ACA (Associação Cívica Angolana) e a Liga Africana.
    Em 1992, nas primeiras eleições gerais, foi eleito deputado independente da Frente para a Democracia, permanecendo 16 anos na Assembleia Nacional.
    Faleceu a 10 de Maio de 2012. João Vieira Lopes foi membro da Associação Tchiweka de Documentação.