Relatório do EPLA sobre Esquadrão Vermelho

Cota
0050.000.026
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
EPLA - Exército de Libertação Popular de Angola
Data
1963 (estimada)
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
6
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MPLA [Sem data – talvez Maio 63] EPLA EXÉRCITO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA RELATÓRIO Depois de muitos preparativos, não tardou de se pôr em marcha o Esquadrão Vermelho do EPLA como foi denominado, a fim de efectuar um vasto Reconhecimento no Sector de Nambuangongo. Tudo pronto, dia 3 de Abril de 1963, o Esquadrão partiu de Léo para a fronteira do Congo e Angola. COMPOSIÇÃO: este ia composto de 14 guerrilheiros e 4 partisans seguem seus nomes: Jacob Caetano João, Andrade Correia, Fernando Miranda, Gonçalo Luís Lopes, Luís Augusto Pereira, João Cabanda Katoko, Domingos da Silva, Pascoal Mubau, Joaquim Domingos, João Gonçalves, João Mahinga, Miranda Assoreira, Pedro Manuel Xico, José Gaspar Sebastião e os partisans, António João Pereira, Sebastião Correia, Bernardo e José Gomes. [Nota de L. Lara: Quem eram os Comandantes?] PARTIDA DE SEPTANTE: Eram 22H43 do dia 6 de Abril, quando o Esquadrão Ver. decidiu por completo abandonar o território Congolês e infiltrar-se em Angola, a fim de cumprir a sua missão. Antes da partida, apareceu porém o camarada Miranda Marcelino no momento que se arrumava as mochilas sendo ele portador de uma carta assinada pelo camarada Freitas, com a recomendação de entregar-lhe as latas de pólvora e as latas de balas de caçadeira; a[o] fim de tudo atendido perguntou-se ao mesmo, como ficaria o nosso tratado da pedra? este respondeu que será possível nos encontrarmos, mas se nos lembrássemos, em Léo fazia-se uma carta para o António Fernandes, um dos comandantes da UPA, a fim de enviar alguns soldados no rio Mbrige ao nosso encontro: foi daí que perdi a esperança de encontrarmo-nos com eles; e a malta queria que nos desse um dos seus, que serviria de guia até à pedra; este rejeitou dizendo que era impossível devido a guia que eles traziam. O Esquadrão posto em marcha, na mesma noite não se conseguiu alcançar o território angolano pois somente às 10H00 do dia 7 que avistávamos de longe as florestas de Angola. Mais um pouco de marcha já 13H15, acabávamos de entrar no território angolano; dali o Esquadrão desviando-se um pouco do caminho, teve de prontificar-se para a defesa; tudo pronto, o Esquadrão arrancou dali a fim de atravessar a estrada do Noqui a S. Salvador... quando se ia aproximando à estrada, nomeou-se uma patrulha de RECONHECIMENTO da estrada; esta foi e quando chegavam quase perto, ouviram então tiros de certas armas que as sentinelas disparavam; no regresso participaram tudo aos chefes e então se resolveu atravessar somente de noite. O esquadrão recuando um pouco procurou despistar a atenção de qualquer que ali podia aparecer. Às l9H00, o Esquadrão teve de prosseguir a sua marcha e que às 20H45 acabava de atravessar a estrada que constituía uma grande dificuldade; e como era noite muito escura e caminho desconhecido, marchou-se então até à primeira hora do dia 8. DIFICULDADES: Depois de quatro horas de marcha do dia 8, apareceu-nos a primeira dificuldade que deveríamos iniciar enfrentar dentro do solo Pátrio; foi então o rio Ylunda-Yole que tivemos de atravessar por intermédio de uma corda; os preparativos duraram tempo; mas o Esquadrão teve de vencer as deficiências que ali apareceram. Tudo estava no outro lado do rio e por falta de meios de travesso então o material e mais artigos tiveram de molhar; para isso foi preciso passar ali a tarde a fim de pôr a secar o material. A noite ali passara sem dificuldades e na manhã seguinte, 07H00 o esquadrão pôs-se a caminho e às 18H15 estávamos no Imbondeiro onde a 200 (duzentos metros) encontraríamos o desvio à direita; era já tarde, caía a noite e depressa dia 9 desaparecia; procurou-se então repouso; foi uma noite feliz... Não tardou, apareceu o dia 10 (dez) e como na noite passada tinha chovido então o m. ainda se tinha molhado outra vez; mas resolveu-se procurar o caminho a fim de se achar o desvio que vai ter à pedra. Foi tudo debalde; mas encontrou-se uma outra pedra que enganou por completo a malta. Lá se parou e não se podia passar mais tempo porque a comida que nós levávamos já se tinha esgotado devido às chuvas e ao atravessar o rio Ylunda-Yole; estávamos privadíssimos de alimentos e mesmo que esperássemos ali jamais nos encontraríamos com o combinado; para isso resolveu-se marchar junto dos alimentos a 8 horas daquele lugar. Mesmo assim, se o Marcelino estivesse na realidade decidido a seguir connosco, nos encontraria ainda antes do imbondeiro. ROTA DESCONHECIDA: Tomou-se a rota desconhecida por parte do Marcelino; desesperados com o encontro, 11H00 o Esquadrão sempre na sua formação de marcha já no decorrer do dia 12, tendo estado na pedra um dia e mais algumas horas... naquela marcha os soldados tornaram-se mais vigilantes que nunca e depois de oito horas de marcha bem forçada procurava-se repouso e como era de costume e dadas as medidas de segurança montou-se logo a guarda; dali com algumas conservas preparou-se então um jantar. Dia treze preparou-se a marcha logo pela manhã e com o fim de se atravessar a estrada do Tomboco; às 12H00 estávamos na outra margem da estrada, mais algumas horas de marcha; às 17H00 procurou-se repouso e não se podia avançar mais. Tudo corria normalmente. Chegou finalmente o dia 14, esta manhã apareceu silenciosa pois às 07H se levantou e o Esquadrão pôs-se a caminho para enfrentar dificuldades. Quando eram 11 horas, depois de termo-nos escondido de um avião de ronda mais adiante verificou-se a presença de 4 militares da UPA que, depois que deram connosco mandaram-nos parar; dali mandou-se a dispersão dos soldados e cada qual pronto para tudo e por tudo. Estes mal se puseram ao nosso lado, saudaram-nos; vinham armados de 1 PM, 1 Mauser e 1 granada; a PM é tipo Sten fabrico Alemão, a espingarda fabrico Americano e a granada tipo Breda fabrico Italiano. Surge em seguida uma pergunta para estes, feita por Jacob, se patrulhavam ou passeavam? estes em resposta disseram que guardavam a entrada do quartel devido os portugueses. Dali avançou-se para diante e a dois quilómetros dali encontrámos finalmente o dito quartel de Caluca; disseram-nos que os comandantes não estavam por motivo de se terem ausentado para Madimba. Prosseguimos a viagem para aproximarmos o rio Mbrige. Umas horas de marcha, 18 horas acampou-se numa pequena floresta. Dia 15 às seis horas o esq. pôs-se em movimento e às 10 horas estava o Esq. na margem direita do rio Mbrige; a noite correra bem; de manhã ouviu-se na outra margem vozes de pessoas que conversavam, procurou-se saber quem seriam, esses informaram que eram do Bembe e que estavam a caminho para o Congo a fim de ingressarem na Base da UPA e que se encontravam ali a 12 dias de espera das águas, porque as enchentes eram demasiadas e que no dia seguinte estaria ali o piloto para pô-los na margem onde nos encontrávamos. Estávamos ansiosos porque naquele dia a malta esperava estar no outro lado do rio. Dia 16 logo pela manhã apareceu o piloto que, no trazer a gente do Bembe no regresso tinha de levar malta nossa para o outro lado. Assim fez mas a malta não conseguiu atravessar toda para a outra margem. Durante os dias da estadia nesta margem, arranjou-se carne e no momento dos primeiros atravessarem para o outro lado levaram consigo a carne toda e o restante havia ficado sem nada. A noite caiu assim como a chuva que durara quase quatro horas; parou e o dia novo apareceu também de chuva. O Esq. estava dividido de cada lado do rio: apareceu depois sem tardar a fome para os que se encontravam na margem direita do rio; foi então que se resolveu enviar para trás, a 36 horas do rio, alguns camaradas a fim de buscarem alguma coisa de comer. Partindo assim os camaradas Pascoal Mubau, José Gomes e Pedro Manuel Xico, estes decididos partiram com chuva, já a terceira, andaram até que chegaram à mandioca. O rio tornou a encher e para isso era perigoso. A canoa era feita do material que se faz o loando; para isso depois de duas ou três chuvas tudo se estraga, e, os companheiros do outro lado como tinham a possibilidade de conseguir o material, então preocuparam-se com o material e prepararam a canoa; 5 dias de fome, comia-se casca de mandioca que ali se encontrava. Naquele dia estava sendo aguardada a chegada dos três camaradas. Finalmente, estes no regresso tinham sido vistos pelas vigias da UPA, que aproveitando a ocasião de quererem fazer-lhes mal deixaram os nossos aproximarem e convidaram-os para o quartel a fim de receberem por oferta algumas bananas. Estes, quando se encontravam já no quartel foram rodeados de Cangulos e mais armas. Os nossos vendo isto perguntaram porque que tinham sido rodeados daquela maneira? Se pretendiam fazê-los mal que o digam; em resposta estes disseram que tinham sido avisados que ao pé do quartel se aproximavam três homens e por isso que os encontrara com as armas nas mãos e que não pretendiam fazer mal a qualquer que seja; perderam por completo a esperança na banana que havia de lhes ser oferecida... estavam ali atentos, para resolver qualquer problema; a troca de palavras tinha durado horas aproximadamente três; viram que nada se apanhava ou se apelava, e, quando lhes havia mandado embora, reparam que durante o tempo em que se encontravam viram crianças que choravam de fome; por pena, tiveram de tirar a metade de um saco que traziam e deram às mães das crianças que choravam de fome... O soldado do EPLA sofrendo quero ajudar primeiramente o povo pois do pouco que tiver divide com o POVO. E antes de abandonarem o sítio foram convidados para um lugar de onde podia se atravessar sem dificuldades e sem demoras ou perca de tempo; mas analisando a coisa ameaçava perigo de morte, porque o Esq. estava dividido; 19 horas estes chegaram juntos de nós e contaram o tudo que lhes havia acontecido. Durante três dias não tinha chovido e para isso as águas se tinham diminuído; nada vale sem coragem e força de vontade. Dia 21 pelas 07H00 apareceu o piloto a fim de pôr a malta no outro lado do rio, como a canoa dava muita maçada então somente às 16H00 tinha conseguido pôr o resto dos membros do Esq. na margem esquerda do rio. Finalmente, já os primeiros que estavam ali estavam com o dito comandante da Secção Militar do Sengue, António Jacinto Tomás, que chegou a pedir a guia de marcha aos camaradas, na qual esses disseram que a guia se encontrava com o resto dos camaradas que se encontravam na outra margem; já no outro lado deu-se a guia conforme seu pedido, esse leu-a e a assinou. Como era bastante tarde, a malta já não quis avançar; e o mesmo comandante pediu para que fôssemos com ele até no seu quartel, mas nós dissemos que não seria possível irmos até ao quartel; então andou-se um pouco e 17H45 acampou-se, deixando o tal continuar. Lá foi e nós lá passámos a noite. Dia 22, 06H45 preparou-se e levantou-se o ferro fomos andando e estávamos na Sc. do Sengue, onde o Povo aguardava a nossa chegada; encontrou-se ali comida arrumada para os soldados do EPLA. Ao repararmos na situação do povo, encontrou-se doentes e para isso o soldado do EPLA tinha de se pôr em trabalho; apareceram ferimentos, anemias, sarnas etc. Para isso foi preciso dispensar todo medicamento que levávamos como... UNICILINAS, COMP. MULTIPLEX, ASPIRINAS, COMP. EUQUININA, MERCUROCROMO, PÓ SULFAMIDA, ALGODÃO, GAZE, STREPTOMICINAS e ÁGUAS DESTILADAS. O Esquadrão baseando-se no passado do camarada Ferreira, não se esqueceu da vigilância pondo-se sempre mais atento; tínhamos de continuar com a jornada, para se atravessar a estrada do Bembe no dia seguinte; quando íamos partir, o tal comandante disse-nos que não poderíamos partir sós, mas que nos daria um dos Oficiais que nos acompanharia até aproximarmos na outra Secção Militar ou antes nos levava até ao destino. Iniciou-se finalmente a marcha acompanhados de um Senhor Oficial que nos foi pôr numa secção próxima, dali fomos recebidos com entusiasmo mas ordenou-se em seguida a continuação da jornada que foi uma proposta dos chefes e que os soldados todos contentes tiveram de abandonar o local e procurou-se despistar a atenção adversária. Naquela noite nada correu de mal tudo normal; e como por onde passávamos sempre perguntávamos a situação dos portugueses, vimos que sozinhos não poderíamos atravessar a estrada do Bembe porque de dia a dia os caminhos são modificados e para isso era preciso um guia; de manhã tratou-se do guia que nos levou até a uma outra secção. Pelo caminho o homem falava por completo mal da UPA e dos seus oficiais, esperando que nossos lábios se abrissem em falar também, isto é apoiando o que ele dizia, mas dadas as instruções políticas nada arranjou. – Tudo isto são acontecimentos do dia 23... chegámos finalmente no local onde passaríamos aquela noite do dia 23. Foi preciso empregar aquela noite em serviço de Mobilização das Massas, mostrar-lhes o que fazíamos ali e o que pretende fazer o MPLA, a sua Linha Política, procurámos logo ensinar como fazer os abrigos contra a Aviação e assim o Povo ficou por completo entusiasmado; apareceu depois o Comandante que muito mal compreende a situação revolucionária, perguntando logo da guia de trânsito; dali foi-lhe entregue a guia e depois de a ler fez sem saber o que dizia, a seguinte pergunta. – O MPLA continua com a sua Política? e em seguida surgiu uma nossa perguntando se qual seria a política do MPLA? esse disse que era a Política Comunista. Um dos soldados do Esquadrão Vermelho perguntou-lhe se sabia dizer que [é] o comunismo? Esse disse que o comunismo não era senão ensinar as massas a se odiar, matar quem não trabalha, trabalhar muito e receber muito pouco dinheiro. Foi o suficiente para o soldado conhecer a fraqueza de conhecimentos que o Comandante tinha no Cérebro; dali precisou-se dar uma lavagem no cérebro daquele irmão. Apareceu esta dizendo: deixemos o Comunismo e falemos da nossa Revolução; pois cada angolano agora tem de saber em que pé está a nossa luta pois da parte que o comunismo não toquemos mais. Entrou a explicação da Linha Política do MPLA, o que nos levou para junto das massas no Interior de Angola, do Programa do MPLA e das Actividades dos Soldados do EPLA em Angola. Dali o comandante disse que estava claro porque desde muito nunca ninguém lhe havia explicado coisas e que chegasse de ficar tão claro como daquela vez; mas notou-se que o homem estava a fingir ficar claro enquanto não queria ficar claro; podia estar claro se não estivesse engajado na política Racial da UPA, que até a data presente envia emissários no interior de Angola a ensinar as Massas a odiar o Mestiço e o Branco. E esse comandante declarou que eles não fariam uma coisa sem que recebessem ordens de Léopoldville, vindas da direcção [da] UPA, para isso, todos aqueles quartéis aguardam receberem sempre ordens de Holden Robert. Aquela noite tinha sido somente de explicação política; foi então que se falou de que se o homem quisesse compreender conforme tinha declarado nas palavras anteriores então ficaria ao nosso lado. De manhã não se notou nada de mudança da parte do Comandante a não ser só nas massas. Chegou a madrugada do dia 24, todo militar estava preparado para conhecer novas caras e enfrentar novos problemas que podiam ser mais duros ou difíceis; o pequeno- -almoço estava pronto; depois da refeição, eram 07H51, o Esq. Ver. se pôs na sua formação e iniciou então a jornada. Depois de onze horas de marcha forçada, atravessando lagos, rios e pântanos, o esquadrão se encontrava em frente de certos refúgios da gente de uma parte da área do Bembe. A gente ali encon­trada perguntaram-nos de onde vínhamos isto a nossa Direcção Política e Militar? Perguntámos também se estava ali o comandante? Disseram que o comandante não se encontrava ali porque era simplesmente refúgio para mulheres e que o comandante se encontrava no quar­tel, e que fôssemos ter no quartel; dali a malta arrancou e não se chegou no quartel acampou-se no deserto prevendo sempre os perigos. Já era noite, todos vigilantes, pois naquela noite ninguém tinha chegado de dormir. Na manhã seguinte como prometeram acompanhar-nos até ao quartel porque nós não sabíamos onde se encontrava, tivemos de esperar até que precisou alguns soldados irem à busca do sujeito; 10H00 do dia 25 iniciou-se finalmente a marcha. E depois de 15 minutos de marcha estávamos no quartel que tinham dito no dia anterior que se encontrava bastante distante dali. Lá encontrámos o povo e o Comandante ALBERTO JUNQUEIRA que chegou de trair a malta. Nos saudámos e depois disso o comandante mandou preparar um almoço para os soldados; esperou-se o almoço que não tardou; depois do almoço ou antes refeição melhor dizer, o tal Junqueira pediu-nos a guia de trânsito e depois de entregue, esse assinou-a e em seguida perguntou como seria possível levarmos aquela guia sem a assinatura do chefe CAJINDUNGO na Base da UPA? A resposta foi esta que se vós assinam uma guia do MPLA é porque não sabeis vós o que estais fazendo pois tinham direito de assinar essa guia somente departamentos pertencen­tes ao MPLA e não departamentos da UPA e nem tão pouco de qualquer ORGANIZAÇÃO POLÍTICA OU MILITAR. Caiu a chuva sem tardar, tudo estava triste; não se podia andar com aquela que foi mesmo torrencial, chegando de durar a tarde toda; dali caiu a noite e aguardava-se o dia seguinte. Perguntou-se então carne de compra, esses disseram que podiam arranjar; dali buscou-se a carne chegando a vender-nos de 50$00 (cinquenta escudos). Antes do jantar apareceu o mesmo Junqueira que avisou a malta que assim que tinha chovido, na manhã seguinte um dos ribeiros que de modo algum daria trânsito devido à profundidade e à corrente forte das águas devido à inclinação do leito e que se fôssemos para lá junto do rio poderia acontecer-nos como acontecera anteriormente no Mbrige, porque as lavras se encontravam distantes e que podíamos nos alimentar do pouco que eles tinham. A malta pensou em arrancar na manhã seguinte para junto do ribeiro falado. E quando íamos falando nisto, foi quando surgiram três upistas conhecidos por Moisés, Moniz e Ernesto, os primeiros dois de Nambuangongo e o terceiro do Sul de Angola natural de Nova Lisboa; pois depois de assinada a guia deles foram ao mesmo tempo interrogados se nos conheciam. Esses responderam que nos conheciam simplesmente como gente e rapazes de Nambuangongo que aproveitavam o dia seguinte andarem connosco porque apresentávamos uma defesa contra o soldado português que sempre procura entrar nas matas; dali então não quiseram mais dizer-lhes o segredo que ameaçava a vida dos Soldados do EPLA, porque se lhes falassem de modo algum diriam-nos o tudo que esses preparavam contra nós. Apareceu a manhã chuvosa do 26; esta chuva que durou aproximadamente oito horas fez com [que] os homens preparassem tudo durante aquele dia em que não se podia andar; esse ribeiro era o Cuango assim se chama. E como as águas naquele ribeiro não duram então resolveu-se arrancar no dia seguinte. Chegou a noite do dia 26, dormiu-se sossegadamente e com guardas em todos os cantos de entradas e saídas. Então acabava de amanhecer o dia 27, dia determinado para a marcha adiante a fim de se aproximar o rio Loge. Tudo preparado e íamos partir, uma dor horrível de estômago ataca o companheiro de viagem o Pascoal Mubau que durante três horas gemia de dores. Não tínhamos nenhuns meios para manter termo àquela dor que impedia a nossa marcha. Mas a dor depois que se aliviou um pouco esse ordenou que pudéssemos seguir mas que devia ou era necessário que aparecesse soldados entre camaradas que pudessem ajudá-lo a levar as coisas. E foi o que se fez; 10 horas o esquadrão partiu ou aliás antes de partir pediu-se ao comandante para que esse fizesse uma carta de venda de alimentos, nos refúgios onde encontrássemos gente. Feita a carta foi lida o seu conteúdo e estava normal. Levantou-se a marcha; duas horas e meia de marcha, acompanhados do mesmo Junqueira, chegámos ao lado do ribeiro dito; fez-se a análise de tudo que tinha falado nos dias anteriores, nem tudo era verdade porque ambas margens estavam rodeadas de lavras pois somente a corrente do ribeiro e a profundidade mostram ou mostravam a verdade das suas palavras ditas. Mais uns passos encontrámos uma residência ali fixada numa lavra de café, há mais de um ano e meio onde encontrámos um velho que chegou de vender-nos o seguinte, por ordem do dito comandante: ... Bananas, Milho seco e fresco, Mandioca e Cana-de-Açúcar isto tudo comprou-se com o dinheiro Congolês e o dinheiro gasto ali foi no montante de em francos 495frs. (quatrocentos e noventa e cinco francos). Crianças que ali se encontravam, comeram da nossa cana comprada. Dali o comandante ficou e o Esq. arrancou para diante; mais três horas de andamento, volta de 17H15 encontrámos num dos refúgios a morte de uma criança. Para isso o Esq. não podia avançar e deixar de ajudar sentir a dor que de perto podíamos sentir com aquela família e apresentarmos os nossos pêsames em nome do MPLA, para tal nomeou-se uma delegação que chegou de apresentar os sentimentos de todos soldados que ali se encontravam presentes e ausentes e em nome do MPLA; e que foi preciso informar-se do enterro que seria pelas 07H30 do dia seguinte 28. Então os nossos tiveram de regressar junto dos outros camaradas, chegando de informar tudo do que se tinha acontecido. Chegou a hora do jantar, os soldados estavam satisfeitos porque dali faltavam duas horas de andamento para alcançar o Loge como última fase de enfrentar os rios... APARECEU a manhã do dia 28, pois se alguém pudesse adivinhar a morte que seguia os soldados daquele rico Esquadrão Vermelho, os soldados estavam todos ansiosos prontos para a partida. Antes da partida, a delegação composta de 10 soldados nomeados para a ajuda da abertura da campa, essa teve de partir muito cedo eram 05H00, quando dirigindo-se à família a fim de pedir o material para iniciar abertura da campa, esses disseram que não era necessário porque aguardavam a chegada de alguns membros de família e que só estariam ali volta das 11H00 e para se aproveitar o tempo que é chuvoso, convinha melhor aproximarem o rio ou antes atravessá-lo hoje. Dali tiveram de recuar junto dos companheiros e expuseram tudo. Manhã muda e triste, manhã do soldado que seria elemento de amanhã, manhã serena de abril, nos rostos dos soldados bailava a Esperança de irem até ao destino... 07H25 o Esq. Ver. estava em marcha para junto do Loge a fim de atravessá-lo naquele dia; tudo marchava em segurança e depois de Duas horas de andamento acabava de chegar junto da margem direita do rio Loge. Aqui encontrámos um homem que chegou de se apresentar como ajudante do Piloto, que nos poria no outro lado do rio. Mas antes de tudo e como ao lado se encontra uma árvore, este informou que era melhor ou antes muito melhor que todos os soldados pusessem as suas mochilas debaixo da árvore ali existente, porque breve apareceria o avião de ronda que tem procurado onde os Nacionalistas têm atravessado o rio. E para que não atrasemos o nosso serviço peço-vos isso; assim fez-se. Mas sempre desconfiados tentou-se prevenir os soldados; e que seguiu depois; como trazíamos ou antes levávamos a carta de compra de comida, entregue a carta e depois de lida, este disse que daria a comida do outro lado do rio porque ali se encontravam as lavras, querendo aproveitar o tempo, para que os outros escondidos não sejam vistos, este disse que depressa iria chamar o piloto para pôr a malta do outro lado; terminada a palavra este partiu correndo e surgiu antes dele desaparecer da vista a voz de Dispersão Soldados; foi tarde; finalmente quando os primeiros tinham acabado de chegar não reparando na posição em que se encontravam, assim o Esquadrão estava por completo emboscado. COMBATE... 09H30 Depois que o sujeito desapareceu, soaram numa só rajada diversas armas de Infantaria. O terreno não prestava [para o] manejo de armas mas dadas as possibilidades que se aproveitou ainda se conseguiu defender-se e livrar-se da zona de Morte onde todos os soldados se encontravam encerrados. O combate durou cerca de três horas e meia, mas dadas as experiências das leis combativas consegui-se abandonar o recinto onde as balas choviam. FUGA.. Muito cedo e sem tardar, abandonou-se o Ring de morte, depois de feitas algumas rajadas a fim de pôr termo o adversário. O rio Loje cheio de jacaré como todos o devem conhecer de história era o único ponto de vida para poder livrar-se daquela maldita traição. Quando se abandonou o local, em continuação de onde as águas corriam, fomos-nos sentar num esconderijo mas ouviu-se que os tiros seguiam o nosso rasto dadas as pegadas do tempo chuvoso não seriam procurados. Tivemos de abandonar o tal esconderijo e tomámos rumo ao Congo para comunicar o acontecimento. Foram 14 dias de marcha, acompanhando os feridos, e para se chegar ao destino foi preciso aproveitar as florestas, os vales e mais meios. Durante os dias de fuga, guiavam os outros aqueles que tinham a saúde; fugia-se o Português e o Angolano. Só depois que se atravessou o rio Mbrige começou-se [a] andar no caminho e se nos encontrássemos com algum elemento da UPA, e para que esse não nos desse cabo, pois quando procurasse informar-se do passado dizia-se que tinha sido em combate contra os portugueses; foi esta sempre a nossa resposta até no Território Congolês. Já no território congolês, isto é numa aldeia, onde encontrámos bastantes upistas, que chegaram de nos convidar para a direcção deles que se encontrava no Songololo, a fim de nos pôr em Léo mas a nossa reacção foi de rejeitar a proposta deles. CONCLUSÃO... Na área em que se travou o combate, o soldado português lá goza do melhor sossego. As informações obtidas da parte dos Oficiais que a UPA está formando não são para outra coisa, mas para manter a ordem entre o Povo e o serviço da luta contra o colonialismo, isto é a luta com os meios armados, esta por ora está parada até 15 de Março do ano de 1964 quando a UPA por completo liquidará as bases do Exército português em Angola; esta data está colocada na memória de cada militante da UPA e um dos OFICIAIS chegou de dizer que é a Linha Política da UPA para o Ano em curso. Na área do Bembe e de S. Salvador onde o soldado do EPLA chegou de pôr o seu pé, verificou-se ali a nudez, a doença que tem sido a pior fera da família Angolana. Os líderes da UPA que têm acompanhado a Política Suja, suja porque não a sabem fazer. Em frente do Esquadrão Vermelho, dezenas de Senhoras, homens já de idade avançada, declararam que estavam inteiramente admirados com os soldados do EPLA, e que finalmente o MPLA educa soldados para amarem, respeitarem e ensinarem o povo. O soldado do EPLA por onde passou encontrou tudo sujo mas procurou mobilizar o POVO.

Relatório do EPLA sobre Esquadrão Vermelho

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.