Carta de Maria Luísa Gaspar a Lúcio Lara

Cota
0058.000.001
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Maria Luisa Gaspar
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

 Freiburg, 3.1.64 Prezado camarada Lúcio Acuso recepção de sua carta pelo que agradeço. Uma resposta a ela só poderá ser compreendida quando junto à mesma for lida a resolução e acta da reunião que tivemos e de onde originou a tomada de posição face aos problemas citados na carta que para o Mov enviámos e que me foi respondida por si. Anexo acta da reunião, a resolução não segue visto ainda não a ter comigo. É verdade que muitos militantes do Mov. têm dado provas daquilo que sempre foram, o que as chances de que dispunham ou já preconizavam em Angola lhes obrigava a "cobrirem-se com a capa de nacionalistas" verdadeiros nacionalistas, podendo assim conseguir o crédito de que dispunham dos verdadeiros filhos de Angola. Esses abandonaram a Revolução, justificando seu abandono mais ou menos com desculpas convincentes, como diz na sua carta e eu mesma já tivesse ouvido dos que por cá têm passado. Por outro lado há uma crise no nosso Mov. da qual devemos sair; essa mesma crise precisa de ser reconsiderada e então tentarmos sair dela. É por essa razão que nas reuniões de militantes do MPLA a que fui chamada, estarei presente para com eles discutir o que a ela nos levou e como podemos reorganizar-nos para fazer do nosso MPLA aquele mov. de outrora. O Chipenda e Desidério quando cá estiveram puderam ver e levar-vos uma mensagem das ideias que defendemos. Pessoalmente devo dizer-lhe que sou pelo MPLA não pelas pessoas que o formam nem pelas razões muitas vezes apresentadas aqui na Europa. Sou sim pelo MPLA pela sua política pelo seu programa, que considero o mais adequado ao povo e Revolução Angolana. Se homens que connosco estiveram traíram ou tentam trair esses princípios eu estarei com eles para pessoalmente lhes falar nas verdades que eles antes apregoavam e fingiram defender, estarei com eles para ouvir mas procurar manter-me no meu princípio que além de ser Revolucionário e com a linha do MPLA é o de uma filha de Angola que viu e ainda tem presente o sofrimento de um Povo. Conheço as responsabilidades que sobre nós pesam sobre mim pessoalmente eis porque não desfaleci com a crise do nosso Mov nem aceito insinuações de quem quer que seja e que por aqui passe com ideias de colher militantes para o seu lado. Uma coisa que aprendi a não respeitar nem praticar é o culto da personalidade. "Existe uma Nação que precisa de ser liberta e se houver culto deve ser a Ela, pelo seu sofrimento pelos desejos dos seus Verdadeiros Filhos. Porque vamos nos deixar levar por questões que só atrasam nossa Liberdade, porque havemos de reforçar os desígnios dos Imperialistas e nossos "contras" representados pelo Holden e todos aqueles que nos têm combatido? Quero mesmo afirmar que não descansarei enquanto não vir nosso mov reconstituído, eis a razão porque a notícia da Confere Nacional me veio causar grande Alegria e a todos nós. Lamentamos não poder estar representados, contudo estamos convosco e convosco nos solidarizamos na mesma. Espero que o fim da mesma traga para nós todos a Vitória que sempre nos Acompanhou e que assim possamos continuar nosso trabalho há 5 meses dificultado. Sejamos dignos de Angola e da Revolução Cumprimentos da Compatriota Maria Luísa Gaspar

Carta de Maria Luísa Gaspar (Freiburg) a Lúcio Lara.

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