Carta de Agostinho Neto aos Presidentes do Senado e da Câmara de Representantes

Cota
0048.000.027
Tipologia
Correspondência
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Remetente
Agostinho Neto - Presidente do MPLA
Destinatário
Presidentes do Senado e da Câmara de Representantes do Congo-Léo
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA MPLA 51, Avenue Tombeur de Tabora B. P. 720 – Tel. 2452 LÉOPOLDVILLE Léopoldville, 26 de Março de 1963 Dr. AGOSTINHO NETO Presidente do MPLA PRESIDÊNCIA Ref. 162/F/PRES/63 A SUAS EXCELÊNCIAS O PRESIDENTE DO SENADO E O PRESIDENTE DA CÂMARA DOS REPRESENTANTES LÉOPOLDVILLE Excelência, Como se sabe, a luta armada que o Povo angolano desencadeou pela sua independência prossegue, apesar de todas as dificuldades. No interior do nosso País, os militantes dos movimentos políticos opõem uma resistência heróica a todos os ataques, aos bombardeamentos e às rusgas perpetrados pelos colonialistas portugueses. A acção militar depende em larga medida do apoio concedido pelo Governo da República do Congo. No entanto, o nacionalismo angolano ainda se encontra dividido apesar dos esforços empreendidos pelo MPLA e apesar da intervenção conciliadora dos Governos do Ghana, do Congo e da Argélia. A União das Populações de Angola (UPA) recusa sistematicamente qualquer troca de pontos de vista no sentido de encontrar as bases comuns para a colaboração na luta. O MPLA considera que um dos factores essenciais desta divisão é justamente a ajuda unilateral que a UPA recebe da parte do Governo da República do Congo. Por outro lado, essa ajuda toma uma amplitude maior face às dificuldades criadas ao MPLA. O “Movimento Popular de Libertação de Angola” é uma organização política com carácter próprio, tendo um grande prestígio tanto nacional como internacional – é Membro do Comité Executivo da Conferência Panafricana, é Membro do Secretariado da Organização de Solidariedade Afro-Asiática – e à sua acção pela libertação de Angola se deve o desencadear da luta armada, no dia 4 de Fevereiro de 1961. Muitas das acções contra a ocupação portuguesa em Angola são levadas a cabo pelo nosso Movimento. Ainda recentemente, se puderam ouvir os ecos de uma vasta operação dos grupos de guerrilha do MPLA em Cabinda. No entanto, a nossa actividade político-militar é travada pelas autoridades congolesas de uma forma que nos parece discriminatória. Sob vários pretextos, os nossos militantes são frequentemente presos nas fronteiras. Alguns grupos armados que iam cumprir acções em Angola foram presos junto da fronteira. As armas apreendidas e nunca devolvidas. Apesar dos esforços do Governo Marroquino e do Governo Argelino, não conseguimos obter a autorização para receber armas e munições em território congolês. A ajuda do Governo Congolês vai exclusivamente para a UPA a quem concedeu um Campo de Treino militar. Essa situação – como já dissemos – favorece o divisionismo entre os angolanos e põe em evidência uma intervenção inútil do Governo da República do Congo que se arrisca a enfraquecer a acção do nosso Povo na sua luta de libertação. Chamamos a alta atenção de Vossa Excelência para estes factos, certos de que contribuirá para a concessão, ao MPLA, das mesmas possibilidades de trabalho concedidas aos outros partidos políticos. Estamos certos que Vossa Excelência saberá contribuir para modificar a situação actual. Pela sua actividade imparcial, o Governo Congolês contribuirá para acelerar a liquidação do colonialismo em Angola e em África. Entretanto, Excelência, queira aceitar os protestos da nossa mais elevada consideração. Em nome do Comité Director do MPLA Dr. AGOSTINHO NETO [com assinatura] NS/PT [carimbo do CD do MPLA]

Carta (Ref. 162/F/PRES/63) de Agostinho Neto aos Presidentes do Senado e da Câmara de Representantes do Congo Léopoldville

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados