Carta de Viriato da Cruz a Matias Miguéis

Cota
0046.000.042
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Matias Miguéis
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»


30.1.63
Caro Matias,
Sinceros votos de saúde.
Recebi e agradeço a tua carta.
1 – Quanto ao dinheiro, o meu ponto de vista é que é justo utilizá-lo para actividades que vão [ao] encontro de uma verda­deira luta anticolonialista. Penso ser este o vosso objectivo.
2 – Quanto à vossa actividade aí, pouco tenho a dizer porque estou ainda profunda­mente abalado pelo comportamento (que não esperava) de um certo número de antigos “companheiros” em quem havia depositado confiança.
A meu ver, uma política nova e oposta à que se começou a praticar no Movimento deverá começar por onde começam todas as políticas libertadoras: dizer a verdade, dizer a verdade aos militantes, ao povo e à opinião pública. A verdade é revolucionária. A verdade é a mais elementar arma de uma revolução.
A contra-revolução e a política reaccionária começam sempre com o uso da mentira e da fraude ou com o silêncio cúmplice da mentira e da fraude. Isso foi sempre assim, infalivelmente, desde que começou a opressão do homem pelo homem.
Por isso, penso que a primeira atitude, hoje, é não impedir que digam a verdade aqueles que a queiram dizer. É come­çando assim que a juventude principalmente ganhará coragem e experiência. E à vista de traições graves aos interesses do povo, Angola precisa urgentemente de uma juventude autenticamente revolu­cionária, que seja capaz de lutar pela verdade.
3 – Agradeço dizer aos jovens que vou enviar-lhes ainda hoje uma carta um pouco extensa. Não me esqueci de ninguém.
Escreve para o seguinte endereço: Da Cruz V., 62, rue Henri Popp, Rabat.
4 – Tomei em devida consideração o teu pedido. Farei bre­vemente uma viagem para tratar desse assunto e doutros.
5 – Estou de acordo em que é preciso fazer um trabalho clandestino. Mas este trabalho só não chega. Acho que é também indispensável fomentar abertamente um clima de insegurança para esse grupo de usurpadores fascistas.
Aguardo as tuas notícias.
O meu melhor abraço ao Zé Domingos e a todos os amigos.
[rubrica de V. Cruz]

Fotocópia da Carta de Viriato da Cruz a Matias Miguéis

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