Relatório do MPLA sobre a 13ª Sessão do Comité de Coordenação da África

Cota
0105.000.062
Tipologia
Relatório
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
5
Acesso
Público
RELATÓRIO DA DELEGAÇÃO DO MPLA NA 13ª SESSÃO DO COMITÉ DE COORDENAÇÃO DA ÁFRICA A delegação do MPLA na 13ª sessão do Comité de Libertação da África, foi composta pelos camaradas Daniel Chiponda, chefe da delegação, Humberto Traça representante em Alger e Paulo Júnior representante no Caíro. O camarada Daniel Chipenda, chegou à Alger no dia 15 de Julho no mesmo avião, que as delegações da Tanzânia, da RAU, da Uganda, da Zâmbia, da Ethiopia e do próprio Comité de Libertação. Em Túnis tomou o mesmo avião a delegação do “grae”. Pela sua composição compreendemos imediatamente que o chefe do “grae” Holden não viria. Durante a viagem o camarada Chipenda aproveitou fazer já corredores com algumas delegações e isto facilitou bastante o nosso trabalho, porque se a reunião começasse na data em que tinha sido indicada teríamos muito pouco de o fazer. No aeroporto de Alger fomos recebidos pelas autoridades do Ministério dos Negócios estrangeiro em Alger. A nossa delegação foi bem recebida e mesmo no aeroporto fizemos declarações a Imprensa, à Rádio e à Televisão. Nestas declarações repetimos as proposições que o Comité deveria tomar na sua 13ª Sessão. A partir deste momento a nossa delegação passou a compor-se por dois camaradas CHIPENDA e TRAÇA porque o camarada Paulo Júnior chegou dois dias mais tarde, quer dizer no mesmo dia em que começou a Sessão. Os argelinos queriam tirar um grande proveito político, fazendo vir Argelinos os chefes dos movimentos de libertação. Por essa razão eles tudo fizeram para que o camarada NETO estivesse presente em Alger. Como isso se fez sentir, a nossa delegação foi imediatamente explicar ao comandante SLIMANE ao Ministro dos Negócios estrangeiros da República Argelina, BOUTHEFLICA, as razões porque o presidente do nosso Movimento não estava presente, isto para evitar qualquer outra interpretação. As autoridades Argelinas compreenderam e aceitaram a nossa explicação. Claro está, nós prometemos-lhe que o camarada estaria presente na reunião dos Chefes de Estado Africanos em Setembro. Discutimos com a delegação da Argélia, para sabermos a orientação da linha que se pretendia seguir naquela sessão. Fomos informados que se pretendia fazer uma analise séria sobre os Movimentos de Libertação, e ajudar aqueles que na realidade lutam e para que houvesse uma acção mais forte, pensam os Argelinos que seria bom que os Movimentos autênticos (como os chamaram em Argel), deveriam formar uma frente. Dentro dessa linha diziam eles que seria bom que nós na nossa intervenção, não atacássemos o Holden, mas que nos limitássemos a falar da nossa actividade no interior do país e das nossas necessidades. Para consertar a nossa acção vimos em seguida os outros membros do Comité. Conversemos com a delegação do Senegal que nos afirmou ter soluções de apoiar a posição do MPLA, confessou conhecer pouco do nosso problema e tivemos que lhe fazer um relatório completo. Com a Somália, Ethiopia e Uganda não houve problemas. Também vimos a delegação do Congo Kinshasa, que como nas reuniões anteriores, de Conacry e de Adis-Abeba repetiram a mesma coisa de sempre. Dizem que compreendem que a razão esta connosco, e a nossa força se faz sentir melhor que a do Holden e que o Comité esta todo com MPLA, mas que eles como indivíduos nada podem fazer. A sessão começou no dia 17 de Julho e foi inaugurada pelo presidente d República Popular da Argélia BOUMEDIENE. Durante a sessão da abertura e em todos os plenários que se seguiram, deu-se uma disposição dos lugares dos Movimentos de Libertação de forma a destacar os movimentos autênticos. Assim, logo a seguir a fila dos delegados do Comité de Libertação puseram, o MPLA, a FRELIMO, o PAIGC, a ANC e a ZAPU. Os outros movimentos foram colocados muito atrás de nós incluindo o “grae”. Neste dia houve apenas a sessão de abertura. No dia 18 na parte da manhã fez-se a eleição da mesa da presidência. Foi eleito o presidente do Comité de libertação o Ministro dos Negócios estrangeiros da Argélia, o senhor BOUTEFLIKA e redactor da 13ª Sessão a TANZÂNIA. Como único chefe dos Movimentos de Libertação que dirigem a luta armada mais desenvolvida, presente em Argélia, foi o camarada Amílcar Cabral é preciso dizer-se que a Argélia fez concentrar toda atenção do Comité de Libertação, da Imprensa, da Rádio e da Televisão Argelina sobre o PAIGC. Logo depois dos discursos do presidente cessante o Ministro dos Negócios Estrangeiros da GUINÉ (Conakry), do secretário adjunto da OUA, senhor SANOUN e do presidente em exercício Ministro dos Negócios Estrangeiros da Argélia BOUTEFLIKA, anunciou-se que Amílcar Cabral tinha uma declaração importante a fazer ao Comité de Libertação, por isso ele foi chamado a tribuna para ler a tal declaração. Aproveitou fazer a sua propaganda, oferecendo através do Comité ao povo e ao governo da Argélia, um pedaço de asa de um avião abatido pelos guerrilheiros do PAIGC na Guiné dita portuguesa. Depois desta sessão começaram os trabalhos do Comité, ouvindo o relatório do Secretário Executivo do Comité de Libertação, Jorge Magombe. Começaram a ouvir os Movimentos de Libertação dia 20 de Julho iniciado pela África do Sul a seguir ouviram Amílcar Cabral. Nós fomos um dos últimos a ser ouvido porque só apresentamos o nosso Memorandum em Argel e tinha que ser traduzido para inglês. Antes da nossa intervenção recebemos dois telegramas um da nossa representação em Brazzaville e outro do camarada NETO, onde nos anunciaram a falta do cumprimento da declaração feita pela delegação do Congo Kinshasa, na reunião de conciliação que teve lugar em Junho último em Adis-Abeba. Nesta reunião o chefe da delegação do Congo Kinshasa senhor Ileka declarou solenemente perante a Comissão, que o seu governo tinha enviado já o material do MPLA preso o ano passado para o Congo Brazzaville para que o governo deste país o entregasse ao MPLA. A nossa delegação fez imediatamente um protesto por escrito que foi entregue ao presidente em exercício, o Ministro BOUTIFLIKA com cópias para o Secretário Executivo do Comité de Libertação e o Secretário Geral da OUA. Depois do nosso protesto o Comité de Libertação pediu ao embaixador do Congo Brazzaville na Argélia, para que ele procurasse saber do seu governo, se na verdade o material do MPLA tinha sido recebido pelas autoridades de Brazzaville. Depois de um telegrama o embaixador comunicou ao Comité, que nada tinha sido enviado. Deste modo o presidente do Comité no debate do problema angolano, pediu a delegação do Congo Kinshasa explicasse ao Comité a razão pela qual o material não foi enviado, quando o Congo Kinshasa declarou a nossa Comissão da OUA que já tinha enviado o material para o Congo Brazzaville. O chefe da delegação do Congo Kinshasa que por sinal foi o mesmo que em Junho chefiara a delegação do seu país e fizera a tal declaração, disse que o seu governo não mandou o material de guerra porque o presidente Mobuto ficou irritado com o presidente NETO, porque o presidente do MPLA o insultou quando foi da reunião da Comissão de Conciliação. Por isso o presidente Mobuto pede que o presidente NETO peça-lhe desculpas. Então o presidente do Comité de Libertação o ministro dos Negócios Estrangeiros da Argélia BOUTIFRIKA respondendo ao delegado do Congo Kinshasa disse: que se o problema era só de pedir desculpas ao presidente Mobuto, ele em nome do seu Governo e em nome do Comité de Libertação está pronto a pedir desculpas ao presidente Mobuto no lugar do presidente NETO, mas que ele entregue as armas aos combatentes da liberdade. Pediu por isso que o delegado do Congo Kinshasa comunicasse aquela declaração ao seu governo. A nossa delegação foi ouvida no dia 21 de Julho. Chamaram primeiro a delegação do “grae”, que foi chefiada pelo John Pinoc. Segundo o que podemos ouvir nos corredores ele atacou toda a gente de forma que indispôs todos os delegados do Comité a ponto do mesmo do chefe da delegação do Congo K. ter-nos dito, que o Holden mandou para lá um indivíduo que nem sequer conhece o seu movimento e nem ajuda quem o queria defender. Tudo isto deu-nos a impressão certa de que o clima era favorável, para que eles aceitassem as nossas proposições. Na nossa intervenção falamos da actividade do nosso Movimento nas quatro frentes, falamos das nossas dificuldades focando bem, que o que nós precisamos não era bem o dinheiro! Mas sim o material de guerra, e transportes, fizemos-lhes ver as grandes distâncias que temos de percorrer para que as nossas coisas cheguem em Angola. Depois pedimos o seguinte: 1. A revisão do “grae” 2. A libertação dos nossos prisioneiros detidos em Kinkuzu e Kamuna 3. Devolução do nosso armamento apreendido pelo governo do Congo K. em Julho de 1967 4. Ajuda exclusiva ao MPLA 5. Que o Comité nos leve o armamento até a fronteira de Angola e daí levaríamos para as nossas bases 6. Que os países africanos nos deem facilidades na obtenção de documentos de viagem e que nos deem facilidades de manter nos seus países as nossas representações. Como nos corredores soubemos que a delegação da Nigéria durante o debate do nosso problema, quis pôr em dúvida o facto de declaramos que as nossas actividades se estendemos distritos de Moxico e Lunda, porque é que ainda continuava a existir o Caminho de ferro de Benguela. Nós na nossa intervenção demos uma explicação bem clara sobre o problema do C.F.B. que pensamos termos convencido todos. E também soubemos nos corredores da acusação da delegação do Congo Kinshasa declarando que o presidente do nosso Movimento camarada NETO tinha insultado o presidente Mobuto, na nossa intervenção dissemos que o nosso Movimento nunca atacou o governo do Mobuto e o que fazemos sempre é pedir ao governo do Congo Kinshasa que dê solução aos problemas que continuamos a ter no seu território. Repetimos o facto de termos camaradas nossos presos, da falta de liberdade de acção no Congo Kinshasa e da restituição do nosso armamento. E quando nos dirigimos ao governo do Congo Kinshasa é apenas para pedir, que libertem os nossos presos que nos deem o nosso armamento. Continuando dissemos que para esclarecer certos mal entendidos nós pensamos que a melhor solução é que o nosso presidente se encontre com o presidente Mobuto, e declaramos que ele está pronto a ir não importa a que momento ver o presidente Mobuto; aliás, já em Maio tinha aceite o convite que o ministro Momboko lhe fizera, estamos até hoje a espera que lhe seja indicado a data em que ele possa ir a Kinshasa. Depois da nossa intervenção três delegações fizeram-nos perguntas, a da Uganda, Nigéria e da Tanzânia. A Uganda quis saber se o MPLA com a situação que tem em Angola esta disposta a fazer unidade com o “grae” uma vez que a OUA julgue haver condições para tal. A delegação ao responder disse que o MPLA situou sempre o seu problema no contexto africano e logo depois da criação da OUA o MPLA sempre cooperou com Ela. Que a posição do MPLA é bem clara e ela não deixa dúvidas a própria OUA na medida que Ela possui o “dossier” completo dos esforços empregues pelo MPLA e pelas organizações especializadas da OUA. Tal como fizemos no passado continuaremos a trabalhar com a OUA sempre no sentido de melhor servirmos a luta do nosso povo. Hoje para a OUA é bem claro a luta que o MPLA dirige no nosso País e nós afirmamos que no interior do País o problema da unidade nunca se pôs, que no interior o nosso Povo esta unido na luta contra o colonialismo português e ele hoje está unido em volta do seu Movimento de vanguarda o MPLA. Mas se a OUA encontrar condições no interior do nosso País que impulsione a OUA a repor de novo problemas da unidade o MPLA continuará como sempre o fez a cooperar com a OUA. Em seguida foi delegado da Nigéria que quis saber, se nas zonas que controlamos à vida nelas é idêntica com a que se verifica na Guiné Bissau. A nossa delegação explicou detalhadamente a vida do nosso Povo nas regiões libertadas dando-lhe uma ideia mais clara sobre as regiões controladas. O delegado da Tanzânia perguntou-nos qual era a nossa necessidade mais urgente Nós respondemos, armas e só armas. Depois disso o delegado do Congo kinshasa interviu para agradecer a nossa intervenção e pediu aos delegados para que nos deixassem sair porque todos os problemas foram tão claramente expostos e pensava não haver mais nada a acrescentar. A proposição foi aceite e saímos. No fim dessa sessão todos os delegados felicitaram-nos inclusive o Secretário Adjunto da OUA Sanoun e o presidente do Comité BOUTIFRIKA. Depois que ouviram as duas delegações o “grae” e o MPLA o Comité de Libertação condenou o “grae” pela sua arrogância e decidiu: 1. Recomendar aos chefes de Estado africanos, revisão de “grae”. 2. Dirigirem-se ao governo do Congo Kinshasa para pedir a libertação dos prisioneiros do MPLA e a restituição do armamento. 3. Cortar a ajuda ao “grae” 4. Aumentar a ajuda ao MPLA 5. Enviar a comissão militar a Angola. O Comité decidiu dar uma ajuda suplementar aos movimentos autênticos. Deram: 10.000 (dez mil Libras) à FRELIMO 10.000 *dez mil Libras) ao PAIGC 8.000 (oito mil Libras) ao MPLA 8.000 (oito mil Libras) ao ANC A reunião do Comité acabou no dia 22 de Julho de 1968. Durante a reunião fomos convidados à três recepções: 1. Do presidente Boumedienne 2. Do secretário Geral da FLN 3. Do presidente do Comité de Libertação Bouteflika Também demos entrevistas à Rádio e a Televisão e a um jornalista Romeno. Falamos das nossas actividades e das nossas perspectivas. Nossa impressão quanto a última reunião do Comité de Libertação na Argélia: Provou-se que todo o Comité hoje está claro quanto ao problema Angolano pelos factos seguintes; 1º No relatório do secretário executivo não se falou uma só vez do “grae” 2º Desta vez quanto aos prisioneiros o problema foi claro. Não se falou mais de prisioneiros de lado a lado, mas sim prisioneiros do MPLA presos pelo “grae” 3º Não hesitaram em cortar a ajuda ao “grae” 4º O problema da revisão foi aceite por todos com excepção do Congo Kinshasa. No Comité pensamos que o problema está ganho. Agora é preciso trabalhar (mobilizar) os países que não fazem parte do Comité de Libertação. Apesar de haver pouco tempo sugeríamos que o camarada presidente visitasse alguns chefes de Estado, sobretudo os da OCAM. No fim da Sessão o camarada Paulo Júnior partiu para o Cairo o camarada CHIPENDA ficou em Alger onde devia ser recebido pelo comandante SLIMANE. Feito em Lusaka aos 28 de Agosto de 1968 Daniel Chipenda *[Assinado]

Relatório da delegação do MPLA na 13ª Sessão do Comité de Coordenação da África, assinado por Daniel Chipenda (Lusaka).

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.