Extractos da entrevista de Agostinho Neto ao «Mondo Nuovo»

Cota
0094.000.022
Tipologia
Entrevista
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Autor
Agostinho Neto, Presidente do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Acesso
Público
16.6.67 – Extractos de entrevista concedida ao semanário italiano “Mondo Nuovo”
(traduzido do francês)

A uma pergunta sobre a estratégia adoptada pelo MPLA na sua luta contra o colonialismo, respondeu o Presidente do MPLA.
“Organizamos o povo para que ele combata de armas na mão contra os colonialistas. Organizamos unidades de guerrilha e a população que não pode combater, quer dizer, as crianças, as mulheres e os velhos, está protegida por uma milícia popular que também compreende unidades de guerrilha. Os princípios políticos que nós utilizamos para mobilizar o nosso Povo baseiam-se sobretudo em concepções derivadas da ideia de independência nacional: com o efeito, nós combatemos pela Independência nacional. Em particular, fazemos tudo para destruir o espírito tribal que sempre se manifesta no seio das nossas populações, sobretudo porque o espírito tribal provoca uma série de dificuldades na luta contra a ocupação colonial. Se conseguirmos destruí-lo, teremos dado um passo em frente para a independência”.
A uma outra pergunta sobre as zonas libertadas e sobre o esforço do MPLA para construir desde já o futuro do país, o Presidente do MPLA respondeu:
“As zonas libertadas do nosso país não são muito grandes em relação à totalidade do território. Mas nessas regiões concentrou-se uma grande população; trata-se de milhares de homens, mulheres e crianças que vivem sobre a protecção do nosso Movimento e que são administrados pela organização política do MPLA. A organização política que controla esta população é o comité de Acção, que organiza a vida administrativa e que exige a produção. Nestas zonas, o trabalho dos velhos anciãos (anciens?) preserva a produção agrícola que assegura a sobrevivência das populações refugiadas nas florestas de Angola. Mas o trabalho mais importante diz respeito à educação e sobretudo à educação política, para o desenvolvimento da consciência dos militantes e dos não-militantes. Também se faz um grande esforço na alfabetização: nomeadamente na zona Norte. No distrito do Kuanza Norte, por exemplo, já tínhamos 45 escolas primárias e uma escola política; também temos em Cabinda uma escola política, sem contar com o número de escolas primárias que lá funcionam.
Para a organização da vida futura, temos um programa de realizações de ordem política e social. Contudo, segundo nós, o programa mais importante que se nos impõe é o de fazer amadurecer a consciência dos homens para que compreendam o que é preciso fazer para realizar o nosso programa. É por isso que damos importância à escola política para a formação de quadros, pela qual todos os militantes do Movimento têm de passar obrigatoriamente”.
A uma outra pergunta, sobre os princípios ideológicos do MPLA e sobre a força que empurra a população a combater contra os colonialistas, respondeu o Presidente do MPLA:
“Como já disse, o nosso Movimento tende a mobilizar todo o Povo na luta pela independência. A independência é o nosso fim imediato e a própria razão da nossa vida. Nesta fase, o Movimento deve encontrar-se entre as mãos do povo e toda a actividade que realiza deve ser para o bem do povo. E, a partir deste momento, devemos organizar a vida no interior do Movimento de modo a tornar o nosso povo consciente do fim da época da exploração do homem pelo homem; depois da conquista da independência, os homens do nosso País não serão mais explorados por outros homens (angolanos ou estrangeiros), mas serão totalmente livres. Isso quer dizer que eles participarão directamente na vida política do País e que a economia estará – por formas apropriadas – inteiramente entre as suas mãos”.
Referindo-se aos interesses reais dos países racistas do Sul de África, o Dr. Neto afirmou:
“Se examinarmos o valor estratégico de Angola e de Moçambique, isso compreender-se-á facilmente: Angola e Moçambique são as portas da África do Sul; são os países que têm fronteiras comuns com a República Sul-africana, o Sudoeste africano, a Zâmbia, o Congo-Kinshasa e a Rodésia. A existência de países inteiramente independentes representa necessariamente um perigo para a presença dos imperialistas noutros países. Por outro lado, o valor económico destas colónias é muito importante, sobretudo quando se tem em consideração que a República Sul-africana, tal como a Rodésia, tem interesses em Angola e em Moçambique. A Rodésia em particular, está interessada em transitar por Moçambique para exportar os seus produtos.
Estes factores de ordem económica e estratégica podem, a meu ver, justificar plenamente uma intervenção armada dos países da África austral, se a nossa luta pela independência puser em perigo a presença dos racistas nesta parte do continente”.
Nesta entrevista o Presidente do MPLA respondeu a mais algumas perguntas tendo terminado com uma análise sobre as contradições no seio da NATO que podem contribuir para salvaguarda duma intromissão estrangeira na nossa luta de libertação nacional.

(Do programa “Angola Combatente”)

Tradução de extractos da entrevista de Agostinho Neto a Mondo Nuovo (para o programa «Angola Combatente» em Brazzaville)

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