Discurso de um «jovem português»

Cota
0002.000.014
Tipologia
Discurso
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Acesso
Público
AMIGOS Em todas as épocas - sejam elas de ressurgimento ou decadência - tem a Juventude desempenhado um papel decisivo, na milenária construção do progresso. Com a potencialidade que lhe é inerente, com as forças vitais que lhe são próprias, com a irreverência decorrente da sua revolta ante os conceitos e preconceitos caducos, criados pela geração que a precedeu, tem subido a Juventude mais progressiva de cada época, integrar-se no seu tempo, descobrir as linhas determinantes do momento histórico em que se situa, lutando desassombradamente por um futuro que lhe pertence e a que tem legítimo direito. Na hora dramática em que vivemos, urge que a Juventude - hoje mais do que nunca - compreenda o seu dever de estar presente e colaborar directamente na construção de um mundo melhor. Hoje, que as contradições de uma era apodrecida se apresentam a nu, clinicamente a descoberto perante os homens que sofrem, mas lutam, que sentem na própria carne a injustiça e o ódio, mas que encontram ainda a força para caminhar em frente, - hoje mais do que nunca - tem a Juventude que encontrar em si as forças sobre-humanas que a não façam vacilar na caminhada que empreende, reivindicando condições de vida em que se dignifique, exigindo Pão para todas as bocas, Paz para todos os lares, Saúde para todos os corpos, Alegria para todas as almas. Hoje - hoje mais do que nunca- cabe à Juventude um papel positivo na elaboração do edifício social por que aspiram aqueles que trabalham mas não adquirem, que exigem aqueles que sentem a cada momento os seus direitos de Homem espesinhados e esquecidos por uma minoria desumana e cruel. Hoje - e mais do que nunca - num tempo em que é imperioso odiar, odiar para construir, odiar para poder depois amar humanamente, sem algemas nos pulsos e mordaças nos corações, hoje a Juventude tem a consciência lúcida das directrizes a seguir, das rotas a percorrer, das lutas a continuar, das lutas iniciadas e vencidas por todos aqueles que já deram o seu sangue e a sua vida à causa dos humilhados, à causa da justiç, à causa da Liberdade. Hoje - hoje mais do que nunca - em que os fundamentos do templo da Vida, da Paz e do Amor se erguem, contra a vontade de alguns, pelo esforço de todos, a Juventude não se pode alhear dos conflitos gigantescos que se apresentam aos seus olhos, lutas decisivas entre a Vida e a Morte, entre a Guerra e a Paz, entre o Povo e os elementos anti-populares. Hoje - a Juventude tem que afirmar uma posição no caos que a rodeia, uma posição viril, firme e intransigente. Hoje - hoje mais do que nunca - compete à Juventude criar no seu peito um lugar para a Esperança, no seu coração uma Certeza, nos seus músculos um desejo inquebrantável de Vitória. Erguem-se barreiras de medo e desânimo ante os seus passos, mas a Juventude encontra na sua própria razão de viver, força para continuar. Erguem-se barreiras de ódio e metralha ante os seus projetos, mas a Juventude encontra a força que a faz ressurgir, que a faz continuar, que a fará vencer. Hoje - Hoje mais do que nunca - a Juventude sabe que a vitória final lhe pertencerá, sabe que julgará, com os olhos duros de quem sofreu calado, os responsáveis pela condição desumana em que se encontra. E por isto em todo o Mundo, os Jovens de todas as cores, dão as mãos, unem os seus corações e os seus desejos, confiantes e seguros dos seus propósitos, da sua força indestrutível. E por isto em todo o Mundo, os Jovens de todas as cores, põem as suas vidas ao serviço da Luta pela Paz, pela Melhoria das suas condições de vida, pela Independência dos seus Países. E por tudo isto, em todo o Mundo, os Jovens de todas as cores erguem o seu protesto contra os que sufocam arbitrariamente as suas aspirações , os seus anceios concretos e legítimos. E por isto, em todo o Mundo, os Jovens de todas as cores destroem as fronteiras raciais que os separam, irmanando-se na luta comum para uma vida melhor. E por isto, em todo o Mundo, jovens de todas as cores declararam unânimemente o seu desejo de ser dado aos povos o direito de terem nas suas mãos o seu próprio destino, de reatarem as suas tradições culturais, de se desenvolverem livremente sem interferências estranhas no seu meio ambiente, de coexistirem pacificamente, dando todos eles a sua contribuição específica para a construção de uma sociedade universal sem as contradições do tempo presente, para a construção de uma sociedade universal em que a escravização do homem pelo homem pertença ao passado. Hoje - hoje mais do que nunca - lanço um apelo para que a amizade entre os Jovens Africanos e Portugueses se fortaleça e prolongue no Futuro. Hoje - hoje mais do que nunca - lanço um apelo aos Jovens Africanos e Portugueses, um apelo para que se unam nas lutas que lhes são comuns e se respeitem e se compreendam nas lutas específicas que tenham de travar. Hoje - hoje mais do que nunca - lanço um apelo para nós Jovens, unidos conscientes das nossas posições intransigentes nas nossas atitudes, façamos das nossas bocas uma só boca, para gritar bem alto, despertando os que dormem, fortalecendo os que desanimam, um Viva à Paz e à Fraternidade entre os Povos. (Prolongados aplausos)

Discurso de um «jovem português» na sessão comemorativa da «Celebração em Lisboa da Jornada - 21 de Fevereiro 1954»

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