Colecção de textos do MPLA Nº 1, com alocução de Agostinho Neto

Cota
0087.000.011
Tipologia
Dossier
Impressão
Impresso
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
*[Manuscrito: 12.10.66].

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA - M.P.L.A.
PARTICIPAR CONCRETAMENTE NA ACÇÃO ARMADA

COLECÇÃO TEXTOS Nº 1
DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO DO M.P.L.A.


PARTICIPAR CONCRETAMENTE NA ACÇÃO ARMADA
Alocução proferida pelo camarada, Neto, Presidente do MPLA no programa «Angola Combatente», radiodifundida no dia 12 de Outubro de 1966.

Compatriotas, Camaradas
Nova etapa, uma etapa decisiva da nossa luta começa a desenvolver-se Novas perspectivas se abrem aos patriotas, aos combatentes angolanos no seu activo ardor pela independência Nacional.
É que, utilizando as condições existentes na nossa África contraditória e por vezes incoerente, o MPLA desenvolve hoje a sua acção em três frentes. Além dos focos tradicionais de acção no Norte do país, hoje inteiramente controlados pela nossa organização político-militar, além da continuada pressão que se exerce no distrito angolano de Cabinda, a fogueira da luta acendeu-se no Moxico, sob a bandeira do MPLA.
Quero dizer que uma cintura de fogo começa a envolver os desesperados colonialistas, cujos arranjos de última hora na política portuguesa em Angola, não são senão os sinais de uma desorientação de um terror da acção popular.
Essa cintura de fogo ateada, pelo desejo incontestável do nosso povo de chegar a independência, é um facto lógico, devido exclusivamente a acção do MPLA, que se afirma cada vez mais como dirigente real e consequentemente da luta angolana de libertação.
Os colonialistas portugueses e os seus aliados, os imperialistas americanos, alemães (da Alemanha Federal) e outros, exercem o máximo possível de pressões sobre os países africanos, afim de dificultar a nossa acção afim de evitar a mobilização total dos angolanos patriotas e afim de lançar a confusão no nosso país.
É sabido que as frentes de combate são dirigidas pelo MPLA, mas em alguns países limítrofes continua a favorecer-se a ideia de que outras forças existem ou de que existe divisão entre os nacionalistas, criando falsos problemas da Unidade. Mas na realidade, não existe divisão entre aqueles militantes do nosso país que honestamente desejam contribuir para libertação nacional. Eles aí estão em armas na frente de combate.
A divisão existe sim, entre os patriotas sinceros e os bonifrates ou fantoches do imperialismo; e este é um fenómeno que a força de que repetir-se já deveria ser claro a todos os angolanos.
Assim é que, no período de 1959 a 1961, logo que o MPLA desencadeou a sua acção, surgiram imediatamente no Congo-Kinshasa, inúmeros grupos dirigidos uns pelos colonialistas portugueses e outros pelos imperialistas, que dominavam a situação política naquele país. Muitos deles já desapareceram, outros ainda continuam a ser alimentados e utilizados como elementos de frenação da nossa luta.
Este ano, logo que a acção do MPLA no Moxico se tornou mais visível, surgiram logo na Zâmbia grupos formados pelo imperialismo, afim de desorientar o nosso povo e a opinião pública mundial.
Neste preciso momento em que vos falo, compatriotas e camaradas, os portugueses colonialistas estão fomentando na fronteira de Cabinda, a criação de mais grupos onde descaradamente introduzem agentes da PIDE, que amanhã usarão o rótulo de nacionalistas ou revolucionários, ou o que quer dizer que seja, para vir ao MPLA pôr o problema da Unidade.
No entanto, as balas que eliminam soldados colonialistas portugueses em Cabinda, como no Moxico ou em Cuanza-Norte, são disparadas pelos militantes do MPLA que é a única força presente em todas as frentes de batalha político-militar do nosso povo.
O problema da Unidade não nos perturba. Para o MPLA não existe problema. Nós nada temos a ver com os fantoches que viajam pelo exterior do nosso país vendendo barato a política do imperialismo. Não haverá unidade com fantoches. O problema da Unidade é justo pôr-se quando estão em presença forças patriotas de tendências diferentes, mas não se pode por entre patriotas e traidores.
Dentro do nosso país o português colonialista utiliza uma outra tática para procurar corromper e desmobilizar. Fazem algumas concessões no que respeita as reivindicações fundamentais do nosso povo. Aumentam ligeiramente os salários e vencimentos de funcionários e certas classes de trabalhadores, modificam na aparência hábitos administrativos e socias e dão a ilusão a alguns elementos oportunistas do nosso povo, de participar na vida política do país. Porém, não deixam de aumentar a pilhagem e de ostentar a vida escandalosa de uma sociedade colonial em decadência.
É absolutamente claro para o nosso povo que se Portugal faz concessões ao povo angolano que escravizou durante séculos, isso é unicamente resultado da luta e o único meio de conquistar os direitos plenos de vida independente, é continuar e aumentar o volume da luta, até que o colonialista seja obrigado a retirar-se para o seu país de origem.
E é aqui que reside o problema capital do nosso momento político. Temos de aumentar o volume da luta armada, para aumentar a insegurança dos soldados e dos colonos portugueses que persistem em conservar-se abusivamente sobre o nosso território nacional.
O MPLA, movimento de vanguarda do povo angolano, deve afirmar ainda mais a sua capacidade para se erguer a altura nacional, mobilizando todas as camadas populares na luta contra o colonialismo e pela Independência Nacional.
Todos os nacionalistas angolanos devem participar activamente na luta, sobretudo na luta armada. Os estudantes, os operários, os trabalhadores do campo, os funcionários públicos, os intelectuais, todos os angolanos não têm hoje outra tarefa mais sobre o que não seja a de pegar em armas para combater a presença física do colono no nosso país.
Embora existam problemas graves na nossa terra suscitados pela presença colonialista, todos esses problemas estão hoje subordinadas a um único, que é o da consecução urgente da Independência para o nosso povo.
Só depois dessa Independência é que será lógico trazer para o primeiro plano os problemas da reconstrução nacional, como o da formação de quadros, como o da saúde, como o de inventariar para fazer progredir a economia do país, como o problema cultural.
Todas essas preocupações justas só podem ter sentido na nossa luta de libertação nacional, quando enquadrados na preocupação maior da luta armada.
Todos os angolanos pois, no interior ou no exterior do país, o MPLA indica a tarefa imediata a realizar na nossa luta e essa é: PARTICIPAR CONCRETAMENTE NA ACÇÃO ARMADA.
Trabalhadores ou intelectuais, operários ou funcionários, homens da cidade ou do campo, todos devem juntar-se aos destacamentos de guerrilheiros no norte ou no sul do país. Aqueles que se encontram fora devem regressar para o interior do país e aí agir dentro da organização político-militar do MPLA.
Que ninguém deixe de estar na frente do combate porque é um quadro importante, ou porque é um intelectual brilhante, ou porque tem muita experiência, que ninguém deixe de estar na frente do combate por razão de imperfeições físicas; ou por causa dos encargos familiares, ou por outra causa de dificuldades económicas, ou por causa da sua posição social.
Ninguém deixe a frente de batalha por estar no exterior ou no interior, por estar na cidade ou no campo, ou por causa de outras tarefas.
O nacionalista, o patriota deve estar na frente do combate porque são as armas e só as armas poderão resolver o problema nacional angolano.
As armas abrir-nos-ão as portas para as outras tarefas grandiosas do nosso país.
Sublinho mais uma vez a importância da participação de cada patriota na acção armada para aumentar o volume da luta e para criar novos focos de resistência contra o colonialismo.
Para o militante do MPLA, assim como para todo outro patriota sincero, um caminho único se mostra no comprimento das tarefas patrióticas. Esse caminho é fazer o seu treino militar e participar na guerra contra o colonialismo dentro do nosso país.
Portanto, compatriotas e camaradas, o nosso dever actual é este: ESTAR NA FRENTES DE BATALHA E COMBATER DIRECTAMENTE CONTRA O COLONIALISTA PORTUGUÊS.

Esta é a nossa tarefa actual.
VITÓRIA OU MORTE
A VITÓRIA É CERTA!
FIM

Colecção de textos do MPLA Nº 1 (publicação do MPLA), com alocução de Agostinho Neto ao Angola Combatente
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados