Discurso de abertura da Conferência Nac. por Mário de Andrade

Cota
0043.000.012
Tipologia
Discurso
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Mário Pinto de Andrade - Presidente do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Dez 1962
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

PRIMEIRA CONFERÊNCIA NACIONAL DO MPLA

DISCURSO DE ABERTURA

Camaradas Militantes do MPLA
A realização da primeira Conferência Nacional do MPLA, é um acontecimento de capital importância para o futuro da nossa organização.
Quero exprimir as minhas mais fraternais saudações aos corajosos militantes que, a despeito da repressão colonial, aqui vieram do interior do nosso país, para marcar com a sua presença o carácter altamente representativo desta conferência. Apresento as boas vindas a todos os delegados e manifesto-lhes a nossa confiança à sua devoção à causa nacional que se traduzirá uma vez mais por uma contribuição positiva à boa marcha dos nossos trabalhos.
Camaradas Militantes do MPLA,
Nesta etapa decisiva da nossa luta de libertação nacional, o MPLA entende estar à altura das suas imensas responsabilidades. Combatemos um aparelho de repressão colonial aperfeiçoado durante três décadas de fascismo que tem como objectivo ­fundamental da sua política a exterminação das massas angolanas.
Não obstante, não deixamos de aproveitar dos erros dos nossos inimigos, que se recusam obstinadamente a orientar-se para uma solução negociada do conflito secular que opõe o povo angolano à administração colonial portuguesa.
Eis porque é sempre necessário tomar iniciativas em matéria de política internacional, e garantir o apoio de todos os países e organizações, que pela sua acção isolem o governo português na cena mundial. Nós beneficiamos de uma simpatia cada vez mais crescente de todos aqueles que consideram que o regime de Salazar quer fazer regressar a marcha da roda da História.
O balanço das vitórias no plano da luta contra o colonialismo português é muito importante. Estas vitórias resultam do facto de nos opormos a um sistema de dominação colonial defendido por um regime fascista que atravessa uma crise interna e que é alvo da reprovação da consciência internacional.
O papel a desempenhar pelos países africanos independentes é decisivo no quadro das nossas alianças as mais directas e mais naturais. Neste aspecto, o caso da Argélia tem hoje um significado muito particular. Foi BEN BELLA, ele próprio, que numa mensagem dirigida aos militantes do MPLA afirmou a determinação da República Argelina de ajudar a luta armada que nós sustentamos em Angola contra o colonialismo português, com o envio de voluntários e de técnicos.
Estejamos pois à altura da solidariedade activa que a África Independente, os países que sofreram os horrores da dominação colonial e os milhares de amigos da nossa causa dispersos pelo mundo, manifestam a nosso respeito.
Tudo isso porém, não deve fazer-nos esquecer os nossos deveres, as nossas ­insuficiências e responsabilidades, como movimento político.
A unidade das forças nacionalistas continua a ser o factor determinante do triunfo rápido das aspirações do povo angolano. Na medida em que combatemos o espírito de concorrência dentro do nacionalismo angolano e damos a palavra às massas populares, nós pensamos que estamos na boa via para a busca da unidade.
Detenhamo-nos porém, um instante, na longa caminhada da nossa luta de libertação nacional, para tomar fôlego, traçar o balanço das vitórias e dos fracassos do nosso passado, fazer o inventário de todos os nossos recursos nos diversos campos de acção, formular, da análise destes dados, as perspectivas que se abram ao futuro do ­nacionalismo angolano.
O Comité Preparatório da Conferência Nacional decidiu propor-vos a discussão da linha política e do programa de acção do MPLA. Vamos adoptar conjuntamente princípios claros susceptíveis de formar o corpo duma doutrina política, sem sectarismo, que aclare toda a acção militante.
A Conferência deve debruçar-se sobre uma reforma das estruturas do MPLA, em todos os escalões da organização, pois pensamos que as estruturas actuais já não estão adequadas às mutações surgidas na situação movediça do contexto angolano.
Bem entendido, é preciso realizar desde já no nosso Movimento a síntese do político e do militar. Eu sei quão ansiosos estais em ver triunfar a primazia do interior sobre o exterior. Estejam certos que caminhamos para uma instalação orgânica do MPLA sobre todo o território nacional, e que os órgãos do Movimento em cada localidade serão os núcleos do poder revolucionário.
Na discussão desta ordem de trabalho, vós, delegados do EPLA, da OMA, da JMPLA, do CVAAR, dos Comités de Acção, devereis intervir livremente e democraticamente, para que a linha política e [o] programa de acção adoptados pela I Conferência Nacional, constituam de facto a expressão da vontade de todos os militantes do MPLA.
Daremos assim a prova da nossa maturidade política.
Aqueles que forem eleitos para os postos da nova direcção político-militar do Movimento, vão arcar com a grande responsabilidade de apressar o triunfo das ­aspirações populares à Independência Nacional.
Não haverá uma concessão de independência ao povo angolano. Ninguém dará a independência ao nosso povo.
A independência é nosso trabalho quotidiano, realizado pelo prosseguimento da luta armada, esclarecido por uma linha política.
Se nós conseguirmos mobilizar eficazmente as massas angolanas à volta do objectivo bem definido da conquista da independência nacional, se o MPLA desenvolver plenamente o seu papel de vanguarda, então, obrigaremos a recuar o governo que nos faz a guerra e destruiremos da mesma maneira todo o sistema da exploração colonial.
O Colonialismo Português está na agonia mas, Camaradas militantes do MPLA, não pensem nunca receber a independência de Lisboa.
Qualquer que seja a importância da ajuda que possamos obter de países amigos – e eles são numerosos –, qualquer que seja o peso moral e político da ONU, ninguém fará a libertação de Angola em nosso lugar.
Angola é o único país em África que está numa situação de luta armada aberta e organizada contra a opressão colonial.
Este facto, longe de nos regozijar, deve jogar como factor duma campanha para sensibilizar em favor da nossa luta a opinião pública internacional.
Com o pensamento na memória de todas as vítimas da repressão colonialista portuguesa, com o pensamento em todos os prisioneiros políticos angolanos que afrontam os carrascos de Salazar, a I Conferência Nacional não poderá trair os objectivos pelos quais se bate o povo angolano.

Camaradas Militantes do MPLA,
Trabalhemos de molde para que a I Conferência Nacional, seja a Conferência da Vitória do MPLA sobre o colonialismo português.

VITÓRIA OU MORTE

Léopoldville, 1 de Dezembro de 1962 MÁRIO DE ANDRADE
Presidente do MPLA

Conferência Nacional do MPLA, de 1 a 3 de Dezembro de 1962 (Léopoldville) - Discurso de abertura da Conferência Nacional por Mário Pinto de Andrade

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados