Relatório de viagem à RFA, RDA e URSS

Cota
0090.000.050
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
Fev 1967
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
6
Acesso
Público
*[Manuscrito: “Incompleto” "Fev.67"]

RELATÓRIO DE VIAGEM


REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA

Há apenas a mencionar um contacto com elementos mias ou menos progressistas que no entanto não possuem grandes possibilidades de acção concreta, a não ser no campo das manifestações de massas. Assisti por exemplo a uma sessão sobre o Vietnam organizada por eles. Aconselharam-nos a que tentássemos interessar a organização sindical I.G. METALL, a mais poderosa e ao mesmo tempo a mais progressista lá do sítio, pois poderia abrir perspectivas de um apoio concreto. A altura em que recebi esta informação não me permitiu sondar oficialmente os ditos metalúrgicos. Parece-me que no entanto se deve fazer uma tentativa de contacto, mesmo a partir daqui.

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA ALEMÃ

A minha passagem na RDA visava sobretudo tentar a impressão de um álbum de fotografias, para comemorar o X aniversário do MPLA e ver as possibilidades de fazer gravar um pequeno disco com canções revolucionárias.
Se o ambiente favorecesse a oportunidade de analisar problemas relacionados com a formação dos nossos quadros naquele país, estava também preparado para o fazer.
Fui recebido pelo Comité de Solidariedade local que me destinou como intérprete e guia uma camarada da Rádio Berlin que eu conhecia de Conakry - MX Mme Ira JOSWIAKOWSKY. O seu marido é um dos responsáveis actuais da ADN - Agência de Presse de RDA. A seu convite aceitei ficar alojado em casa deles de preferência ao Hotel.
COMITÉ DE SOLIDARIEDADE: Tive dois encontros oficiais com o camarada SCHMITH -Secretário Geral. Discutimos no primeiro encontro questões gerais da política africana em geral e em particular os problemas da luta de libertação de Angola. O comunicado que a imprensa internacional deu a partir do Cairo, sobre o “acordo MPLA-Grae” e que ali foi enormemente difundido, provocou grande confusão nos espíritos. Esclareci-os sobre a inexistência de qualquer acordo, e sobre a natureza do compromisso tomado, aliás denunciado imediatamente pelo Holden, quer por palavras, quer pela prisão dos camaradas, entre os quais o Com. Benedito:.
Falou-se muito da questão sino-soviética e da próxima conferência de Nicósia, sobre a qual aí ouvi falar pela primeira vez.
Sobre questões de ajuda, fui informado que era necessário dar-lhes uma lista de necessidades ainda antes do fim do ano (estávamos em meados de Dezembro), para aproveitar o budget que tinha sido destinado ao MPLA para 1966. Apresentei-lhes a lista, cuja cópia figura aqui junto.
Sobre o problema de QUADROS os camaradas apresentaram certas dificuldades que se relacionam com a falta de preparação dos estagiários enviados. Não me responderam cabalmente à pergunta que lhes fiz sobre as possibilidades que têm de formar quadros médios. Falaram num ERDE INSTITUT (instituto agrícola) no qual têm por ano 20 lugares para os diferentes movimentos de libertação.
Quando lhes falei na hipótese de o Movimento criar uma escola de ENSINO SECUNDÁRIO, reagiram entusiasticamente e disseram estarem prontos a ajudar em todos os aspectos, incluindo o envio de professores.
Disseram-me a esse respeito que iam enviar um professor para o Instituto de Moçambique.
Creem que se o MPLA insistir na sua Escola Secundária eles podem muito facilmente ajudar em colaboração com os checos e os soviéticos. A maneira como essa afirmação foi feita dava a ideia de já ter havido trocas de impressões nesse sentido.
Informaram-me por outro lado, a uma pergunta minha, que os camaradas DAMIÃO e LARPES já tinham regressado. Manifestei-lhes o meu desapontamento por o terem feito sem sequer responderem ao pedido que lhes tínhamos feito a respeito desses camaradas. Sugeriram-me que falasse do assunto com a FDJ a cargo de quem os camaradas tinham vindo.
Para finalizar o problema de formação de quadros informaram-me da existência de uma escola em Radbuy (?) perto de Dresden destinada à preparação de jovens africanos e mantêm a oferta de estágios de aperfeiçoamento para trabalhadores especializados (que devem possuir já uma profissão, sendo a sua ida apenas destinada a um aperfeiçoamento). Esta oferta não me parece sedutora, pelos exemplos que já temos.

Expus finalmente o desejo de fazer imprimir o álbum comemorativo do X aniversário. Infelizmente a demora com o bilhete atrasara a data ideal em que o álbum podia sair (Dezembro de 1966). Estiveram de acordo, bem como aceitaram imprimir dois postais para o 4 de Fevereiro, com desenhos do camarada Rui de Matos, que se previa que deviam ser feitos na Suíça, mas que dada a ordem de expulsão do Nils Anderson preferi aproveitar mandar fazer ali. Contava com as fotografias que em tempos tinha enviado para lá para se fazer um álbum da JMPLA para o Festival, mas infelizmente essas fotografias não apareceram. Houve portanto que recorrer ao que levava, que não era o melhor. Trabalhei durante alguns dias com o camarada responsável de impressão, que é pessoa competente, e que certamente tirará o melhor efeito possível do material, em face do plano que elaborámos. Pedi a Mme Joswiakowsky que acompanhasse o trabalho, nomeadamente para as correcções. O álbum sai em 3 línguas (português, inglês e francês).

A pedido da revista NBI escrevi um artigo, para sair cerca do 4 de Fevereiro. Efectivamente saiu, com as fotos que lhes forneci, mas em forma de entrevista. A revista em questão já está em posse da Informação.

A pedido da Rádio de Berlin Internacional dei uma entrevista, para o seu programa africano. Essa entrevista foi para o ar num programa especial que a referida Rádio fez sobre o 4 de Fevereiro, com palavras dedicadas à luta do MPLA, e cantos dos nossos combatentes que lhes forneci para o efeito.

FDJ- Tive um entretien com esta organização de juventude, sobretudo para lhes fazer algumas observações sobre o programa da escola sindical e para saber quais as perspectivas que ali se ofereciam para os nossos pioneiros. Fui recebido pelo camarada WEISS e dos Departamento dos exteriores e seus colaboradores. Estavam mais ou menos a leste das questões que se pretendia tratar de forma que o contacto não foi positivo, embora tenham feito promessas de responderem para Brazzaville às questões enunciadas. Não me deram, alegando ignorância- explicações sobre o regresso dos camaradas DAMIÃO e LARPES.

Fui informado pelo Com. de Solid. que o Ministério das relações Exteriores queria enviar o seu funcionário encarregado dos Movimentos de Libertação, para uma conversa comigo. Aceitei e depois do primeiro encontro com o referido funcionário, c/ HAMMER, combinou-se um encontro no edifício do MRE. Foi uma conversa de informação mútua. Eles mostraram-se interessados em receber documentos do MPLA. O endereço é
MFAA ABTEILUNG AFRIKA
BERLIN
LUISENSTRSSE 56
République Démocratique Allemande

De notar que na sua conversa se interessaram muito pela sua personalidade e actividades do SAVIMBI.

Tive também um encontro com os estudantes que se encontram na DDR e que militam o MPLA. O Comité de Solidariedade reuniu-os em Berlin para esse efeito. Estiveram presentes, os cam. BARROS, ELIAS, TROVOADA e acidentalmente a c/ Luísa, esposa de Elias, que ali tinha sido sujeita a uma melindrosa intervenção cirúrgica.

Fui aí informado de que existe em ZWICKAU material escolar para o MPLA, oferecido pela população, material esse que atinge algumas toneladas (lápis e cadernos), mas que não há dinheiro para os expedir. Sugeri ao camarada BARROS que tentasse fazer com que as autoridades dessa terra se encarregassem de o fazer, para complemento da sua manifestação de solidariedade, e que em caso de ser todo impossível nos comunicasse, para que os intercedêssemos junto do Comité de Solidariedade para que fizesse embarcar a dita encomenda num dos seus envios.
Informaram-me também do caso de dois angolanos: um VLADMIR DELGADO que seria bolseiro da UGEAN e que estuda construção civil em DRESDEN: que se recusa a militar no MPLA embora se declare simpatizante e outro, ORLANDO FORTUNATO, que teria um passado duvidoso, nomeadamente em Paris e que queria fazer-se membro do MPLA, mas que os companheiros condenavam de antemão, por possuírem provas que se trata de um aprendiz de aventureiro e traficante, estando mesmo metido na DDR em casos de tráfico de divisas.
Os estudantes informaram da sua situação escolar que é normal, salvo a do camarada ELIAS, que tinha perdido um ano por doença um ano e que tinha complicações com o prosseguimento dos seus estudos. Essas complicações estavam aliás em vias de se resolver, segundo me explicaram no Comité de Solidariedade.
A camarada LUISA estava em vésperas de regressar á 3ª Região a conselho de médico que lhe proibia todo e qualquer esforço durante seis meses. Aliás só o facto de ela sofrer com o clima levava o médico a recomendar-lhe o regresso. Ela pediu que a Direcção escrevesse a esse médico agradecendo-lhe o desvelo com que ele a tratou, chegando a estar presente altas horas da noite sempre que o estado da camarada era mais melindroso. Ela extraiu alguns tumores cuja origem não me foi explicada, mas que seriam de grandes dimensões.
O endereço do referido médico é: DOCTOR BECKE Gynecologist, KRANKENHAUS, 172, LUDWINGSFIELD- Rep. Dem. Allemande.

Os camaradas queixam-se de falta de notícias e documentos sobre a luta e o camarada ELIAS, actual responsável, pede que a Direcção lhe dê poderes para tratar de certos assuntos com as autoridades locais no que respeita aos problemas estudantis.

Só no dia 29 de Dezembro concluí os trabalhos com o camarada encarregado de impressão do álbum, e dado o fim do ano é a festa de Natal na URSS, resolvi só partir para lá depois do dia 1. Fixei a minha partida para o dia 3 de Janeiro, perfazendo assim cerca de três semanas na RDA.


UNIÃO SOVIÉTICA

Cheguei a Moscovo em 4 de Janeiro. Fui recebido na gare pelos cs. PEDRO e SUKHANOV e segui para o hotel.
Nessa noite tive esses dois camaradas como companheiros de jantar e falou-se de coisas em geral. Uma delas no entanto chamou-me a atenção: o c/ PEDRO mostrando-se preocupado com as perspectivas da nossa luta perguntou-me se nós não tínhamos a intenção de, em caso de oportunidade, nos prepararmos para negociar. Explicou que isso o preocupava, pois lhe parecia que a política portuguesa dava mostras de poder evoluir, e poder acontecer que de um momento para
outro nós fôssemos chamados a negociar. Nessa hipótese ele pensava que nós não ganharíamos em dar prioridade à formação de quadros políticos, cujo número lhe parecia ser reduzido e insuficiente para as tarefas que se avizinhavam.
Como resposta disse-lhe que não nos parecia existir por ora qualquer inflexão da política portuguesa quanto às colónias, e que justamente por isso a palavra de ordem do MPLA era da intensificação e extensão da luta armada, e que nesse espírito o Mov. Era obrigado durante um curto espaço de tempo a dar prioridade à preparação militar de todos os seus militantes, quadros e dirigentes.
Que isso visava a cumprir um programa de emergência, mas que de modo algum significava que seria uma prioridade absoluta da preparação militar, pois logo que as bases estivessem lançadas, se voltaria a dar prioridade à formação política. O mesmo c/ PEDRO fez perguntas respeitantes a questões internas que ficaram sem resposta.
Este foi o único facto importante antes de eu entrar no hospital, o que se verificou no dia 7, depois de ter passado o tempo em análises numa policlínica, que verificou a existência de um número exagerado de leucócitos no meu sangue, sem no entanto determinar as causas.

Estive no Hospital até ao dia 25, sem que um diagnóstico tivesse sido feito. Fiz no entanto um tratamento aos vermes e fui aconselhado a visitar um urologista. Foi-me proposto passar um tempo num Sanatório, o que não aceitei, por um lado porque receei que mais uma vez não acertassem com o diagnóstico e por outro lado porque já estava há muito tempo ausente. Prometi que voltaria a fazer análises em Brazzaville.
No mesmo hospital estava internada com várias complicações a camarada Margarida Chipenda, que encontrei já com cerca de dois meses internada e que deixei ainda com uma operação por fazer. O seu estado parecia no entanto ter melhorado.

Depois que saí do Hospital, aonde fui visitado por um membro da Rádio Moscou (Emissões da Língua portuguesa) que me pediu uma entrevista, foi-me marcado um encontro com o Comité de Solidariedade. Esse encontro teve lugar no dia 27/1.
Estavam presentes, entre outros DOGDUROF (Presidente do C.S da Rep. de KHIRGHIZI e Membro do Presidium do CSAA da US, BAZANOV, Secretário do CSAA da U.S, Leo SUKHANOFF, membro de Presidium do CSAA etc, Brasil OTCHKIN e Tatiana KRAVTSOVA, colaboradores do CSAA).
Tivemos uma longa conversação, com a seguinte ordem do dia: I- Comemoração do VI aniversário do 4 de Fevereiro na US; II- Reunião do conselho Afro-asiático em Nicósia; III- Situação e problemas da luta encabeçada pelo MPLA; IV- Sugestões e diversos.

Sobre o I ponto foi-me comunicado o programa das comemorações em Moscovo e nas outras cidades onde se fariam meetings. Foi-me dito que NOUVELLES DE MOSCOU faria um número especial, e foi-me pedido para colaborar na Sessão que teria lugar em Moscovo. Aceitei e pedi que fizessem também participar os estudantes o que não foi negado, embora não tivesse sido posto em prática.

Depois de ter pedido alguns esclarecimentos sobre os outros partidos políticos angolanos e em particular sobre o Savimbi e a UNITA, o c: Bazanov afirmou de uma maneira insistente a total solidariedade do Comité do Partido e do Governo Soviético para com o MPLA, destacando que nessa solidariedade comungavam todas as organizações da URSS, afirmando mesmo que sempre que podem entravam a actividade dos Holdens, Savimbis, etc.
Entrou-se depois no II ponto- CONSELHO AFROASIÁTICO.
Era patente a preocupação do c. Baz. sobre a atitude que tomariam os chineses dentro dessa conferência. Descreveu todo o cuidado com que o comité AA sov. estava a preparar a Conferência e fez uma referência às numerosas delegações que apoiavam o ponto de vista de que a Conferência não se devia realizar em Pequim. A meu pedido referiu depois algumas das que não apoiavam a mudança de lugar. Disse-me que estavam ao corrente de que a CONCP também tinha decidido não ir a Pequim e fez referência a um telegrama do c/ Neto ao Comité a esse respeito que eu desconhecia, sem que no entanto o tivesse dado a entender. Declarou então que consideravam que a minha ida a Nicósia teria interesse, pois tratava-se de um membro do Bureau Político o que reforçaria a posição do MPLA, tanto mais que eles estavam dispostos a dar o maior relevo ao capítulo do apoio concreto aos movimentos de libertação nacional, especialmente aos das colónias portuguesas, nos quis ANGOLA ocupava para eles o primeiro lugar. Seria também assunto de preocupação o programar uma intensificação da acção em favor do VIETNAM, e ainda procurar em todos os pontos reforçar a coesão e a unidade das forças progressistas de África e da Ásia.
Referiu depois a campanha que estava a ser levada a efeito pelos chineses para “contrariar as eventuais decisões de Nicósia, destacando uma delegação afro-asiática de escritores que estaria a fazer uma viagem pela África oriental e da qual fazia parte Viriato da Cruz. Concretizaram alguns dos possíveis contraditores de Nicósia, entre os quais os membros japoneses e indonésios do Secretariado AA do Cairo, um tal Lamine de Sierra Leone, um Ugandês, um Malayo, um Thailandês e quatro de países da África austral, como Basutolândia, SWANO, etc. Dizendo que esses grupos estavam sendo manejados por Pequim, onde muitos desses líderes viveriam.
A terminar, o c. Baz referiu-se aos projectos de futuras conferências AA, tais como a II Conferência das Mulheres AA que se deveria realizar após V conf. AA .
Disse ainda estar informado que o Comité Argelino iria propor ALGER como lugar da V Conf. AA e que também em Nicósia se estudaria o lugar da próxima TRICONTINENTAL. A uma pergunta minha sobre a posição do CONGO (B) respondeu não estar certo sobre a posição que tomariam em Nicósia. Finalmente pediu para TRANSMITIR AO POVO ANGOLANO QUE LUTA CONTRA O COLONIALISMO PORTUGUÊS CALOROSAS SAUDAÇÕES E A CERTEZA DO PERMANENTE APOIO SOVIÉTICO.

Entrando no III ponto comecei por fazer referência às questões tratadas anteriormente. Depois das saudações e agradecimentos disse-lhes que não poderia ir à Nicósia uma vez que não estava mandatado e que a essas horas certamente a Direcção já teria escolhido os representantes a enviar como delegados. Que na realidade a CONCP já se tinha pronunciado sobre o assunto e que me parecia que não havia razões para estarem apreensivos porquanto pelas palavras do c/ Baz. uma grande maioria se pronunciaria contra a Conf. em Pequim. Fiz notar que em qualquer caso nós devíamos sempre alinhar na medida do possível, com os países africanos considerados revolucionários, e que em particular tínhamos que ponderar na tomada de posição do CONGO (B). Quando ao quarto ponto disse-lhes que não tinha sugestões importantes a fazer dado que o c/ Neto tinha lá passado havia pouco tempo e que portanto problemas a tratar teriam sido expostos.
Fiz então uma longa exposição sobre o desenvolvimento da nossa luta, insistindo sobretudo na situação em Kinshasa, onde a meu ver se estava a cair na facilidade de aceitar Mobutu como um revolucionário potencial, e isso não só da parte de certos países africanos e socialistas entre os quais a própria US, mas mesmo de sectores considerados progressivos no mundo ocidental. Fiz o paralelo da situação no tempo de Adoula com o actual em que os dados se apresentavam da mesma maneira. Falei de amarga experiência do MPLA resultante do optimismo semelhante manifestado em relação ao Adoula, que nos custou um perigoso isolamento nos momentos mais difíceis .
Em virtude disso estávamos apreensivos com o futuro, pois se engajassem com Mobutu, quer os estados africanos quer os países socialistas se veriam impossibilitados de tomar qualquer posição favorável ao MPLA no caso de uma hostilidade activa do governo congolês em relação a nós. Que isso não queira dizer que nós não fôssemos partidários de uma reabertura de relações, mas simplesmente de que se deveria manter sempre uma reserva e não começar a lançar MOBUTU como revolucionário, como alguma imprensa progressista já ousava escrever.
Isto provocou novas afirmações de apoio INCONDICIONAL E PERMANENTE ao MPLA, além de rasgados elogios ao c/ Neto, em que faziam a maior confiança, como dirigente incontestado angolano.
Foi mais ou menos neste teor que decorreram as discussões que se seguiram.

FUI INFORMADO MAIS TARDE QUE O SAVIMBI TERIA SIDO QUEM REALMENTE IMPEDIU O RECONHECIMENTO DO HOLDEN PELA US? NO DECORRER DE UMA ENTREVISTA QUE ELE TERIA TIDO A CANDONGA COM O COMITÉ DE SOLIDARIEDADE A SEU PEDIDO? NUMA VIAGEM DE REGRESSO DO IRAK EM 1964. Não sei se é verdadeira (embora em parte verosímil) esta informação; vários membros do Com de Sol. negaram que alguma vez se estivesse para reconhecer o Holden... Talvez não tivessem sido postos ao corrente.
Depois de mais trocas de impressões terminamos a conversa, tendo vindo alguns dos camaradas participar comigo num almoço, durante o qual me ofereceram alguns livros de arte soviética.

Relatório de viagem à RFA, à RDA e à URSS, por Lúcio Lara.

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