Relatório sobre o Internato 4 de Fevereiro

Cota
0096.000.030
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
Gilberto Silva
Data
Jul 1967 / Ago 1967
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
*[Manuscrito por Lúcio Lara: Julho/Agosto 1967]

RELATÓRIO SOBRE O INTERNATO “4 DE FEVEREIRO”

EXAMES-
Apresentaram-se aos exames 28 alunos da terceira classe e 5 alunos da quarta classe. Os resultados obtidos foram apresentados no relatório da Direcção do Internato ao Movimento. Duma maneira geral, os alunos estavam bem preparados (sobretudo os da quarta classe), o nível de conhecimentos demonstrado foi amplamente satisfatório, embora haja carências nesta ou naquela disciplina. Em proporção, a quarta classe teve melhor aproveitamento que a terceira, e no geral as raparigas estavam melhor preparadas que os rapazes.

PROGRAMAS-
O programa da terceira classe constava das seguintes disciplinas:
*[As disciplinas estão manuscritas]
Leitura (caderno CEA)
Ditado
Redacção
Gramática (gramática Rocha)
História Angola (cartilha CIR)
Geografia de Angola (cartilha CIR)
Aritmética (edição portuguesa)
Desenho


Na terceira classe, não existem manuais de leitura. Os alunos utilizam um dos cadernos do CEA, completamente inadaptado para o efeito. Manifestam um desconhecimento profundo da Geografia e História de Angola (sobretudo esta última), assim como em Ciências-Naturais. Assevera-se necessário intensificar o estudo destas disciplinas, incluir no programa o estudo das “Leçons de Chose”, assim como de certas aulas de carácter político (certos alunos desconheciam totalmente o que eram o PAIGC e a FRELIMO, nem sequer sabendo apontar no mapa, onde se encontravam Portugal, Moçambique, Guiné, etc.).

O programa da quarta classe constava das seguintes disciplinas:
*[As disciplinas estão manuscritas]
Leitura (caderno CEA)
Ditado
Redacção
Gramática (Rocha e José Maria Relvas)
História Angola (Cartilha CIR)
Intro. Geografia e Geografia de Angola (cartilha CIR)
Aritmética (edição Portuguesa)
Ciências Naturais (edição Portuguesa)
Desenho

A quarta classe, manifesta as mesmas deficiências da terceira. Não foi possível encontrar o programa estabelecido pelo cam. Rocha. Inexistência de manual de leitura (feita também em caderno do CEA), deficiência no conhecimento geográfico e histórico de Angola (em menor grau do que na terceira); ausência dos “Leçons de Chose”.
As mesmas sugestões feitas para o programa da terceira classe são validas para a quarta.


FUNCIONAMENTO DO INTERNATO-
O Internato albergou cerca de 90 pessoas: 77 alunos, 3 professores, algumas senhoras e pessoal técnico. O funcionamento do Internato apresenta algumas deficiências. Não existe colaboração entre os cams. Director Costa e professor Baião. Parecem pôr-se problemas de personalidade e de posto. De qualquer forma, no aspecto puramente técnico, o cam. Luís da Costa parece ser o mais dinâmico e competente.
Os alunos estão organizados em pioneiros. Estão divididos em 3 grupos, cada um deles com os seus respectivos responsáveis. No que respeita a este aspecto, não me parecem existir falhas de maior.

O Internato e as suas instalações apresentam no geral um aspecto limpo. Foi-me dado porém ver que os alunos andam frequente senão permanentemente sujos e descalços. É de imputar esta negligência da higiene às senhoras, que se deveriam ocupar destes problemas.
Continua a haver uma grande afluência de militantes vindos de fora (embora as entradas sejam controladas), que veem sob pretexto de consultas médicas, mas na realidade veem por razões particulares.
Os alunos comem todos juntos, mas os camaradas Costa e Baião e respectivas famílias comem em separado, cada um deles tendo a sua cozinha(!!!). Existe uma lavra e ma horta do Internato, e lavras privadas das senhoras (as mulheres dos cams. Costa e Baião tendo também cada uma delas a sua). O mesmo sucede com a criação. Segundo informações, muitas vezes os alunos são mobilizados para trabalharem nas lavras privadas.
As relações entre as senhoras e as alunas também não são boas, por razões, que segundo me foi dito, não tem nada a ver com o funcionamento técnico do Internato.


INSTALAÇÕES E ALOJAMENTOS-
As instalações e os alojamentos são ultra deficientes. 31 moças dormindo na sala central do internato (antigo refeitório do CIR), um grupo de 16 rapazes dormindo em 8 tendas pequenas e outro grupo de cerca de 30 rapazes dormindo na grande casa de madeira, construída no tempo do CIR (e que serve simultaneamente de sala de aula), e os professores nos quartos da casa central.
Só existe uma sala de aula (a casa de madeira atrás mencionada). Ela serve simultaneamente para as terceira, quarta e segunda classes, enquanto a primeira classe é dada nas varandas da casa central. Acrescente-se que a casa de madeira, escura e sem janelas, não apresenta condições para o efeito.

ORÇAMENTOS-
Segundo a opinião do Director o orçamento geral é insuficiente. Receberam em Maio e Junho respectivamente 55mil e 53mil CFA, o que corresponde a cerca de 20 CFA por pessoa e por dia. Em todo o caso, tive a oportunidade de verificar que nos dias de exames não havia nada para os alunos comerem, o que não sucedia com os professores.
Foi-me também dito terem sido apresentadas propostas de orçamento para alimentação e compra de material em geral (tábuas, etc;), que parece terem sido só parcialmente satisfeitas. A direcção do Internato queixa-se da forma como os orçamentos lhe são entregues (a “conta-gotas”) pelo departamento de Finanças de Dolisie.


MATERIAL ESCOLAR-
Não existe carência dos artigos essenciais (lápis, cadernos, etc.). Como atrás, foi assinalado faltam porém manuais de leitura, manuais de “Leçons de Chose”, mapas de Angola e do Mundo, giz.
Torna-se necessário fazer uma reimpressão da Gramática Portuguesa elaborada pelo cam. Rocha e completa-la com a parte da “Sintaxe”.


Funcionamento nas férias-
Ficou a dirigir o Internato o cam. Augusto Luciano Campos. Trata-se dum camarada que se encontrava no deposito e que já foi, segundo consta, professor em Angola. Foi estabelecido um programa de férias. E de considerar a possibilidade de futuramente integrar este camarada no quadro permanente de professores.


CONSIDERAÇÕES SOBRE O FUNCIONAMENTO FUTURO-
A exiguidade e as condições deficientes em vivem os alunos põe um problema grave. Com as condições actuais, concebe-se dificilmente como alojar, no ano próximo os alunos, considerando a possibilidade duma taxa de crescimento de 20% (repare-se que entre os anos lectivos de 65/66 e 66/67, a taxa de crescimento da população escolar do Internato foi maior); mesmo com o nº actual de alunos, é imprescindível, melhorar as condições de instalação. No que respeita à instalação provável dum ensino secundário, com as condições actuais, é de afastar já teoricamente essa possibilidade.
Torna-se necessário estudar a possibilidade de realizar um investimento rápido e definitivo de maneira a dar uma solução, pelo menos modesta, a estes problemas. Na base das observações feitas, é necessário também reelaborar os programas de ensino, e resolver as carências de material escolar (Manuais, etc.).
Quanto ao que diz respeito ao ensino secundário, não me parece existirem condições técnicas, nem de organização, para ele ser instalado nos locais da quinta.

*[Assinado: Gilberto Silva]

Relatório sobre o Internato 4 de Fevereiro, por Gilberto Silva (Julho-Agosto 1967)

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