Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA MPLA 51, Avenida Tombeur de Tabora – C.P. 720 LÉOPOLDVILLE PRIMEIRA CONFERÊNCIA NACIONAL DO MPLA COMUNICADO A Primeira Conferência Nacional do MPLA realizada em Léopoldville nos dias 1, 2 e 3 de Dezembro de 1962, reuniu 70 delegados em representação dos Comités de Acção, do Exército Popular de Libertação de Angola, dos Trabalhadores, da Organização das Mulheres, da Juventude e do Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados. O Comité Preparatório elaborou três projectos de relatórios que foram discutidos em comissões. A Primeira Conferência Nacional, depois de um estudo profundo destes documentos, redefiniu a linha política do MPLA, adoptou um programa de acção e refundiu as estruturas do MPLA. A análise dos diversos aspectos do problema angolano demonstrou o carácter bárbaro e anacrónico da dominação colonial portuguesa, o espírito insurreccional do povo angolano e a manifestação das reformas empreendidas pelo governo português. No plano internacional, a luta do povo angolano encontra junto dos governos africanos e no mundo uma simpatia crescente, enquanto que Portugal se vê cada vez mais isolado e se agravam as contradições entre os países da OTAN que apoiam o governo fascista de Salazar. A Conferência condenou vigorosamente o tribalismo, o regionalismo, o sectarismo, a intolerância racial e religiosa. A Conferência insistiu na salvaguarda da unidade nacional e na integridade do território angolano, tal como é definido pela ONU na sua resolução sobre as fronteiras africanas. A Primeira Conferência Nacional aprovou as condições mínimas para a abertura duma eventual negociação com o governo português, condições que comportam especialmente o reconhecimento do direito do povo angolano à autodeterminação e à independência, a libertação dos prisioneiros políticos, a retirada de todas as forças armadas para a sua base de origem, as garantias para o exercício das liberdades fundamentais e a fixação da data de acesso de Angola à independência. O MPLA não confunde a luta travada contra o colonialismo português com o povo português. Assim, encoraja a oposição democrática portuguesa no seu combate para o derrubamento do regime fascista de Salazar, desde que a oposição se manifeste por actos em favor do direito do povo angolano à autodeterminação e à independência. Do mesmo modo, o MPLA encoraja a acção dos grupos políticos dirigidos por Portugueses progressistas nascidos em Angola, que a exemplo de alguns, visam neutralizar o apoio que os colonos concedem às forças de repressão e se dispõem a bater-se pelos mesmos objectivos dos movimentos nacionalistas angolanos. A Conferência reafirmou o neutralismo positivo que o MPLA pratica em política exterior, declarando que nenhum país ou nenhuma organização possui o monopólio de ajuda à luta de libertação do povo angolano. A este respeito, a Conferência adoptou os cinco princípios que devem orientar a política exterior do MPLA: 1. Criação duma diplomacia militante que, pelo seu carácter e pelos métodos utilizados seja o reflexo da organização político-militar; 2. Coordenação da acção directa com os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas, agrupados no seio da CONCP. 3. Reforço das alianças africanas com os movimentos dos países dependentes, em particular com os do centro e do sul da África. Alargamento da presença do MPLA nos países africanos independentes. 4. Reafirmação do não-alinhamento sobre a política dos blocos. 5. Internacionalização do problema angolano. A linha política adoptada pela Conferência Nacional clarificou o conteúdo da luta de libertação do povo angolano que persiste na defesa dos interesses das massas camponesas, na base da aliança de todas as forças produtivas da nação. A Primeira Conferência Nacional recomendou a realização duma reunião política no quadro da PAFMECSA entre os movimentos nacionalistas da África Central, Oriental, do Sul e de Angola. Partindo duma crítica às actividades do passado, a Primeira Conferência Nacional adoptou um novo programa de acção, baseado no princípio essencial que consagra o MPLA como um Movimento de massas e revolucionário. Tendo em conta a urgência duma nova planificação do trabalho de organização em todos os sectores, a Conferência Nacional recomendou que as preocupações imediatas da direcção do MPLA sejam sobretudo dirigidas para a instalação orgânica do MPLA no conjunto do território nacional, em particular nos meios rurais; – elevação do espírito insurreccional do povo angolano; – criação entre a população civil dos grupos de auto-defesa; – desenvolvimento duma campanha de esclarecimento junto do exército e do povo portugueses; – elevação do nível da luta armada; – desenvolvimento da consciência nacional; – criação dum comité permanente pro-unidade que tome iniciativas no sentido de promover o espírito unitário entre as organizações nacionalistas angolanas. A Conferência Nacional definiu igualmente as linhas gerais duma vasta acção a empreender no interior de Angola e no território congolês junto dos refugiados nos domínios da assistência médica, escolar, profissional, e junto dos emigrados no seio das organizações de massas (sindicatos, juventude, mulheres) e no exterior. Foi considerado necessário dotar o MPLA duma estrutura que responda às exigências que resultam da dinâmica da luta de libertação nacional. A Conferência Nacional aprovou as recomendações seguintes da terceira comissão: 1. Adopção duma estrutura simples e global, tendo em conta os domínios da acção interior e exterior; 2. Generalização duma disciplina militar a todos os escalões dos organismos do MPLA de acordo com o estabelecimento duma síntese entre o político e o militar; 3. Primazia do interior sobre o exterior; 4. Exercício duma direcção colectiva, baseada na responsabilidade individual. 5. Prática efectiva do princípio do centralismo democrático. Eis a nova estrutura orgânica do MPLA: 1. O conselho político nacional, instância suprema, constituído por 70 delegados, representantes directos da massa militante. 10 membros eleitos pelo CPN assegurarão a direcção da comissão de controle. 2. O comité director constituído por um Presidente, 2 vice-presidentes e os chefes dos departamentos – da guerra; – das relações exteriores; – da organização e quadros; – da informação; – dos assuntos sociais; – das finanças e economia; – da segurança. 3. O comité político-militar, único detentor dos segredos naturais do Movimento é formado por: Presidente; 1º Vice-Presidente; os chefes dos departamentos da guerra, das relações exteriores, da organização e quadros, das finanças e economia. Os departamentos dividem-se em sub-departamentos, secções e subsecções. * * * * * A Primeira Conferência Nacional elegeu o novo Comité Director e alargou a composição [do] Presidium de Honra. COMITÉ DIRECTOR DR. AGOSTINHO NETO – Presidente MATIAS MIGUÉIS – 1º Vice-Presidente REV. DOMINGOS DA SILVA – 2º Vice-Presidente MANUEL LIMA – Chefe do departamento da Guerra MÁRIO DE ANDRADE – Chefe do departamento das Relações Exteriores LÚCIO LARA – Chefe do departamento de Organização e Quadros ANÍBAL DE MELO – Chefe do departamento de Informação DEOLINDA RODRIGUES – Chefe do departamento dos Assuntos Sociais DESIDÉRIO DA GRAÇA – Chefe do departamento das Finanças e Economia HENRIQUE CARREIRA – Chefe do departamento da Segurança COMITÉ POLÍTICO MILITAR O presidente O 1º Vice-Presidente Os chefes dos departamentos – da Guerra – das Relações Exteriores – da Organização e Quadros – das Finanças e Economia O Rev. P. Joaquim Pinto de Andrade, detido em Portugal no Forte de Caxias, foi eleito Presidente de Honra do MPLA por aclamação. Léopoldville, 5 de Dezembro de 1962 [carimbo do CD] O COMITÉ DIRECTOR
Comunicado do Comité Director do MPLA sobre a Conferência Nacional (Léopoldville)