Carta do Comité Director do MPLA ao Foreign Secretary do Tanganika

Cota
0058.000.075
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Agostinho Neto - Presidente do MPLA
Destinatário
Foreign Secretary do Tanganika
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

 Brazzaville, 18 de Janeiro de 1964 A Sua Excelência O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo do Tanganica DAR-ES-SALAM Presidência Ref. 20/64 Excelência, Temos a honra de lhe apresentar o nosso irmão Miguel BAYA, Membro do Bureau Político do MPLA. O Sr. BAYA tem a responsabilidade de lhe explicar alguns aspectos importantes do problema de Angola, mais particularmente, os relacionados com a Unidade do nacionalismo Angolano. Como certamente se recorda, em Julho passado após o surpreendente reconhecimento, pelo governo do Congo-Léopoldville, de um grupo político – a FNLA – como “governo angolano no exílio”, o Comité dos Nove da OUA decidiu enviar uma missão de Boa Vontade até Léopoldville, para a fim de tentar obter a unidade entre o MPLA e a FNLA. As condições dadas à Missão da Boa Vontade para realizar a sua tarefa foram muito más e a Missão teve de fazer algumas recomendações baseadas em algumas declarações falsas de representantes da FNLA, sem consideração pela verdade. Estas recomendações foram adoptadas pela Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros em Dakar, que não teve oportunidade de verificar o fundamento das recomendações. Em consequência, alguns Governos Africanos reconheceram o pretenso “governo” apesar do Memorando enviado pelo MPLA que alertava os irmãos africanos para os sérios perigos disso para a unidade do nosso Povo e para o futuro da independência de Angola. Já tivemos a oportunidade de verificar alguns resultados graves deste facto: - Alguns responsáveis do MPLA foram presos arbitrariamente pelas autoridades do Congo-Léo e ameaçaram fechar a representação do MPLA em Léopoldville, sem nenhuma consideração pelas nossas actividades políticas, militares e sociais que ninguém pode substituir. Alguns Governos Provinciais do Congo protestaram contra essa decisão por não conseguirem dar apoio aos milhares de refugiados angolanos que eram assistidos pelo MPLA. Por outro lado, as actividades fratricidas realizadas pela FNLA, confirmadas pelas autoridades Congolesas, vão aumentando enquanto a verdadeira luta contra o colonialismo português está a perder eficácia apesar de todas as facilidades em armas e direito de trânsito dadas à FNLA. O MPLA, pelo contrário, continua as suas actividades apesar de todas as dificuldades. Dentro de Angola, o MPLA continua a ter o maior apoio e a organizar uma guerrilha séria. O MPLA continua a lutar pela unificação de todas as forças patrióticas de forma a manter afastados os imperialistas que já estão a interferir nos nossos problemas. Estas são algumas das razões que nos levam a não aceitar as recomendações do Comité dos Nove e a requerer que seja reexaminado o problema angolano na próxima Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros, com o objectivo de criar as bases para uma acção real contra os colonialistas Portugueses, a fim de estabelecer em Angola um regime Democrático que possa defender os verdadeiros interesses do nosso Povo. Temos a certeza que Vossa Excelência, em nome da Justiça e em nome dos verdadeiros interesses da África, fará todo o possível para convencer a Conferência sobre a necessidade urgente de reexaminar a questão de Angola. Com os nossos melhores cumprimentos, subscrevemos Respeitosamente Em nome do Comité Director, Agostinho NETO Presidente

Carta de Agostinho Neto, Presidente do MPLA (Doc 20/64), em nome do Comité Director do MPLA (Brazzaville) ao Foreign Secretary do Tanganika.

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