Apelo do MPLA ao governo do Congo-Léopoldville e à OUA

Cota
0065.000.008
Tipologia
Apelo
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
5
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
C.P. 2353 – Tel. 4915
BRAZZAVILLE

APELO
AO GOVERNO DO CONGO-LÉOPOLDVILLE
E À ORGANIZAÇÃO DA UNIDADE AFRICANA

Há já algum tempo que a maior parte dos nacionalistas angolanos, refugiados no Congo-Léopoldville, é vítima de uma dupla e feroz repressão.
Trata-se de uma dupla repressão não só porque são vítimas de maus-tratos e de sevícias por parte de um pretenso “governo angolano no exílio”, contestado aliás pelos seus próprios dirigentes, como também porque esses abusos são acobertados pela cumplicidade benevolente das autoridades do Congo/Léopoldville.
Com efeito, e apesar do MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (MPLA) ter, por várias vezes, chamado a atenção do Governo de Léopoldville para a gravidade da situação em que se encontravam os seus Compatriotas, os nossos Apelos não tiveram, no entanto, nenhum eco favorável. Evidentemente, o MPLA nunca teve ilusões a esse respeito pois esse “governo angolano no exílio” não passava de facto de uma criação do próprio Senhor ADOULA e dos meios imperialistas.
Contudo, neste grave momento, é mais uma vez nosso dever fazer-vos um Apelo para que a cega repressão que se abate sobre os nacionalistas angolanos cesse de uma vez por todas.
No entanto, este apelo vem na sequência dos telegramas que o MPLA dirigiu ao Governo do Congo/Léopoldville, o qual tinha sido notificado sobre as medidas arbitrárias que foram tomadas em relação a nacionalistas angolanos. Nesses telegramas tínhamos informado a existência, nas prisões congolesas, de centenas de prisioneiros angolanos.
Face ao agravamento da situação em que se encontram os nossos compatriotas no Congo/Léopoldville e face às perturbações que o “grae” atravessa, o MPLA espera muito sinceramente que este Apelo encontre no seu Governo a recepção e a simpatia que está no direito de esperar.
* * * * *
Notícias dignas de fé chegam-nos de Léopoldville informando a degradação da situação na base de KINKUZU – cedida, como se sabe, pelo Governo do Sr. Adoula, à FNLA.
Com efeito, é na sequência da demissão, no Cairo, do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros e ainda recentemente da demissão de outros responsáveis, que os dirigentes da FNLA – face à desagregação contínua do “grae” – não hesitam em recorrer a medidas extremas com vista a deter o êxodo dos seus quadros tanto políticos como militares. É neste contexto que se devem compreender as razões da deterioração da situação que hoje existe entre os nacionalistas angolanos que se encontram no Congo/Léopoldville.
Indignados com os métodos fascistas e a política tribalista empregues e seguidos pelos dirigentes da FNLA, os quadros militares tinham decidido abandonar o campo de Kinkuzu a fim de se juntarem às forças revolucionárias do MPLA.
A resposta da FNLA não se fez esperar. Gozando do apoio e da cumplicidade da Segurança Congolesa, centenas de militares foram detidos. O seu Responsável, o Sr. KALUNDUNGO, assim como outros importantes chefes militares foram sequestrados num local mantido secreto. Persistentes rumores circulam mencionando o assassinato puro e simples desses chefes militares. Outros militares em número superior a 400 também foram detidos e encaminhados, sob absoluto sigilo, para as prisões de Léopoldville.
Essas medidas repressivas não se limitam apenas aos militantes da FNLA. Atingem também todos os angolanos que recusam aceitar as suas ordens. Aliás, ficamos a saber que centenas de nacionalistas acabam de ser detidos em THYSVILLE (cerca de 200 km da fronteira de Angola) e nas aldeias vizinhas.
Assim é que, no BEACH (local de embarque no rio Congo) é feito um controlo muito rigoroso a todos os passageiros angolanos que aí desembarcam ou embarcam: ao lado da Segurança congolesa, os agentes do “grae” aí permanecem e revistam todos os angolanos a fim de impedir que os seus militantes possam chegar a Brazzaville onde está sedeado o MPLA, e também com a intenção de procurar outros militantes pertencentes ao MPLA e detê-los em seguida.
O “grae”, verdadeiro instrumento do imperialismo, revela-se portanto com as suas próprias actuações, como um aparelho que fomenta a divisão, semeia o ódio nas fileiras do nacionalismo angolano e trava o desenvolvimento da justa luta de libertação do povo angolano.
É por isso difícil para nós acreditarmos que ainda hoje o Governo de um país africano possa permitir tais actuações no seu solo e se torne, assim, cúmplice da repressão que um organismo chamado “grae” leva a cabo contra os interesses do povo angolano e dos povos africanos.
Também é difícil, para nós, compreender que Órgãos da OUA e certos países africanos possam ainda conceder o seu apoio ao “grae”, esse organismo que milita sobretudo contra os patriotas angolanos. E que esse apoio seja dado em detrimento das actividades justas do MPLA, o qual desenvolve, por actos concretos, um grande esforço patriótico para a libertação do seu país.
O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lança pois um vibrante Apelo ao Governo do Congo/Léopoldville, aos Governos africanos, à ORGANIZAÇÃO DA UNIDADE AFRICANA (OUA) e ao Comité de Libertação em particular, para que intervenham com a máxima urgência e para que cesse essa repressão brutal dirigida contra patriotas autênticos que só desejam participar na luta pela Independência do seu país.
Além disso, o MPLA, organização que goza do apoio das massas populares angolanas e que luta honestamente pela libertação de Angola e por consequência pela descolonização efectiva de África, também apela ao Governo do Congo/Léopoldville, aos Governos africanos e à OUA para que lhe seja concedida a LIBERDADE DE ACÇÃO.
O MPLA chama a atenção da OUA para o perigo que representa para a África a penetração do imperialismo em Angola.
VITÓRIA OU MORTE

Feito em Brazzaville, 9 de Agosto de 1964

O COMITÉ DIRECTOR DO MPLA

Apelo do MPLA ao governo do Congo-Léopoldville e à OUA (Brazzaville)

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