Carta aberta da Comissão preparatória do 1º Congresso dos Estudantes, à UNEA

Cota
0084.000.014
Tipologia
Carta aberta
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
Comissão preparatória do 1º Congresso dos estudantes angolanos
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
6
Acesso
Público

[No cabeçalho da primeira página, em português, francês e inglês: Comissão Preparatória do 1º Congresso dos estudantes angolanos]
[Em rodapé da primeira página, em português, francês e inglês: Nós recomendamos a criação num Congresso de uma futura e única Organização Estudantil Angolana, com base revolucionária que substituirá a União Nacional dos Estudantes Angolanos (UNEA) e da Comissão Nacional de Angola no seio da UGEAN (CNA)]

CARTA ABERTA
AO COMITÉ EXECUTIVO DA U.N.E.A.

Caros Companheiros,

A Comissão Preparatória do 1º Congresso de todos os Estudantes angolanos vem hoje, e isto para não traír os ideias e a linha de conduta que impôs, trazer ao conhecimento da opinião estudantil angolana uma série de atitudes negativas, caracterizadas por um boycote sistemático, por uma obstrução grosseira e por um silêncio comprometedor, por parte do Comité Executivo da UNEA as inúmeras tentativas da Comissão Nacional de Angola para concretizar os princípios teóricos enumerados no primeiro Seminário Técnico dos Estudantes Angolanos realizado em Genebra de 26 de Março à 1 de Abril de 1964 e na reunião entre a Comissão Nacional de Angola da UGEAN, União Nacional dos Estudantes Angolanos e Estudantes Neutros efectuada na Suíça entre 12 e 15 de junho de 1965.

Ao tomar esta responsabilidade, a Comissão preparatória pretende não somente esclarecer toda esta série de anomalias que se vem observando, toda uma série de mentiras e calúnias que se vem levantando, restabelecer os factos dentro dos princípios da verdade e igualmente desmascarar toda uma série de manobras altamente reaccionárias que visam impedir o estabelecimento duma unidade revolucionária, duma luta corajosa contra a reacção interna e externa no seio do movimento estudantil angolano.

Uma outra preocupação e que nós pensamos ser de capital importância nos anima: dizer a verdade, não esconder as nossas dificuldades a todos os estudantes angolanos que aguardam ansiosamente o nascimento duma organização estudantil angolana, verdadeiramente com carácter nacional, identificada com as aspirações mais profundas da imensa camada estudantil do nosso País em luta contra o anacrónico sistema colonial português.

A formação da Comissão Preparatória do 1º Congresso de todos os Estudantes Angolanos decidida na reunião efectuada na Suíça entre 12 e 15 de Junho de 1965 onde participaram a Comissão Nacional de Angola da UGEAN, a União Nacional dos Estudantes Angolanos é elementos não afiliados a nenhuma das organizações mencionadas.

Os participantes desta reunião após longas discussões onde se analisaram a situação política em Angola tanto no plano interno como externo e a posição dos estudantes perante a Revolução angolana, tornaram importantes deliberações que nós citamos:

«Os Estudantes angolanos representados pelas delegações da União Nacional dos Estudantes Angolanos (UNEA), da Comissão Nacional de Angola da UGEAN (CNA), por elementos não afiliados em nenhuma das organizações, seguindo as decisões do 1º Seminário Técnico de Genebra.

Animados com um espírito revolucionário de ver resolvido o problema da divisão existente no seio do movimento estudantil angolano.

Após uma análise profunda dos pontos essenciais que se impõem na dinâmica revolucionária estudantil, nós estudantes

Conscientes de que, para uma independência de Angola, será necessário na luta revolucionária uma mudança radical das estruturas existentes e uma participação activa dos Estudantes no Movimento de Libertação Nacional

Conscientes de que, o agonizante colonialismo português, apoiado pelos seus aliados da OTAN, pretende perpetuar o clássico sistema de exploração, mantendo o obscurantismo e utilizando métodos desumanos na liquidação física e cultural do Povo Angolano.

Conscientes de que, o Imperialismo Internacional encabeçado pelo Imperialismo americano, tenta por todos os meios de corrupção imiscuir-se nos problemas do Nacionalismo Angolano, sendo assim a fonte principal de divisão do Movimento de Libertação.

Constatamos que, a União das Populações de Angola (UPA) é um dos instrumentos utilizados pelo imperialismo americano

Constatamos que, alguns estudantes angolanos, movidos por ambições individualistas servem interesses estrangeiros, tentando criar a confusão dentro do Movimento estudantil, agindo assim como vis mercenários

Recomendamos a criação, num Congresso, de uma futura Única organização Estudantil Angolana sob bases revolucionárias, que substituirá a União Nacional dos Estudantes Angolanos (UNEA) e a Comissão Nacional de Angola da UGEAN

Manifestamos o desejo de colaborar activamente com os jovens revolucionários dos outros países em luta contra o decadente colonialismo português, na UGEAN reestruturada em bases federativas.

Recomendamos que a futura Organização seja independente de todos os partidos políticos.

Exigimos a Unidade de acção de todos os verdadeiros Nacionalistas Angolanos.

Decidimos apoiar o Movimento Político que se identifique com os nossos princípios revolucionários de luta, no caso da impossibilidade de formação de uma verdadeira Frente Unida

Recomendamos a colaboração estreita com a União Internacional dos Estudantes (UIE) que por várias vezes deu provas da sua actividade positiva na resolução dos problemas estudantis de Angola

Consideramos que a Conferência Internacional dos Estudantes (CIE/COSEC) tenta dividir e imiscuir-se de maneira flagrante e inconcebível nos assuntos internos dos estudantes angolanos, reservamo-nos tomar uma posição sobre a CIE/COSEC face ao seu comportamento futuro para com a nova Organização.

Exigimos que nós, estudantes Angolanos, temos de dar uma contribuição concreta como complemento directo da luta de libertação nacional.

Caros Companheiros

Os estudantes angolanos enquadrados pela Comissão Nacional de Angola não traíram os engajamentos solenes que tinham feito com as outras tendências do movimento estudantil angolano nas reuniões de 26 de Março a 1 de Abril de 1964 e na de 12 à 15 de Junho de 1965 realizadas na Suíça. Ao contrário! Como militantes duma organização multi-nacional agrupando no seu seio os estudantes dos países africanos em luta contra o colonialismo português, a UGEAN, os estudantes angolanos depois dum longo e intenso trabalho de explicação aos outros grupos nacionais componentes da UGEAN sobre os objectivos principais da formação e do estabelecimento duma unidade revolucionária que unisse todas as tendências do movimento estudantil angolano, propõem a Reunião do Conselho Consultivo da UGEAN realizada em Nouzov de 22 à 25 de Setembro de 1965 onde solenemente foi aceito o princípio da formação de Uniões Nacionais e a restruturação da UGEAN em bases federativas. Um mandato foi confiado a Comissão Nacional de Angola de continuar as discussões com os outros estudantes angolanos no sentido de se realizar a unidade no seio dos estudantes angolanos.

  «Que a Comissão Nacional de Angola (CNA) continue o trabalho de concerto que vem fazendo há muito tempo para fortalecer a plataforma de entendimento entre os estudantes angolanos da UGEAN e outros estudantes angolanos não membros da UGEAN, procurando para isso dar, até ao 3º Congresso, uma tradução jurídica através dum Estatuto que seja a expressão da unidade conseguida entre a CNA e outros estudantes angolanos não membros da UGEAN.»

A reunião de Nouzov, sobretudo os seus resultados, foram uma vitória das forças revolucionárias no seio da UGEAN, que sentiam há muito tempo a necessidade de adaptarem as estruturas da UGEAN no máximo de realismo as exigências das lutas que se desenvolvem em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau onde os estudantes devem participar activamente. Na realidade, apesar de termos um dominador comum, o facto de sermos colonizados pelo mesmo opressor, a administração colonial portuguesa, a luta tomou aspectos diferentes nos nossos países o que é absolutamente natural e em conformidade com a dialéctica do movimento de libertação nacional de que somos parte integrante.

As concepções erradas de nacionalismo estreito e de reunião orgânica numa frente de luta estudantil estabelecida a milhares de quilómetros de distância, longe dos focos de guerra e afastada por conseguinte dos problemas que nos põe diariamente a luta de libertação nacional em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau, isto citando somente estes 3 países onde o antagonismo que opõe os nossos povos a dominação colonial portuguesa tomou uma forma violenta de luta armada revolucionária deve ser combatido por uma luta diária de explicação, por uma politização constante da grande massa dos nossos estudantes.

A UGEAN desempenhou um papel importantíssimo como frente monolítica dos estudantes dos países africanos em luta contra o colonialismo português na denúncia do sistema retrógrado colonial português e na explicação dos objectivos maiores da luta dos nossos povos hoje numa fase já adiantada. Com efeito a sua participação activa nos inúmeros encontros internacionais permitiu que a voz dos nossos povos fosse escutada por milhares de jovens de outros países e de outros continentes. Graças ao seu trabalho de esclarecimento sobre as condições dificílimas em que se desenrolava a nossa luta uma campanha de solidariedade grandiosa foi desencadeada pelas forças a nosso favor, pelas forças progressistas mundiais da juventude e de estudantes.

Uma situação nova exige uma nova estratégia. A diversidade que tomou a luta de libertação nacional quer em Angola, Moçambique ou na Guiné-Bissau obrigou os elementos revolucionários da UGEAN a esboçarem uma nova estratégia em conformidade absoluta com os ideias maiores dos nossos povos combatentes. A Comissão Nacional de Angola, órgão motor dos estudantes angolanos militantes na UGEAN, que esteve na base destas transformações revolucionárias sente-se contente com este primeiro passo e está disposta a seguir infalivelmente - contra tudo e contra todos - o seu trabalho até a concretização de uma organização angolana estudantil revolucionária que sirva interesses nacionais do Povo.

Prezados Companheiros

Nas condições difíceis da nossa luta a unidade das forças revolucionárias e a solidariedade internacional activa constitui a arma mais poderosa para o triunfo total da nossa Causa. É neste sentido que nós nos debruçamos seriamente sobre o problema da nossa unidade que nós consideramos uma das condições essenciais para o reforço da nossa luta revolucionária contra o colonialismo português. Daí a necessidade imperiosa de estabelecer um diálogo profundo entre todos os estudantes angolanos, de travarmos uma luta árdua não somente para impedirmos o agravamento da divisão já existente mas que um processo de unificação revolucionária possa essencialmente ser realizada. Depois de um exame das forças nacionalistas em questão, por consequência depois do exame da dinâmica da luta de libertação em Angola, poderemos perguntar: Sobre a égide de que forças se realizará a unidade dos estudantes angolanos directamente dependente da unidade dos movimentos e partidos políticos a volta dos quais gravitam os estudantes angolanos? A partir dos conhecimentos que temos, sem queremos ser muito optimistas sobre as divisões internas que existem entre os movimentos e partidos angolanos nós poderemos afirmar que a unidade revolucionária entre os estudantes angolanos poderá somente realizar-se sob a égide das forças verdadeiramente revolucionárias que estão interessadas na realização duma frente nacional combatente capaz de travar uma luta consequente contra o colonialismo português e seus aliados. Afirmamos o contrário será apenas uma tentativa para mistificar a unidade real, como foi o caso da unidade feita recentemente entre a Frente Nacional de Libertação de Angola - FNLA - e um punhado de indivíduos expulsos do MPLA, unicamente na intenção de deturparem as reivindicações cada vez mais vigorosas das massas populares angolanas.

Sem receio de faltarmos a verdade poderemos afirmar que em Angola as forças contra-revolucionárias e neo-colonialistas exploram a divisão e procuram agravá-la. Em contrapartida as forças nacionalistas revolucionariamente as procuram objectivamente a realização duma unidade real dentro do país porque esta unidade constitui a única arma poderosa que os povos colonizados e sub-desenvolvidos brandirão contra as potências coloniais e imperialistas.
Nós somos pois adeptos duma unidade verdadeiramente revolucionária que servirá as grandes massas populares angolanas e não os interesses estrangeiros ao povo de Angola.

Nós pensamos que a unidade das forças nacionalistas angolanas constitui a arma mais eficaz que termos de utilizar contra os colonialistas, os neo-colonialistas e os imperialistas, eles igualmente unidos num vasto sistema de exploração do homem pelo homem.

A única maneira de concretizarmos esta tarefa imperiosa - a unidade do movimento estudantil angolano - consiste precisamente em unirmos todos os estudantes angolanos revolucionários que estão dispostos a lutar até a vitória final, contra o colonialismo, o neo-colonialismo e o imperialismo, pela independência real da nossa terra.

É por isso, prezados companheiros, que a unidade revolucionária dos estudantes angolanos constitui, nós estamos firmemente convencidos, uma base válida susceptível de abrir novas perspectivas a concretização dos nossos ideais.

Acreditamos no entanto, que não basta apenas definir uma linha ideológica teórica que devemos seguir, visto que o conteúdo das discussões tidas até ao presente momento entre as diferentes tendências do movimento estudantil angolano demonstrou que a unidade indispensável que desejaríamos ver realizada, não poderá em circunstância alguma ser encarada numa base de amigos.

Ficou-nos igualmente demonstrado que uma análise científica e profunda da nossa realidade nacional política, económica, cultural e social, bem assim como as das forças colonialistas, neo-colonialistas, imperialistas e progressistas internacionais é indispensável, e isto para que saibamos com quem lutamos, contra quem lutaremos e com que finalidade lutaremos. Esta análise permitirá igualmente de sabermos quais são as forças susceptíveis de serem transformadas e postas ao serviço da nossa luta.
A unidade que nós queremos ver realizadas deve ser aquela que poderá aumentar a nossa capacidade de luta contra o colonialismo português.
A nossa unidade deverá contribuir a defender os interesses legítimos das massas camponesas e dos trabalhadores das cidades. Com efeito, além do facto de eles serem os angolanos mais necessitados, eles constituem os pilares da nossa revolução.

Pensamos termos exposto com bastante clareza os nossos conceitos sobre a unidade a estabelecer entre todos os estudantes angolanos. Os estudantes angolanos mobilizados pela Comissão Nacional de Angola tem sido fiéis aos engajamentos respeitantes as reuniões tidas anteriormente na Suíça. Um certo número dos nossos estudantes encontra-se actualmente a trabalhar no seio da Comissão Preparatória do 1º Congresso de Todos os Estudantes Angolanos organismo decidido na reunião de 12 a 15 de Junho realizada na Suíça.

Prezados Companheiros

Faz hoje precisamente um ano que nos reunimos na Suíça para encontrarmos uma solução justa aos problemas que nos dividem. Qual tem sido a atitude do grupo dirigente da UNEA? Um desrespeito absoluto pelas decisões aceites por unanimidade que visavam a realização dum Congresso de todos os estudantes angolanos onde se dissolveria a UNEA e CNA da UGEAN.

A CNA preocupada com o silêncio da UNEA depois do encontro de 12 a 15 de Junho de 1965 e num espírito construtivo endereçou uma carta ao Comité Executivo da UNEA eleito na assembleia geral realizada em Utrecht de 31 de Agosto à 3 de Setembro de 1965 que ficou até ao momento presente sem resposta.

Estas atitudes negativas por parte do grupo dirigente da UNEA estão em contradição flagrante e são o mais absoluto desrespeito a todas as decisões tomadas anteriormente com a Comissão Nacional de Angola, que continuará a trabalhar infatigavelmente para por em prática as directrizes dos encontros anteriores que são o reflexo das aspirações mais profundas de todos os estudantes angolanos.

A Comissão Preparatória da 1º Congresso dos Estudantes Angolanos, toma a responsabilidade solene diante da opinião estudantil angolana, de informar regularmente sobre o andamento dos trabalhos do Congresso e de aceitar todas as sugestões que possam melhorar os seus métodos de trabalho.

Saudações revolucionárias

Pela Comissão Preparatória do 1º Congresso dos Estudantes Angolanos

*[Carimbado: «Comissão Preparatória do 1º Congresso dos Estudantes Angolanos»]

Brazzaville, 15 de Junho de 1966

Carta aberta da Comissão preparatória do 1º Congresso dos Estudantes, à UNEA - União Nacional dos Estudantes Angolanos (Brazzaville).

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