Exposição ao Ministro do Interior da RDC, assinado por Rev. Domingos da Silva

Cota
0067.000.025
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Domingos Francisco da Silva
Destinatário
Ministro do Interior da RDC
local doc
Léopoldville (RDC)
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MEMORIAL A SUA EXCELÊNCIA GODEFROID MUNONGO ILUSTRE MINISTRO DO INTERIOR E DE FUNÇÕES PÚBLICAS DO GOVERNO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO LÉOPOLDVILLE Rev. DOMINGOS DA SILVA – Presbítero da Igreja Metodista em Angola, Representante legal do Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados (CVAAR) e 1. Vice-Presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA, vem respeitosamente expor a Sua Excelência, Senhor Ministro do Interior os seguintes casos: Vai cerca de um ano desde que o Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA – se agoniza, vítima de medidas tão injustificadas quanto discriminatórias que lhe foram impiedosamente infligidas pelo Governo do sr. Adoula em consequência de que resultaram o encerramento do Bureau do MPLA e a interrupção de todos os serviços de assistência aos refugiados ao longo de toda a fronteira Congo-Angola, condenando com este procedimento muitos milhares de angolanos refugiados à uma profunda miséria indescritível! Tudo isto sem justificação se lembrarmos de que o CVAAR é uma instituição alheia a todas as vicissitudes da política congolesa, cujo alvo era só de bem fazer e bem servir não só aos refugiados mas também ao povo hospitaleiro. A investidura da nova equipa Governamental desta República Democrática do Congo presidida por Sua Excelência Moíse Tshombé desperta nas massas angolanas a esperança de ver o seu problema lembrado com equidade e justiça dignas dum povo que serve de sustentáculo ao povo irmão que luta pela sua liberdade. Os olhos de milhares de angolanos estão postos em vós, Senhor Ministro. O seu rápido resgate da escravidão de quinhentos anos ou o seu total extermínio pelas metralhadoras de colonialismo português e pela miséria e doença sem recursos possível, dependerá da atitude da meritosa equipa do Governo dum povo de que estamos identificados e confundidos em profundos laços familiares. Para que dizer mais, historiar mais sobre as nossas seculares relações? Vossa Excelência, Senhor Ministro, e todo o povo congolês o sabe de sobra. Por isso, em nome do povo sofredor angolano, em nome da Instituição de Assistência aos Refugiados Angolanos (CVAAR) e em nome do MPLA, elevo para junto de Vossa Excelência senhor Ministro, para que sirva nas instâncias do seu Governo o advogado dum povo vítima hoje de toda a espécie de exploração dos homens ambiciosos. A observação de tantas medidas de salvação pública, de tanta generosidade manifesta pela libertação incondicional de muitas centenas de prisioneiros políticos deste país, de tantas medidas transcendentes que o actual Governo de transição desta República prodigaliza com vista de arrancar o povo congolês do caos nos anima a vir expor a Vossa Excelência e suplicar o seguinte: a) Considerando que o número de refugiados aumenta de dia para dia num estado deplorável em que a fome, a nudez, as enfermidades ultrapassam tudo quanto se pode considerar calamidade que ameaça o extermínio dum povo; Considerando que o dito Governo Revolucionário Angolano no Exílio do Holden Roberto está ultrapassado pelo desenrolar dos acontecimentos em toda a sua extensão; Considerando que as Instituições filantrópicas que presentemente se esforçam em vão a fazer face à situação estão também ultrapassadas pelas circunstâncias; Não será de desprezar a ideia de reabertura dos Dispensários do CVAAR. É nesta ordem de ideias que pede a Vossa Excelência: Autorização da reabertura dos serviços do Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados – CVAAR – e de todos os Dispensários dos serviços sociais ao longo da fronteira Congo-Angola. b) Autorização da reabertura do Bureau Central do MPLA em Léopoldville. c) Liberdade de acção sobre o território congolês que lhe torne possível a continuação da luta pela libertação de Angola. d) Vigiar para que o senhor Holden Roberto deixe de perpetrar nas ruas e nomeadamente no Beach FIMA desta cidade, os raptos de angolanos já em si aflitos pela miséria e pela morte impostas pela repressão impiedosa, tarefa esta ajudada pelos certos agentes da sûreté congolesa que possivelmente corrompe. Desapareceram desta arte durante os últimos dias os seguintes militantes do MPLA: António dos Santos Ambrósio, António Mubemba, Jacinto Manuel, Arsénio Mesquita, Manuel Morais e João Zombo Necongo e Manuel Carnoth, este último foi encontrado assassinado no Lemba, sendo muitos amolestados. A vida de angolanos está sendo motivo de caça e vingança por parte do senhor Holden Roberto e de certos agentes por ele corrompidos, numa hora em que deixa em paz os portugueses – nosso inimigo comum! Esse procedimento que foi facilitado pelo Governo cessante do senhor Adoula, além de ser um abuso de confiança e uma violação ao espírito hospitaleiro do Governo e do Povo Congolês, ainda procura sobreviver e mandar os sagrados humbrais deste Governo. Acrescenta-se o facto de que vários elementos angolanos que desprezam todos os perigos conseguem de romper a barreira de mil e uma dificuldades impostas pela repressão portuguesa para vir nesta capital em busca de medicamentos e roupas que se destinam a socorrer a muitos angolanos que se agonizam nas florestas angolanas, ao seu regresso são presos e esbulhados [sic] na fronteira por certos agentes desta República a soldo do Sr. Holden Roberto. Por isso pedimos a Vossa Excelência a sua intervenção no sentido de pôr termo a este estado de coisas. Com o protesto do meu profundo reconhecimento subscrevo-me com a máxima consideração, De Vossa Excelência muito Atento Venerador e Obrigado, Rev. Domingos Francisco da Silva Léopoldville, 30 de Outubro de 1964

Exposição ao Ministro do Interior da RDC, assinado pelo Reverendo Domingos da Silva (Léopoldville).

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados