Suplemento de informações do «Vitória ou Morte»

Cota
0086.000.025
Tipologia
Notícia
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
Vitória ou Morte - MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Acesso
Público

«Papel timbrado MPLA Vitória ou Morte - Brazzaville»

S U P L E M E N T O de I N F O R M A Ç Õ E S
                                                                                                 / Nº 1 26/9/66/

+  KINSHASA 16/9/66. O camarada Azevedo Jr. fez a seguinte declaração à imprensa local: “Para libertar os nossos militantes que se encontram presos nos calabouços de Holden Roberto, o MPLA, se for preciso, combaterá com a mesma violência que combate os colonialistas portugueses”.
O camarada da Azevedo declarou correr perigo de prisão por parte dos carrascos do dito grae. Afirmou que se encontravam presos seis militantes do MPLA. Três camaradas, José Pascoal, Fernando Miranda e um outro, foram presos no dia 23 de Agosto no Songololo, acusados de terem feito contrabando de armas. O inquérito demonstrou que era mentira, mas quando os três camaradas estavam para ser libertados, apareceu um grupo de Holden com alguns polícias congoleses armados que os levaram para lugar desconhecido. A pedido do camarada Azevedo, o ministro congolês do Interior, TSHISHEKEDI e a coronel Singa da Segurança, prometeram libertar os nossos camaradas. Porém, até agora ainda não foram libertados e outros três camaradas foram presos pelos militares de Holden, comandados por um tal “coronel Timóteo”.
O camarada Azevedo lançou um apelo para a libertação imediata dos nossos camaradas e declarou que o MPLA combaterá, se for necessário, para o conseguir.
Os camaradas ultimamente presos são os seguintes:
Simão Nelumba, Paulo Vieira Neto (Folhas Caídas), Kiano e Azevedo (de Boma).

+ HONG KONG 16/9/66.  As “cidades decadentes” de Hong Kong colónia britânica, e de Macau, colónia portuguesa (todas na China), devem ser devolvidos à China Popular, pediram os “guardas vermelhos” (Juventude chinesa) de Cantão, segundo informações relatadas pelos viajantes vindos dessa cidade e publicadas no jornal China Mail.
Os viajantes precisam que as duas colónias foram reivindicadas em Cantão, no decorrer duma reunião de massas a qual assistiram milhares de “guardas vermelhos”.
Se Hong Kong e Macau não forem anexados pela China Popular, a imagem revolucionária do nosso país sofrerá, teriam proclamado os jovens maoistas.
É essa também a opinião dos militantes do MPLA. Não se compreende que, sendo a China Popular um país independente e socialista, permita ainda no seu território, a existência de duas colónias. Nem mesmo as razões invocadas o justificam. De resto, tal situação só fortalece a posição dos colonialistas portugueses. 

+ LISBOA 16/9/66. Segundo rumores que circulam com insistência nos meios eclesiásticos, o cardeal Gonçalves Cerejeira, patriarca de Lisboa teria a intenção de convocar para o próximo mês uma reunião do episcopado, no decurso da qual anunciaria a sua demissão. Este será o primeiro exemplo dum membro do episcopado português que segue o “motu próprio” do papa Paulo VI (onde pede que todos os membros da Igreja peçam o afastamento de funções ou reforma, logo que atinjam a idade de 75 anos). Trata-se do chefe supremo da Igreja em Portugal, cuja influência junto dos outros prelados foi sempre considerável.
                          = O cardeal Cerejeira, de 78 anos de idade, é um amigo de infância de Salazar. Foram professores ao mesmo tempo em Coimbra e habitaram o mesmo quarto durante muitos anos. O cardeal Cerejeira é também um dos suportes da política colonial portuguesa e o facto de abandonar as funções de chefe da Igreja portuguesa pode contribuir para que esta tome uma posição mais justa em relação ao nacionalismo nas colónias portuguesas.

+ BUFFALO 21/9/66. Iniciou-se hoje em Buffalo (Estados Unidos), o processo criminal dos indivíduos implicados ultimamente, na venda ilegal de aviões e material de guerra americanos a Portugal. Trata-se do conde Henri Montmarin, de nacionalidade francesa, que fazia de intermediário das vendas; de Gregory Board, americano, que vendia aviões e outro material: e de Johon Hawke, inglês, agente da CIA (serviços secretos americanos), que se encarregava do transporte dos aviões e do material.
                         Johon Hawke reafirmou ter sido recrutado pela CIA e deu a entender que todo o negócio tinha sido montado pela mesma CIA, mas que esta não queria reconhecer os factos para não colocar o governo americano numa situação embaraçante. Com efeito, o governo americano prometeu a ONU não entregar qualquer espécie de armamento e material de guerra que pudesse ser utilizado contra os nacionalistas em Angola, Guiné e Mozambique.

+ CAIRO 19/9/66. Holden Roberto deixou Cairo em direcção a Kinshasa, depois duma visita de 12 dias nessa capital. Holden Roberto vinha de Lusaka onde se entrevistou com Jonas Savimbi, seu antigo ministro das relações exteriores.
                         = Holden e Savimbi foram vistos a sorrir depois da sua entrevista: Depois das acusações que mutuamente se fizeram, um observador não avisado pensará estar em presença dum diálogo de surdos… O MPLA é um observador avisado e está vigilante.

+  KINSHASA 21/9/66. O Governo Congolês decidiu suspender as carreiras de aviões entre Kinshasa e Luanda.
                         = Até que enfim o Congo começa a tomar as medidas exigidas pela luta de libertação e que todos os outros países africanos já tomaram.

+ KINSHASA 19/9/66. A República do Congo-Kinshassa, resolveu protestar junto das Nações Unidas contra Portugal, por causa das facilidades concedidas pelo colonialista aos mercenários de Tshombé, que se encontram em Cabinda e Vila Luso, para atacar o Congo.
                         = Em vez de apresentar protestos que nada resolvem, a república democrática do Congo devia conceder “liberdade de acção” ao MPLA, pois os nossos guerrilheiros, saberiam certamente, como combater esses mercenários.

+ Lusaka 24/9/66. Em Agosto, na aldeia de Chinjongo, alguns camiões militares e dois jeeps, cheios de soldados portugueses, foram atacados pelos combatentes do MPLA. 49 portugueses foram mortos e muitos ficaram feridos. Os dois jeeps e um camião foram destruídos.
                         No mesmo dia, na aldeia de Sakavenva, uma patrulha de MPLA abateu um avião português, que despenhou-se nas águas do rio Luena.
                         Para vingar estas perdas, os portugueses recorreram a massacres indiscriminados, matando as populações locais e o gado. Assim, em 28 de Agosto, um avião português bombardeou uma aldeia na região do rio Luena. Entre os mortos, conta-se o soba Mambula. Porém, uma emboscada armada pelos guerrilheiros do MPLA, destruiu ali mesmo quatro viaturas portuguesas, matando 30 soldados.
                       = Por motivos alheios à nossa vontade, esta notícia saiu incompleta e errada num comunicado de guerra publicado esta semana. Como os nossos militantes devem calcular, as comunicações com a frente leste, são difíceis, demoradas e muitas vezes susceptíveis de interferências. 

+  BRAZZAVILLE 17/9/66. Realizou-se em Brazzaville, de 12 a 17 do corrente, o primeiro Congresso Constitutivo de todos os Estudantes Angolanos. Participaram nele não só alguns estudantes directamente empenhados na luta armada, mas também, e na sua maior parte, muitos estudantes vindos de todo o mundo. O Congresso que se realizou sob a divisa «aliança do livro e da espingarda», terminou com uma brilhante recepção organizada pela JMNR do Congo Brazzaville. Formou-se uma União dos Estudantes Angolanos «U.E.A.» cuja direcção é constituída pelos camaradas Casimiro (presidente), Barros (vice-presidente), Gilberto (secretário do interior), Zinga (secretário à Tesouraria), Macedo (secretário à informação e cultura).
                         = Os militantes do MPLA esperam que a UEA organize e mobilize todos os estudantes angolanos espalhados pelo mundo, de forma a que a sua participação na acção directa seja efectiva.
+  DAR-ES-SALAAM 26/9/66. Por ocasião da comemoração do segundo aniversário do começo da luta armada em moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) publicou um comunicado traçando o desenvolvimento da Organização, desde 1964:
                         “De 200 guerrilheiros bem treinados, mas mal equipados que contava nessa altura, a Organização passou a mais de 7.000 homens endurecidos, bem equipados e politicamente conscientes. As tropas da FRELIMO já mataram mais de 3.000 soldados portugueses, destruíram cerca de 180 viaturas militares, abateram 16 aviões, fizeram numerosos prisioneiros e destruíram pontes, estradas e vias férreas”.
                         = Efectivamente, foi no dia 25 de Setembro de 1964 que o povo irmão de Moçambique, sob a direcção da FRELIMO, passou à base da luta armada para a libertação nacional, seguindo assim, o exemplo do povo angolano dirigido pelo MPLA e do povo guineense dirigido pelo PAIGC.
No dia 26 de Setembro de 1964, os guerrilheiros da FRELIMO atacaram, ao mesmo tempo, dez postos militares portugueses nos distritos de Nyassa e Cabo Delgado, tendo provocado numerosas baixas à tropa colonialista.
A FRELIMO, juntamente com o MPLA, o PAIGC e o CLSTP, faz parte da CONCP e o seu presidente é o camarada MONDLANE.


                         O M.P.L.A. é um movimento de massa.
                         A acção do MPLA deve mobilizar todo o novo angolano
                         numa luta sem tréguas contra o colonialismo opressor,
                         até à instalação dum regime de justiça social e de 
                         progresso nacional.

                         O M.P.L.A. é um movimento revolucionário
                         A acção do MPLA faz-se no sentido da destruição completa
                         do aparelho colonial, e de todas as formas de dominação.

                         Primado do político sobre o militar
                         Todos os problemas do Movimento, inclusive os problemas
                         de carácter militar, serão apreciados e solucionados à luz da
                         linha da política adoptada.

                         Primado do interior sobre o exterior
                         A acção no exterior do país é um complemento da acção que
                         se desenvolve no interior de Angola.

 /1ª Conf. Nac./
Dep. Inf.  

Suplemento de informações do «Vitória ou Morte» (Nº 1 - 26/9/66, Brazzaville).

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