Primeiro número de Vitória ou Morte

Cota
0037.000.032
Tipologia
Imprensa
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
7
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA MPLA 51, Avenida Tombeur de Tabora – C.P. 720 LÉOPOLDVILLE [carimbo do CD] VITÓRIA OU MORTE “UM DIA DEIXARÁS OS TEUS PAIS, A TUA MULHER, OS TEUS FILHOS, TUDO QUANTO AMAS, E CANTANDO PARTIRÁS COM OS VERDADEIROS IRMÃOS, AO ENCONTRO DA MORTE HORRENDA QUE CEIFARÁ VIDAS HUMANAS NUM TERRÍVEL FURACÃO DE FERRO. E EIS ENTÃO QUE NESSE MOMENTO SUPREMO VERÁS NUM CLARÃO TUDO QUANTO SE PODE CONTER NESTA PALAVRA DOCE: A PÁTRIA. E A SUA CAUSA PARECER-TE-Á TÃO BELA, SENTIR-TE-ÁS TÃO ORGULHOSO DE A ELA TE DARES QUE, MAGOADO OU FERIDO DE MORTE, TOMBARÁS CONTENTE.” ESTÁ ENTRE NÓS O PRESIDENTE DE HONRA DO MPLA, DR. AGOSTINHO NETO. É com sincera alegria e viva emoção que temos o prazer de anunciar a presença entre nós do Presidente de Honra do MPLA, Dr. Agostinho Neto. O Dr. Agostinho Neto tem-se revelado em toda a sua vida um grande militante pela causa da libertação do país. As suas actividades na defesa dos legítimos direitos dos angolanos custaram-lhe já várias prisões: A primeira em 1952 durante 90 dias e a segunda em 1955 durante 28 meses. Estas duas prisões prejudicaram bastante a sua carreira médica pois ambas se verificaram enquanto prosseguia os seus estudos de medicina, em Lisboa. A terceira prisão foi efectuada em Luanda (em Luanda) [sic] em Junho de 1960 pelo famigerado S. José Lopes que o prendeu no seu consultório médico quando observava os seus doentes. Os colonialistas portugueses receando a reacção do povo, dado o grande prestígio que o Presidente de Honra do MPLA goza entre todos os angolanos, resolveram transferi­-lo sob escolta militar para Lisboa onde permaneceu preso na cadeia do Aljube. Mas em Lisboa os colonialistas não o conservaram muito tempo porque também aí a sua personalidade de homem político, de letras e de médico é muito admirada por todos os democratas e homens honestos. Isso forçou os colonialistas a exilá-lo para Cabo Verde na ilha de Sto Antão onde o conservaram sob residência vigiada até o ano corrente. O Dr. Agostinho Neto nunca deu provas de desânimo ou desfalecimento! Mesmo em Cabo Verde continuou a interessar-se activamente pelos problemas do seu povo! Escreveu cartas aos seus antigos companheiros a incitá-los a continuar a luta; nos vários protestos que enviou ao ministro das colónias portuguesas, fê-lo sempre na qualidade de dirigente de um movimento nacionalista e manifestou ao ministro português que Angola nunca se curvaria à dominação portuguesa, que os angolanos haviam de bater-se até à libertação ou à morte. Conseguiu grandes amizades entre os caboverdianos. Chegou mesmo a animar as aspirações de liberdade que como nós os naturais de Cabo Verde há muito vêm manifestando. Os colonialistas temendo que a influência do Dr. Agostinho Neto tomasse grandes proporções em Cabo Verde resolveram transferi-lo mais uma vez para Lisboa sob o pretexto de ter exibido uma fotografia onde se revelava as crueldades que os militares e colonos portugueses praticam no nosso país. De Lisboa o Dr. Agostinho Neto conseguiu iludir a famosa PIDE e evadir-se! Hoje temo-lo felizmente entre nós! Logo que chegou, começou imediatamente o seu trabalho na qualidade de presidente de honra do nosso movimento. Ao ter conhecimento da divisão que existe entre os angolanos, mostrou-se muito preocupado e exprimiu o desejo de se dedicar inteiramente ao trabalho de unir o povo. Participou como chefe da delegação do MPLA na primeira reunião que se realizou com a delegação do FNLA para estabelecimento da FRENTE entre os respectivos movimentos. Segundo o Dr. Neto a reunião decorreu de forma satisfatória e espera que a próxima seja ainda muito mais proveitosa. O Presidente de Honra do MPLA aguarda a todo o momento a resposta da FNLA para a realização da segunda reunião. Outra atitude do Dr. Agostinho Neto a favor da unidade consistiu na redacção duma carta que em seu nome pessoal endereçou aos presidentes da União das Populações de Angola (UPA) e Partido Democrático Angolano (PDA). Infelizmente essa carta não foi bem compreendida por aqueles dois dirigentes que o acusam nas suas respectivas respostas de intenções que estão fora do espírito e da maneira de ser do Presidente de Honra do MPLA O Dr. Agostinho Neto não faz nenhuma acusação. Ele limita-se a lamentar que se tenham produzido certas situações entre angolanos. Não se diz na sua carta que a UPA ou o PDA fizeram isto ou aquilo. Nós cremos que só o facto de se desconhecer o Dr. Neto permitiu suposições desse género. Nós que o conhecemos bem, que temos bem gravado na nossa mente quanto sacrifício e quantas dificuldades passou como consequência da sua actividade a favor da libertação da nossa Pátria, não duvidamos um segundo sequer da honestidade e das boas intenções do seu gesto. O Povo de Angola também não duvida. Para que todos possam avaliar a veracidade das nossas afirmações transcrevemos a sua carta: Léopoldville, 8 de Agosto de 1962 Sr. Holden Roberto Presidente da União das Populações de Angola Léopoldville Excelentíssimo Senhor: Na qualidade de dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola, sinceramente­ interessado na luta patriótica do Povo pela sua Libertação do jugo ­colonial português, ansioso, e preocupado com as dificuldades que têm obstado ao alargamento da luta popular e ao desenvolvimento do espírito de fraternidade entre todos os angolanos­ sem distinções, venho pôr à consideração de Vossa Excelência o seguinte: É elementar e imprescindível que as forças nacionalistas se congreguem numa frente político-militar a opor à acção criminosa do governo colonial-fascista português. Esta necessidade opõe-se, imediatamente, à persistência do divisionismo dentro das fileiras nacionalistas e considero que as atitudes tomadas, por quem quer que seja, tendentes a manter o fraccionamento dessas forças, quer no campo político, quer no terreno militar, são a melhor ajuda dada ao colonialismo português, contra os interesses do povo angolano, e não coincidem com os superiores objectivos da luta de libertação. A desorientação a que foram conduzidas as massas populares, quer no interior do País, quer no estrangeiro, por ideias entre elas disseminadas, contrárias ao espírito da unidade nacional, é uma consequência lógica do divisionismo; e esse horroroso espectáculo de inconsciência política não pode senão dificultar a luta do Povo pela libertação nacional e favorecer os objectivos imorais do governo colonial-fascista português. Quando elementos da população angolana, fugidos à ferocidade dos colonos ­portugueses, se dirigem para o Congo, e são presos, seviciados ou mesmo exterminados por outros angolanos, seja qual for o pretexto; isto é um crime, isto é traição contra os fins da Revolução Angolana, isto é colaboração com as forças repressivas do governo colonial. Quando as forças militares nacionalistas angolanas, empenhadas na dura luta contra a ocupação portuguesa são atacadas pelas costas por outros angolanos, por sectarismo, por racismo, por regionalismo ou por razões ideológicas, isto é crime e um aspecto grave de traição aos princípios da sagrada Revolução Angolana, é colaboração com o ocupante. Quando as equipas de assistência médico-social em missão de auxílio às populações desamparadas são perseguidas ou agredidas por angolanos atiçados pelo aguilhão do racismo, do sectarismo, do tribalismo, impedindo assim que os angolanos necessitados tenham socorro devido; isto é crime, é desumanidade, é colaboração com a repressão dos colonialistas portugueses. Permiti-me registar aqui alguns factos que hoje acontecem entre nós, sem desejar acusar quem quer que seja, é apenas para concluir que é urgente uma acção enérgica dos dirigentes políticos, para evitar repercussões catastróficas no seio das massas populares; e mais: para concluir que as querelas e questiúnculas entre os Movimentos não podem nem devem impedir a solução conveniente do problema nacional, que é superior aos problemas particulares dos agrupamentos políticos. Os verdadeiros patriotas, aqueles que se encontram nos Movimentos ­nacionalistas desejosos sinceramente da Libertação do País; aqueles que sentem o sofrimento do Povo, a sua angústia; aqueles que dentro de Angola, passaram pelo sofrimento da prisão, sentiram na sua carne os vexames e os espancamentos, as humilhações e ­torturas; os que combateram; aqueles que estão apreensivos pela sorte de seus pais, esposas e maridos, irmãos ou amigos, que se encontram no interior do País, à mercê dos facínoras colonialistas, esses que sentem Angola no seu coração, esses que se sentem Povo de Angola; estão exigindo, nesta hora grave, que a vergonhosa situação em que nos achamos cesse sem demora. Por isso, e para tentarmos remover as dificuldades que entravam incompreensivel­mente a colaboração de todas as forças nacionalistas num Movimento único – e ­independentemente de outras diligências que estejam a ser feitas – convido Vossa ­Excelência para uma conferência à qual poderíamos participar apenas os dois ou, se o desejar, também outros políticos angolanos. Estou certo de que deste encontro poderia resultar um benefício para a Causa Angolana. Proponho que a conferência se realize no próximo dia 12 de Agosto de 1962, pelas 17 horas, na sede do MPLA, Av. Tombeur de Tabora, 51, nesta cidade. Mas se Vossa Excelência preferir, poderá indicar outro local e data. Endereço a Vossa Excelência, cordiais saudações. Léopoldville, 8 de Agosto de 1962 Agostinho Neto – Presidente de Honra do MPLA * * * * * * UNIDADE Nenhum angolano deve desconhecer a importância da unidade para a vitória da nossa justa causa. A luta armada que se desenvolve no nosso país tem mais de um ano de duração. Os efeitos não foram além de revelar ao mundo a disposição do nosso povo de terminar para sempre com a dominação e exploração colonialista. Em outros aspectos os efeitos estão longe de ser satisfatórios: os portugueses concentraram mais de 80.000 soldados bem armados na região do Norte, mataram mais de 50.000 angolanos, entre homens, mulheres e crianças, obrigaram à saída do seu território parte da população (o número de refugiados no Congo é de cerca de 200.000), grande parte do povo que se encontrava nas zonas das operações militares teve de refugiar-se nas matas onde se conserva sem alimentos e medicamentos, em péssimas condições de alojamentos, indefeso e cada vez mais exposto às crueldades costumadas em que o inimigo se tem revelado mestre. Só um grande esforço, realizado por todos os partidos e movimentos nacionalistas angolanos em comum pode libertar os nossos irmãos das condições a que foram obrigados com o desencadeamento da luta armada. Isso não significa que devemos ser contra a luta armada. Nós devemos aceitar que só a luta armada pode levar os colonialistas portugueses a reconhecer o nosso direito de donos da nossa própria terra. Mas isso não quer dizer que devemos fazer uma luta de qualquer maneira. O passado já nos ensinou que devemos satisfazer duas condições para vencer: 1) Realizar uma frente sólida e organizada. 2) Conseguir armas e material suficiente para vencer o inimigo. Ora neste momento nós não realizamos nenhuma destas condições. Nós estamos informados que no dia em que os nossos dirigentes políticos formarem uma frente representativa de todo o povo, nós conseguiremos realizar imediatamente a segunda condição. Isto quer dizer que a formação da FRENTE permite conseguir imediatamente os meios necessários para lutarmos nas melhores condições contra o nosso inimigo. Os países africanos conhecem bem a nossa situação. Os Chefes dos países que temos contactado estão dispostos a dar-nos toda a ajuda que necessitarmos desde que formemos uma FRENTE. Eles têm-se mesmo mostrado muito preocupados pela nossa falta de unidade. A nossa divisão não permite a vitória contra os colonialistas e enquanto a África não for toda livre, a legítima aspiração da unidade do nosso ­continente não pode ser realizada. Os colonialistas portugueses sabem pelo seu lado que a formação duma FRENTE ANGOLANA representativa significa o comprometimento total das suas ­possibilidades de resistir. É por isso que eles gastam muito dinheiro para comprar angolanos e fazer deles traidores; para que cada vez se formem mais partidos que lancem a confusão entre os nacionalistas e se mantenha assim a nossa divisão; para obter declarações de falsos dirigentes onde se diz que Angola e Portugal são uma e mesma nação; para apresentar ao nosso Povo angolanos indignos e sem vergonha que aconselham o trabalho para encher os bolsos e a barriga dos colonos. Fazem tudo isso porque no passado eles ­conseguiram dividir o povo e dessa maneira conquistar o nosso país. Eles querem repetir hoje o que conseguiram no passado: Impedir a nossa unidade, porque a FRENTE UNIDA de todos os angolanos significa a derrota dos colonialistas e a vitória do Povo Angolano. A maior parte dos países africanos que eram colónias já estão independentes. Eles também tiveram problemas como os nossos. Mas eles compreenderam a tempo que para vencer deviam unir-se. E assim tanto os guineenses como os congoleses, os ­argelinos como os ghanenses e todos os outros tiveram o bom-senso de esquecer todas as questões existentes no seio do povo e apresentar-se sempre unidos contra os seus respectivos inimigos. Os colonialistas nunca abandonam as suas colónias sem luta. Eles sabem que as colónias dão-lhes muito dinheiro: Pagando salários baixos conseguem produtos muito procurados no mundo, como os diamantes, o café, o algodão, o cobre, o ferro, o açúcar, etc.; que vendem a preços muito altos e assim realizam grandes fortunas. Ora, os colonialistas portugueses porque se encontram nas mesmas condições também não vão abandonar Angola sem lutar. Mas nós sabemos que países mais fortes que Portugal como a Inglaterra, a França e a Bélgica, tiveram de abandonar as colónias. Não puderam resistir, embora tentassem, às FRENTES que os africanos apresentaram contra o seu respectivo inimigo. Nós devemos aprender com o nosso passado, com a nossa experiência actual e com o exemplo que nos deram os nossos irmãos dos países de África que hoje já são independentes. Nós devemos pôr de lado todas as nossas questões e unirmo-nos numa FRENTE sólida, firme, como um punho fechado e assim lutarmos contra o nosso inimigo, que é o colonialismo português. Para isso é necessário que cada angolano faça os maiores esforços no sentido da formação da FRENTE. Os angolanos devem fazer a maior propaganda a favor da ­formação da FRENTE em todos os lugares em que se encontrem, quer seja a casa familiar, a rua, os lugares de trabalho, a escola, a sede dos movimentos políticos ou os lugares de recreio. As conversas dos angolanos devem ser de preferência a favor da FRENTE, explicando as vantagens da formação da FRENTE, tentando encontrar os meios a adoptar para formar a FRENTE, escrever cartas de protesto aos responsáveis dos movimentos e partidos políticos sempre que estes revelem falta de interesse pela FRENTE, denunciar e afastar do seu convívio diário todos aqueles que por atitudes ou palavras se apresentem como adversários da formação da FRENTE. Nós devemos dar prova da nossa maturidade fazendo a unidade. VIVA A UNIDADE! VIVA A FRENTE UNIDA DE TODOS OS MOVIMENTOS E PARTIDOS NACIONALISTAS! A FRENTE VENCERÁ! A FRENTE LIBERTARÁ ANGOLA DA DOMINAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA! * * * * * INFORMAÇÕES CONFERÊNCIA DE IMPRENSA O Presidente de Honra do nosso Movimento Dr. Agostinho Neto realizou uma conferência de imprensa em Léopoldville, no mês corrente. A personalidade do Dr. Agostinho Neto suscitou grande interesse entre os jornalistas e o povo de Angola, que acorreram em grande número para ouvir o leader angolano. O texto da conferência está à disposição de todos os militantes na secretaria do nosso Movimento. COMISSÃO DOS CINCO DAS NAÇÕES UNIDAS A delegação do MPLA constituída pelo membro do Comité Director Luiz de Azevedo Júnior e pelo Dr. Eduardo dos Santos, foi recebida pela Comissão dos cinco (Finlândia, Bolívia, Dahomé, Sudão e Malásia) a quem fizeram um relato dos acontecimentos de Angola e apresentaram a moção que os angolanos mais gostariam ver aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. A Comissão ficou muito bem impressionada com a natureza da declaração da nossa delegação. EPLA O Conselho de Guerra anuncia que está aberta a inscrição no Bureau do MPLA para todos os angolanos que desejem pertencer ao Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA). JUVENTUDE Tiveram lugar duas conferências para a juventude no salão do CVAAR. A primeira foi pronunciada pelo Dr. Eduardo dos Santos e versou sobre o tema O Neocolonialismo. A segunda versou sobre o Nacionalismo Angolano, tendo sido proferida pelo Presidente de Honra do MPLA, Dr. Agostinho Neto. Foi-nos grato verificar o grande interesse que as respectivas conferências despertaram na juventude, pela numerosa assistência presente e pelas inúmeras intervenções efectuadas. A próxima conferência será realizada por Viriato da Cruz. CVAAR Balanço da actividade do CVAAR em cerca de 8 meses de exercício, no dispensário central (Léopoldville): – Consultas médicas ........................... 14.661 – Tratamentos ..................................... 33.466 – Injecções ......................................... 10.141 – Vacinações ..................................... 5.000 – Alimentos distribuídos ................... 2.465 Kgs. – Análises (30% realizadas no laboratório do CVAAR) .................................. 532 Léopoldville, 25 de Agosto de 1962.

Primeiro número de Vitória ou Morte, com um artigo sobre a chegada de Agostinho Neto; um artigo sobre Unidade; e outras informações breves (Léopoldville)

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