Declaração de Emmanuel Loureiro, na inauguração do bureau da FDLA

Cota
0053.000.026
Tipologia
Declaração
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Emmanuel Loureiro - 1º Vice-Presidente da FDLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público


FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA – “FDLA”
DECLARAÇÃO DA ABERTURA DA REPRESENTAÇÃO DA FRENTE
DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA “FDLA”
EM BRAZZAVILLE

Senhor Presidente da República
Excelência, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
É-nos difícil, Senhor Presidente, encontrar as palavras exactas para descrever a expressão da nossa profunda gratidão pela autorização da abertura da nossa representação nesta cidade tão acolhedora, que a República irmã do Congo Brazzaville nos concede.
Todo o povo angolano e os nossos militantes ouviram com profunda emoção esta feliz notícia que concretiza um espírito de fraternidade que se afirma cada vez mais entre nós.
A hospitalidade oferecida a milhares de compatriotas nossos refugiados neste país, a ajuda aqui recebida e a autorização hoje concedida à FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA “FDLA” para exercer livremente a sua ­actividade política, são a prova bem visível dessa fraternidade.
Considerando este momento tão confuso que o nacionalismo angolano atravessa, considerando as forças antagónicas que se confrontam em África, é preciso no entanto sublinhar que esta manifestação de solidariedade é a prova da existência de uma consciência lúcida que nos guiará, amanhã, para as vias seguras da libertação dos nossos países.
O nosso povo não tem, actualmente, a capacidade de se pronunciar sobre os problemas primordiais do nosso país. Ele debate-se entre a dúvida e a ambição, entre a generosidade e a oportunidade [sic].
A África, que no seu conjunto se pronuncia a favor da libertação de Angola, não ignora a imensa tarefa a empreender para chegar à sua emancipação. Não é de espantar que Angola, uma terra no coração de África, procurando o seu caminho, ainda esteja vacilante.
Não lhe é possível oferecer ao mundo uma única força unida. Deste estado de coisas nasce uma série de dificuldades intransponíveis. Os inimigos do nosso país chegam mesmo a infiltrar-se nas nossas fileiras, a enfraquecer-nos e a causar divisões entre nós.
As organizações que formam a FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA “FDLA” não ignoram que a força do colonialismo reside sobretudo na ignorância, na resignação e na falta de organização das suas vítimas.
No entanto o nosso povo, que já se pronunciou várias vezes pela UNIDADE, está prestes a forjar bases sólidas para uma união verdadeira.
Podemos permitir-nos desde já encarar com confiança as perspectivas favoráveis que nos são oferecidas por Sua Excelência o Presidente da República, com a ideia de um congresso. Ser-nos-á dada a ocasião de revermos os nossos problemas fundamentais e encontrarmos soluções apropriadas para esses problemas.
A FDLA considera que a solução do problema angolano pode ser encontrada graças ao esforço que as organizações angolanas começam a desenvolver.
A FDLA considera que a luta armada é o garante das nossas reivindicações políticas, mas deseja no entanto que o Governo português se engaje, o mais cedo possível e resolutamente, na via das negociações com os representantes legítimos do povo angolano, na via que conduz à independência.
Soubemos, com alguma surpresa, que Portugal quereria proceder a reformas. Realizar-
-se-iam eleições em Angola este ano.
Esta notícia seria bem acolhida no seio da FDLA se ela fosse acompanhada de uma declaração mencionando:
1 – o reconhecimento do nosso direito à autodeterminação e à independência;
2 – a libertação de todos os presos políticos;
3 – a fixação de um calendário para a ascensão à independência;
4 – a liberdade de associação.
A FDLA pode, por sua vez, encarar com particular atenção uma solução justa e equitativa de certos aspectos do problema da presença dos originários de Portugal instalados em Angola. Porque se a ruptura brutal (consequência da luta armada) é para Angola um salto para o desconhecido que a nossa consciência se recusa a aceitar, ela é para Portugal uma catástrofe irreparável. Portugal sem o concurso de Angola já não é Portugal.
Contudo, a luta pela nossa independência tem de ser intensificada.
Ultimamente defendeu-se em África, com grande veemência, que a luta do povo angolano é essencialmente uma luta armada. Recusamo-nos a aprovar esta maneira de ver. A luta do povo angolano é antes de mais um problema constitucional e político, a luta armada é apenas o suporte para as nossas reivindicações políticas.
As diferentes organizações políticas são outras tantas forças com as quais temos de contar. As diferentes formas de luta política são uma contribuição importante para a nossa reivindicação quanto ao direito à autodeterminação e à independência.
Senhor Presidente da República, não esqueceremos tão cedo a solicitude com que vossa Excelência encara o problema angolano.
Angola está-vos muito reconhecida e as nossas organizações ainda mais.
Uma vez mais, a FDLA agradece-vos em nome do povo combatente, em nome de África, em nome da fraternidade dos povos.
Viva a FRENTE DEMOCRÁTICA PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
Viva Angola
Viva a República do Congo Brazzaville
Feito em Brazzaville, 27 de Julho de 1963
PELO FDLA
O 1º Vice-Presidente
A. Emmanuel LOUREIRO

Declaração de Emmanuel Loureiro, na inauguração do bureau da FDLA (Brazzaville)

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