Relatório da 1ª Região ao Comité Director do MPLA

Cota
0097.000.036
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
Comissão Directiva da 1ª Região - MPLA
Data
Idioma
Conservação
Razoável
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11
*[Carimbado: COPIE]
*[Manuscrito: Ao Comité Director]
RELATÓRIO DA 1ª REGIÃO A INTENÇÃO DO PRESIDENTE DO
-MPLA E DA COMISSÃO DIRECTIVA III R-

Brazzaville, 29 de Outubro de 1967

RELATÓRIO DA 1ª REGIÃO A INTENÇÃO DO PRESIDENTE DO MPLA E DA COMISSÃO DIRECTIVA DA TERCEIRA REGIÃO.

CONSIDERAÇÕES GERAIS
NO EXTERIOR

A situação no exterior continua dominada por uma intensificação da actividade contra-revolucionária dos elementos do chamado grae e outras fracções.
Dum modo geral a campanha difamatória contra o MPLA junto das massas e do Governo Congolês mantém o mesmo ritmo apesar do desenvolvimento da luta no interior do País. As massas refugiadas, sobretudo das Regiões Norte do país continuam na ressonância. Porém, em alguns casos cujo o valor numérico tem pouca importância começa a verificar-se já uma certa prise de posição que ainda longe de ser considerada prise de consciência nacional.
A destruição das bases logísticas que então possuíamos no Songololo, e em alguns pontos ao longo da fronteira parecem factor predominante. A mobilização e a politização que permitirá os dois primeiros sucessos que se traduzem pela entrada dos grupos Cienfuegos e Camy, é actualmente decadente.
A clandestinidade rigorosa com que se opera actualmente em Kinshasa, não nos permitiu ainda hoje reestruturar as bases de que nos dispúnhamos depois do insucesso de Ferraz Bomboco a que nos referiremos mais adiante. Por outro lado, a posição do Governo do Congo Kinshasa na sua cumplicidade a cerca das prisões dos membros da nossa Organização não melhorou.
Pouco depois do insucesso Ferraz Bomboco uma nova vaga de posições foi levada a cabo sempre na tentativa sistemática de destruir as bases logísticas do MPLA, tentando desse modo impedir o desenvolvimento harmonioso da nossa luta. Assim, dias após ao ataque da coluna do Ferraz Bomboco no Songololo, sob instigação do congolês Bolamba, era preso o camarada e fiel colaborador Tavares Ferreira que então albergava os militantes em trânsito. Neste mesmo quadro, unidades mistas militares, -Governo Congolês e upistas procediam a caça de militantes e dirigentes da nossa Organização.
Esta situação, impediu que o Coordenador da Região estivesse presente no seu posto, já porque é a pessoa mais visada, independentemente, do seu estado de saúde que então não permitia.
A posição do Governo do Congo Kinshasa, na última Conferência dos Chefes de Estados Africanos continua a ser intransigente, caracterizando-se pela não concessão de qualquer liberdade de acção a nossa Organização, enquanto ela não fizer a unidade com o chamado grae, o que para nós equivale a uma capitulação perante o Imperialismo, o que jamais faremos, seja quais forem as dificuldades a vencer. Apesar das pressões feitas ao Governo de Kinshasa, por alguns países amigos, durante a Conferência, parece-nos não nutrir a ilusão de que uma intervenção mesmo directa dos Órgãos da OUA possam remover o Governo Congolês conceder-nos um mínimo de condições que permita a passagem legal para o interior do nosso país dum militante armado da nossa Organização.
As démarches feitas pelos camaradas da 3ª Região do Governo Congolês para a passagem do Ferraz Bomboco, a nosso conhecimento até esta data ainda não há qualquer sinal que nos permita sermos optimistas e considerarmos ter obtido o agréement do Governo. Estamos insistindo, entretanto. Junto dos camaradas de Dar-es-Salaam para que contactem o Aflico informando-nos da resposta do Governo Congolês a esse assunto.
A falta dessa resposta ainda não permitiu ao Comité Director e a 1ª Região estabelecerem uma estratégia de contacto directo com o Governo, nem tão pouco o início de preparativos. O desenvolvimento da Luta tem encontrado em algumas populações mais aconchegantes as fronteiras uma melhor compreensão.
Assim, as populações refugiadas das Regiões de Kahemba e em colaboração com a população do Distrito de Camaxilo veem fazendo um trabalho de politização e mobilização de grande alcance e na identificação de alguns traidores angolanos em colaboração com o inimigo.

DO INSUCESSO DE FERRAZ BOMBOCO
Para não tornar volumoso esse relatório, referir-nos-emos de alguns aspectos que na nossa análise parece-nos predominantes e enviamos o relatório completo apresentado pela Comissão Directiva da 1ª Região após os acontecimentos do Songololo.
Pensamos que os acontecimentos do Songololo estão na base da situação lamentável criada pelo Destacamento Camy nessa Região, sobejamente conhecida por todos nós e que culmina com a prisão dos maquisards obrigados a desistirem a marcha por factores vários e caídos nas garras dos upistas no regresso, agravados ainda mais com a prisão dos responsáveis do Songololo, sendo descoberta indiscutivelmente a rede do trabalho clandestino que se levava acabo. Por outro lado e de um modo geral os contra-revolucionários puderam descobrir alguns aspectos da operação antes da sua concretização, não por falta de vigilância, mas do estacionamento permanente desses elementos nos Beachs, independentemente das insuficiências materiais.
Tanto no Beach de Brazzaville como de Kinshasa, alguns componentes do grupo Ferraz Bomboco notaram a presença (propositada ou casual) de africanos de expressão Portuguesa que podiam ser elementos upistas ou não, mas o que é certo um dos agentes do Peterson, chauffeur de táxi depois de ter sido preso no Songololo verificou-se ter um mandato de interceptação da Coluna terminando por confessar ter conduzido um dos grupos do Beach a casa do camarada Tavares e no dia seguinte a estação dos caminhos de ferro. Por outro lado parece-nos que o processo empregue em Brazzaville na compra de necessidades individuais dos componentes do destacamento, o seu número exagerado de centenas desses elementos que então se transformaram num afluxo permanente as casas comerciais portuguesas que predominam no Congo Brazzaville, é um dos factores a considerar.
Por outro lado, e, no quadro das insuficiências materiais e depois de reconhecimentos saturados que não permitiram e nem garantiram a defesa do material que deveria anteceder a coluna guardado em depósitos clandestinos de acordo com a experiência das 1ªs operações levou-nos à concluir que seria mais seguro proceder-se o transporte do material com antecedência de poucas horas à chegada da coluna. É evidente, não se dispondo da 1ª Região, de meios apropriados à sua disposição para a execução dessa tarefa tivesse recorrido a estranhos não perdendo de vista a vigilância que se impunha.
Assim por indicação de amigos congoleses que sempre nos deram uma assistência positiva nessas operações tivemos de recorrer a um camião por eles indicado depois de nos darem o mínimo de garantias sobre a idoneidade do condutor.
É todavia evidente, que o insucesso da operação tenha na sua base precisamente a utilização desse meio de transporte, pois não temos dúvidas que voluntaria ou involuntariamente o chauffeur tivesse denunciado o affaire, em comentários entusiásticos feitos a população pelo volume considerável da carga que transportara tendo indicado mesmo talvez o sítio onde deixará. Só assim se justifica a orientação tomada pelos elementos contra-revolucionários que tentaram assaltar-nos a casa com objectivo de nos prenderem e confiscarem o material.
Admitimos ainda, que de entre as autoridades congolesas que estavam no conhecimento da operação, algumas delas tivessem imprudentemente se referenciado dela, atitude, alias, que caracteriza o congolês.
Verificou-se que a operação da preparação do material feita na casa fechada, sem sentinela, era difícil de evitar, dado que quer o proprietário Mkitukulu, quer a situação da própria casa dificilmente admitiram sentinelas a porta sem levantar suspeitas da população, de um Songololo fortemente upista.
Conclui-se que uma rigorosa clandestinidade deverá estar na base de todos os futuros trabalhos deste género, o que necessitará de meios próprios, como viaturas e camiões. A utilização de congoleses deverá ser feita passageiramente e em coisas de menos importância. A esperança da recuperação do armamento e da continuação da missão de acordo com as promessas feitas pelas autoridades congolesas ao Governo de Brazzaville, não permitiu que as armas fossem sabotadas para não permitir o seu funcionamento.
SOBRE AS CAUSAS DO MODO APARENTEMENTE BENÉVOLO DAS AUTORIDADES CONGOLESAS.-
A imediata intervenção do Governo de Brazzaville parece ter tido efeitos benéficos, pois foi do resto a única resposta concreta que foi dada:- Que a coluna não seria maltratada nem entrega a upa. A projecção do MPLA, nomeadamente depois da boa muxima feita a partir do Comité dos 24, do encontro com o Bomboco, do encontro com Djermakye e com a visita da Comissão Militar, estiveram também na base da “Compreensão das autoridades"

SOBRE O COMPORTAMENTO DOS MEMBROS DA COLUNA E MEMBROS DIRIGENTES:
Pode afirmar-se que a coluna inteira todos os que acompanhavam se portaram à altura dos acontecimentos, com especial relevo para o grupo de vanguarda que não depois as armas para defender a integridade da coluna que ainda não tinha chegado.
NO INTERIOR
A situação no interior tomou um novo élan sobretudo após a chegada do destacamento Camy apesar dos desastrosos acontecimentos, que se caracterizaram por uma perda considerável de quadros preciosos alguns mortos durante a marcha e das prisões dos camaradas que tiveram que regressar por factores vários. Sem dúvida o trabalho inicial quer no aspecto de mobilização, politização e consciencialização levado acabo pelo Cienfuegos no cumprimento da sua missão da instalação e implantação duma guerrilha organizada levando a conversão dos elementos contra-revolucionários, e posto em prática após a chegada do Camy que reforçou as nossas posições.
Assim, após um trabalho saturado de politização e consciencialização de elementos contra-revolucionários sem resultados e com a reacção destas continuarem não só a acção contra-revolucionária como também a intensificação da luta fratricida, os nossos destacamentos empreenderam uma acção de revanche no sentido de se apoderarem dos centros mais estratégicos e levar a população a aderir as nossas fileiras. Nesse contexto, os destacamentos viram-se obrigados dividirem as suas forças sendo uma luta contra os portugueses e outra contra os elementos contra-revolucionários.
Essas operações soldam-se num bilan positivo, 1º pela morte do mais terrível contra revolucionário António Fernandes morto num dos combates de defensiva das nossas colunas e 2º pôr em debandada os poucos núcleos contra revolucionários que se veem obrigados a refugiarem em Kicabo e numa das regiões fronteiriças de Ambriz e Ambrizete onde ainda se encontra a operar o outro chefe contra revolucionário António Panzo da Glória que até a data da elaboração desse relatório parece-nos ainda vivo e na continuação das suas acções aventureiras.
Apesar da falta de informações directas vindas do Comando Operacional da 1ª Região, as informações de que nos dispomos de várias proveniências permite-nos afirmar a existência de um desenvolvimento da luta político-militar da Região, por relatórios feitos por camaradas e alguns elementos upistas refugiados de pânico para Congo, que confirmam a realidade desses factos, já que infelizmente uma delegação composta por 13 camaradas enviados pelo Comando, chefiado pelo Delegado Cunha Adão Gomes, fora interceptada em Kamuna e este morto imediatamente, assim como estiveram presos todos os outros membros de delegação cujos alguns poderão evadir-se da prisão e os quatro restantes Domingos Kisele. Assureira Sebastião, Pedro Neto e João Kanga, executadas no dia 28 de Junho, após os acontecimentos dos Songololo, encontrando-se ainda presos em Kamuna os camaradas Mário Sebastião, João Rodrigues, Olímpio e Albino José.
Os sobreviventes dessa Delegação que chegaram em Maio findo assinalam que já nessa data, as regiões de Kifuta, Kaiengue, Kinguimbi, Muxualando, Quikonga, Funga e alguns outros postos de menos importância estavam já nossa altura sob o domínio das nossas forças. Os envios de reforços da Organização contra-revolucionárias e a falta de armamento que a caracteriza não poderão superar essa situação, verificando-se um aumento considerável de cerca de 500 pessoas que se encaminharam para o Congo com o objectivo de pedir a sua organização fantoche socorro e armamento.
Na sua maioria esses elementos vinham dos Postos do Zala e do Kicabo. Porém, relatórios mais recentes entre eles feito no dia 20 de Outubro do mês corrente, assinalam já a presença das nossas forças nas margens do rio Loge, isto é, a 8 dias da fronteira Congo Kinshasa-Angola. Esse relatório foi-nos fornecido por compatriotas que partiram a 10 de Setembro findo, do interior do nosso País. E dele podemos tirar os seguintes extratos:
“O grupo do Comandante Monstro, chegou sem nenhuma dificuldade. Após a sua chegada, a boa propaganda do MPLA começou a alastrar por todas as partes de Nambuangongo e Dembos onde os povos lutavam juntos contra os colonialistas portugueses, excepto algumas sanzalas. Com a chegada do Camy as nossas populações ganham cada vez mais coragem. Os elementos da oposição desmoralizam-se e alguns capitulam”.
Enquanto se procedia a essa operação a organização contrarrevolucionária, os reforços constantes enviados chocavam ante uma força mais poderosa. A extensão do território sob controle das nossas forças é de uma importante capital, chegando afirmar-se no relatório que afora Kicabo e Zala, os nossos destacamentos são senhores de posições estratégicas, alargando o seu campo de acção para o centro do País, encontravam-se nos limites de Lifune-Luanda. Regista-se em todos os sectores de actividades uma unidade sólida.
O grupo Camy durante a marcha teria sofrido alguns ataques nas áreas do Kiba, Muenga e Kissola, tendo perdido alguns camaradas e alguns feitos prisioneiros, na sua maioria voluntários e que se encontram até essa data no quartel de Kindembe sob o comando de João Baptista. Após esses ataques e com a experiência adquirida o Comando de Camy resolveu fazer uma operação de limpeza, tendo feito prisioneiros até ao destino. O mesmo aconteceu com o grupo que vinha a busca do material que na sua totalidade foi recuperado.
Essa actividade é registada entre os meses de Junho a Agosto e é no mesmo período que a organização contra-revolucionária tentou abafar em vão as nossas forças com o envio de um primeiro grupo composto de 60 soldados levando consigo 10 armas de repetição e duas pistolas metralhadoras, e o segundo composto de 40 soldados e 8 armas de repetição. Um terceiro grupo parece estar em preparação.

CONCLUSÃO

O Boletim das Forças Armadas Portuguesas apesar de todas as mistificações confirma indiscutivelmente o desenvolvimento extraordinário da luta armada no interior do nosso País e 1ª Região.
Esta situação também se pode confirmar pela nova táctica da Organização contra-revolucionária de Holden Roberto, que o estado de desespero em que se encontra motivado pela destruição quase total de alguns núcleos de apoio de que se dispunha, intensifica em Kinshasa reuniões de sabotagem contra o MPLA, contínuas a frequentes, nelas fazendo parte certas entidades Congolesas.
Por outro lado o auxílio por ele solicitado ao Departamento do Estado Americano no envio de negros Americanos antigos combatentes na Ásia nomeadamente Coreia e Viet-Nam confirma irrefutavelmente essa nova situação que se opera no interior do nosso País. Algumas chancelarias estão já informadas que uma parte do efectivo desse contingente encontra-se já na República Dem. du Congo, no campo de concentração de Kinkuzu.
É evidente, esse auxílio Norte Americano, destina-se a sabotagem sistematicamente as actividades da nossa Organização no sentido de impedir qualquer tentativa de passagem das nossas forças.
A posição do Governo de Congo Kinshasa na última Conferência de Chefes de Estado no que se refere a liberdade de acção ao MPLA, foi das mais intransigentes, não excedendo a que repulsa pela nossa Organização, embora camuflada com as conhecidas alegações, que se resumem numa “entente” com o chamado grae, e enquanto ela não se fizesse, chegou ao extremo de propor a Conferência a divisão de zonas de combate que consiste em situar estrictamente MPLA na República do Congo Brazzaville e o chamado grae no Congo Kinshasa.
Essa atitude, não nos surpreende porquanto ela tinha sido já formulada na carta do Ministro dos Negócios Estrangeiros daquele País, que considerava quaisquer actividades da nossa Organização como violação a soberania Nacional. (carta enviada ao Governo Congolês de Brazzaville após os acontecimentos do Songololo).
É evidente, que atitude de delegação Congolesa tivesse sido refutada quase por todas as delegações que faziam parte da Comissão Política chegando mesmo a lançar um apelo a delegação Congolesa no sentido de não limitar a liberdade de acção aos Movimentos de Libertação. O conhecimento exacto da fragilidade dos Organismos da OUA nesse aspecto, as contradições: mais flagrantes na veemência política dos governos africanos para com o regime em ultra-reacionário de Mobutu, não nos permite ter dúvidas da in aplicação de qualquer decisão da OUA, tendente a favorecer a nossa Organização.
De resto, uma análise atenta leva-nos a concluir da caução da OUA ao Governo de Mobutu, se considerarmos a recriação da Comissão de Conciliação alargada pelo Congo Kinshasa e Zâmbia, apesar do Holden ter declarado sem equívocos perante os conferencistas não estar interessado em momento algum fazer unidade com o MPLA, Organização de imaginação e criação da OUA, segundo suas declarações. Essa mesma atitude é expressa no relatório da Comissão Militar.
Posto isto, parece-nos que impõe-se a Direcção do MPLA no Quadro das suas responsabilidades quer na orientação justa e correcta das massas, quer na salvaguarda e defesa dos quadros preciosos que operam na 1ª Região encarar novos métodos de trabalho que permitem o reabastecimento o mais urgente possível da Região ou outros processos tendo em conta a conjuntura geral actual da política africana e em particular a política de dominação estrangeira no Congo Kinshasa, pelo imperialismo internacional encabeçado pelos americanos.
O insucesso de Ferraz Bomboco permite-nos tirar como conclusões finais o reabastecimento das nossas zonas de combate ou por um desembarque de homens e material na costa marítima ou a parachutagem.
Apesar das dificuldades do reconhecimento da costa-marítima estamos convencidos que essa é a solução que mais se adapta as circunstâncias actuais das exigências do desenvolvimento da 1ª Região, deixando a segunda hipótese para uma fase mais avançada. A não execução duma dessas hipóteses poderá pôr em risco a vida de centenas de quadros que ali operam abortando-se também a estrutura já traçada num esforço gigantesco.
É nosso parecer que essa situação deveria merecer toda a atenção da nossa Direcção e em especial do camarada Neto na sua qualidade de Presidente, já porque é a pessoa mais indicada de dar execução a uma decisão que porventura a Direcção chegar.
Parece-nos por outro lado, seja qual for e desenvolvimento da luta verificada numa das Regiões da nossa acção, a generalização da mesma será muito difícil se não tivermos em conta o desenvolvimento de todas as Regiões, sobretudo daquelas em que as massas populares começam a manifestar a sua adesão as nossas forças e os nossos princípios, já que na nossa estratégia global, talvez possamos considerar o caso da segunda Região como um caso específico, cujo desenvolvimento da luta parece depender mais duma estratégia política a traçar nas nossas próximas reuniões, em virtude da infestação que nela predomina pela acção contra-revolucionária, e por alguns erros por nós praticados que se soldam na prática numa corrupção física, dos nossos melhores quadros e na falta duma orientação acertada na luta consequente, em parte consequências das ausências constantes dos responsáveis do Comando nas Zonas de combate.

DO FUNCIONAMENTO DAS REGIÕES

É indiscutível que para se levar acabo e na melhor condição uma guerra de libertação, num país tão vasto como o nosso, o critério adotado da divisão em zonas de combate, em Regiões orientadas politicamente por Comissões Directivas, seja a mais acertada.
Porém, na prática essa divisão tem-nos levado a cometer graves erros em algumas decisões que uma outra Região vem tomando, permitindo assim o desvio das normas por nós estabelecidas em esforçar-nos a decisões colectivas.
Por outro lado, parece ser hoje evidente na prática, estarmos a caminhar num separatismo de Comissões Directivas sem uma orientação política global interna ou externa com características de Supremacia duma Comissão a outra, tirando-se mesmo a autoridade das Comissões quando determinados assuntos por elas discutidos tocam a pessoas que beneficiam do favoritismo, dos membros dirigentes das outras Comissões. Não é pouco frequente notar-se uma oposição na aceitação das decisões tomadas por uma Comissão Directiva, mesmo sem estarem fora da competência que lhe é atribuída.
Por outro lado essa situação tem-se desenvolvido na não observância e perca critério que até então parecia, apesar de todas as nossas divergências, factor unitário predominante. Algumas decisões unilaterais que se veem tomando, por vezes quando elas dizem respeito a militantes aos dirigentes. Assim, não é menos frequente ouvir-se da boca dos militantes que eu só respeito fulano e sicrano porque são os únicos dirigentes que reconheço.
Essa posição é indiscutivelmente estimulada e favorecida por falta de confiança entre dirigentes, chegando-se mesmo quase a criar entre os militantes duma Região e outra uma espécie de agentes de informação, com a nossa própria caução.
*[Manuscrito: “militantes, só têm servido para dividir a Direcção e opôr militantes aos dirigentes”].
O comportamento desses militantes, alguns militantes de base desviam-se das normas do Regulamento Interno da Organização, evitando por todos os meios a situarem os seus problemas dentro da hierarquia estabelecida, recorrendo-se aos dirigentes que os estimulam e que estes por sua vez, parecem não terem a coragem de pôr os problemas aos seus camaradas da Direcção. Esta situação real constitui hoje a actualidade da nossa Direcção, e sem dúvidas ela deveria merecer a nossa melhor atenção, tentando reunir o maior número de Dirigentes, afim de evitarmos cair num segundo abismo a que parece caminharmos. Sendo a luta armada um complemento da luta política, é nosso parecer, seja qual for o desenvolvimento que a 1ª conhecer, a 2ª estará sempre em perigo se a Direcção Política não for sólida, unida, numa orientação comum, e numa confiança recíproca e absoluta de todos os seus membros.
A falta de um julgamento mais criterioso e a analise fria e certas posições que membros duma Comissão Directiva ou doutra, também tem contribuindo para a desunião em critérios e princípios que até então faziam lei na nossa Organização. No quadro duma presumível supremacia acima citada, que nos seja permitido com toda a estima e consideração que nutrimos aos camaradas da III Região, ao nível da Direcção e em especial ao camarada Neto na sua qualidade de Presidente, afirmamos e emitimos energicamente a nossa crítica, com o pedido que essa atitude, seja reparada imediatamente numa auto-crítica sincera que permita sanear essa atmosfera que se criou. O Relatório da reunião da III Região, realizada em Junho, algures em Angola e que infelizmente nos chegou as mãos só no princípio desse mês, confirma a tentativa da supremacia a que nos referimos duma Região a outra, da falta de observarmos um critério comum e uma decisão colectiva nos problemas internos da Organização.
Aquilo que uma Comissão Directiva pode por vezes considerar erro, não pode e nem deve ser acolhido por outra Comissão Directiva com o espírito ou intenções de praticar novos erros. É inteiramente inconcebível que uma parte bastante restricta de membros da nossa Direcção tivesse feito uma apreciação tão errada, sobretudo os camaradas mais antigos da Direcção que têm maior responsabilidade, porquanto eles forem e têm sido companheiros desses mesmos camaradas que a vossa reunião concedeu sem piedade estarem em conivência com o imperialismo pela sua atitude “pouco clara e firme”. Parece-nos adivinhar, essa atitude estar na base da participação da nossa Delegação aos trabalhos do Comité dos 24, cuja justificação foi-vos dada em data oportuna numa carta da 1ª Região, de que fora portador o Delegado Soviético Membro da Comissão.
Algumas sugestões emitidas no mesmo Relatório tais como a nomeação dum Adjunto do Presidente, o alargamento da nossa Direcção, a suspensão de camaradas nele referidos, talvez por falta de elementos mais informativos, ainda não obteve a nossa apreciação. As dificuldades de meios de comunicações, justificam. Estamos certos que todos esses problemas não são mais do que sugestões que deverão merecer o ponto de vista dos camaradas da 1ª e II Região, no regresso do camarada Neto, se nos assistir o método de trabalho colectivo.
Quanto o caso da camarada ZIZI, a vossa sugestão confirma o processo que pesa sobre ela e numa reunião a que participamos em Brazzaville, decidimos a sua suspensão e a perca de direitos de militante durante 12 meses. O mesmo já não aconteceu no caso do camarada Baia, cujo dossier também discutimos, não tenho dado lugar a uma suspensão, a menos que sejam fornecidos mais elementos que pesam sobre ele. No caso do Luís de Almeida e do Mário Andrade, a Comissão Directiva da 1ª Região ignora totalmente o que se passa com eles.
A Comissão Directiva da 1ª Região é ainda da opinião que a próxima Conferência Regional, já que é a primeira que realizamos desde a existência da nossa Organização, a menos que estejamos mal informados, deveria ter uma participação massiva de Membros do Comité Director das outras Regiões.
A Comissão Directiva da 1ª Região solidarizou-se com a mensagem enviada pelos camaradas da Sede e da II Região, felicitando aos militantes e Dirigentes da II Região pelo esforço gigantesco até têm empreendido no desenvolvimento da nossa luta naquela Região.
A Comissão Directiva da 1ª Região, fazendo lei a Palavra de Ordem, todos para o interior, fica convencida ter dado a sua contribuição embora mínima, pela coragem e franqueza que caracteriza esse Relatório em todo seu contexto, estando também convencida que mais do que nunca a unidade da Direcção é a garantia absoluta duma orientação coordenada tanto no exterior como no interior do nosso País, evitando-nos desse modo a cometer erros gravíssimos que levariam indiscutivelmente dividir o nosso Povo em Regiões com a aplicação de concepções erradas e descoordenadas.
Essa situação para nós que temos a facilidade de nos servirmos das experiências da luta de Libertação dos outros Povos, não pode e nem deve passar-nos despercebida porquanto seria condenável e mais do que nunca a Comissão Directiva da 1ª Região pensa que, para além do nosso individualismo e das nossas concepções pessoais se queremos construir em bases sólidas, impõe-se limarmos todas as arestas com tendências a dividir-nos, pôr-mos de parte os orgulhos pessoais, fecharmos por vezes os olhos e as orelhas ante a intriga, que flagelar a nossa Organização.
Somos também de opinião e a prática confirma-nos que impõe-se actualmente uma reestruturação da Organização o mais rápido possível, por estar ultrapassada da Conferência de Quadros de 1964.
A 1ª Região é também do parecer a necessidade dum estudo conjunto da composição actual da Direcção, afim de se assegurar a boa marcha dos trabalhos, tendo em conta a capacidade produtiva e qualitativa dos seus membros, garantindo-se desse modo uma vanguarda ou reta-guarda que assegure a boa marcha das actividades, com o mínimo de participação de Quadros no exterior. A Comissão da 1ª R, reitera mais uma vez a necessidade de imprescindível do treino militar dos Dirigentes da Região.

Com as nossas Saudações Revolucionárias.
Vitória ou Morte!
A Vitória é certa!

Pela Comissão Directiva da 1ª Região

*[Assinado: Luiz de Azevedo Júnior]
-Coordenador-
*[Assinado: Miranda Marcelino]
*[Assinado: João Baptista]

Relatório da 1ª Região ao Comité Director do MPLA, assinado por Luiz de Azevedo Júnior, Miranda Marcelino e J. Batista

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