Esclarecimento de Agostinho Neto ao Comité de Conciliação

Cota
0053.000.016
Tipologia
Correspondência
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Remetente
Agostinho Neto - Presidente do MPLA
Destinatário
Comissão de Reconciliação das Organizações Nacionalistas Angolanas
Data
1963
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público


[Sem data - talvez Julho 63]

PRESIDÊNCIA
Sr. Presidente do Comité de Conciliação
Digníssimos Membros:
Após ter reconsiderado a minha disposição em falar em nome da FDLA, pedi, numa carta datada de 19 de Julho de 1963, para ser escutado como presidente do MPLA.
O facto de eu ter sido impedido de falar em português e de expor os pontos de vista do MPLA, faz com que as conclusões a que chegarão sejam certamente apenas o reflexo das afirmações feitas pela FNLA.
Ora o MPLA não pôde falar sobre todas as razões em que apoia a força da sua actividade e a confiança das massas que lhe são fiéis. Não tive a oportunidade de falar dos cerca de 300 militares já treinados que enquadram aproximadamente 10.000 jovens combatentes no interior do país, nas regiões que se estendem numa parte do norte e do centro do país.
Não pude falar de milhares de membros e simpatizantes que se encontram no norte, centro e sul de Angola, para além dos 50.000 membros entre os refugiados no Congo, a quem fiz referência. O MPLA, que é um movimento de massas, foi criado no interior de Angola e eu próprio fui presidente da secção do interior até 1960, data da minha detenção em Luanda onde era médico. Ao MPLA cabe a responsabilidade da primeira operação militar desencadeada a 4 de Fevereiro de 1961 em Luanda.
Os nossos militares enquadram o povo de Cabinda que, como em Janeiro de 1963, participou em combates cuja importância foi confirmada pela própria imprensa portuguesa (conforme fotocópias dos jornais que não tive possibilidade de vos apresentar).
Não pude falar de toda uma acção de politização e de enquadramento das massas no interior do país e cuja documentação poderei apresentar.
É falso que o MPLA esteja associado a partidos colaboracionistas. Não se poderá acusar o MNA ou a UNTA de colaboracionismo. Nos outros Partidos, traidores como Jean Pierre Mbala, que já não têm qualquer representatividade para negociar com os portugueses uma solução que não nos convenha, foram expulsos. Os jornais noticiaram esta expulsão e lamentamos que aqueles que nos acusam não tenham dito toda a verdade. Um documento distribuído à Comissão de Conciliação, fazendo referência à NGWIZAKO, apenas envolve um grupo de indivíduos expulsos do Partido. Mas teria sido necessário que fôssemos escutados pelo Comité de Conciliação, antes que este chegasse a conclusões baseadas em informações fornecidas com uma evidente falta de objectividade.
A FDLA e o MPLA chamam a atenção para a gravidade da atitude tomada e para o facto de as vossas conclusões poderem vir a dificultar a actividade da FDLA na República do Congo e provocar o massacre das populações que nos apoiam no interior de Angola, como já sucedeu a duas colunas do MPLA quando atravessavam zonas onde havia soldados da FNLA. Estes factos são, aliás, bem conhecidos.
Se a Comissão de Conciliação, em vez de cumprir a sua tarefa de unificação dos nacionalistas angolanos que esperávamos ver realizada, se limitar a cumprir com o seu programa sem sair do formalismo que presidiu às sessões, arrisca-se a ser um ­instrumento de consagração da divisão do Povo Angolano.
O MPLA, de que sou o Presidente em exercício, a FDLA de que sou o Presidente eleito, apenas podem protestar contra a atitude tomada e abandonar a Conferência, enquanto a responsabilizam pela divisão assim consagrada.
Não podemos considerar válidas as suas conclusões, sejam elas quais forem.
Prevemos que novas dificuldades se coloquem à independência de Angola.
Em nome do Comité Director
Agostinho Neto
Presidente

Esclarecimento de Agostinho Neto ao Comité de Conciliação (9/07/63?)

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