Plano de acção «Ideia Força»

Cota
0038.000.024
Tipologia
Plano
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
5
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

 PLANO DE ACÇÃO A crise actual é mais uma crise de vontade, de alma revolucionária, do que uma crise por falta de organismos devidamente eleitos ou nomeados. Por mais órgãos estatutários que se criem, nenhum órgão poderá desenvolver trabalho útil já que, aos seus membros constituintes, faltará a coragem, camaradagem e disciplina, valores fundamentais que unicamente se ganham em esforço colectivo dentro dum grupo “ligado por uma só ideia força”. Entre nós, a ideia força deve ser esta: “ VITÓRIA OU MORTE sobre o PROGRAMA DO MPLA!”. Isto implica da parte de todos uma acção, no sentido de realizarmos, urgentemente, as condições mínimas que nos permitirão “ENTRAR EM ANGOLA COM OS LÍDERES À CABEÇA” – na arrancada inicial dum movimento revolucionário, a posição dos líderes não é na retaguarda, como acontece com os generais de escola, no exército regular. Entre nós os líderes deverão estar na vanguarda, no front da luta armada, até que o seu exemplo e a sua abnegação esbraseiem ainda mais a alma ardente do povo, transformando a simples revolta numa verdadeira revolução. Na fase difícil que atravessamos – fase de desconfiança e intolerância entre os responsáveis directos pela condução da luta – só uma acção iniciada pelos militantes pode assegurar a formação do “grupo ligado por uma só ideia força” e evitar exclusivos injustos, lançados contra qualquer dos camaradas que até aqui comandaram a nossa acção nacionalista. É preciso evitar que as dissenções entre os dirigentes do Movimento se radicalizem entre a massa dos militantes. O Movimento não é obra de um só homem, nem propriedade privada de um mínimo de angolanos. O Movimento criou-se em atenção a um povo e, só nessa medida, ele pode nascer, crescer e ser aceite, no plano nacional e internacional. Ligados por uma só ideia força, são os militantes que devem elaborar um plano de acção imediata, afastando do seu caminho os inúteis e esmagando resolutamente os prejudiciais. Mas, a acção que se pretende não pode partir do zero. Trata-se de uma acção de militantes dum movimento político, dinâmico e com saldo positivo na luta de libertação nacional. Há pois que agir, dentro dos organismos existentes, beneficiando da experiência vivida e entrando em linha de conta com as soluções a dar dia a dia, aos problemas correntes do movimento, muitos dos quais são de uma importância e urgência fundamentais. A experiência vivida impõe que, no Movimento, os responsáveis sejam eleitos pela grande massa e que as suas funções sejam bem definidas, dentro de estruturas novas e à altura da nova fase de luta em que estamos empenhados. Para isso, foi criado um Comité Preparatório da Conferência Nacional. É pois dentro desse Comité Preparatório que os militantes “ligados por uma só ideia força” devem agir, discutindo o plano de acção imediata e impedindo, pela sua vigilância e independência política, que as dissensões entre os dirigentes mantenham o movimento na paralisia perigosa em que hoje se encontra. O primeiro passo a dar, consiste em exigir dos membros que integram o Comité Preparatório, o alargamento do seu Plenário. A segunda medida a adoptar, consiste em exigir, de todos sem excepção, a realização de um trabalho intenso, numa cadência que se não conhece ainda den­tro dos hábitos do movimento. Isto é: “Trabalhar vinte e quatro sobre vinte e quatro horas no dia”. A terceira medida a adoptar, consiste em fixar invariavelmente, um prazo dentro do qual cada encargo será impreterivelmente satisfeito. A quarta medida a adoptar, consiste em manter viva a vigilância e a independência política de cada militante, de modo a não se hesitar no controle do trabalho individual, “afastando os inúteis e esmagando os prejudiciais”. A quinta medida a adoptar, consiste em exigir de cada um, a preparação cui­dadosa dos trabalhos de cada reunião, evitando-se assim os equívocos e as per­das de tempo em que se traduzem as reuniões actuais dentro do movimento. A sexta medida a adoptar, consiste na elaboração e realização de um plano que responda às nossas necessidades imediatas, quer as de dentro do movimento quer as de fora, relacionadas com a evolução da luta de libertação na­cional. Um projecto de plano poderá ser este: 1 – Linha política: – Uma vez que a acção política se condensa na expressão “VITÓRIA OU MORTE sobre o PROGRAMA DO MPLA”, elabore-se um manifesto ou simples declaração onde se destaquem certas questões que inquietam os militantes, o povo e os estrangeiros. Assim: O MPLA como movimento de libertação nacional/Unidade. – Objectivo imediato (independência nacional) – Integridade territorial – Democracia/ Trabalho/ Educação/ Assistência/ Terra/ Liberdades Individuais Não discriminação. – Investimentos nacionais e estrangeiros – Neutralismo positivo/ONU. – Posição frente ao povo português – Luta armada – Guerra de Angola/guerra imposta – Carácter humano da nossa guerra/guerra de todo o povo. – Síntese do político com o militar. – Guerra até atingirmos o objectivo imediato/ possibilidade de negociações. 2 – Acção imediata e urgente com vista à entrada em Angola: – Refugiados (colaboração do CVAAR e EPLA) – Politização nas fronteiras – Enquadramento nas fronteiras – Assistência nas fronteiras ­– Emigrados – Politização – Enquadramento – Colecta de contribuição à luta – EPLA (a realizar pelos membros do CP e membros do EPLA) – Destruir a ideia de exército separado do corpo político. Des­truir a ideia de que o exército pode em algum momento, solucionar o complexo problema nacional. – Continuar a realização dos cursos políticos. – Convivência dos militantes “ligados por uma só ideia força”, com os actuais militares. – Plano de movimentação do actual exército em direcção às fronteiras. – Apetrechamento material do actual exército. – Planos de entrada no País do actual exército / planos para entrada futura dos quadros que vão militarizar-se. – Planos de acção política e militar a realizar no interior do país, até a entrada dos quadros que vão treinar-se. – Relações estrangeiras: – Assegurar no estrangeiro o êxito da acção interna prevista – Aguentar por meio de acção diplomática intensa, todo o tempo necessário à recuperação militar que se pretende. 3 – Estrutura: – Estrutura dominada por espírito democrático e revolucionário. – Estrutura simples, permitindo fácil adaptação a situações novas e entrando em linha de conta com a falta de quadros numerosos num movimento. – Estrutura global, única capaz de satisfazer três tipos de acção/acção dentro do país/dentro do Congo/no exterior. – A estrutura dentro do país caracterizadamente militar [à mão por L. Lara: “político-militar (med, polit.)”]. O desenrolar dos acontecimentos dentro de Angola guiará o aperfeiçoamento poste­rior a introduzir nessa estrutura. – A direcção geral no interior do país. – No Congo ficam os órgãos necessários à acção que se pretende, subor­dinados ao interior. – Fora do Congo, uma rede de acção diplomática e os núcleos de apoio à luta nacional. 4 – Eleições: – Dirigentes eleitos segundo um critério de capacidade e alma revolu­cionária. – Dirigentes escolhidos dentre o grupo “ligado por uma só ideia força” o qual no momento das eleições já abrangerá todos aqueles que lutam pela ­realização da justiça e bem-estar moral e material do POVO ANGO­LANO. – Em princípio, todos os dirigentes terão de cumprir o dever de guerra na luta pela libertação nacional. * * * * * Em menos de três semanas o Comité Preparatório poderá efectivar todo o trabalho que nos propomos. Mas para que todo este plano se realize é fundamental que todos os quadros válidos do movimento, se ponham em marcha. Há que fazer um sacrifício inicial. Os militantes que estão engajados na sua vida particular devem desengajar-se. [à mão por L. Lara: “a estrutura in loco”] Em consequência, os militantes que constituem o grupo “ligado por uma só ideia força”, devem aceitar solidariamente, a responsabilidade de cuidar pela sorte das famílias daqueles camaradas. E o movimento que se quer restaurado e forte deve ser o primeiro a solidarizar-se com a decisão do tal grupo. O Comité Preparatório em colaboração com os camaradas que estão à testa do movimento, poderá encarregar-se de solucionar de urgência o problema (a tí­tulo provisório, para o tempo que correrá até a partida para os campos de treino e definitivamente para a fase que virá depois desse momento). Movimento Popular de Libertação de Angola aos 24 de Outubro de 1962

Plano de acção «Ideia Força»

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