Intervenção de Agostinho Neto na 1ª Assembleia Regional

Cota
0101.000.008
Tipologia
Discurso
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
Agostinho Neto, Presidente do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
8
Acesso
Público
I ASSEMBLEIA REGIONAL (1ª e 2ª REGIÕES) 22-25 Fev.1968 I - A FASE ACTUAL DA NOSSA LUTA Intervenção do Presidente do MPLA Camarada Agostinho Neto Queridos camaradas: Cabe-me iniciar o debate nesta importante Assembleia Regional, para falar da fase actual da nossa luta, na sua generalidade. É-me extremamente grato desempenhar este papel na Assembleia Regional da Primeira e Segunda Regiões e é-me grato, porquanto, eu sinto que as condições estão maduras para que se tomem medidas sérias e audazes a respeito da luta, a respeito da acção armada ou da organização política ou da necessidade de uma direcção mais activa e mais próxima das massas populares. Nestes últimos anos, desde a Conferência de Quadros realizada a partir de cinco de Janeiro de 1964, nos reunimo-nos em Conferência, primeiro a reunião Alargada de Dirigentes, de 17 a 19 de Fevereiro de 1966 e depois da Reunião Plenária do Comité Director de 1967, quatro anos após a Conferência de Quadros que resolveu os problemas derivados da crise de 1963, reunimo-nos numa Assembleia mais importante, reunindo um número de militantes sensivelmente igual *[ilegível] ao da Conferência de Quadros de 1964, mas certamente mais representativos, pois na I Assembleia Regional, foi possível reunir os dirigentes político-militares, os representantes da OMA, da Juventude, dos Estudantes, dos Serviços de Assistência Médica dos Comités de Acção do Exterior, os Delegados vindos do interior e a Secção Automóvel do nosso Movimento. Esta diversidade de organismos representados, significa que o nosso movimento se desenvolveu, se diversificou, deixou de ser embrionário e esta cada vez mais apto a desenvolver a sua acção pela libertação do pais. Mas não é tudo. Outros organismos nos esperam no interior do país. Queridos camaradas: Todos vós tendes nos olhos a cintilar como as estrelas de uma clara noite, a consciência das felizes decisões tomadas pelo Comité Director, de transferir a sua sede para o interior, de fazer um apelo aos nossos jovens guerrilheiros, as mulheres e crianças, para irem dar a sua contribuição na guerra contra o inimigo no interior do país. Eu sei que todos os militantes do MPLA estão a espera da ordem para abandonar o Congo e ir para a nossa terra, porque lá é que esta o nosso inimigo que temos de combater e vencer. Brilham nos olhos destes jovens camaradas, destas belas e entusiásticas senhoras do nosso movimento, das mães e dos pais, o desejo de voltar, de voltar para os nossos campos, para as nossas florestas, para as nossas minas, para as nossas terras e lá viver, de armas na mão, defendendo-se dos ataques inimigos, de bombardeamento, sofrendo a fome a carência e de medicamentos, mas combatendo, lutando, para que a nossa pátria seja livre. Por isso é que nós, os membros da Direcção do Movimento nos podemos sentir orgulhosos de termos preparado nos vossos espíritos a confiança necessária, para que todos desejem voltar, voltar para a nossa terra, combater, construir escolas e dispensários, para lavrar, para os guerrilheiros , escorraçarem para sempre os portugueses através do levantamento geral armado do nosso povo. E essa confiança que vejo nos vossos rostos optimistas nasceu do facto de verdes que nós temos feito o esforço necessário para encher os armazéns de armas, de munições, de equipamento, de géneros alimentícios, de termos assim a garantia de alimentar a nossa guerra. E essas armas, eu garanto-vos que chegarão às mãos do nosso povo e elas ajudar-nos-ão no combate contra o inimigo. Por isso, camaradas, com a mais profunda emoção, com o mais profundo sentir do meu coração eu vos desejo boa saúde, coragem e firmeza na luta para cumprirmos com o nosso dever de homens dignos - o dever sagrado de lutar para que a nossa pátria seja livre e completamente independente. Glória ao MPLA, Movimento dirigente da luta do nosso povo, único órgão que combate realmente o colonialismo em Angola. Glória aos combatentes, glória aos militantes, e àqueles que se encontram nesta sala digo: Avante camaradas, para o interior, para uma das quatro frentes de combate do MPLA para que a guerra se espalhe por todo o território, para que a luta se generalize, pois a guerrilha só por si não é suficiente para realizar os objectivos da luta. Como nós várias vezes temos repetido, para vencer é preciso que haja o levantamento geral armado, de todo o povo; só esse levantamento geral poderá conduzir-nos a vitória completa. ..//.. Queridos camaradas: O que é que caracteriza esta fase da nossa luta? Qual é o elemento essencial do nosso povo, dirigido pelo MPLA, que se revela o mais evidente, o mais notório? Qual é ele, camaradas? Quem acredita que com uma dezena de armas nós começássemos a acção Cabinda, e desenvolvêssemos uma acção brilhante que nos granjeou a simpatia de todo o Mundo? Quem acreditaria que iludida toda a vigilância dos reaccionários do Congo-Kinshasa, o grupo Cienfuegos e o grupo Camy passassem para o interior e depois, quem pensaria que um punhado de jovens do grupo Bomboko resistisse heroicamente aos bárbaros desígnios dos congoleses e upistas? Quem acreditaria na possibilidade de, com meia dúzia de armas, começássemos a guerra no Sul, ao ponto de hoje estarmos a avançar em direcção a Silva porto e a Nova Lisboa, em direcção à Luanda? Quem acreditaria que os nossos guerrilheiros poderiam pôr em fogo as regiões mais próximas da capital, como os Dembos, Caxito, Catete e noutras regiões dos distritos de Cuanza Norte e de Luanda? Quem poderia acreditar nisso em 1963, quando uma decisão errada da OUA nos lançou nas maiores dificuldades? Quem poderia acreditar? Quem acreditaria que no 4 de Fevereiro de 1961 os camaradas de Luanda pudessem atacar as cadeias, com pouco armamento, sem treino militar, sem planos perfeitamente definidos para a continuação da luta? Os cépticos nunca acreditaram, os «prudentes» nunca quiseram ir para a acção. Mas o nosso povo, o povo explorado, esse vai, porque nada tem a perder senão a sua escravidão. O que é pois, o que caracteriza a nossa acção neste momento? - O que caracteriza a nossa acção neste momento é a AUDÁCIA. O MPLA é e tem de ser cada vez mais audacioso, para que a guerra atinja também os distritos de Malanje, do Cuanza Sul, de Benguela e Moçâmedes, etc. Só a insurreição do nosso Povo poderá conduzir-nos a independência completa. AUDÁCIA, pois, camaradas militantes do MPLA. A audácia que determina que a acção do 4 de Fevereiro; Audácia e mais AUDÁCIA e a nossa vitória será alcançada dentro do mais breve tempo. E nós não alcançamos somente no Moxico ou em Cabinda, ou nos Dembos, também tivemos sucessos importantes no plano internacional. A OUA tem a tendência agora para reconhecer o MPLA como o único movimento que dirige a luta. Não há dúvidas que ali onde ainda não esmagamos a contra-revolução ela está desacreditada e os desígnios se tornaram mais claros para todo o mundo. Hoje, há necessidade da nossa propaganda aumentar, temos de alargar o campo das nossas relações aos países da OCAM, aos países da Europa Ocidental (com as organizações progressistas e anti-colonialistas, fique bem entendido), e até com a Ásia e a América Latina, nós estamos em vias de fazer com que os contactos sejam mais frequentes e permanentes. Mas devemos mostrar uma atitude de firmeza perante o imperialismo não ceder às suas pressões, não abrir as portas aos seus espiões, porque essa é a melhor maneira de garantirmos a nossa vitória. Eu não acredito no «dribling» ao imperialismo. Acredito sim que em dados momentos quando a nossa força representa um peso suficiente na balança africana, serão possíveis alguns compromissos, sem esquecer que a principal característica do imperialismo é o seu desejo de explorar os outros povos. Não sejamos fracos, não sejamos ingénuos, nem super-estimemos a nossa força para pensar que podemos fazer um jogo com o imperialismo. Esta tendência deve ser firmemente combatida, pois ela representa um perigo enorme para a nossa organização. Nós até temos falado, e estamos nos reiterando de pôr em prática, da necessidade de ir para o interior. A transferência para o interior não deve ser entendida como a ida de destacamentos puramente militares, capazes de impor acção armada no interior. Nós não ganharemos a guerra só com os soldados. A transferência para o interior deve ser feita como uma ida para a guerra total do povo refugiado. Não é no exterior que nós faremos a guerra, não é no exterior que nós conquistaremos a nossa independência e liberdade. Não é no exterior que nós construiremos a vida nova, a vida independente para o nosso povo. Portanto, à medida que as unidades de guerrilha avançarem e forem libertando territórios, é necessário que o povo seja organizado, as milícias defendem o terreno, que a produção aumente, que as indústrias se instalem, que as escolas se abram, que os doentes sejam tratados lá nos nossos hospitais; é preciso que nós os militantes do MPLA dirijamos a construção da nova vida do nosso povo. Homens, mulheres e crianças, a nossa terra espera por vós, para a guerra, para as lavras, para a costura, para a alfaiataria, para a sapataria, para curtir as peles, para fabricar tecidos, para imprimir os jornais, para o funcionamento da rádio, para que os carros andem nas estradas, etc. Não entendamos também de modo errado a entrada para o interior. Não se interprete como sendo um convite para que todo o mundo vá exclusivamente para a terceira Região que é mais vasta e mais acessível. Não! Tanto os dirigentes como os militantes devem disciplinadamente aceitar as tarefas que lhes são incumbidas. Ir para a primeira Região, é preciso, ir para Cabinda, é preciso como ir para a terceira ou na IV regiões. Temos tido algumas dificuldades com o povo de Cabinda, para se organizar, para se engajar completamente na luta de libertação do nosso povo. Alguns querem que primeiramente nós definamos se Cabinda é Angola ou não. Querem que façamos contratos para que amanhã Cabinda se separe de Angola. Mas que estupidez para quem quiser discutir sobre esta base. Portanto, o problema que se põe hoje, é que Cabinda, como Benguela, como Cuanza Sul, estão submetidos à dominação e a exploração colonial e é nosso dever, de todo o povo, de nos unirmos contra o inimigo comum. Vede, camaradas, esse belo exemplo que é a CONCP em que os combatentes de Angola, da Guiné e de Moçambique, se reúnam para formar uma frente comum contra os portugueses. É esse o caminho a seguir. O que é necessário, é que hoje, estejamos unidos na luta contra os portugueses. Não interessa que Cabinda esteja separado ou não do resto do país, o que interessa é que em Cabinda há portugueses, armados, que exploram o povo e por isso todos nós temos de estar unidos para a libertação do nosso país. E se Cabinda depois vira a ser autónoma, se Cabinda virá a ser independente, isso depende da atitude que o povo tomar nas Assembleias como esta, onde livremente se discutem os problemas e se tomam decisões. Mas aqueles que estão indo para o lado dos portugueses para lutar contra o MPLA ou para ganhar dinheiro são traidores. Estão traindo os interesses do seu povo. Taty, Nzita e outros, são traidores. E são traidores na medida em que eles estão ajudando os portugueses a combater contra as forças patrióticas e revolucionárias do MPLA. Portanto, camaradas, esta é também uma batalha a vencer em Cabinda. Vamos explicar, explicar e mais uma vez explicar, que o interesse do nosso povo é o de libertar a terra. E também em relação a Cabinda, é válida a palavra de ordem, todos ao interior! Não fiquemos na fronteira, à espera dos subsídios que vêm de Brazzaville, não sejamos um peso morto na organização, mas é lá dentro de Cabinda que devem estar os destacamentos. É lá dentro que devem trabalhar, é lá dentro de Cabinda que devem mandar-se os guerrilheiros aplicar correctamente as leis da guerrilha, a mobilidade, a flexibilidade e a iniciativa constante. É preciso modificar as tácticas actuais de esboçar os destacamentos em zonas fixas bem determinadas. Os destacamentos devem girar, devem atacar o inimigo de todos os lados, desnorteá-lo com a grande mobilidade que possuem, consciencializar o povo. Só Venceremos pela acção audaz e violenta no interior do país. Que se acabem os destacamentos em Dolisie, em Ponta Negra, em Banga ou noutros pontos. Os destacamentos devem girar dentro do território de Cabinda, sendo a mobilidade a sua principal característica. E temos de fazer a substituição periódica dos guerrilheiros de Cabinda que é por agora um território difícil que cansa, satura, desmoraliza, os quadros. O Comité Director deverá regulamentar a substituição dos quadros de Cabinda, de tempos a tempos. Mas é inadmissível a sua permanência no exterior ou na fronteira. É inadmissível que se concentrem em bases fixas no interior. Se nós soubermos aplicar devidamente estes planos de ida para o interior eu garanto-vos, camaradas que antes do fim deste ano, poderemos fazer a nossa Conferência Nacional dentro de Angola. E é necessário fazer a Conferência Nacional, para eleger uma nova Direcção da luta. Há homens e mulheres que estão dando provas de que são dignos, têm a coragem suficiente, consciência política indispensável para poderem pertencer ao Comité Director. Ao mesmo tempo, há membros actuais que se revelam anquilosados, velhos, incapazes e ainda por cima presunçosos, vaidosos; completamente desligados das massas. Estes devem ir-se embora, e nós já fomos forçados a afastar alguns que estavam envergonhando a nossa Direcção. Aqueles que estão dando boas provas, precisam de vir para a Direcção, seguindo o princípio de compor uma Direcção em que as massas trabalhadoras e os intelectuais verdadeiramente revolucionários, possam predominar. Mas isso, fá-lo-emos no interior do país com a presença dos combatentes dos Dembos e de Nambuangongo, com a presença dos combatentes do Moxico e do Cuando Cubango e da Lunda, desses homens virão os dirigentes mais dinâmicos e mais dignos para o nosso Movimento. O problema da Direcção do Movimento é um problema sério que devemos tratar com a máxima cautela, que devemos apreciar em todos os seus aspectos para que nãos se percam as conquistas da revolução armada que estamos fazendo, como se perderam as conquistas de vários povos que lutaram e que hoje estiveram sob as garras do neo-colonialismo. O nosso movimento é por enquanto uma frente larga de combate, que, segundo o nosso programa, engloba todas as tendências e pessoas. Para esta fase da luta é correcto que assim seja. Mas dentro desta frente, temos de discernir a luta de tendências, o germe da luta de classes que se esta desenvolvendo. No nosso movimento há várias tendências e uma delas é caracterizadamente pequeno-burguês, com os defeitos que essa camada da população comporta. Ela faz uma guerra constante ao movimento, à Direcção do movimento e principalmente ao seu presidente, não porque lhe encontrem erros, não porque lhe encontrem falhas, mas porque se aproveitem de todos os momentos para atacar e tentar demonstrar que o movimento não presta; que a sua Direcção não presta, que o seu presidente não presta. E não presta porquê? Porque nós somos analfabetos ou somos incapazes, segundo dizem. Esses pequeno burgueses que nada ou quase nada sofreram do colonialismo, que nunca sentiram sequer o perigo do contrato, que nunca foram perseguidos por não pagarem o imposto, que nunca sentiram fome ou salários de fome, que nunca sofreram enfim, gostariam de se apoderarem da Direcção do Movimento. E, camaradas, é preciso que estejais conscientes de que uma boa parte dos conflitos que vos chegam aos ouvidos sobre aquilo que se passa no seio do Movimento ou do seu Comité Director, não é senão esta luta de tendências. Há uma tendência que quer preparar no futuro, para que as classes mais exploradas continuem a ser exploradas, para que os privilegiados de alguns sejam mantidos. Mas nós, os membros do MPLA, estamos vigilantes desmascarando constantemente as más intenções e firmemente lutando para que a Direcção do Movimento, fique nas mãos daqueles que mais sofreram a exploração, que são capazes portanto de compreender o valor da independência, e serão capazes de garantir a continuação da luta contra o imperialismo pela independência completa do nosso país. São os filhos dos operários agrícolas, dos operários industriais, dos explorados de toda a sorte, aliados aos intelectuais verdadeiramente revolucionários, aqueles intelectuais que se confundem com as massas a que devem constituir a direcção do nosso movimento, que devem dirigir os organismos populares de administração e governar o país. Camaradas, quando ouvirdes alguém dizer os analfabetos não podem governar a nossa terra, quando ouvirdes que só os filhos de boas famílias podem governar a nossa terra, aqueles que não tiveram a oportunidade de ir à escola e cujas famílias não foram conhecidas em parte alguma de Angola, devem pensar que esses elementos apenas pensam nos seus lugares de chefia, em detrimento do povo. É preciso desmascara-los e combater essas tendências a bem da revolução. Onde estão os nossos médicos, filhos de Angola, que terminaram os seus estudos? Estão em Angola nas frentes de combate? Não, hoje ainda estão nas cidades do estrangeiro, onde podem ganhar dinheiro, onde podem levar boa vida. Esses elementos são os que cedem facilmente às pressões da sociedade onde eles vivem e pensam que por serem técnicos têm sempre o seu lugar garantido e têm a preferência em defender a política do povo e do Movimento. Eu sou um técnico, não sou político. Dizem eles depois de encherem o estômago de bons acepipes, esquecendo que fazem parte de um povo que necessariamente deve ser político. Nós somos políticos, temos muita honra em sê-lo porque é a política que vai resolver o problema do nosso país. E nós fazemos a política das classes mais oprimidas. Por isso, camaradas, devemos chamar para a Direcção do Movimento cada vez mais, não aqueles que exibem diplomas (às vezes diplomas falsos) não aqueles que trazem o título de Dr. (às vezes sem serem doutores) mas aqueles que sinceramente se colocam ao lado do povo, na defesa dos seus interesses e entre esses em primeiro lugar, os trabalhadores. Por isso, temos dito que é necessário para o MPLA adoptar uma estrutura partidária. E avanço mais, dizendo que precisamos de ter um partido, quanto antes, um partido de vanguarda, politicamente bem definido, ideologicamente bem orientado, com uma orgânica de ferro. Temos de seleccionar os quadros do movimento para mais tarde fazerem parte do partido e, naturalmente, não serão os preguiçosos, os intriguistas, os maldizentes, os cheios de si que poderão pertencer ao nosso partido de vanguarda. Devem ser sim os homens honestos, trabalhadores; os homens dedicados inteiramente à revolução e à vida do partido, com toda a modéstia e capazes de exercer todas a tarefas no Movimento. Começaremos desde agora a fazer essa selecção. Mas enquanto não tivermos partido, conservaremos a organizar da Frente nacional libertadora amorfa, onde há força orientadora. Isto é perigoso e gera aquilo a que estamos assistindo. O individualismo, a presunção, o jogo maquiavélico dentro da organização. Este movimento, o MPLA deve ser o movimento dos homens dignos. Temos de expulsar dele os presunçosos, os vaidosos, os homens sem moral, os fracos de espírito, aqueles que se encontram impregnados até a medula pelos hábitos pequeno burgueses que os impedem de ser disciplinados. O MPLA seja uma força digna do nosso povo; E a sua direcção uma autoridade que oriente, que inspire e que se sacrifique pelo povo. Os militares do Movimento e principalmente os seus dirigentes, devem possuir uma moral segura. Nós não somos como os anarquistas cuja vida se processa através de uma série de vergonhas. Respeitemos os hábitos da nossa sociedade, da sociedade angolana e batalhemos por uma moral elevada dentro do nosso movimento. Os militantes e especialmente um dirigente do MPLA devem ter uma vida cristalina, irrepreensível, para poder servir de exemplo. A par disso, sejamos severos para com os desonestos e imorais, não os perdoemos e não sejamos sentimentalistas. Apliquem-se sanções lá onde é necessário, para que o nosso povo possa ter exemplos de homens honestos e dignos de exercer as elevadas funções na Direcção do Movimento. Temos muitos aspectos a melhorar na nossa organização como por exemplo, no que respeita à educação. A educação das nossas crianças deve fazer-se no interior. Os cursos secundários devem ser feitos no interior. Deve haver um Conselho escolar para estudar e elaborar os textos e evitar o trabalho individual, disperso, embora útil. O internato 4 de Fevereiro não deve ter mais de 50 alunos, porque é isso o compatível com o nosso nível financeiro. Temos de fazer muito trabalho no que respeita à divulgação científica, à publicação de obras importantes, os manuais de estudo, etc. E um capítulo em que nos encontramos quase a zero é no da recolha de informações do inimigo. Temos de possuir mais informes e é preciso formar um outro apropriado para isso. O Centro de Estudos em Alger remodelado, transferido para mais junto da Comissão Militar, pode dar uma ajuda preciosa. E temos de corrigir energicamente as tendências racistas e tribalistas. Não afastemos os indivíduos brancos que nos podem ajudar, só por serem brancos. O que interessa é que sejam progressistas e honestos. É preciso que as esposas brancas dos militantes possam trabalhar no movimento, desde que mereçam a confiança geral, desde que se dediquem à luta do nosso povo e se identifiquem com a nossa luta. Escuso de dizer que há tarefas que nas cidades, apenas os brancos podem realizar. E nós só ganharemos com isso. Acabemos com o racismo e com o tribalismo dentro das fileiras do nosso movimento. Precisamos de estruturas que se adaptem à organização da luta nas cidades e em todas as localidades. E antes de alguém iniciar na tarefa importante de direcção na luta deve preparar-se política e militarmente. Carecemos de uma propaganda mais intensa. Carecemos de um órgão central de informação que propague as ideias políticas da orientação da Direcção. Carecemos de uma emissora própria, capaz de emitir diariamente ou várias vezes por dia para o nosso povo. Os serviços de Assistência Médica têm de exercer fundamentalmente o papel de formador de enfermeiros e enfermeiras. E aqui na segunda Região felizmente temos o concurso de médicos estrangeiros que dão uma contribuição valiosa para a nossa luta. Por outro lado a escola de enfermagem funciona normalmente. ..//… Enfim queridos camaradas, vamos tomar medidas para que o exterior seja apenas um ponto de passagem, onde se mantenha o mínimo de estruturas. Vamos tomar medidas para que a Direcção funcione melhor depois de a limpar dos erros cometidos. Vamos tomar medidas para que à nossa audácia se some à eficácia que deriva de uma boa organização. Vitória é Certa 22/2/1968 Agostinho Neto
1ª Assembleia Regional das 1ª e 2ª Regiões (Dolisie, 22 a 25 Fev. 1968) - Intervenção de Agostinho Neto na Assembleia regional
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