Carta de Agostinho Neto a Gentil Viana

Cota
0056.000.059
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Agostinho Neto - Presidente do MPLA
Destinatário
Gentil Viana
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

 Brazzaville, 27 de Dezembro 1963 Pres. M. GENTIL FERREIRA VIANA Ref. 69/P/63 BRAZZAVILLE Prezado Camarada, A urgência por si pedida para a resposta à sua carta em que apresenta o pedido de demissão, foi correspondida com a nossa carta 64/P/63 em que o Comité Director se não opõe ao seu pedido de demissão. Os motivos por si invocados desde longa data, mais precisamente, desde a sua chegada da Conferência de Dakar, para se declarar afastado do Movimento, eram suficientemente conhecidos dos camaradas “mais velhos”, para que se pensasse ser possível convencê-lo a não pedir oficialmente a sua demissão. Os camaradas da Direcção do Movimento estavam porém convencidos de que a vontade por todos empregue na discussão de um plano geral de luta mereceria da sua parte uma maior consideração, razão por que estranharam que o seu pedido oficial de demissão coincide com o seu abandono da discussão encetada com alguns “militantes dos mais velhos e responsáveis dentro da Organização”. Os considerandos da sua carta exprimem uma vez mais a sua opinião pessoal sobre a situação do MPLA e seria teimosia da nossa parte tentar aqui rebatê-los na generalidade, dada a posição de rigidez de apreciação em que o camarada se coloca. Alguns deles porém merecem o nosso reparo, por exprimirem impressões pessoais que aparecem como certezas. Assim: 1 – É cedo para se afirmar que o MPLA falhou na formação de militantes (quadros técnicos e políticos). O abandono de alguns não implica o falhanço inevitável de outros. 2 – Também é pura impressão pessoal que exista “obstinação em seguir-se com a velha estratégia e táctica do MPLA... cuja solução ditada pelo desespero podem ­contrariar directamente a realização dos objectivos progressistas”. O camarada não ignora que não há a menor determinação em prosseguir com uma estratégia e táctica comprometidas com as condições actuais, e que será a Conferência de Quadros que se realiza em 3 de Janeiro que estabelecerá a estratégia e adoptará as tácticas adaptadas à situação actual. 3 – Do mesmo modo, a sua “campanha pela adopção de uma estratégia progressista de luta armada com os líderes máximos em armas no interior do País” não esbarrou contra a obstinação do actual Comité Director, que tem sido desde a sua investidura um ardoroso defensor desse mesmo princípio, da presença dos dirigentes no interior. 4 – Também nos parece que a sua “discordância principal com a estratégia e táctica adoptadas pela mesma Organização nos últimos três anos” só se generalizará se for aceite pela maioria dos militantes conscientes, e nesse caso, será uma generalização positiva. Na medida em que está convencido das suas teses, parece-nos que seria mais positivo discuti-las com a massa dos militantes responsáveis dentro dos órgãos próprios a tais discussões, as quais são a condição primeira para a adopção de ideias que façam desenvolver a Luta. Essas discussões já se vinham fazendo e nada houve ainda que faça prever o seu insucesso; muito pelo contrário, houve sempre fortes esperanças para encontrar uma solução que preservasse os objectivos maiores do nosso Movimento, com os quais o camarada sempre esteve de acordo. 5 – Depois da Conferência de Dakar, o MPLA sofreu uma série de rudes golpes já previstos, cujos efeitos imediatos não permitiam tomar medidas precipitadas. Na medida em que os efeitos de tais golpes estão sedimentando, o MPLA não se escusa das responsabilidades que assumiu em relação ao nosso Povo, e está decidido a continuar a luta até à vitória total, sem necessariamente ter de “recorrer a medidas ditadas pelo desespero”. E como o camarada não abandonou nem abandonará jamais a luta pela libertação incondicional do nosso País, esperamos que o futuro da nossa Luta possa provar-lhe quão precipitada é a sua decisão e o aconselhe a juntar-se de novo às forças combatentes. Pelo Comité Director Agostinho Neto Presidente

Carta de Agostinho Neto (Brazzaville) a Gentil Viana, respondendo ao seu pedido de demissão.

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