Relatório do encontro com os embaixadores africanos

Cota
0098.000.017
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
Luiz de Azevedo Júnior e Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
3
Acesso
Público
Relatório à cerca do Encontro duma delegação do MPLA com
Os Embaixadores Africanos acreditados em Brazzaville.


Por iniciativa do C.D. do MPLA, uma delegação composta pelos Camaradas Lúcio Lara e Luiz de Azevedo Júnior, reunir-se à 14 do corrente, com os Embaixadores da RAU, Mali, Argélia e do delegado do Congo-Brazzaville – Eugéne Mankou.
O objectivo dessa reunião, foi de dar aos Embaixadores o ponto de vista do MPLA, face ao problema angolano ao nível da OUA e face ao problema dos trabalhos das Comissões, da Unidade e Militar designadas pelos Chefes de Estados Africanos, no último Sommet de Kinshasa.
Além do documento de base elaborada à intenção dos Embaixadores e do delegado do Congo-Brazzaville, a delegação fez uma larga exposição à cerca dos problemas da África em geral e em particular da África Austral e dos Movimentos de Libertação, concretamente no caso de Angola.
A delegação começou por demonstrar a incapacidade da OUA em resolver o problema do Dualismo do nacionalismo angolano, com tendência a uma cristalização, em virtude do vício de apreciação, motivado pelo carácter conformista, que se inscreve no quadro das contradições dessa Organização, salientando como exemplo, o problema da Unidade MPLA-grae, demonstrando a impossibilidade da realização dessa Unidade no exterior, estigmatizando as diversas etapas percorridas para se encontrar a solução desse problema, quer por iniciativas da OUA, quer por alguns Chefes de Estados Africanos, sabotados, sistematicamente por Holden Roberto. Salientando ainda o facto de Holden ter declarado novamente a sua recusa de fazer a unidade com o MPLA quer aos membros da Comissão Militar Neutro e ao último Conselho de Ministros.
Face ao exposto, concluímos, ser nossa convicção, toda démarche feita nesse sentido, não ter resultados positivos, não negando, efectivamente, a participação do MPLA aos trabalhos dessa Comissão.
Quanto ao Comité de Experts Militares. Tendo em conta ao relatório da primeira Comissão, a delegação exprimiu as suas reservas.
A delegação pôs também em relevo as ingerências directas ou indirectas dos Americanos no seio do «grae»; dos seus compromissos, salientando a ajuda directa que esse organismo recebe em técnicos e ultimamente de negros americanos.
Foi ainda demonstrado em linha gerais que o «grae» é uma criação do Departamento do Estado Americano, apresentado como exemplo o Relatório de George Houser e John Marcum.
Em conclusão às reservas do C.D. e da delegação, lançámos apelos aos Embaixadores com pedido de informarem os seus Governos, da necessidade imperiosa para o MPLA de ao menos um ou alguns Chefes de Estados Africanos, fazerem declarações públicas, manifestando as suas reservas sobre a eficacidade do “grae”, instrumento posto ao Serviço do Povo Angolano, se impossível fosse fazer-se uma revisão do reconhecimento.
Salientamos que uma prise dessa posição, levantaria certas dúvidas no espírito de muitos Chefes de Estados Africanos, nomeadamente do Presidente Mobutu e no seio da OUA.
Em breve, as respostas à nossa exposição, os Embaixadores do Mali e da RAU, começaram demonstrar as dificuldades internas de cada país chamado progressistas; das dificuldades na consolidação das suas posições; nas dificuldades inter-Estados com o mesmo regime; das dificuldades face aos Estados moderados; no seio da OUA; de responsabilidade da consolidação da OUA e da estratégia global no quadro da descolonização, terminando por justificar ser essa uma das razões que os levam a caucionar o regime de Mobutu. No que se refere ao nosso apelo, pensam que depois das consultas respectivas aos seus Governos, caso estivessem de acordo, as démarches deveriam fazer-se ao nível da OUA; por ser sua opinião e convicção que uma denúncia pública do Holden, como agente do imperialismo americano , além de ser muito perigoso, deveria ter em conta a um dossier volumoso com dados concretos que só as Comissões de Conciliação e sobretudo, dos Experts Militares, poderiam fornecer depois de visitar as zonas de combate das suas organizações em causa.
Mali pensa que alguns pontos da exposição deveriam ser popularizados. Pensa também que é com dossiers precisos que os países revolucionários podem partir em guerra contra Holden, para não perderem a face. Não é fácil ir contra alguém que detém a maioria.
Reafirmando a Solidariedade dos seus respectivos Países para com o MPLA, manifestarem o desejo de prepararmos o próximo Conselho de Ministros da OUA que terá lugar em Fevereiro em Lusaka, com relatórios precisos sobre as actividades do MPLA.
Fizeram também as suas críticas pela ineficácia da nossa informação, avançando algumas sugestões, tais como as visitas em algumas capitais africanas, tais como Guiné, Mali, Argélia, Cairo, Senegal, etc. onde em contractos com Chefes de Estados Africanos, teríamos a oportunidade de pormos o nosso ponto de vista, sobre o Problema Angolano. Tendo conhecimento que o Camarada Neto que se encontrava em Moscovo, no seu regresso deveria visitar algumas capitais; assim como o documento de base da nossa exposição deveria ser enviado aos Presidentes Sékou-Touré, Ould-Dadah e aos Embaixadores da Tanzânia, Zâmbia e Burundi, com o pedido de informarem os seus respectivos Governos.
O Embaixador da Argélia, que avançou um pouco mais pensa que se devem fazer démarches bilaterais, tentando encontrar-se uma solução para o caso do MPLA, devendo tomar-se medidas nas próximas reuniões. Fez no entanto a reserva de que o problema deve ser resolvido no quadro da OUA por esta ser a reconhecer o «grae».
Informou ainda ter recebido instruções do seu Governo, de dar toda a ajuda diplomática ao MPLA.
O delegado do Congo-Brazzaville, Eugène Mankou, informou que nesse mesmo dia faria o seu relatório verbal, avançado como proposta concreta, tais como o pedido do envio das nossas armas junto do Governo do Mobutu, da Libertação dos prisioneiros, pondo em relevo acerca disso a decisão do M.N.R. que proíbe as prisões de angolanos de diferentes organizações.
Considerou ainda que o tempo do nosso «Programa da Rádio», é insuficiente, e pelo que faria démarches nesse sentido.
A reunião terminou com apelo dos Embaixadores para que reuniões dessas se repitam muitas vezes, e que o MPLA faça meetings e Conferências de Imprensa sobre as suas actividades e dos acontecimentos mais importantes.

CONCLUSÃO
Dum modo em geral podemos considerar essa reunião como positiva na medida em que pelo menos, pela primeira vez tivemos a oportunidade de auscultar a opinião de alguns países africanos face a face que duma maneira ou doutra, exprimem o ponto de vista, dos seus respectivos Governos.
As suas sugestões de futuro poderão servir de orientação a nossa diplomacia e ao aperfeiçoamento da nossa informação.

Brazzaville, 22 Novembro de 1967

A Delegação do MPLA

Lúcio Lara
E
Luíz de Azevedo Júnior

Relatório de Luiz de Azevedo Júnior e Lúcio Lara, acerca do encontro com os Embaixadores Africanos acreditados em Brazzaville (Brazzaville).

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