Carta de Viriato da Cruz aos «Camaradas militantes do MPLA e do EPLA»

Cota
0042.000.014
Tipologia
Correspondência
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
MPLA e EPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

 Aos camaradas militantes do MPLA e do EPLA Ao partir de Léopoldville cumpro o dever de informar aos militantes do MPLA o seguinte: Parto de Léopoldville, mas não abandono o MPLA nem a luta pela libertação do povo de Angola. 1 – Tenho estado em desacordo com alguns dirigentes do Movimento sobre o seguinte: – Não aceito a teoria da inevitabilidade do neocolonialismo em Ango­la, teoria que alguns dirigen­tes vêm defendendo. Essa teoria, que afirma que não pode­mos evitar o neocolonialismo em Angola, desarma o espírito combativo do Povo, atraiçoa o grande sacrifício, em vidas e em sangue, que o Povo vem fa­zendo; abre as portas do nosso Movimento a uma política sem princípios, opor­tunista, e de falta de escrúpulos e carácter. – Não aceito a política de divisão que um grupo de dirigen­tes e de militantes vem fazendo dentro do Movimento, desde há dois meses. O MPLA, que lutou sempre sinceramen­te para [a] união de todo o nacionalismo angolano, deve­rá continuar a dar, ele próprio, o exemplo da união dos angola­nos. – Não aceito a política de perseguição e de afastamento de militantes da secção política e da secção militar do MPLA. Essa política está errada, é odio­sa, é policial. Essa política, que alguns dirigentes vêm fazendo ilegal­men­te e arbitrariamente, baseia-se na vontade de um grupo que pretende impor ao Movi­mento a sua política. – Não aceito as manobras que certos militantes vêm fazendo para impor ao Movimento uma direcção cujo núcleo principal seja um grupo de pessoas que fizeram longa amizade na Casa dos Estudantes do Império. – Não aceito que não se condene a intriga e a calúnia dentro do nosso Movimento. Nem aceito que os intriguistas e os caluniadores continuem a rece­ber o apoio moral e material do Movimento, quando, por outro lado, esse apoio é negado a militantes honestos e trabalhadores. – Não aceito a ambição exagerada de um grupo de militantes da vigésima hora. – Não aceito o culto da personalidade dentro do Movimento. Cada diri­gente deve conquis­tar a confian­ça e o respeito dos militantes, na base do seu valor pessoal e real, na medida em que ele é fiel à linha política do Movi­mento, na medida em que ele se dedica ao trabalho sem demagogia, e na medida em que ele respeita e faz respeitar os princípios do nosso Movimento. No MPLA houve sempre lugar e deverá continuar a haver lugar para todos os nacionalistas angolanos honestos. O MPLA foi fundado e construído precisa­mente para esses nacionalistas honestos que pretendem dedicar-se sinceramen­te à libertação e à defesa dos interesses dos milhões de homens e de mulheres hu­mildes de Angola. Peço a todos os militantes que permaneçam dentro do Movimento. É absolutamente necessário realizar-se, brevemente, um Congresso do MPLA (ou uma Conferência Nacional, como se vem dizendo). Esse Congresso deverá ser preparado por um Comité Preparatório largo, composto por militantes que representem os diferentes problemas do Povo que deverão ser tratados no Congresso. Não aceito um Comité Preparatório com uma maioria de amigos que se constituíram em grupo dentro do Movimento. Estou pronto a curvar-me perante as decisões de um Congresso represen­tativo da massa de militantes do MPLA, um Congresso preparado honestamente por um Comité Preparatório representativo dos diferentes problemas do Povo, mas não aceito a política que um grupo de militantes da vigésima hora pretende impor arrogantemente ao nosso Movimento. Estou confiante em que a inteligência, a razão, o bom-senso e um ver­dadeiro ­espírito revolucioná­rio triunfarão dentro em breve no nosso Movimen­to. Que cada militante lute por um MPLA unido, forte e fiel aos interesses de milhões de homens humildes de Angola! Léopoldville, 15 de Novembro de 1962 ass. Viriato da Cruz COMITÉ PREPARATÓRIO Todo o 1º Comité Director + Todo o 2º Comité Director + Boal; Videira; Viana; Boavida; Rocha; Pestana; Rui de Carvalho; Lima; Condesse; Ramos + 2 do EPLA + 3 sindicalistas Amaro; Borges; Pimentel O Comité Preparatório deverá funcionar como uma Assembleia preparató­ria.

Cópia da carta de Viriato da Cruz aos «Camaradas militantes do MPLA e do EPLA», tendo anexo lista do Comité Preparatório (Léopoldville)

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