Carta do CEA ao CD do MPLA

CENTRO DE ESTUDOS ANGOLANOS
20, Avenue Dujonchay
ALGER

Alger, 5 de Julho de 1967 (ANO DA GENERALIZAÇÃO DA LUTA ARMADA EM ANGOLA)
D/55/67

Comité Director do M.P.L.A.
BRAZZAVILLE e DAR-ES-SALAAM

Caros camaradas

Já bastante tempo que não vos escrevemos, mas esperávamos a ocasião de elaborar e enviar-vos as fichas de informação e ter notícias concretas a dar-vos sobre a questão do subsídio. Pedimos desculpa da demora em responder-vos.
FICHAS DE INFORMAÇÃO – Segue agora a terceira série, correspondente ao mês de Julho. Como os camaradas já viram, têm sido acrescentadas novas rúbricas no catálogo de assuntos primitivamente elaborado. Nesta série foi acrescentado o capítulo 11.2.4. – ocupação administrativa e técnica do território (política governamental). As fichas correspondentes a este capítulo tratam, nesta série do Cuando-Cubango e do levantamento cartográfico de Angola.
TRABALHO EM CURSO – Está prestes a ser impressa a edição definitiva do Manual de Alfabetização. Na nossa carta D/41/67 de 5 de Junho perguntávamos se era útil ou desnecessário mencionar que o Centro elabora e edita o manual. Como a impressão vai começar em breve, necessitamos da vossa resposta.
Prossegue o trabalho de escolha, classificação e arquivo da documentação.
SUBSÍDIO DO MOVIMENTO – Conforme vos informámos na nossa última carta de 5 de Junho tinham-nos sido entregues até aquela data, pela Delegação de Argel, a quantia de 2450 dinares. Os subsídios em atrazo somariam pois 21350 dinares no fim do mês de Junho.
Em meados de Junho foi-nos entregue por Aquino Bragança um envelope no qual se encontravam dois mil e quinhentos “exemplares” estrangeiros que, convertidos em “exemplares” locais dão 12.120, mais ou menos, conforme o câmbio. Portanto, os subsídios em atrazo até ao fim de Junho passaram a somar 9.230 dinares.
Entretanto, no envelope que nos veio da Tanzânia pela mão de Bragança, vinha indicado que ele nos daria ainda 500 dinares argelinos. Na verdade Bragança dissera-nos que tinha umas dezenas de dinares para nos entregar. Esperámos mais de um mês por novo contacto. Como ele não viesse, telefonámos-lhe para a sua residência e para o local de trabalho mas não o encontramos. Viemos a saber que Bragança partiu com a família para a R.D.A., devendo voltar dentro de algumas semanas ou meses. Por outro lado, parece que deixou o seu lugar na “Revolution Africaine”.
Esperamos o seu regresso para obter os referidos 500 D.A..
OUTROS ASSUNTOS – Está em Argel o camarada Castro Lopo que aproveitou o período de um mês de férias, concedido pela empresa onde trabalha, para vir trabalhar no Centro de Estudos. Aproveitará para fazer um estágio na tipografia off-set onde trabalha o Hélder. A sua ajuda aqui ser-nos-á preciosa dada a carência de pessoal que temos face ao vasto trabalho que implica a manutenção em dia da documentação, além das outras tarefas.
No entanto, sabemos que o Castro Lopo está em vias de ir para baixo. E, embora nos fosse necessário o seu trabalho aqui, nos próximos meses, sabemos bem que ele ainda será mas útil à Revolução se der uma contribuição mais directa à luta e estiver no seio dela. Por isso, não deixaremos de sentir satisfação ao vermo-lo partir para aí, dentro em breve.
Não temos recebido comunicados de guerra, o que nos inquieta, porque isso pode representar dificuldades momentâneas na luta contra o inimigo colonialista.
Esperamos a vossa resposta e as vossas opiniões sobre a actual série de fichas e as sugestões de modificações a introduzir.
Faremos votos para que o vosso esforço e o de todos os militantes do Movimento continuam a impulsionar decisivamente a luta de libertação nacional e a guiar o povo no combate ao colonialismo português.
Recebam, caros camaradas, as nossas fraternais

SAUDAÇÕES REVOLUCIONÁRIAS

Pela Direcção