Carta-circular de Graça Tavares aos «militantes do MPLA»

 Graça Silva Tavares 1º Secretário do MPLA 51, Av. Tombeur de Tabora LÉOPOLDVILLE CARTA-CIRCULAR Aos militantes do MPLA Tendo sido hoje, dia 28 de Novembro de 1962, difundido um comunicado ­autenticado com o carimbo do Comité Director do MPLA, no qual a pessoa do Viriato da Cruz, ex-Secretário Geral (que em 25 de Maio do corrente ano, por amor à causa nacional e o desejo de uma independência rápida e verdadeira para Angola, deixou o Comité Director) e a minha própria pessoa, são atacados como tendo elaborado e divulgado um documento considerado como “... um aten­tado aos princípios sagrados de Unidade e de coesão nacional por que luta o MPLA e traduz-se por uma actividade fraccional no seio do Movimento”, sinto-me na obrigação de levar ao conhecimento dos militantes os seguintes pontos: – Pouco depois da chegada do Dr. Agostinho Neto, “Presidente de Honra” do MPLA, nasceu uma crise profunda de ordem política entre os (diri­gen­tes) principais responsáveis pelos destinos do MPLA, crise essa já hoje do domínio do público, mas cujas razões fundamentais houve sempre o cuidado de as guardar num círculo restrito. – A saída do Viriato da Cruz de Léopoldville, foi motivada pelas causas que este responsável do MPLA apresenta na sua carta aberta e em outras que dirigiu ao Comité Director e ao “grupo ligado por uma só ideia força”. – A recusa sistemática pelos dirigentes Mário de Andrade, Agostinho Neto e do responsável Eduardo dos Santos, de uma discussão aberta e leal no seio das ­organizações legalmente constituídas no MPLA, sobre as razões pro­fundas da crise, a falta de independência e de coragem moral de certos mili­tantes conhecedores dos elementos da crise, de se pronunciarem, a sabotagem que inteligentemente se vinha fazendo aos trabalhos preparatórios da Conferência Nacional, levaram Viriato da Cruz a utilizar o único meio ao seu al­cance, escrever uma carta para alertar os militantes honestos sobre os méto­dos anti-democráticos e a actividade fraccional desenvolvidos por alguns diri­gentes. – A carta aberta dirigida aos militantes do MPLA e do EPLA não tem o fim que o comunica­do lhe atribui mas somente o de encontrar junto dos militantes uma análise séria da crise e justiça honesta e digna. – Viriato da Cruz ao escrever esta carta fê-lo com mágoa, sentiu pro­fun­damente o desprezo que os seus ex-colegas de direcção lhe haviam votado, porque como os militantes sabem este dirigente da primeira hora da revolução angolana, deu sempre em toda sua vida grandes provas de honestidade, cora­gem, sacri­fí­cio, dinamismo, demonstra­das não só em palavras mas em obras. Sem discussão o MPLA dirigido há muito por V. da Cruz apresenta um saldo positivo na luta de libertação nacional. – Solidarizo-me com a atitude do Viriato da Cruz e declaro que na au­sên­cia deste estou pronto a discutir estes pontos com qualquer militante do MPLA. – Esclareço que só existe no espírito dos promotores da crise, dos oportunistas da última hora, que a carta constitui uma actividade fraccional no seio do Movimento. – Esclareço mais que, este comunicado não foi obra da vontade unânime do Comité Director, pois que para sua elaboração a votação da reunião do CD foi de 6 votos a favor contra 5 e a sua redacção só apoiada por 3 votos con­tra 2! – Apelo para todos os militantes honestos e aos verdadeiros angolanos que não tomem muito a sério a redacção do infeliz comunicado, mas se esfor­cem por conhecer as verdadeiras causas e as consequências futuras desta crise o que lhes permitirá no futuro maior vigilância na aplicação dos princípios da linha política traçada pelo MPLA. Léopoldville, 28 de Novembro de 1962 Graça da Silva Tavares [com assinatura] 1º Secretário do MPLA