Boletim da UEA

Cota
0103.000.025
Tipologia
Imprensa
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
UEA - União dos Estudantes Angolanos
Data
1968 (estimada)
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
8
Acesso
Público
Boletim da UEA EDITORIAL O ano de 1968 começou sob a perspectiva da realização do Congresso. Porque e para que o Congresso? A luta armada de libertação nacional registou durante o ano de 1967 um desenvolvimento espectacular. Sob a direcção do MPLA, intensificaram-se as actividades militares, criando-se novas frentes, consolidando-se as já existentes. Nas regiões controladas pelo MPLA, o nosso povo constrói uma vida nova, criando escolas e postos sanitários, desenvolvendo a produção, regulamentando a produção, os circuitos económicos, etc. Urge pois adaptar a nossa organização ao momento actual. Remodela-la a fim de a por à medida de defrontar os diferentes problemas que a conjuntura actual levanta. Intensificar a mobilização e a participação do estudante na luta armada. Aumentar a nossa participação no esforço de construção de uma vida nova para o nosso povo. Por outro lado, temos de resolver certas questões de fundamental importância: a da regulamentação das ligações orgânicas entre a UEA e o conjunto dos outros jovens angolanos, entre a UEA e o movimento estudantil das colónias portuguesas, entre a UEA e o movimento estudantil internacional. Tais são as questões que justificam a necessidade de reunir um Congresso que adopte as medidas necessárias, a fim de colocar a nossa organização à altura da luta de libertação do nosso povo, a fim de justificar as esperanças que em nós são depositadas. O CE apela para que todos desenvolvam os esforços necessários para a realização do Congresso. O CE apela, para que a todos os níveis se comecem a estudar estas questões para que a contribuição dada seja o mais eficiente possível. AVANTE, PELA REALIZAÇÃO DO SEGUNDO CONGRESSO DA UEA. O INTELECTAUL E A REVOLUÇÃO - algumas considerações Na sociedade angolana como em qualquer outra sociedade existem grupos, camadas ou classes sociais. Em período revolucionário como é aquele que nós hoje estamos atravessando, é de grande importância conhecer como à sociedade na qual se desenvolve o processo revolucionário se encontra organizada, a sua estratificação social. Isto constitui um factor importante de orientação do movimento revolucionário. Os intelectuais angolanos podem ser também considerados com um dos grupos da sociedade angolana. Entendemos assim por intelectuais todos aqueles cuja forma principal de actividade é de carácter intelectual, para o diferenciar precisamente daqueles cujo a forma principal de actividade é manual. Este critério de diferenciação não possui porém um carácter absoluto. Importa também salientar que, duma maneira geral a possibilidade de exercer uma forma de actividade essencialmente intelectual, esta ligada ao grau de instrução, que pode ser adquirido principalmente nos estabelecimentos de ensino e eventualmente pelo esforço individual. O papel que desempenham os intelectuais numa determinada sociedade varia; por isso dizemos que os intelectuais não constituem nunca uma classe especial. Os intelectuais se caracterizam pois por uma uniformidade do ponto de vista classe, na medida em que eles servem os interesses de classes diferentes, por vezes rivais. O critério de diferenciação social do intelectual não reside tanto na sua origem mas sobretudo no factor identificação. Assim podemos dividir os intelectuais em burgueses, pequeno burgueses e intelectuais proletários, consoante eles se identifiquem com os interesses e aspirações duma dessas classes. Em Angola também temos por exemplo intelectuais pequeno burgueses e intelectuais revolucionários. Em Angola portanto os intelectuais não reagem todos da mesma maneira perante a luta de libertação nacional. Há os reaccionários que se colocaram nitidamente ao lado dos colonialistas, há os intelectuais reformistas, partidários duma solução neo-colonial e há ainda os intelectuais verdadeiramente revolucionários partidários da luta armada e da independência total. Os intelectuais pequeno-burgueses são os que se mostram partidários do reformismo neo-colonial na medida em que esta solução favorece os seus interesses de classe, favorece a sua ascensão ao poder político. Para tal eles lutam por imprimir ao movimento de libertação nacional uma orientação reformista; e isto eles só o podem conseguir através do controle do seu aparelho dirigente. Os intelectuais pequeno burgueses não acreditam que são as massas que fazem a história, não acreditam que o verdadeiro criador da história é o povo. Eles compartilham o ponto de vista das outras classes decadentes de que a história é feita pelas grandes personalidades, pelas elites. Para os intelectuais verdadeiramente revolucionários, o verdadeiro criador da história é o povo. As elites, os intelectuais, as personalidades, só podem desempenhas um papel de relevo na medida em que eles se identifiquem, na teoria como na prática, com a corrente histórica encabeçada pelas massas populares e com as suas aspirações mais profundas. A história das sociedades é antes de mais nada a história das massas trabalhadoras e não a história dos reis, conquistadores, das personalidades ou das elites, por mais brilhantes que eles sejam. Para que a Revolução Angolana possa atingir os seus objectivos, ela deve ser dirigida pelas massas trabalhadoras e pelos intelectuais verdadeiramente revolucionários. No seio da massa estudantil angolana vivendo no interior de Angola não existem hábitos de organização. A UEA é praticamente a única organização estudantil angolana que decidiu empreender um trabalho sério no interior do nosso país. Isto representa pois uma carência, uma dificuldade que teremos de transpor. Temos de criar hábitos de organização no seio desses nossos estudantes. O estudante angolano deve pois organizar.se no interior do país. O estudante angolano deve habituar-se a participar duma maneira organizada em todos os grandes movimentos revolucionários que sacodem o país. Assim é necessário que funcionem em todos os estabelecimentos de ensino, secundários, médios ou superiores, núcleos da nossa organização, núcleos da UEA. A actividade desses núcleos deve ser levada a cabo na mais completa clandestinidade. O facto dessa actividade ser clandestina não deve no entanto impedir que a sua acção se faça verdadeiramente sentir. Os núcleos da UEA funcionando no interior do país não deverão limitar a sua acção à troca de impressões ou discussões entre os seus membros, mas terão por missão fundamental fazer sentir a sua acção no seio dos outros estudantes angolanos. Devem ser denunciadas as condições precárias em que vive o estudante angolano, obrigado muitas vezes a percorrer kilometros a pé para chegar a sua escola ou ao liceu, sem possibilidade de comprar livros e outro material, carregado com o peso das propinas, desprezado e abusado pelos professores. Exigindo e lutando pela melhoria das condições do estudante angolano, exigindo a democratização do ensino, quer dizer, que o ensino deixe de ser um privilégio para alguns, o estudante esta a dar uma participação preciosa à luta de libertação nacional do nosso povo. Há muitas maneiras de nos manifestarmos contra os colonialistas. Não é só por intermédio de panfletos que se pode fazer isso. Por exemplo, se o professor pergunta, porque razão o aluno não tem o seu material em dia, este não deve ter receio nem vergonha de dizer, por exemplo, se isso acontece, é porque o meu pai era um assalariado e foi despedido. Escrevendo nas paredes ou no quadro, boicotando as actividades da Mocidade Portuguesa também se esta a lutar contra o colonialismo. Estudante angolano: Organiza-te no seio da UEA, faz trabalho de agitação junto dos outros estudantes manifesta-te contra o colonialismo português, por acções pequenas e grandiosas.   Companheiros, Enviai-nos na volta do correio apenas uma gota de sangue num pedaço de papel amarrotado. Que seja do peito do companheiro morto, gota de sangue virtoalha do sangue vertido na batalha gota de sangue, como gota de vida, que seja mensagem do vosso desconforto para consolar a luta desolada na paz hipócrita que se faz aqui. Gota de sangue humedicida Para regar as rosas de papel da nossa camarata. Gota de sangue, força rubra, ainda que um pouco magoada para misturar na tinta do tinteiro E escrever em vermelho a toda essa cambada, pálida e exangue: "Memórias de um guerrilheiro" Companheiros, Mandai-nos na volta dos aliseos que sopram do deserto as espinhas, os ossos que sobram das vossas refeições numa caixinha de cartão engordurada... que sejam pedaços da fome vagarosa vivida sem turper, em cada alvor negado das vossas alvoradas da fome vivida na noite clandestina que se guarda nas matas da fome raiada do alto da colina que domina jornadas de esperança pedaços de fome, um pouco perturbantes, das nossas aldeias violadas queremos esses pedaços na borda dos nossos pratos queremos a vossa fome servida a nossa mesa Mandai-me os restos desprezados como quem manda jindungo aos camaradas. Convidaremos toda essa cambada de cavakeiros de triste figura da pena fácil, do verbo exótico, da mente gestando uma ideia franzina Daremos um banquete em formosura, de náusea, de erótico, de silvos de serpente de manjares tiradas da sua doutrina Com especiarias da Frente. Companheiros, mandai-nos as cinzas da fogueira onde morreu queimado um camarada para esquentar aqui esta invernia onde a luta não tem nada, nem fome nem valentia... mandai-nos um punhado da terra formosa da floresta juncada de cadáveres... mandai-nos um pouco do vosso dia a dia para tirarmos dos olhos a visão funesta dos dramas balofos desta burguesia... Companheiros, enviai-nos na volta do correio pedaços rubros e ainda quentes, pedaços sóbrios, pedaços dramas bocados da guerra que se faz ai... Ah... companheiros que a guerra que aqui se faz É uma guerra cinzenta e fatigante, É uma estranha guerra contra a paz... H. Abranches   NOTICIÁRIO Realizou-se de 22 a 26 de Fevereiro uma importante reunião do MPLA, a I Assembleia Regional da I e II Região. A UEA participou nela, tendo enviado um delegado. Pelas importantes decisões adoptadas esta reunião marca uma etapa importante e imprimira um novo impulso à luta armada de libertação nacional. Durante os meses de Janeiro e Fevereiro esteve na Europa o camarada Simão Mabiala, membro cooptado do nosso CE. O camarada Mabiala visitou as secções da Bulgária, Jugoslávia, Tchecoslováquia, Hungria e Roménia. Nas reuniões efectuadas nas diferentes secções, o camarada Mabiala referiu-se aos problemas e perpectivas da nossa organização, tendo também procedido à reorganização de algumas secções. Aproveitou-se também à oportunidade para trocar impressões com as organizações nacionais e internacionais de jovens e estudantes. Com a UIE foi discutido o problema do nosso próximo Congresso e da sua preparação.

Boletim da União dos Estudantes Angolanos (UEA)

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