Relatório de Daniel Chipenda

Cota
0105.000.063
Tipologia
Relatório
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
Daniel Chipenda
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
CONTACTOS NO CAIRO Cheguei no Cairo vindo da Argélia no dia 26 de Julho de 1968. No dia 27 fui recebido pelo Mustafá, responsável dos Movimentos de Libertação na presidência. Agradeci o concurso deles no Comité de Libertação. Como o Fayeke tinha prometido ajuda ao camarada NETO quando da sua passagem pelo Cairo em Abril último, que iria dar ao nosso Movimento uma certa ajuda financeira, fiz lembrar isso ao Mustafá. Este disse-me que como o MPLA receberá em Dar, do Comité de Libertação uma ajuda suplementar, eles vão tentar ajudar-nos mandando medicamentos. Depois apresentei-lhe os relatórios médicos de quatro dos nossos doentes, tal como lhe havíamos prometido, quando da passagem pelo Cairo do camarada NETO e CHIPENDA em Junho último. Da minha passagem por Cairo, quando da minha ida a Argel encontrei no Cairo um angolano que se chama António Fançony eu conheci-o em 1963 em Paris quando por lá passei vindo de Rabat. António Fançony e irmão viviam na Cimade e pertenciam ao grupo do Clinton, Castro Lopo e outros que tanto eram da UPA e da UNEA. Como às vezes se aproximavam do MPLA isto em Paris; o irmão do Fançony regressou para Portugal e ele desapareceu. A última vez que o vimos foi em Rabat, no Congresso da UGEAN, onde só foi com a intenção de lançar confusão. Como não conseguiu bolsa de estudos atravez da UGEAN filiou-se a UNEA e, nunca mais se ouviu falar dele. Em fins de Junho, Fançony apareceu no Cairo com um passaporte português e hospedou-se em casa do Fernandes, representante da UNITA no Cairo. Algum tempo depois Fançony saiu da cada da UNITA indo apresentar-se a representação do MPLA no Cairo. Os camaradas não o conheciam mas hábil como ele é inventou uma longa história dizendo mesmo que conhecia o camarada CHIPENDA com quem jogou futebol e há muito que ele era membro do MPLA, que tinha chegado de Bruxelas onde esteve a estudar; tendo acabado o curso resolveu voltar para se integrar no Movimento. Os camaradas Barros e Paulo Júnior não acreditaram muito na história, por isso não o admitiram que vivesse em nossa casa, mas tomava lá as refeições dormindo em casa da empregada do MPLA no Cairo. Quando por lá passei conversei com ele desmascarei-o e disse aos camaradas Barros e Paulo para que o pusessem fora de casa. As razões que me levaram a tomar esta posição foram: 1º Ele trazia um passaporte português 2º Ele é membro da UNITA. A segurança do Cairo sabia que ele entrou com passaporte português e foi recebido pelo representante da UNITA no Cairo. Naturalmente o representante da UNITA mandou-o para o MPLA para arranjar argumentos de poder acusar-nos perante as autoridades do Cairo de trabalharmos com os tugas. Isto porque depois do Fançony ter saído da casa do representante da UNITA foi visto num bar pelo camarada representante da ANC com o representante da UNITA a entregar-lhe documentos. O camarada Chipenda aconselhou os camaradas no Cairo a denunciarem esta manobra da UNITA, um grupo de racistas de regionalistas de tribalistas que neste caso quiseram empregar um compatriota mestiço só para fazerem propaganda contra nós. Se tivesse tempo eu teria feito eu próprio este trabalho mas o Mustafá recebeu-me a correr e não tive tempo suficiente para por o problema. A minha impressão no Cairo é de que é necessário fazer-se lá um trabalho de profundidade para ganharmos definitivamente aquele terreno que me parece ainda muito falso onde o manobrador tem a sua única base em África. Lusaka, 30 de Agosto de 1968 Daniel Júlio CHIPENDA *[Assinado]
Relatório «Contactos no Cairo», assinado por Daniel Chipenda (Lusaka)
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