Carta de Luís de Almeida a «Caros companheiros»

Cota
0058.000.063
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Luís de Almeida
local doc
Rep. Democrática Alemã
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público



B’dorf, 10/1/63 [mas deve ser 1964]

Caros Companheiros!

Fazendo votos que o Novo Ano nos traga a todos a concretização dos nossos esforços e que o Povo do nosso País reconquiste a sua total liberdade, dignidade e se engaje na via do progresso são os meus votos de militante e de companheiro de luta!
Cá me encontro ainda em virtude de o estado da minha Filha inspirar sérios cuidados a pontos de ter de ser operada de urgência, única maneira de se poder ainda salvá-la e tentando igualmente arranjando ajudas para cobrir as despesas, cerca de 10.000 marcos!
Conto todavia regressar muito em breve pois a minha ausência da Argélia já está a fazer-se sentir particularmente, para lá poder continuar a defender as nossas cores e a nossa linha face a essa avalanche imperialista de desmoronamento do Movimento.
Pelos camaradas daqui soube que a Conferência de Quadros se realizou já a 3, 4 e 5 do corrente mês. É inútil de dizer-vos o quanto isso vem levantar o Movimento tanto se esperou entre os nossos Amigos e tanto isso pode constituir um passo à frente de clarificação e redefinição da linha sempre seguida. Vamos para frente Companheiros e por favor dêem-nos trabalho para podermos continuar com o mesmo vigor e determinação defender a nossa linha e parar com essas manobras dos nossos inimigos e clarificar essa confusão incrível que existe entre aqueles que deveriam por princípio serem os nossos melhores Amigos, por exemplo a Argélia. Esta não está ainda perdida mas perdemos uma certa margem de confiança por parte deles que é necessário rehaver com vigor e determinação.
Como devereis saber o que foi convido chamar o meu chefe espiritual deverá ir visitar os zaires, depois de ir dar um salto até ao meu poiso habitual e ver o que pode arrancar das bebidas dos vinhos para depois ver-se em como pairam as modas e com quem contar.
O tubarão cresce ou antes com a sua máquina de propaganda fazem-no crescer. Já fala numa visita aos confins do império celeste, de sua ajuda etc., etc. A propósito, nunca cheguei a obter resposta à minha carta anunciando lugares para vinte “monangambas” de que mais o Haga havíamos falado. Eles ficaram de obter uma resposta para se proceder as passagens.
Estive com os estudantes. Reunimo-nos e todos estamos pensando que uma unidade se deve refazer mesmo depois de ataques vergonhosos e injuriosos, única maneira de impedir-se, nesta fase, a uma luta sem tréguas entre elementos com o mesmo ideal. Tal união poderia igualmente significar muita coisa que por portador direi ou se puder ir até aí, pois ainda poderemos ratrapper o caminho e os nossos aliados desejam que a unidade se faça o mais depressa possível para mais eficazmente a ajuda ser pronta. Aliás este ponto de vista já por várias vezes o expliquei e creiam-me faço-o por pensar que deve ser essa a única maneira de sairmos, no plano externo, deste beco de saída em que nos encontramos. Nessa reunião de Frankfurt saiu um documento aliás infeliz mas isso foi consequência duma série de cartas recebidas de Rabat onde se fazia estado duma carta do CD ao Mingas dirigida e da atitude deste em retirar o passapa e não desejar dá-lo. Hoje os Companheiros de Rabat reconhecem que exageraram e aqui estamos para nos desculparmos deste acto infeliz. Mas isso em vez de ser uma atitude mostra simplesmente o interesse que temos em levar os nossos dirigentes a “foncer” e dentro daquele espírito de crítica e de auto-crítica que deve presidir ao nosso Movimento. Mas não levem a mal isso!
Quanto à presença do Graça na reunião, ela explica-se pelo nosso desejo de ver a unidade refeita dentro do movimento sem exclusivos, uma vez que a existência mesmo de um só indivíduo de categoria do V. pode fazer mal como aliás se viu. E eu creio de todo o coração que só na unificação total das correntes do Movimento poderemos sair desta fase e provocar um bouleversement em tudo. E ainda estamos a tempo de o fazer pois não posso por carta melhor exprimir-me esperando melhor altura de o fazer.
Não houve deserções e tudo se mantém na mesma! Haja coragem e creiam em nós que no bureau d’Alger também estamos sempre assaltados de amigos que desejam ver-nos sair desta crise e fazer-nos avançar pois como me foi dito por muito que se diga dos Kissondes “não se pode transformar água em chamas”... é esta a opinião mas há que dar-se confiança aos amigos com informação regular e factos.

Bom trabalho Nguzu, Kandandus ria Pangie
Sempre disposto a frapper o inimigo
[rubrica de Luís de Almeida]

[Acrescentado à mão: Têm-se enviado telegramas e cartas s/ o caso do Chipenda e Condesse. Que o seu sacrifício nos sirva de exemplo. Abraços. (Rubrica)]

Carta de Luís de Almeida (B'dorf) a «Caros companheiros»

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