Carta de Viriato da Cruz a Matias Miguéis

[Nota manuscrita: Rec. 28-4]
Roma, 23.4.63
Caro Matias,
Recebi anteontem, em Accra, a tua carta exprès. Recebera antes o telegrama do Zé Domingos. Enquanto aguardava, em Accra, carta tua com mais precisões ao telegrama, fui convidado a participar da primeira conferência afro-asiática de Jornalistas, que começará amanhã, em Djakarta (Indonésia). Achei que devia ir a essa conferência, pois dessa maneira Angola estará entre as nações fundadoras desse novo organismo afro-asiático. Dentro de 10 dias, mais ou menos, voltarei a Accra, de onde darei continuação à viagem para a qual já trataste a entrada. Enviar-te-ei depois um telegrama.
É certo que o grupo [que] se pôs à frente do Movimento vem-se desintegrando e dividindo. Essa desintegração não se manifesta somente em Léo, mas também fora de Léo. O que esperavam eles? Com desonestidade e maus propósitos nada de bom se pode construir.
Espero que o Lima tenha compreendido, agora, as desvantagens – que lhe apontámos o ano passado – de ir habitar no quartel. O que essa gente tinha a mais de ambição e presunção tinha a menos de bom-senso e de compreensão.
O troca-tintas do Viana mandou-me, há semanas, um recado dizendo que o que eu quero é o que ele quer também. Parece-me que isso é mais um sinal de que eles não se entendem.
Cumprimentos a todos os amigos.
Saúda por mim a velha Mariana Anapaz.
A minha filha chama-se Marília, e há 10 dias atrás estava de boa saúde. A Eugénia continua em Rabat, 62 rue Henri Popp, para onde vocês poderão continuar a escrever-me, sempre que for caso disso.
Até breve!
O meu melhor abraço.
[assinado por Viriato da Cruz]