Comunicado da JMPLA/Viriato sobre assassinato de Matias Miguéis

Cota
0082.000.045
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
JMPLA (ala da Cruz)
local doc
Léopoldville (RDC)
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
3
Acesso
Público

JUVENTUDE DU MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTACAO
DE ANGOLA - J.M.P.L.A. - ALA VIRIATO                               Nº 09/2/66
CAIXA POSTAL  2636 - Léopoldville


O ASSASSINATO DE MATIAS MIGUEIS ET DE JOSE MIGUEL
E O PASSADO DE CADA UM

Matias MIGUEIS, figura bem conhecida no Sul e no Centro de Angola, nasceu no Novo-Redondo (province de Cuanza-Sul) em 15 de Agosto de 1917 do casal Joaquim José Miguéis e Rita José Camilo, família muito expandida no sul de Angola.
Matias MIGUEIS consagrou toda a sua vida na política pró-Libertação nacional. Em 1945 criara grupos recreativos no Sul de Angola, fora um dos promotores do Grupo folclórico N’gola Ritmos, e um dos dirigentes da Liga Nacional Africana.

Depois dos seus estudos no Seminário e na Escola Comercial foi funcionário dos Caminhos de Ferro de Benguela e, mais tarde, contabilista da Mampeza em Luanda. Sendo a figura escolhida pelo movimento clandestino para servir de ponte entre Mário de Andrade e Viriato da CRUZ que se encontravam refugiados em Paris, e as massas angolanas, saiu de Luanda em instalou-se em Ponta-Negra em 1957.
Desde 1960 a 1963 dirigiu honestamente o MPLA. Neste ano foi eleito Vice Presidente numa «conferência nacional» «cozinhada» às pressas, lugar que demitiu-se em seguida, devido da política arbitrária e pró-defesa dos interesses portugueses e da «porca» colaboração com a F.U.A. (movimento de brancos portugueses nados em Angola) que, Agostinho Neto, numa Conferência de Imprensa que deu em Paris em 30 de Janeiro de 1963, considerou de «movimento nacionalista»
Quando da destituição do «Comité» de Agostinho por uma Assembleia Soberana dos Militantes do Movimento, Matias MIGUÉIS foi um dos membros do COMITÉ DIRECTOR provisório do MPLA saído dessa Assembleia que aderiu à Frente Nacional de Libertação de Angola - FNLA – depois que este organismo foi reconhecido pela África.

Toda a vida de Matias MIGUÉIS foi de atribulações por amor do Povo.

Matias Miguéis não sentia eficaz a ligação espiritual ao Povo; o anélito de se ligar fisicamente às massas, era a sua, maior preocupação.
Neste capítulo, em 1963, quando, à frente de uma coluna a caminho de Angola,
Foi preso, fustigado e acorrentado o pescoço pelas autoridades do CUANGO (fronteira entre Angola e Congo).
Depois da desautorização do «Comité de Agostinho Neto, em 1963, por uma Assembleia Soberana dos Militantes do Movimento, tinha sido preso em companhia de Viriato da CRUZ, José MIGUEL e José D. Bernardo, e de 46 quadros políticos e militares pela gendarmaria congolesa, sob corrupção de Agostinho Neto, Luís de Azevedo e Lúcio Lara.

Na noite de 22/23 de Setembro 1965, foi raptado do seu domicílio por um Comando da Polícia Congolesa e levado para os lados de BINZA aonde quiseram-no assassinar. Talvez por razões de consciência resolveram encarcerá-lo numa das prisões de Léopoldville.

Em 2 de Outubro, em companhia de José Miguel, partiu, por via Brazzaville, à Djakarta, aonde tinham sido convidados pelo Presidente Supremo para participar da Conferência Internacional sobre as Bases Estrangeiras De regresso pela mesma via foram impedidos de apanharem a vedette para Leopoldville, e presos pelos órgãos da repressão congolesa, por intrigas do Luiz de Azevedo (naquele momento estava no Beach) e d’Agostinho Neto, e entregues à estes que encarcerou-os numa das suas prisões privadas. Aonde foram objecto de pancadaria e de humilhação.
Antes de serem entregues à Agostinho Neto, no Comissariado Central escreveram duas cartas ([apagado]) dirigidas à Juventude e a Viriato da CRUZ. A organização juvenil agiu imediatamente enviados telegramas, cartas e abaixo-assinados dirigidos ao Presidente da República, ao Primeiro Ministro, ao Ministro do Interior e ao Comissário Central protestando contra esta atitude injusta pedindo libertação imediata com todos os seus haveres pessoais, e comunicou ainda no exterior de onde a reacção no tardou. Cartas, telegramas, abaixo-assinados e memoradum foram enviados às autoridades congolesas ou entregues aos seus Representantes.
Mas apesar de todas as démarches empreendidas as autoridades mantiveram um silêncio comprometedor.
Assim, Matias Miguéis que foi um nacionalista integro, que lutou devotada e desinteressadamente pela salvaguarda dos interesses do seu povo, pela sua dignidade e personalidade, foi, assim como o seu companheiro José Miguel, pura e simplesmente assassinado por aqueles que viram nele um obstáculo às suas vis aspirações, danificantes ao povo.
Incontestavelmente, Matias Miguéis é um mártir nacional e o seu nome será enaltecido e haverá de perpetuar nos anais do Nacionalismo Angolano como de inflexibilidade(?) revolucionária.

XXXXXX
José Miguel, único filho varão do casal Miguel Francisco e de Lemba da Costa, esta paralítica há muitos anos, nasceu em 1 de janeiro de 1940 no Ambriz (Província de Luanda) de onde foi levado para Luanda antes de seis meses, e aí viveu e fez os seus estudos. Iniciou a sua carreira política na idade de 18 num dos movimentos clandestinos em Luanda, ainda estudante secundário no Colégio das Casas das Beiras. Refugiou-se no Congo em 1960 de onde saiu para Guiné e daí para Europa regressando em 1962 para servir o Movimento Popular de Libertação de Angola de que era membro desde Luanda.
Foi membro do Comité Director presidido por Mário de Andrade e membro do Conselho de Guerra desde 1962/63. Quando da destituição do «Comité» de Agostinho Neto por uma Assembleia Soberana, foi eleito membro do COMITE DIRECTOR provisório do MPLA. Na Frente Nacional de Libertação de Angola foi membro do Conselho Nacional.
Tinha sido preso pela Gendarmaria Congolesa, quando da desautorização do «Comité Neto», sob ordens de Agostinho Neto, Lúcio Lara e Azevedo Júnior e pelas autoridades do Cuango quando se dirigia para Angola, integrado uma coluna de guerrilheiros.
José Miguel foi um jovem que brilhou entre os jovens pelo seu calor nacionalista.

José Miguel era um homem do futuro que se vinha afirmando. Foi assassinado sem ter conhecido as delícias da vida. Ele como o seu companheiro, eram celibatários e não possuíam ouro nem prata. Foram assassinados como são assassinados os bons nacionalistas.

Matias Miguéis e José Miguel foram dois nacionalistas que não tinham outra ambição que não fosse o de ajudar o seu povo a libertar-se das garras do colonialismo.
Os verdadeiros patriotas seguirão os seus passos interrompidos; e inspirando-se na inflexibilidade e na coragem desses nacionalistas íntegros, multiplicarão a sua fé e a sua determinação de sinceros advogados da causa popular.

Agostinho Neto, Luís de Azevedo Júnior, Lúcio Lara, Daniel Chipenda, Nicolau Spencer, Benigno Vieira Lopes e António Brica conhecerão, num futuro não distante, as consequências desastrosas desse assassinato; e o Congo Brazzaville que permitiu que o sangue desses devotados amigos da causa Angolana banhasse e fosse ensopado pelo solo Congolês, saberá, provindouramente, prestar contas ao Povo Angolano.

CAMARADAS MATIAS MIGUÉIS ET JOSÉ MIGUEL
VÓS SEREIS VINGADOS! - é o grito dos verdadeiros nacionalistas.

JUVENTUDE DO MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTACAO
DE ANGOLA
J.M.P.L.A.


*[Rubricado por ?]
Leopoldville 26 de Fevereiro de 1966.-

 

 

«O assassinato de Matias Miguéis e de José Miguel, e o passado de cada um», documento nº 09/2/66 da JMPLA/Viriato (Léopoldville).

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