Carta de Agostinho Neto a Lúcio Lara

 Meu caro Lúcio, Convém pôr-te ao corrente das constatações feitas nesta Conferência [da OUA em Lagos]. O nosso comunicado, digo – memorandum, teve um efeito muito bom. O Congo Brazza teve um papel fundamental em nossa defesa, e conseguiu modificar um pouco a atitude dos países. No início, eles puseram o problema de inscrever na ordem do dia o problema de Angola. Resultado da votação: 5 a favor, 12 contra, 17 abstenções. Mas o problema foi discutido no Comité de descolonização e esta comissão recomendou que se tenha em conta as observações feitas durante a discussão – e as sugestões. Uma delas, foi a de se tentar de novo a unificação dos movimentos. Esta decisão, se for aprovada, como parece, pelo plenário, acaba imediatamente com o mito da inexistência do MPLA. De resto, a atitude da Argélia, mudou radicalmente. O embaixador em Conakry chegou hoje e disse-me que se falou muito do MPLA, em Conakry, no encontro BB-ST [Ben Bella – Sékou Touré], e que o 1º me espera em Alger. Por sua vez, Diallo Telli assegurou-me a solidariedade da Guiné e pediu-me para manter o contacto. Alger, ofereceu ajuda, inclusive canivetes e feijão. (Acho que deves utilizar este argumento). Zanzibar, convidou-nos para visitar o País. O Conselho Mundial da Paz, convida-nos para uma visita à Índia. Estas são as notícias essenciais. Se o plenário aprovar a recomendação da Comissão teremos os movimentos mais livres. A Unificação será depois vista. Espero que faças o teu melhor para conseguires o feijão. Esta viagem arrasou-nos até às economias privadas. Espero também que faças boa viagem e bom trabalho. Embora esta carta ainda seja escrita sob a impressão da vitória conseguida, os elementos nela contidos servirão bastante e são factores que temos de utilizar. Regresso amanhã a Brazza. Abraços [assinatura de A. Neto] 28/Fev/1964