As Forças e a táctica da organização patriótica do nosso povo

Cota
0101.000.009
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
Fev 1968
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Acesso
Público
AS FORÇAS E A TACTICA DA ORGANIZAÇÃO PARTIÓTICA DO NOSSO POVO A história do Povo Angolano diz-nos que a resistência, a luta contra o invasor inimigo, contra o colonialista português, data de longos anos, de séculos mesmo; ela diz-nos que esta resistência se manteve por vezes durante muitos anos seguidos, 5, 10, 20, 40 anos mesmo. O Povo Angolano nunca se deu por vencido nesta guerra contra o invasor. Depois da última Grande Guerra de 1939-1945, os Povos Oprimidos da África, retomando a consciência das suas forças, dos seus direitos de homens, lançaram-se de novo na reconquista da sua liberdade. Assistimos então a um Movimento que em menos de 15 anos ira conduzir a independência política de quase toda a África. Angola, os Povos de Angola, sujeitos a um colonialismo mais feroz, mais intrangigente também se lançaram em luta – somente esta luta teve, por força das circunstâncias que tomara aspectos variados, camuflados, desde a resistência passiva a luta liberaria - , até que na manhã de 4 de Fevereiro de 1961 ele se lança deliberadamente, abertamente e de novo na luta armada, pronto a expulsar e de uma vez para sempre o teimoso parasita colonialista português. Esta nova etapa, decisiva da nossa luta, dura já sete anos. Uma breve analise destes últimos anos de luta armada permitir-nos-á não só apreciar o caminho andado, isto é, admitimos os êxitos e insucessos realizados, mas também e sobretudo analisar as perspectivas futuras. Embora a chama, que viria incendiar toda planície Angolana, estivesse em todos os corações de todos os patriotas Angolanos, foi numa cidade, na cidade de Luanda que na manhã de 4 de Fevereiro de 1961 os patriotas deram o sinal do alarme – ao ataque. E quem foram esses patriotas que tão generosamente aceitaram pagar com a própria vida para que a planície fosse incendiada? O mesmo é perguntar: quais e as forças patrióticas que estiveram em acção? Foram camponeses sim (gente do mato, como costuma dizer-se) mas foram também e certamente gente da cidade onde se encontravam operários, estudantes, empregados mesmo operários das fábricas, etc. Foi seguindo o exemplo dessas forças da cidade que semanas depois os nossos irmãos do campo incendiavam toda a planície Norte de Angola, seguindo-se uma luta de resistência heroica que dura já sete anos. Portanto, se é certo e sabido que em Angola são as massas camponesas aquelas que mais foram exploradas, as que mais duramente sofreram o colonialismo português e que por conseguinte, num Movimento de Resistência e Libertação Nacional constituirão a maior força patriótica do combate e na qual o Movimento Revolucionário fundamentalmente se apoiará, nós não podemos esquecer nem ter a pretensão de pôr de parte essa outra força que nos vem das cidades, dos operários, dos empregados das fabricas, dos estudantes, dos empregados dos escritórios, dos funcionários; nós não podemos esquecer, não só porque essas forças sempre apoiaram o Movimento de Resistência Nacional como nos diz a história, mas também e porque, a consequência do sistema da colonização portuguesa, é nessa massa que se encontram os quadros que uma vez imbuídos de um pensamento revolucionário, irão enquadrar as grandes massas camponesas na luta contra o invasor. Para fazer a Revolução é preciso que haja um Partido Revolucionário; e um Partido Revolucionário é aquele que sabe tirar proveito de todas as forças mobilizáveis contra o inimigo comum. O Povo Angolano desencadeou uma Guerra Justa – porque ela é de Resistência e Libertação Nacional – contra uma dominação, contra uma exploração esclavagista que durava séculos. Para nós conhecermos as forças de que dispomos nesta luta de Resistência e de Libertação Nacional precisamos de definir claramente quem são os nossos inimigos, quem são os inimigos da independência do Povo Angolano. Uma vez o inimigo bem determinado nós conseguiremos alargar o Front de luta anti-colonialista e anti-imperialista e concentrar sobre ele todas as nossas forças. São inimigos do Povo Angolano não só os colonialistas portugueses que nos combatem, mas também todo aquele Angolano, toda aquela Organização Angolana que impede o desenvolvimento da luta de Libertação Nacional; são inimigos do Povo Angolano os imperialistas que ajudam e lutam ao lado dos colonialistas portugueses. Se hoje o Front de luta contra o colonialismo português ainda não é um Front Nacional, isso resulta, em parte, de que nos esquecemos que existem contradições no seio do nosso Povo, mas que essas contradições não são antagónicas, o mesmo não acontecendo com as contradições que existem entre o nosso Povo e os nossos inimigos, estas sim, estas contradições são antagónicas, são intransponíveis. Nós fazemos uma Guerra Justa. Nós não podemos tentar resolver todas as contradições que existem no seio do nosso Povo por um só método. É errado. Neste momento o interesse Nacional exige que resolvamos apenas a contradição que existe entre o nosso Povo, o Povo colonizado Angolano e o imperialismo, e essa contradição antagónica só pode ser resolvida pela Guerra Revolucionária Nacional e esta Guerra Revolucionária Nacional só pode ser conduzida por um Partido disciplinado, Partido praticando a critica e auto-crítica, ligado intimamente as massas populares, para num Front Unido de todas as classes Revolucionárias. Nós dispomos, já dum equipamento militar bastante razoável; nós contamos já com alguns quadros militares em número aceitável, bem treinados na luta de guerrilhas; nós contamos – e neste momento estou me referindo nomeadamente a Segunda Região – com um grande e eficaz apoio do País irmão fronteiriço mas, e apesar de tudo isto afirmar que a nossa luta não avança, ao contrário sou mesmo obrigado afirmar que a nossa luta recua. Ela recua não só no plano militar como também no plano político em relação as massas. Não compete a mim analisar as forças e a táctica do inimigo outros o farão. Toda guerra de guerrilhas é uma guerra vitoriosa; mas é preciso que ela avance sempre, com os seus recuos e avanços tácticos, bem entendido, mas que avance. Mas para que ela avance – como todos nós sabemos – é preciso que ela disponha do elemento fundamental, as massas populares. Ter destacamentos militares bem equipados e decididos não basta para se fazer uma luta de guerrilhas que é uma luta de longa duração. São as massas populares que fazem a Resistência, que vencem a luta de Libertação Nacional. A certa altura, creio que nos convencemos que poderíamos fazer essa luta sem o apoio das massas populares. Táctica completamente errada, ou simplesmente ausência duma estratégia bem definida, ou mesmo, pura e simplesmente ausência de estratégia. A menos que estejamos perante uma Guerra só Fronteira… Mas mesmo neste caso teríamos que assinalar a ausência de enquadramento das populações das fronteiras – continuam os nossos guerrilheiros quem transportam os alimentos, continuam ser os nossos guerrilheiros quem faz o trabalho principal da vigilância; continua ser o Movimento quem dá todo auxílio aquilo a que deveríamos chamar as Milícias de Auto-Defesa; de ponto de vista económico não existe nenhum plano que vise a organização da produção entre essas populações da Fronteira; a politização das massas é tão fraca que em certas sanzalas os nossos guerrilheiros são mesmo mal vistos pelas populações. O trabalho político e de organização junto das massas populares se o houve foi mal feito, e, aprova de que foi mal feito é que ele não produziu frutos. A terra não produziu porque ela não foi bem trabalhada. Ou então, ou então camaradas vamos chegar a uma triste conclusão mas que ninguém acredita: é que este Povo é feliz, este povo não precisa de lutar para a conquista da sua liberdade para a conquista da sua independência. De recuo a recuo, o moral – essa outra força fundamental na luta da Resistência – o moral dos nossos Destacamentos militares está baixando. As deserções são frequentes; os próprios guerrilheiros deixaram de acreditar na capacidade dos seus dirigentes militares. A guerra que fazemos uma guerra justa é uma guerra de Resistência e de Libertação Nacional, é uma guerra difícil, é uma guerra longa. Precisamos de ter todo o povo ao nosso lado, a todo custo e com todos os sacrifícios que isso possa exigir; senão não ganhamos guerra nenhuma. A nossa maior força esta no Povo. Sem Povo não há luta. Sem Povo não há vitória. Precisamos de ter chefes que arrastem as massas populares; chefes que pela sua capacidade de trabalho, pela sua disciplina, pela sua competência sejam exemplo vivo dos ideais do nosso Partido, dos ideais da nossa Revolução. Precisamos de ter chefes em quem o Povo acredite. Precisamos de ter chefes que aplicando a linha do Partido apliquem no dia a dia normas de trabalho Democrático e Revolucionário: pratiquem a crítica e a auto-crítica em todos os momentos da vida do Movimento. Precisamos de ter chefes que não se acaparem da conduta de todo trabalho tomando sozinhos decisões sobre problemas importantes da vida do Movimento. Precisamos de ter chefes que consultam os seus camaradas dos escalões inferior sobre as questões que eles não conhecem ou não compreendem bem. Precisamos de ter chefes que não se mostram orgulhosos, não se mostram autoritários, comportando-se duma maneira arbitrária em relação aos guerrilheiros e ao Povo. Precisamos de ter chefes que mesmo que não tenham saído das massas saibam ir junto das massas a recolher as boas ideias. Precisamos de ter chefes que deem provas de um grande espírito de iniciativa, como de sacrifício. Precisamos de ter chefes capazes de fazer a união das massas populares porque só da união do nosso Povo, só com a união de todas as tribos e etnias do nosso País conseguiremos chegar a uma vitória final certa e duradoura. Vitória ou Morte
1ª Assembleia Regional das 1ª e 2ª Regiões (Dolisie, 22 a 25 Fev. 1968) - Documento do MPLA «As Forças e a táctica da organização patriótica do nosso povo»
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