Carta-circular do MPLA aos nacionalistas angolanos

CARTA CIRCULAR AOS NACIONALISTAS ANGOLANOS Caros Compatriotas: Antes de tudo as nossas saudações patrióticas para todos os angolanos e angolanas, que lutam pela liberdade e independência da nossa Pátria. O desejo ardente de vos pôr ao corrente de tudo quanto passa, nos obriga a traçar- -vos estas linhas com votos de que todos sejam esclarecidos e encarem a situação com calma e fé por melhores dias num futuro não muito distante. Creio que todos os angolanos do Norte ao Sul, de Leste ao Oeste sabem que o MPLA é um único partido que incansavelmente vem lutando pela unidade de todos os povos angolanos sem discriminação tribal ou regional. E é com a maior satisfação que vos anuncio que há algumas semanas que acabámos de concluir um acordo entre os partidos nacionalistas angolanos: – MPLA – MDIA – MNA – NGWIZAKO – UNTA – que constitui o FDLA = Front Democrático pela Libertação de Angola! Este é um acontecimento de maior relevo no capítulo da nossa política pró-unidade e ainda mais de maior peso no capítulo da guerra que travamos contra o colonialismo português. Ainda mais vários partidos nacionalistas se preparam para aderirem a este Front o mais democrático e mais acessível a todos os povos angolanos sem nenhuma discriminação ou exigências egoístas. De toda a parte nos chegam comissões e cartas aplaudindo e felicitando este acontecimento. Porém, este facto despertou ciúmes e invejas por toda a parte dos inimigos da unidade, apoiados por amigos poderosos que lucram com a nossa situação e com a nossa guerra. E para conseguirem os seus desígnios empregam todas as armas, mas a principal arma deles é a mentira, o boato e a calúnia. É para vos prevenir contra este estado de coisas que vos escrevo, para poderdes ficar firmes contra toda e qualquer arma. Teremos que enfrentar os principados e potestados [sic]. Teremos que enfrentar as forças do mal. Estais pois firmes com toda oração e súplica, vigiando com toda perseverança. A Comissão de Bons Ofícios sugerida pela nossa Delegação na Conferência dos Chefes de Estado em Addis Abeba julgamos não ter cumprido a sua missão de maneira imparcial como era de esperar. Porém, as suas decisões não mereceram o apoio do nosso Front nem dos desejos do Povo Angolano. Nada se tratou da unidade mas sim duma imposição que vai ao encontro do verdadeiro espírito da democracia. As suas decisões que deixou em branco o ponto dos Fronts vão ser submetidas na Conferência dos Ministros de Negócios Estrangeiros dos 32 países Africanos que começa nesta data em DAKAR. Creio que encontrará dificilmente apoio de todos. Desenrolou-se uma verdadeira batalha no Comité da Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre o caso de Angola, sendo finalmente emitida uma resolução que exige a negociações imediata transmissão de poderes para a independência, até o mês de Setembro deste Ano. O nosso Front que não recusou unir-se com o outro Front ao pé de igualdade mantém a sua posição. Não há razões para desânimos desde que muitos países nos apoiam. O Povo Angolano todo em peso apoia também o nosso Front (FDLA) porque é o único que satisfaz as aspirações do Povo Angolano que quer ver tudo unido contra o inimigo comum, não só em palavras mas em actos concretos, para obtenção duma independência rápida e incondicional. Não há razões para desânimos. Deus está connosco. E se Deus é por nós quem será contra nós. Estou certo que as forças do mal não vencerão nem dominarão Angola. A nossa questão está em mãos de Deus! O nosso anjo de guarda não dorme nem de dia nem de noite, mas vigia pelos seus e pela nossa causa. Remeto-vos vários papéis que esclarecerão a vossa compreensão. A paz de Deus seja convosco e a graça seja com todos que crêem e esperam em Deus e em seu filho nosso Senhor Jesus Cristo. Ass: Rev. Domingos Francisco da Silva Vice-Presidente do MPLA Léopoldville, 2 de Agosto de 1963 [carimbo do CD do MPLA]