Conferência de Imprensa do Dr, Agostinho Neto

Cota
0052.000.050
Tipologia
Conferência de imprensa
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
FDLA - Frente Democrática para a Libertação de Angola
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público


FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA – FDLA
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO DR. AGOSTINHO NETO
PRESIDENTE DO FDLA

Senhores Representantes da Imprensa
Minhas Senhoras
Meus Senhores

Agradeço sinceramente a vossa presença a esta Conferência. Ela dar-me-á a ­oportunidade de vos esclarecer sobre os últimos acontecimen­tos ocorridos no meio do nacionalismo angolano, pelo menos numa parte importante do mesmo.
Acaba de se criar a FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA, que agrupa no seu seio o Movimento Nacional Angolano (MNA), o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o NGWIZANI A KONGO (NGWIZAKO), e a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA).
Todas estas organizações nacionalistas, entre as quais uma Sindical, após cerca de dois meses de negociações, concordaram em reunir-se numa Frente Democrática, adoptando uma política comum para a Libertação do nosso País, embora conservando a personalidade de cada organização.
As organizações integradas na Frente Democrática estão gratas ao Governo da República irmã do Congo pelo acolhimento e hospitalidade que lhes tem sido concedido e por lhes ser permitido manter aqui a sua actividade política.
Declaramos ser nosso desejo conservarmo-nos no estrito campo da legalidade e respeitar as leis do País que nos acolheu.
O acordo a que as organizações nacionalistas chegaram baseou-se nos 14 princípios seguintes:
1 – Liquidação definitiva, por todos os meios, do colonialismo português em Angola.
2 – Consolidação da Independência Nacional pela prática duma politica de não-
-alinhamento.
3 – Luta contra o neocolonialismo sob todas as suas formas.
4 – Instauração em Angola de um regime democrático, em que os Direitos Fundamentais do Homem serão garantidos.
5 – Admissão na Frente de todas as organizações que o quiserem fazer, depois de discussão no mesmo pé de igualdade.
6 – Intensificação da luta tanto armada como diplomática.
7 – Formação dum Conselho Político que deve aprovar toda a opinião emitida em nome da Frente.
8 – Formação dum só Exército de Libertação colocado sob um só Comando Militar.
9 – Formação duma só organização para a assistência social e para a educação de massas.
10 – Condenação da luta fratricida e de todas as manifestações de triba­lismo, de regionalismo e de intolerância racial e religiosa.
11 – Desenvolvimento do espírito de fraternidade e de entre ajuda, entre os angolanos de todas as camadas sociais.
12 – Defesa constante da Unidade Nacional e da Integridade Territorial do País.
13 – Engajamento solene e activo para a realização da Unidade Africana, no ­espírito da Carta de Addis Abeba.
14 – Respeito pela personalidade de cada organização que adira à Frente.
Esta Frente Democrática facilita a congregação dos nacionalistas angolanos, facilita a colaboração na luta contra o colonialismo português, facilita a organização das massas no interior e no exterior do nosso País.
Esta Frente Democrática não se opõe a qualquer outra organização nacio­nalista e deve procurar activamente, conseguir a união de todas elas numa Frente Única.
Esta Frente está disposta a negociar imediatamente e sem condições com as organizações nacionalistas constituídas a fim de chegar a um acordo.
Mais concretamente, a Frente Democrática está pronta a negociar imediata­mente e sem condições com o FNLA, constituído pela UPA/PDA, a fim de formar uma Frente Única.
Quanto ao Governo Revolucionário Angolano no Exílio, o seu reconhecimen­to pelo Governo Congolês permitirá pensar que este, depois da Históri[c]a Conferência de Addis Abeba, quis conceder ao nacionalismo angolano, um instru­mento útil para a aceleração da descolonização da África. Este Governo no Exílio pode contribuir para resolver os problemas actuais da nossa luta.
É desejável que a este Governo reconhecido pelo Governo Congolês se confi­ra a representatividade suficiente e necessária, para ser reconhecido por todos os Estados Africanos e principalmente para que possa impor-se aos olhos de to­dos os angolanos.
Queremos dizer que a integração de representantes da Frente Democrática no GRAE é necessária.
Queremos dizer ainda que a Frente Democrática está pronta a participar do Governo.
A Conferência dos Chefes de Estado reunidos em Addis Abeba proclamou a Unidade da África, estabeleceu as bases essenciais para o estabelecimento das linhas comuns de uma política concertada. Das resoluções dessa Conferência ressalta a decisão de ajudar os países ainda dependentes a libertarem-se do jugo colonial.
Essa ajuda pode contribuir verdadeiramente para a mais rápida realização do nosso desejo da Independência. A nossa unificação é a condição sine qua non essa ajuda pode ser aproveitável [sic].
Saudamos a constituição da Comissão de Conciliação, conforme resolução do Comité dos Nove.
Essa Comissão de bons ofícios para ajudar-nos a esclarecer e a dissipar os mal-
-entendidos ainda existentes no panorama político angolano para a For­mação da Frente Única desejada [sic].
Esperamos que da sua presença em Léopoldville resulte realmente a concretização das nossas aspirações sobre a unidade de acção.
Paralelamente às decisões de Dar-es-Salam, o Presidente da República do Congo (Brazzaville) tem feito o seu melhor para conseguir a nossa conciliação e unificação. Só temos que agradecer a Sua Excelência esta feliz iniciativa que não foi vã.
Verifica-se que somos assim responsáveis perante o nosso Povo quando fa­lamos da libertação do nosso País e responsáveis perante todos os outros povos africanos quando falamos da descolonização do continente.
Perante o efectivo apoio dos nossos irmãos de África, as nossas responsabilidades como organizações nacionalistas lutando pela Independência do País e pela descolonização de todo o Nosso Continente tornaram-se maiores.
Temos consciência desse facto e não faltaremos [aos] nossos deveres para com o nosso Povo e com os Povos Irmãos de África.
A posição de Portugal diante do problema das suas colónias entre as quais Angola, obriga-nos a desenvolver simultaneamente uma actividade política e militar. A Frente Democrática dará a sua maior atenção à formação de um Exército de Libertação Único, ao seu adestramento e equipamento.
Todas as organizações reunidas no seio do FDLA se puseram de acordo em suportarem as reivindicações políticas e em exigirem a concessão imediata da Independência, apoiando-se na luta armada.
O FDLA pensa que a negociação é uma via possível para trazer a Paz à nossa Pátria. A única condição é que os responsáveis da política portuguesa saiam da sua obstinação cega e reconheçam o direito do nosso Povo à autodeterminação e à Independência. Somente então se falaria de negociação.
O FDLA rejeita no entanto toda a solução de carácter reformista que vise a enganar o nosso Povo e a perpetuar a dominação estrangeira sob não importa que forma.
A formação da FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA, constitui­rá, estamos certos, a garantia mais segura para reforçar a nossa luta e pa­ra activar o processo da Independência do nosso País.

Léopoldville, 10 de Julho de 1963

Conferência de Imprensa de Agostinho Neto, como presidente da FDLA (Léopoldville)

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