Declarações de Daniel André Orlando Kabanga

Cota
0085.000.011
Tipologia
Declaração
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
UPA - União das Populações de Angola
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
2

UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA
                           “U.P.A”
DIRECÇÃO – REGIONAL DE MATADI.-

*[Manuscrito por A. Neto: 17 setº 1966 conhecimento ao C.D.]
*[Carimbado: União das Populações de Angola U.P.A]

DECLARAÇÕES DE UM RECÉM-REFUGIADO DE LUANDA
Daniel André Orlando Kabanga tem 28 anos de idade e é natural de Nossa                  Senhora de Fátima em Cangola. É enfermeiro chegado ao Congo no mês de Maio que fez as seguintes declarações:

“Saí de Luanda no dia 11 de Março de 1966 para me refugiar no Congo.
A situação em Angola continua a piorar de dia para dia. Refiro-me às prisões, as mortes, aos assassinados pelos portugueses. Ainda no dia 28 de Fevereiro do corrente ano cerca de 400 pessoas foram presas sem sabermos o motivo da sua prisão. Quarenta homens foram mortos em Luanda nessa altura e um homem de Cabinda foi detido. O Senhor João Luís Cardoso foi outra vez preso sem motivo; um irmão nosso do Sul o Sr. Manuel Mascarenhas Abrantes, natural de Vila Luso andava na cadeia havia muito tempo. Puseram-no em liberdade mas, depois de 3 meses abateram-no a tiros.”
                                    
Os brancos em Angola não falam de outra coisa senão de beberem o sangue dos angolanos, dizem eles que é mais difícil fumar um cigarro do que matar quinhentos pretos.

A maioria das vezes a prisão significa a morte. Eu próprio conheci a prisão durante 2 anos e 8 meses. Na prisão de S. Pedro da Barra onde estive 9 meses, morreram muitos prisioneiros a golpe de cacete e cronha de espingarda. Os que ainda vivem são obrigados a comer a carne dos que morrem. Assim é que eu e outros comemos muitas vezes carne humana, fomos obrigados a beber água e urina dizendo-nos os portugueses, na sua cólera, que os americanos, russos e outros que vos ensinam a falar de independência não são nada ao pé dos portugueses.

O sofrimento em Angola continua sobretudo nas cadeias de Luanda os prisioneiros são obrigados a comer carne dos mortos. Foi com muito espanto que ao chegar ao Congo, encontrei nas fronteiras alguns homens que me disseram que em Angola tudo esta bom, não há nada a temer. E tudo mentira. Os melhoramentos são ditos dos portugueses. Não há melhoramentos nenhuns para o povo. Os portugueses melhoram a cidade de Luanda, ma é a cidade. Porém as mortes continuam e as prisões em Luanda são uma coisa horrível.

O branco continua a explorar-nos. O ensino e a assistência médica são ainda coisa do Povo.

Povo Angolano, ouviram o que testemunhou o nosso irmão Daniel André Orlando Kabanga recém-refugiado, testemunho que a U.P.A tem sempre levado ao povo, mas infelizmente, os outros não acreditam, preferem acreditar as mentiras dos malvados portugueses e dos seus satélites (colaboracionistas) que regressam em Angola porque tudo está tudo bom.

Nós dizemos uma coisa, sobre os actos desumanos que os malvados portugueses continuam a praticar ao povo, na próxima assembleia geral da O.N.U (Organização das Nações Unidas) em Setembro, Portugal, será objecto de uma demande explicação à este respeito, porque mesmo os prisioneiros de guerra (reféns) nunca foram tratados desta sorte desumana no mundo civilizado!!!

Portugal tem-se gabado ao mundo de ser grande cristão e, deve saber que tudo que tem semeado hoje e que há-de colher, e a independência de Angola será sempre alcançada sem dúvida, custe o que custar.

Angolanos, Povo Angolano, estejam sempre atentos e vigilantes com uma ideia viva e clara para que não caiem em armadilhas das manobras da propaganda fantasiosa dos colonialistas e fascistas sanguinários portugueses em relação dos seus colaboracionistas que tentam impingir à opinião pública que Angola está bom.

Os melhoramentos que os portugueses dizem, são as prisões arbitrárias, as torturas contínuas, os maus tratos da crueldade, principalmente o extermínio das populações nativas são os sacrifícios do nosso povo.

Angolanos, saibam a definir que os lisonjeiros estimulantes e espectaculosas que os malfeitores portugueses praticam em Angola, é para o vosso aniquilamento. Hoje, a nossa Angola tornou-se inferno a ver e mundo de sofrimento de suplício. As recentes declarações do camarada Daniel é uma prova autêntica perante o mundo.

Feito em Matadi, aos 11 de Agosto de 1966.

«Declarações de um recém-refugiado de Luanda», documento da UPA em Matadi.

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