Relatório sobre a 11ª sessão do Comité de Libertação de África

Cota
0096.000.019
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
Daniel Chipenda
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Acesso
Público
RELATÓRIO SOBRE A 11.a SESSÃO DO COMITÉ DE LIBERTAÇÃO DE ÁFRICA

KAMPALA, Julho de 1967

Na 11ª Sessão do Comité de Libertação de África estiveram presentes todos os membros com a excepção da Guine Conackry. Dos Movimentos de Libertação estiveram presentes o MPLA, a FRELIMO, o ANC, a ZANU e o Movimento da Somália Francesa. Dos aventureiros, esteve presente apenas um, o Savimbi.
No em que os Movimentos de Libertação foram chamados para serem ouvidos, apareceu também o aventureiro Angolano que pretendia ser ouvido. Mas na presença de todos os Movimentos com seus representantes, o Secretário Executivo do Comité de Libertação George Mangombe, disse abertamente ao Manobrador que ele se fosse embora por que o Comité não o ouviria. Pela primeira vez o Comité vez o Comité recusou-se a ouvir um aventureiro.
O MPLA foi o primeiro a ser ouvido. Na nossa intervenção procuramos ser cautelosos de forma a não ferir muito a susceptibilidade da delegação do Congo Kinshasa. Na sessão em que o MPLA interviu quem presidiu foi o embaixador do Congo Kinshasa na Tanzânia Daniel Kaninda que igualmente chefiou a delegação. Antes de acabar a nossa intervenção, o presidente interrompeu a nossa delegação alegando que os peticionários só podiam falar durante 10 minutos e portanto o nosso tempo tinha acabado, convidando os membros do Comité a fazerem perguntas. Cortaram-nos a possibilidade mesmo, de pelo menos, por o problema no Congo Kinshasa. Houve delegações, como a da Zâmbia e Argélia que discordaram com o presidente da mesa, pedindo que o MPLA continuasse a expor. O debate foi renhido a ponto do presidente dá-me mesa chegar a perguntar ao chefe da delegação da Argélia se ele estava a representar o MPLA ou seu país. Como se gerou uma má atmosfera, deixou-se que se fizessem perguntas.
A delegação de Alger perguntou-nos se o problema das nossas armas presas no Congo Kinshasa já estava resolvido e quais as demarchas que estavam a ser feitas. Esta pergunta possibilitou-nos por claramente a situação conforme instruções recebidas de Brazzaville.
A explicação feita provocou da parte da delegação do Congo K. uma reação imediata. Explicou aos membros do Comité a posição do seu Governo que segundo ele, esta em via de encontrar uma solução com o MPLA e que não se compreendia por razão o MPLA continuaria a por o problema nas organizações internacionais.
Acusou o MPLA de atacar constantemente o seu governo apesar de boa vontade mostrada pelo Governo do Congo K. em aceitar o MPLA. Esta boa vontade, segundo a delegação do Congo K. são: 1º demarchas que o Governo fez para que o MPLA estivesse presente no Congo K. quando da 10; a Sessão do Comité de Libertação; 2º, as demarchas que o Governo do Congo K. fez para que o MPLA estivesse presente em Kinshasa quando da reunião do Comité dos 24 da ONU.
Na primeira disse que o presidente do MPLA não apareceu apesar do seu ministro lhe ter garantido toda a segurança.
Na segunda disse que MPLA esteve presente e nada aconteceu aos membros do MPLA.
Continuando disse que o ministro dos negócios estrangeiros tinha recebido uma delegação do MPLA com que discutiu todos os problemas.
Para acabar leu publicamente a Cópia da Carta que o ministro Bomboko enviou ao ministro GHANAO, onde fazia referência do problema dos 200 militantes do MPLA que disse terem sido denunciados pelos homens do Holden e presos por uma questão de segurança pelas autoridades Congolesas e detidos num quartel Congolês. Mas que os 200 militantes já eram reenviados para Brazzaville, ficando material, que seria transferido para Brazzaville logo que as autoridades dessem o seu acordo.
Depois da intervenção da delegação do Congo pede que nos fosse dada oportunidade de esclarecer alguns pontos para ajudar a discussão dos delegados. A ZÂMBIA, RAU, ARGÉLIA, TANZÂNIA bateram-se para que me fosse dada a palavra. Mas gerou-se mais outra uma atmosfera pelo que tivemos que sair.
Depois que saímos a discussão durou um dia e meio.
A TANZÂNIA, SOMÁLIA, ZÂMBIA, ARGÉLIA, UGANDA e RAU puseram o problema da revisão do governo do Holden. Não chegaram a conclusão nenhuma mas decidiram que deve haver desde já um comportamento similar entre o MPLA e o “Grae”.
Decidiram enviar o problema a próxima reunião dos Ministro dos Negócios Estrangeiros onde se apreciara o relatório da Comissão Militar, que apesar de a não conhecermos o seu conteúdo, disseram-nos ser bastante favorável ao MPLA.
Pela primeira vez o problema do MPLA foi discutido seriamente. Alguns membros da delegação do Congo, numa recepção disseram-nos que sabiam que nos tínhamos razão, mas que devíamos compreender que eles nada podem fazer porque os que mandam veem o problema a de outra forma.
O embaixador do Senegal em Addis-Abeba, delegado do Senegal chamou-nos para nos dizer que ele depois de ter lido o relatório da Comissão Militar para Angola tem dados para poder enviar um relatório que poderá mudar a posição do seu governo. Disse que era difícil mudar uma posição de um dia para outro, mas que com facto há sempre possibilidade de ver a realidade. Disse ainda que o Governo dele também tinha uma posição diferente em relação a Guiné Bissau mas depois do relatório da Comissão Militar reconheceu o Amílcar.
Acrescentou que eles sabiam que nos éramos pro-comunista, enquanto que eles eram pro-ocidente.; mas que para agora era problema era libertar Angola e havia que apoiar os que na realidade lutam.

NOSSAS CONCLUSÕES DEPOIS DESTA REUNIÃO
1- O Congo é nosso inimigo e não mudará de posição enquanto existir um Holden no Congo Kinshasa.
2- Todas as promessas que façam nunca serão tomadas em consideração.

NOSSAS RECOMENDAÇÕES
1- Que se mobilize a opinião africana no sentido de se levar a cabo a revisão do governo de Holden.

Dar-es-Salaam, 22 de Agosto de 1967
Daniel Júlio Chipenda


«Notas manuscritas de Lúcio Lara»

Nota sobre a 10ª Sessão do Conseil de Ministres de l’OUA
Delegados MPLA Melo (atrasado), Chip, Samuel, Castro Lopo
Revisão do estatuto do “grae”

Nota sobre a
12ª sessão dos Comité de Libertação de África
Conakry, Jan. 1968
Delegados MPLA Neto, Kavunga, Paulo Jorge
Decidido recomendar a revisão do reconhecimento do “grae”.

Relatório, feito por Daniel Júlio Chipenda, sobre a 11ª sessão do Comité de Libertação de África com 2 notas manuscritas por Lúcio Lara.

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