Carta do Comité Director do MPLA a Joseph Kasavubu


Brazzaville, 18 de Novembro de 1963
A SUA EXCELÊNCIA
JOSEPH KASAVUBU
PRESIDENTE DA REPÚBLICA DO CONGO
LÉOPOLDVILLE
Excelência,
Temos a honra de manifestar, muito respeitosamente, junto de Vossa Excelência, o nosso mais profundo choque perante o encerramento das Representações do Movimento Popular de Libertação de Angola e do Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados, ordenado pelo Sr. Primeiro Burgomestre de Léopoldville, na sua carta circular Nº 2970/Nº 818/Cont.63/EK/D525 dirigida aos Presidentes dos Partidos políticos angolanos.
Sem esquecer o acolhimento fraterno que o Povo congolês concedeu aos combatentes e aos refugiados angolanos, o MPLA faz questão de manifestar, a Vossa Excelência, quanto considera discriminatória uma tal decisão, contrária à unidade do nosso Povo e das suas organizações políticas.
Durante os dois anos em que a nossa organização pôde gozar da hospitalidade e da solidariedade do Povo congolês, respeitámos sempre solenemente as leis da República e honrámos a amizade do Povo irmão congolês.
Além do mais, os irmãos congoleses sempre nos recordaram calorosamente o contributo que os militantes do nosso Movimento trouxeram às organizações nacionalistas congolesas nos tempos da opressão belga. Ainda hoje algumas autoridades congolesas não deixam de testemunhar a admiração pelo esforço desenvolvido pelo CVAAR na Assistência médica e social aos refugiados angolanos assim como à população ­congolesa, visto que mais de 20.000 congoleses foram tratados gratuitamente pelos diferentes dispensários do CVAAR.
Este entendimento entre os nossos dois povos não deverá ser quebrado por uma decisão que não tem em conta as realidades internas do nosso País.
Com efeito, o recente reconhecimento de um governo angolano foi um assunto que apenas teve em consideração os aspectos exteriores do nacionalismo angolano, ­susceptíveis de dificultar a vida dos colonialistas portugueses. No entanto, esse reconhecimento não poderia justificar qualquer tentativa para afastar da luta uma parte muito importante do nacionalismo angolano, o que prejudica a unidade do nosso Povo e o futuro do nosso País.
Recordando os milhares de mártires tombados pela independência e a unidade de Angola, conscientes das responsabilidades do MPLA cujos militantes no interior, continuam a levar a cabo uma luta sem tréguas contra os colonialistas portugueses, expressamos a Vossa Excelência o nosso profundo desgosto e apelamos a Vossa ­Excelência, dirigente supremo do Povo irmão Congolês, conhecendo melhor que ninguém o contributo fraternal dos nossos militantes à causa sagrada do Congo1, para que faça justiça, anulando uma decisão de graves consequências para o nosso Povo, que apenas beneficia os inimigos da nossa liberdade e da unidade africana.
Certos de encontrar junto de Vossa Excelência a compreensão que os problemas angolanos sempre lhe mereceram, rogamos-lhe que aceite, Excelência, os protestos da nossa mais alta consideração.
Em nome do Comité Director