Carta do CEA ao Comité Director do MPLA

Cota
0097.000.030
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Remetente
CEA - Centro de Estudos Angolanos
Destinatário
Comité Director do MPLA
Locais
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
16
«Papel timbrado: CENTRO DE ESTUDOS ANGOLANOS – ALGER»

Alger, 17 de Outubro de 1967
(ANO DA GENERALIZAÇÃO DA LUTA ARMADA EM ANGOLA)
D/73/67

Ao C.D. do M.P.L.A.
Brazzaville e Dar-es-Salaam

Caros Camaradas:
Aproveitamos a ida do camarada Beto para Brazza para vos pôr ao corrente dos seguintes assuntos:
CADERNO REVOLUCIONÁRIO Nº 3 – O camarada Beto leva consigo cerca de 600 exemplares.
SUBSÍDIOS E RECIBOS – O mesmo camarada leva consigo os recibos dos subsídios, assim como as folhas do Caixa até ao mês de Setembro, inclusive. Logo que estejam completas as quantias anunciadas pelos camaradas e cujo recebimento depende de diligências em Argel, informaremos.
MANUAL DE ALFABETIZAÇÃO – Estamos procurando uma tipografia que se encarregue de fazer a sua impressão gratuitamente. Falamos ao Paulo Jorge na tipografia da J.F.L.N. Ele pôs-nos em contacto com ela. Aguardamos a resposta definitiva da J.F.L.N.
INQUÉRITO INDICATIVO – Da Frente Leste veio um pedido para que fornecêssemos dados sobre os grupos étnicos e certas informações económicas ao nível regional sobre os distritos angolanos. Aprestamo-nos a satisfazer o pedido e passamos em revista todos os dados que possuíamos. Ora, chegamos à mesma conclusão de antes: 1 – sobre os dados etnográficos, as contradições que se apercebem nas obras dos autores não nos permitem escolher quais as teses verdadeiras; além disso, os autores nunca descem ao detalhe pedido; 2 – sobre os dados económicos e sociais, possuímos informações gerais, ao nível nacional. Mas não existem monografias regionais ou dados sobre as firmas, em pormenor para todos os distritos; 3 – os livros que temos em mão, além de serem imprecisos e incompletos, são poucos em relação à bibliografia existente sobre os assuntos falados.
Por isso pensamos que era tempo de utilizarmos os meios mais directos (e por isso mais precisos) de recolha: tentar obter informações junto das populações angolanas. No entanto, o primeiro problema que se deparava era o dos meios reduzidíssimos de que dispúnhamos, isto é, a falta de contacto com essas mesmas populações.
Discutimos aqui com o camarada Beto Traça a utilidade de inquéritos e as possibilidades da sua realização. O camarada Beto mostrou interesse por tal experiência e deu-nos numerosas sugestões; dizendo que as respostas a tais inquéritos, além de serem enviadas para o Centro de Estudos, podem ainda ser muito úteis acertos órgãos do Movimento na sua actividade, havendo apenas que encontrar os meios de utilização das respostas úteis aos fins desses órgãos (o que seria trabalho a realizar aí).
Na verdade, tais inquéritos podem ser duplamente úteis: recolha de dados para serem confrontados com outros e analisados, a longo prazo, aqui; fornecimento de certos dados imediatos interessando a actividade do Movimento.
A – Para responder imediatamente ao pedido vindo do Leste, concebemos um inquérito simples que poderia ser feito pelo Movimento junto dos militantes ou dos refugiados, tentando ao máximo ter em conta o facto de o Movimento não poder dispensar quadros para esse trabalho.
O questionário é extremamente simples e aperfeiçoado à luz da experiência dos inquéritos anteriores. A sua execução não pedira um dispêndio exagerado de esforços. Bastara que uma pessoa se encarregue de fazer o levantamento de um distrito, segundo as instruções em anexo. Um distrito contém ao máximo 50 postos administrativos, o que significa que um camarada poderá recolher os dados de um distrito à vontade num mês, ou pouco mais, se fizer esse trabalho uma hora por dia. Os distritos que nos são pedidos com prioridade são 6 ou 7. Quer que seria necessário utilizar esse número de camaradas em Brazza e no Leste.
As informações pedidas no questionário permitem que se escolham as pessoas mais capazes para responder e não é necessário mais que três informadores para cada posto. E quase certo que haverá postos para os quais não se poderão encontrar 3 informadores, ou mesmo menos. Aí nada se poderá fazer.
B – Seguem junto a esta, um anexo, o modelo do Questionário Indicativo, Notas sobre o questionário indicativo, e listas de postos administrativos por cada distrito que interessa.
As listas de postos administrativos são feitas com base na divisão administrativa existente em 1964.
Parece-nos que esta divisão é uma excelente base para o estabelecimento dos dados porque se aproxima da actual divisão e é bem diferente da de 1960. Além disso, é uma divisão retida na memoria talvez pela maior parte das pessoas que responderão aos inquéritos, o que não sucedera para as di- [deve faltar a página seguinte].

QUESTIONÁRIO INDICATIVO
1) Qual é o posto colonialista da tua terra?
2) Quantas aldeias tem o posto?
3) Como se chama a tua aldeia?
4) Qual é a aldeia em que mora o teu soba?
5) Quais são as línguas faladas nas aldeias do posto?
6) Qual é a língua falada por mais pessoas?
7) Qual é a língua falada pelos teus pais?
8) Como se diz na tua língua:
aldeia homem
chefe de aldeia povo
ferreiro mandioca
cão clã
negociar mulher
milho imposto
agricultor mercado
lavra dinheiro
chefe de clã boi
aldeia do soba boca
falar dançar
9) Quantas fazendas de europeus há em todo o posto?
10) Como se chamam os patrões dessas fazendas?
11) Qual é a fazenda mais importante?
12) Quais são os produtos que se cultivam nessas fazendas?
13) Quanto ganha um trabalhador angolano nas fazendas (por mês e em dinheiro): se é homem? Se é mulher? Se é miúdo?
14) As fazendas empregam contratados?
De que regiões são os contratados?
15) As pessoas do posto costumam ir para o contrato?
Para que regiões costumam ir os contratados?
16) Na região do teu posto, o que é que se costuma cultivar nas lavras?
17) Na região do teu posto quais são os animais que os angolanos criam para comer ou para vender?
18) O que é que os agricultores angolanos vendem nas lojas e qual é o preço de cada coisa que vendem?
19) O que é que os agricultores compram nessas lojas e qual é o preço de cada coisa que compram?
20) Quais são os impostos que os colonialistas obrigam a pagar e quanto custa cada um?
21) Na região do teu posto há missão?
É católica ou protestante?
A missão tem escola? E tem hospital?
A missão tem fazendas? Quem costuma trabalhar nas fazendas
da missão?
22) Na região do teu posto há ferreiros angolanos?
Vão buscar o ferro às minas? Onde ficam as minas?

NOTAS SOBRE O QUESTIONÁRIO INDICATIVO
Para se poder ter dados sobre os distritos (particularmente para os grupos étnicos e para as informações sociais ou económicas), a maneira mais simples e mais precisa é a de se descer ao nível dos postos ou circunscrições. Para que as respostas sejam inteiramente validas, convém escolher os indicadores mais capazes (ou porque conhecem bem as regiões ou porque podem exprimir-se melhor). Um número relativamente pequeno de indivíduos pode fornecer dados de grande interesse e precisão. Tudo dependera da escolha que for feita e no cuidado posto ao se preencher o inquérito. Pensamos que o número ideal (a representar sempre que possível) será de três indicadores para cada posto administrativo, porque assim se pode sempre decidir sobre qualquer contradição que surja.
Propomos o seguinte esquema de trabalho:
1 – Que uma parte dos inquéritos seja preenchida em Brazza (correspondendo aos distritos do Norte) e que a outra parte o seja na fronteira ou frente Leste (para o resto do país).
2 - Em cada uma duas grandes regiões, dar a uma pessoa um distrito. Essa pessoa encarregar-se-á portanto de recolher os dados de um distrito determinado. Ela terá assim um número suficiente de questionários (3 vezes o número de postos do distrito) e uma lista dos postos administrativos.
3 – A pessoa que se encarregar do distrito poder proceder assim:
a) Perguntar quais são os indivíduos que podem dar informações sobre cada um dos postos (se houver mais que três informadores possíveis, ela escolhera aqueles que garantam respostas mais precisas).
b) Preencher os inquéritos e, ao mesmo tempo, marcar sobre a lista os postos para os quais já há informações suficientes.
c) Para simplificar o trabalho, a pessoa encarregada do distrito deve proceder por ordem: não podem passar a um posto sem ter já três questionários preenchidos para o posto anterior. Isto, no entanto, não será sempre possível na prática.
4 – Tentar ao máximo obter indicações sobre todos os postos do distrito que lhe incumbe. (É possível que uma mesma pessoa conheça mais que um posto. Nada impedira de a utilizar duas ou mais vezes, sendo somente necessário meter o nome do posto sobre o qual ela dá informações e não o seu posto de origem).
5 – É particularmente importante de escrever em letra bem legível as palavras das línguas angolanas (em maiúsculas, por exemplo), para um seu estudo posterior e para a confirmação das informações recolhidas.
6 – Os questionários podem ser enviados, logo que um distrito esteja pronto.
*[Manuscrito:1º por ordem prioritária].

DISTRITO DO CUANZA-NORTE
Postos administrativos:

Salazar
Lucala
Golungo Alto
Cambondo
Cêrca
Quilombo
Camane
Dondo
Massangano
Quilemba
Zenza do Itombe
Camabatela
Luinga
Tango
Maua
Quiculungo
Terreiro
Bolongongo
Banga
Samba Caju
Samba Lucala
Quibaxe
Pango Aluquem
Bula Atumba
Piri
Quiage
Cazua
(Divisão Administrativa de 1954)


(2º por ordem prioritária)

DISTRITO DE CABINDA
Postos administrativos


Cabinda
Lulondo
Tando-Zinze
Landana (Guilherme Capelo)
Lela
Massabi
Buco Zau
Luango
Belize
Miconje
Necuto
Luali
(Divisão administrativa de 1964)


(3º por ordem prioritária)
DISTRITO DE LUANDA
(Postos administrativos – à excepção do Conselho de Luanda):

Viana
Cacuaco
Barra do Cuanza
Belas
Ambriz
Tabi
Nambuangongo (General Freire)
Canacassala
Gombe
Mazumbo
Mucondo
Quixico
Zala
Caxito
Barra do Dande
Quicabo
Ucua
Mabubas
Catete
Bom jesus
Cabiri
Cassoneca
Muxima
Demba-Chio
(Divisão Administrativa de 1964)


DISTRITO DO UIGE
Postos administrativos:

Uíge (Carmona) Bengo
Ambuila Quitexe
Quipedro Aldeia Viçosa
Songo Vista Alegre
Quivenga Cambamba
Mucaba Quimbele
Bembe Quibele
Lucanga Cuango
Mabaia Alto Zaza
Negage Santa Cruz
Bungo Macocola
Puri Macolo
Dimuca
Maquela do Zombo
Quibocolo
Béu
Cuilo Futa
Sacandica
Sanza Pombo
Buenga-Norte
Cuilo Pombo
Uamba
Damba
31 de Janeiro
Lemboa
Pete
Camatambo
Cangola
Caiongo
(Divisão administrativa de 1964)


DISTRITO DO ZAIRE
Postos administrativos:

São Salvador
Luvo
Madimba
Caluca
Santo António do Zaire
Emílio de Carvalho (Pinda?)
Porto Rico
Quelo
Ambrizete
Mussera
Loge
Tomboco
Quinzau
Quigombe
M´Pozo
Lufico
Lué-Lulendo
Buela
Canda

(Divisão administrativa de 1964)


DISTRITO DE MALANGE
Postos Administrativos:

Malange
Ritondo
Caizure
Cangandala
Mucari
Cacuso
Pungo Andongo
Lombe
Kizenga
Duque de Bragança
Cateco Cangola
Cuale
Cota
Songo (Nova Gaia)
Tala Mungongo
Quimbango
Quirima
Quitapa
Sautar
Luquembo
Quela
Xandel
Lui
5 de Outubro
Caombo
Brito Godins
Tembo aluma
Milando
Ginga
Massango
Eusitano
Tua
(Divisão administrativa de 1964)


*[À manuscrito: 1º P/o LESTE]
DISTRITO DO MOXICO
Postos administrativos:

Moxico (Luso)
Cachipoque
Camanongue
Lucusse
Muangai
Sandando
Teixeira de Sousa
Cameia
Dilolo
Cangamba
Cassamba
Muié
Cangombe
Sessa
Cazombo
Caianda
Calunda
Lovua
Macondo
Nana Candundo
Gago Coutinho
Chiume
Lumai
Lutembo
Mussuma
Ninda
(Divisão Administrativa 1964)


DISTRITO DO CUANDO CUBANDO
Postos administrativos:

Menongue (Serpa Pinto)
Cuchi
Caiundo
Cuito-Cuanavale
Baixo Longa
Longa
Lupire
Cuangar
Dirico
Mucusso
Mavinga
Dima
Neriquinha
Luiana
(Divisão administrativa 1964)


DISTRITO DA LUNDA
Postos administrativos:

Saurimo (Henrique de Carvalho)
Dala
Mona-Quimbundo
Xa-Cassau
Luangue
Portugalia
Cambulo
Canzar
Lovua
Luia
Cachimo
Camissombo
Capaia
Luachimo
Cuangula
Camaxilo
Caluango
Cuango
Lubalo
Luremo
Cuilo
Nova Chaves
Cassai
Cazaje
Chiluage
Chiumbe
Cacolo
Alto Chipaca
Capenda Camulemba
Xassengue
Cucumbi
(Divisão administrativa 1964)

Distrito do BIÉ
Postos administrativos:

Bié (Silva Porto)
Catabola (Nova Sintra)
Cunje
Cambandua
Dondeiro
Capolo
Chinguar
Cutato
Cangola
Andulo
Chiengue
Cunhinga
Nharêa
Gamba
Camacupa (General Machado)
Gando
Munhango
Neves Ferreira (Cuemba)
Luando
Umpulo
Chitembo
Cachingues
Catota
Mutumbo
Chipeta
Chissende
(Divisão Administrativa 1964)


DISTRITO DA HUILA
Postos administrativos:

Lubango (Sá da Bandeira)
Hoque
Humpata
Huila
S.António
Chibia (João de Almeida) Capunda-Cavilongo
Jau Otchinjau
Caconda Chitado
Caluquembe Roçadas
Chicomba Humbe
Gungue Mucope
Quilengues Naulila
Impulo Cuamato
Chongoroi
Dinde
N´gola
Vila da Ponte (Artur de Paiva)
Chipindo
Galangue
Dongo
Cassinga
Quipungo
Capelongo (Vila Folgares)
Matala
Mulondo
Njiva (Pereira d´Eça)
Calonga
Chiveio
Evale
Cafima
Môngua
Melunga
Namacunde
Chiange
Chibemba
Cahama
Oncocua
(Divisão administrativa 1964)


Carta do Centro de Estudos Angolanos em Argel (D/73/67) ao Comité Director do MPLA (Brazzaville e Dar-es-Salaam) + anexos.

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Nomes referenciados