Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
[Sem data – 1961] À CONFERÊNCIA AFRO-ASIÁTICA DA MULHER, CAIRO. Na impossibilidade de participarmos pessoalmente dessa Conferência Magna da Mulher Afro-Asiática, expressamos por este meio os nossos votos sinceros de muito êxito e bom trabalho, para uma compreensão maior e colaboração mútua e alcance de horizontes mais largos e férteis. Nós, as mulheres Africanas das colónias portuguesas, dizimadas, oprimidas e diplomaticamente conservadas na ignorância, vendados os nossos olhos à realidade espantosa do progresso da Humanidade pelo colonialismo português, ousamos saudar-vos nesta importante ocasião (e não poderíamos deixar de fazê-lo), levantando as nossas vozes da profundeza da mais miserável condição humana. Não nos falta vontade de participarmos dessa Conferência e nos juntarmos pessoalmente a vós. Porém, toda a espécie de empecilhos (desde a incapacidade financeira ao cerceamento da liberdade de viajar) da parte do colonialismo português nos impede de fazê-lo. Somos Mães, Esposas e jovens a quem o colonialismo português nega o direito inalienável da Felicidade, o direito de viver, pensar e progredir, em nossos próprios PAÍSES. Somos as mulheres escravizadas, habilidosamente adormecidas e exploradas durante séculos por um colonialismo desumano, insincero e dizimador. Estamos a exigir o direito de vivermos como seres humanos e trilhar o caminho da Vida livres do jugo colonialista. Necessitamos do vosso exemplo e do vosso ânimo. A vossa colaboração nas realizações Afro-Asiáticas para um futuro mais próspero das nossas Pátrias e, consequentemente, do Mundo inteiro, encontra eco na Mulher das colónias Africanas sob o jugo português. Avante sempre. Auguramos muita Ventura a todas as participantes, cooperadoras e Dirigentes da Conferência, assim como os Países representados aí.
Mensagem de Deolinda Rodrigues à Conferência afro-asiática da Mulher (Cairo)