Actas da reunião do Comité Director do MPLA

Cota
0034.000.036
Tipologia
Actas
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
Data
Mai 1962
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
12
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

ACTA DE REUNIÃO DO COMITÉ DIRECTOR Às 21 horas do dia 22 de Maio de 1962, estando presentes os membros do Comité Director: Mário de Andrade, Matias Miguéis, Viriato da Cruz, Eduardo dos Santos, Luís de Azevedo Júnior e também presentes o Secretário Político João Vieira Lopes e o Secretário Administrativo Graça da Silva Tavares, foi pelo presidente Mário de Andrade apresenta[da] a seguinte ordem do dia: 1) Continuação da remodelação do Comité Director; 2) Comissão da ONU; 3) Equipas das Secções do Secretariado. Começa a sessão: EDUARDO DOS SANTOS: Aceito os princípios da remodelação. Falta-nos simplesmente lançar as bases. Sou de opinião que o novo comité deve se orientar nos mesmos princípios anteriores e como membros avanço os seguin­tes: Mário de Andrade – ­Presidente, Matias Miguéis – Vice-Presidente, Luís de Azevedo Júnior, Hugo de Menezes, Graça Tavares, João Vieira Lopes, Desidério da Graça, Deolinda de Almeida, José Domingos Bernardo, Rev. Domingos Francisco da Silva, Georges de Freitas, José Miguel e João Gonçalves Benedito. Para o Conselho da Guerra proponho os ­seguintes: Mário de Andrade, Luiz de Azevedo Júnior, Graça Tavares, José Miguel e Matias Miguéis (este enquanto estiver em Léopoldville). Para o Secretariado: 1º Secretário – Graça Tavares; 2º Secretário – Vieira Lopes e 3º Secretário – Desidério da Graça. Em particular defendo a posição do Graça nestas funções devido às que já tem desempe­nhado há meses atrás. Para a Direcção Política: Matias Miguéis e José Miguel. Para as Relações Exteriores: Mário de Andrade, Luiz de Azevedo, Hugo de Menezes e Desidério. Secção de Segurança: Contra-espionagem – José Pimentel; Espionagem por preencher. Secções do Secretariado: CVAAR – Rev. Domingos da Silva e Deolinda de Almeida; Informação e Propaganda – José Domingos Bernardo; Finanças – Graça Tavares; Quadros – Domingos Tando; Organização – José Amaro; Juventude – Georges de Freitas. LUIZ DE AZEVEDO: Penso não ter mais nada a dizer em virtude de ter dado já a sua opinião. Só resta aceitar a divisão de lugares. Só poderei dizer mais tarde quanto às funções determinadas. MATIAS MIGUÉIS: Estava a pensar devidamente a questão da remodelação como é feita por uma questão de estratégia. Assim o CD fica vazio. Se pensava de uma maneira passei a pensar de outra. Sou de opinião do alargamento do Comité Director mas deixando estar o Viriato e o Santos. Razões: Depois de fazermos a remodelação as coisas não andarão. Julgo que atravessaremos um período de inércia até que as coisas mudem plenamente. Talvez a luta armada nos dê um teste. Só depois disso poderemos fazer esta mudança. Sabemos que todos que vêm aqui dizem que são da UPA ou do MPLA consoante os benefícios que recebem de um ou do outro. Sou portanto de opinião do alargamento do Comité Director mas mantendo-se os dois elementos, pois isso possibilitaria melhor engrenagem. Com o trabalho talvez se imponha às massas. Tenho os meus receios fundados ou infundados. Quanto aos nomes nós podemos indicar mais um ou dois para começarem [a] entrar em contacto com os serviços. Eu não conheço os indiví­duos mais capazes mas o Viriato é capaz de avançar. Temos de ir mais devagar. Quanto à questão de nomes do Secretariado: Graça Tavares, Vieira Lopes e Desidério da Graça estou de acordo. Quanto ao meu nome acho desnecessário noutros cargos porque julgo não poder assistir por muito mais tempo. Proponho que sejam ­aproveitados mais nomes. Estou de acordo com a indicação do Tando por muitas razões. VIRIATO DA CRUZ: Na lista apresentada pelo Eduardo falta o nome do Benedito. O Matias no Conselho de Guerra levanta o problema de não poder assistir à coisa. Acho que o problema que se põe é o Matias participar nas questões preparatórias. Até à entrada dele deve ser considerado como um elemento do Conselho de Segurança. Poderia não ser considerado como membro do Conselho da Guerra mas como titular e proponho o José Miguel devido aos seus conhecimentos técnicos. Ficaria portanto o Conselho de Guerra assim constituído: Mário, Graça e José Miguel. Questão do Desidério: Não devemos ver a questão com utopia. É necessário arranjar condições de estabilidade. Consta que vai a Rabat e o seu lugar de Presidente da Ugean seria incompa­tível com o de membro do Secretariado. Portanto não pode aceitar o cargo e ficar em Rabat. [O] Secretariado ficaria constituído pelo Graça, Vieira Lopes e Desidério. A Organização pelo Amaro. Segurança – contra-espiona­gem pelo Pimentel. Espionagem não vemos ainda ninguém. Relações Exteriores: Mário, Azevedo, Hugo. O Desidério seria bem pois que o José Domingos um lugar será suficiente para evitar desculpas na apresentação do trabalho. Quadros: Tando. Outro problema que o Matias levanta, diz que se está vendo o problema com um pouco de preconceito. Não me parece porque eu de qualquer modo espero garantia do meu trabalho. Julgo que não é preciso a minha inclusão no Comité Director uma vez que posso invocar como um direito de júri [de jure]. Eu poderei dar a minha opinião em todas as matérias. Se aparecer no C. Director a remode­lação perde o seu efeito. É preciso simplesmente que o CD se comprometa a considerá-lo porquanto do seu lado se compromete. Acho possível a criação de uma organização de formação de quadros e julgo portanto a altura de o fazer. Acho que com essa remodelação se encontrará uma solução deste problema. VIEIRA LOPES: Estamos aqui a tratar do caso como se tivéssemos aceite já a remodelação. Desde já afirmo não aceitar. Com a saída de três elementos assim de repente o grupo fica desfalcado. Mesmo com toda a ajuda. Por outro lado o Viriato e o Santos como dariam essa colaboração, por isso vejo a dificulda­de se não impossibilidade. Viriato interrompeu para dizer que estamos em presença dos nomes. VIEIRA LOPES: Faz considerações sobre os elementos anteriores do C. Director. Não aceito trabalhar nessas condições porque não acho humanamente aceitável. Vejo portanto, apenas o Azevedo e o Graça a trabalhar com os novos elementos uma vez que o Mário o Matias estarão quase sempre ausentes. Além do Graça propunha o José Domingos para o Secretariado, apoiado nas razões apresentadas pelo Viriato sobre o Desidério. Acho que o José Domingos desempenharia bem este papel. Conselho da Guerra: Para substituição do Santos, o Graça e para o de Viriato Matias. Foram indicados dois nomes novos que não me pronuncio. Lembro a organização anterior e a falta de cumprimento de alguns membros. Lembro a discussão há menos de 15 dias sobre a remodelação, acho que esta remodelação tornará o Comité muito leve. Abstenho-me de indicar nomes para as Secções. Quanto ao José Miguel e outros indicados concordo. GRAÇA TAVARES: Apoio a exposição do Matias porque nunca estivemos tão aproximados do mesmo pensamento como hoje. Esta é a ideia que venho defendendo desde o princípio. Defendo a manutenção no Comité Director dos elementos que pretendem sair ou garantias da sua colaboração. Mantenho a opinião que nesta altura torna-se impossível a sua substituição. VIRIATO DA CRUZ: Não existem os problemas que vocês apontam. A malta nunca terá melhor chance de colaborar do que aceitar esta remodelação. Sobre o Amaro e o José Miguel defendo que não podem ser postos de parte devido à sua formação política e militar. A malta está com muito receio, é normal. É preciso que se transmita a política. A saída de um membro impõe a questão de rodagem dos sucessores. Até porque estou disposto a trabalhar no quadro de organizações. Quanto ao Tando digo: há que formar o rapaz. Temos de reconhecer as qualidades mais salientes. MÁRIO DE ANDRADE: A discussão se alonga e não chegamos a nenhum acordo. Repete os argumen­tos do dia anterior. Diz: “É portanto preciso consignar no processo que embora a maioria tivesse opinado sobre a saída dos três elementos, contudo não houve unanimidade. Não acredito na viabilidade de colabo­ração de todos. Tirando os dois elementos que vinham exercendo actividades no seio do Comité Director, não acredito no trabalho, na rodagem, na capacidade, na vigilância dos elementos que entram. A transferência parece brutal. O Freitas estando indicado no CD não lhe foi distribuído cargo no seio do mesmo. VIRIATO DA CRUZ: O Freitas fica na Juventude. MÁRIO DE ANDRADE: Declaro que sendo a opinião da maioria aceito exercer o cargo, mas a priori indico que não deixarei de expor as questões como foram vistas. Quanto aos quadros das secções do Secretariado não me pronuncio por não conhecer bem todos os indivíduos. O futuro próximo nos dirá se vale a pena esta estratégia. Peço para passarmos a uma decisão nesta questão. LUIZ DE AZEVEDO: Penso que pelos nomes indicados considerando sobretudo o de Mário e Matias é impossível o Comité Director dar bons resultados. Não vejo pessoas que possam tomar decisões que pesem para a vida do movimento. Analiso os membros do CD sem preconceito e vejo que isto não marcha. Se ainda se pusesse o problema do Mário não se ausentar ou se ausentar por uma semana isto seria bom. Vimos o que se passou no passado, mesmo com o Santos presente foi difícil. Não vejo se será prejudicial ou vantajosa esta remodelação. Interessa-me a preparação de quadros. Só assim acho viável o afastamento deles. Dado as incompatibilidades que já conhecem, os nossos feitios eu com o Graça não dá possibilidades de colaborarmos no mesmo departamento, porque isto seria piorar as poucas ou nenhumas relações que por força das circunstâncias ainda existem. Recuso-me a colaborar num departamento em que figure Azevedo-Graça. MATIAS MIGUÉIS: Já dei o meu ponto de vista em tudo e mesmo nas pessoas. Tem que se tomar em consideração o problema do Azevedo quanto ao Graça porque se o Azevedo o declara é porque julga-se que já fez o balanço. EDUARDO DOS SANTOS: Não estão a tomar em consideração os elementos ­avançados. Não se põe o problema de se nós trabalharemos. O C. Director tem o direito de determinar. Eu não aceito o vosso ponto de vista porque acho que o CD tem todas as possibilidades. Quanto à incompatibilidade existente entre o Graça e o Azevedo não compreendo como dois indivíduos que lutam para o mesmo fim não possam colaborar. No entanto vou tentar arranjar uma forma. Vieira Lopes diz não aceitar o cargo para que foi designado; pois eu afirmo que é na aceitação dele onde há a garantia da continuidade. Analisou a seguir todos os cargos fazendo uma exposição sobre os indivíduos indicados para os mesmos. Julgo não poder ocupar cargo mas estou pronto a trabalhar e fazer tudo que o CD me encarregue. VIRIATO DA CRUZ: Foi visto que não pode ser já seguido o caminho que temos seguido até aqui. O único indivíduo que pode fazer uma política de destuição [sic] é o Freitas. O que diz o Vieira Lopes de que há-de haver uma baixa de rendimento é natural. Acho que o Secretariado está assegurado uma vez que o Graça e o Vieira Lopes aceitem contribuir e eu aceite colaborar com eles. Não ouvi dizer que estava de acordo com a saída destes elementos. Se pusermos em balança as possibilidades que teremos com esta remodelação só teremos muito a lucrar. Eu dedicarei muito mais tempo na formação de quadros. Deve ser visto o problema com realidade. Estou disposto a interessar-me no andamento de todas as secções. Não vejo um esforço da vossa parte para compreender o problema. Só vejo choros como se estivéssemos na presença de um cadáver. Incompatibilidades do Graça e Azevedo: Julgo que em todas as questões e até governos estas coisas acontecem e então neste caso troca-se o lugar do Graça pelo Vieira Lopes no Conselho da Guerra. Explicou a interdependência existente nos departamentos. O Matias até entrar em Angola é considerado membro do Conselho da Guerra. VIEIRA LOPES: Estava convencido que ontem o Azevedo e o Matias tendo defendido uma posição e hoje defendem outra [sic]. Não aceito a substituição de indivíduos só porque são mais claros. Toda a minha maneira de pensar se recusa a aceitar. Viriato interrompeu para esclarecer o Vieira Lopes. Mário também interrompeu para explicar as teses apresentadas pelo Viriato e o Santos. VIEIRA LOPES: Afirmo que isto não é aceitação é impraticável. A experiência demonstra que perde toda a autoridade uma vez que deixa de exercer o cargo. ­Assentemos neste princípio de aceitação de cargos. EDUARDO: Emendou dizendo que o CD tinha a possibilidade de requisitar. VIEIRA LOPES: Repete a baixa do nível do CD remodelado. Quanto à inclusão do Freitas na Juventude não acho próprio porque ele já não é jovem e isto levantaria problemas. É melhor pertencer a outra coisa. Respeitante às divergências do Graça e Azevedo não podemos passar por cima deles. De resto não vale a pena mais continuarmos. VIRIATO: Repito a falta de realismo neste assunto. Vocês fazem prevalecer os vossos pontos com unhas e dedos [dentes] mas não aceitam os nossos. Digo não aceito mudar a minha posição. Trabalho com preconceito de culpa porque [n]a minha situação de Secretário-Geral sinto-me frustrado e limitado, por isso temporariamente não aceito um cargo no Comité Director. Há é que resolver o assunto existente. Estou disposto a colaborar com vocês porque vocês também não dizem que aceitam a colaboração. Faço um apelo ao Vieira Lopes para que faça avançar a discussão. Pergunto se as outras pessoas aceitam a colaboração porque de outro modo então a sua colaboração era imposta pelo cargo. GRAÇA TAVARES: Há duas noites que vimos discutindo e não saímos do mesmo ponto. Eu já dei a minha opinião e pouco mais tenho a acrescentar. Há um problema novo que me toca directamente. Refiro-me sobre as divergências apontadas pelo Azevedo. Todos devem estar lembrados que o Azevedo em todas as reuniões levanta esta questão. Em todas as reuniões faz-se a crítica e autocrítica mas o assunto nunca fica resolvido. Confesso que não compreendo esta maneira de proceder e muito menos a pessoas que se dizem políticas. Contudo há na sua exposição uma parte que acho ser feliz. Nega a minha colaboração em qualquer departamento onde se encontre ele. Com este golpe livrou-me de um sarilho de pertencer ao Conselho da Guerra. Muito obrigado ao Azevedo por se ter lembrado com oportunismo. Julgo-me não ser ambicioso e bastava-me um lugar no Comité Director e mesmo sem nenhum para me sentir satisfeito uma vez que tivesse a oportunidade de humildemente servir a revolução e o meu país. Acontece que já fui destacado para mais de dois lugares. Isto é um alívio para mim deixar de pertencer ao Conselho da Guerra. Felicito-te Azevedo pela ideia. Por outro lado quero salientar a maneira estranha do Azevedo ver o problema. Julgo que em todo o CD seus departamentos e secções há uma interdependência e por mais que queira não vejo bem como dois indivíduos do mesmo comité não possam colaborar mesmo quando as suas formações e concepções são diferentes?! Só compreendo uma vez que um deles deixe de pertencer ao Comité. Será isto que o amigo Azevedo pretende? O momento é difícil para entrarmos em brigas inúteis. Se verdadeiramente somos revolucionários devemos mostrar com os nossos actos e palavras. Quanto à exposição do Viriato e do Santos uma vez que eles não mudam de posição, uma vez que eles se comprometem [a] dar sempre a sua colaboração eu aceito as propostas do Santos mas responsabilizando-os em qualquer momento se resultar baixa de nível prejudicial ao movimento e à revolução a que se propõe. Tenho confiança nos três elementos cessantes que eles continuarão a dar o seu maior esforço para a verdadeira independência Angolana. LUIZ DE AZEVEDO: Vejo a injustiça cometida e mantenho a palavra. Sei a minha posição de ontem. Faço um apelo ao C. Director cessante que em anexo exija a presença do Viriato e do Santos no CD sempre que seja necessário. Peço que assistam às reuniões do CD. Concordo com a remodelação. Quanto ao Graça repito que não sou amigo dele porque não sou mesmo. Não desejo mal dele mas sentia-me melhor estando ­separado do Graça. Proponho que seria melhor a retirada do meu nome do Conselho da Guerra em vez do Graça. MATIAS MIGUÉIS: Se alguns estão a compreender a razão da remodelação outros não. Discordo com a posição do Vieira Lopes. A questão de raça existe. Põe-se agora que a revolução, o movimento avance e então aqueles que não aceitam é porque não querem que o movimento avance. Vieira Lopes não aceita porque a situação não é própria. Aceitamos porque a situação é imposta. Eu pensava assim como o Vieira Lopes mas agora não é assim. É um facto real. Aceito adoptar esta táctica. Quanto ao Santos e Viriato queria continuar a discussão porque não sabia em que base deviam colaborar. A nós é que compete criarmos condições, se não temos confiança então a gente amarra-se. A questão de estudantes que separou mulatos e pretos é uma questão racial. VIRIATO DA CRUZ: V. Lopes diz não estar de acordo com o princípio racista. Esclareço que não é um princípio racista mas racial. É preciso modificar os princípios raciais controlando. MÁRIO DE ANDRADE: Agora tiro as conclusões: Não tomo a questão em termos de problemas raciais. É um problema do MPLA e as adesões populares. É neste momento como Presidente que [se] me impõe uma solução. Quanto ao Viriato e o Eduardo dizerem que não aceitam ocupar um cargo no CD. Dizem ainda que já há muito tinham a necessidade de fazer esta táctica. Eles devem tomar a responsabili­dade desta experiência. Tudo isto cabe a todos. Penso que eu não tenho mais direitos e deveres que o Viriato e o Eduardo. Acho que o Viriato e o Santos devem propor como ficam com a responsabilidade dos cargos mesmo sem o nome. Eu pessoalmente não aceito a remodelação com o afastamento desses dois. Aceito que os dois redijam aqui um compromisso. EDUARDO DOS SANTOS: O problema está avançado e agora temos de entrar noutra fase, de compro­misso. Acho que esse compromisso deve ser feito na altura da posse. Acho que pode ser redigido em comum e então deve ser levado ao Comité Director novo, se não cria desconfiança. VIRIATO DA CRUZ: Devem ser convocados o Graça, Deolinda, José Domingos e o Vieira Lopes e então depois de uma reunião conjunta com estes é que se toma este compromisso a fim de se encontrar uma nova fórmula. Ao falar com os outros membros não se deve utilizar a palavra “táctica” mas sim “concessão temporária ao povo” porque esta expressão dá maior confiança ao Povo. Proponho que se estude o problema do José Miguel e do Benedito. EDUARDO DOS SANTOS: Julgo que em face do telegrama do Lúcio é de considerar a preparação do Benedito no plano militar. Quanto ao Amaro e José Miguel proponho que se paguem dois bilhetes em 3a. classe de Conakry–Léo no dinheiro restante ao reembolso de passagens. MATIAS MIGUÉIS: Acho que é melhor virem os dois e os outros seguirem para Marrocos completar a preparação política. É indispensável. EDUARDO DOS SANTOS: É necessário jovens preparados politicamente. Acho que seria bom que os quatro elementos entrem com o Matias porque seria bom desenvolver o trabalho. MATIAS MIGUÉIS: Insiste que é a primeira vez que se tenta entrar e é por isso inconveniente a entrada de todos os quadros. EDUARDO DOS SANTOS: Concordo. VIRIATO DA CRUZ: Recomendo o pagamento de dois bilhetes de Conakry-Ponta Negra para Amaro e José Miguel e cinco bilhetes de Conakry-Casablanca para ­Benedito, Paulo, Borges, Luís Miguel e Pimentel. MÁRIO DE ANDRADE: Há mais coisas a tratar? VIRIATO DA CRUZ: Proponho a convocação da malta. MÁRIO DE ANDRADE: O V. Lopes cria um problema pois que ele insiste que não está de acordo, acho que isto não emperra o problema uma vez que os outros elementos estão de acordo, contudo sou de opinião que deve ser considerada esta posição do Vieira Lopes. EDUARDO DOS SANTOS: Recomendo que o Vieira Lopes escreva uma carta ao C. Director dizendo que não aceita o cargo. MÁRIO DE ANDRADE: Insistiu quanto ao Vieira Lopes. VIRIATO DA CRUZ: Fez referência às possibilidades do Vieira Lopes e à resposta que o Vieira Lopes dera anteriormente quanto ao valor da sua colaboração. VIEIRA LOPES: Insisto porque ninguém foi nomeado por competências. EDUARDO DOS SANTOS: Peço ao Vieira Lopes que reflicta bem o assunto. MATIAS MIGUÉIS: Ponho em dúvida a posição do Vieira Lopes. MÁRIO DE ANDRADE: Proponho que o nome do Vieira Lopes fique em suspenso. Foi deste modo encerrada a parte da remodelação do Comité Director. DISCUSSÃO SOBRE OS PLANOS: COMISSÃO ESPECIAL DA ONU: MÁRIO DE ANDRADE: Passa-se isto: Chegou hoje a Comissão Especial da ONU. Estivemos com o Presidente que dirige a Comissão e discutimos sobre a intervenção. Ele é de opinião que se deve apre­sentar um relatório por escrito (relatou os pontos em que se baseia o relatório), uma exposição oral na base do programa escrito, constituição de uma delegação com a identificação completa dos componentes e encher a sala do inquérito. Pediu uma lista dos outros movimentos fantoches. Amanhã às 11 horas faz uma conferência e às 12 almoça connosco. Na quinta-feira às 10 horas reunião com eles. Amanhã devemos redigir e preparar gente para as questões concretas: trabalho forçado, vivências da guerra, trabalho político, redacção de um texto. VIRIATO DA CRUZ: O Azevedo é capaz de conseguir 10 pessoas para depor: ­questões militares e trabalho forçado. Indica também o Matias para procurar gente. MÁRIO DE ANDRADE: Apelo para a comparência de todo o C. Director. O Azevedo é culpado do atraso do trabalho. VIRIATO DA CRUZ: Começo amanhã a trabalhar no relatório da ONU. MÁRIO DE ANDRADE: Peço que me dêem o esquema geral do relatório. VIRIATO DA CRUZ: O esquema deverá ser o seguinte: Reivindicações do Movimento, questões políticas, definição do nosso conteúdo individual, referência às várias comunidades, unidade territorial, aspecto humano angolano em face aos interesses económicos, religiosos e financeiros, concepção de um futuro governo independente, nossa posição em face de uma independência negociada, causas objectivas – 4 de Fevereiro, nossa luta política e armada, posição de Portugal frente à luta do Povo (massacres, repressão, as teses que os portugueses defendiam publicamente) – Problema da Paz Mundial: ameaça da paz, a posição dos países afro-asiáticos, citando alguns que nos ajudam, questão dos americanos, conflitos da fronteira, protesto da República do Congo Brazzaville a Portugal sobre a violação do espaço, bases portuguesas em Katanga, fornecimentos de armas da Rodésia a Portugal. MÁRIO DE ANDRADE: Proponho uma divisão do trabalho. Peço que se tirem fotocópias de todos os documentos que interessam. Proponho que se convoque uma reunião à noite para discussão do programa de acção incluídos na reunião o Rev. Silva, José Domingos, Vieira Lopes, Graça e Deolinda. AZEVEDO JÚNIOR: O Embaixador do Dahomey apareceu no bureau a pedir ­documentos e explica­ções sobre a situação do MPLA porque deseja satisfazer um pedido urgente do seu governo, mas que eu não forneci os documentos por não o conhecer. MÁRIO DE ANDRADE: Critica o Azevedo por não ter fornecido os documentos ESTÁ CONFORME Os presentes: * * * * * [DE 23 DE MAIO DE 1962] Às dezanove horas e quinze minutos do dia 23 de Maio de 1962, estando presentes os membros do Comité Director Cessante e alguns do Novo Comité: Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Eduardo dos Santos, Matias Miguéis, Luís de Azevedo, Rev. Domingos Francisco da Silva, Vieira Lopes, Deolinda de Almeida e Graça Tavares foram iniciados os seguintes trabalhos: MÁRIO DE ANDRADE: Explica as vantagens do inquérito da Comissão Especial da ONU e a visita do Comité ao CVAAR. Em seguida pergunta ao Azevedo se tinha incluído o Rev. Domingos da Silva no número de pessoas que iam depor. LUIZ DE AZEVEDO: Informa que foi nomeado um comité de 6 pessoas ­devidamente ensaiadas para responderem às perguntas que a Comissão venha a fazer. VIRIATO DA CRUZ tomou a palavra: A questão é que nós temos estado há cerca de um ano pensando num alargamento do Comité Director do MPLA. Por motivos de vária ordem, como a instalação do bureau, foi-se adiando. Hoje os trabalhos de ­instalação estão concluídos e conhecidas as pessoas e as suas capacidades e diante de novas tarefas que exigem novos quadros. Refiro-me à acção que se vai desempe­nhar de luta, tudo isto faz querer a remodelação e um alargamento. Nos últimos dias temos estado a discutir essa remodelação que o Mário fará um relato breve. MÁRIO DE ANDRADE: A reorganização geral é assim composta: Um Comité Director no topo. O Comité Director dirige e faz executar nos Departamentos e ­respectivas Secções. Os Departamentos do CD do MPLA são: o Secretariado composto de seis secções (Organização, Quadros, Informação, Finanças, CVAAR e Juventude); o Conselho da Guerra com o seu Estado-Maior Exterior e Interior e com as seguintes secções: (Ligações, Intendência, Operações, Reconhecimento e Treino); Direcção de Segurança com as secções de espionagem e contra-espionagem; Departamento de ­Relações Exteriores com uma Direcção para orientação da rede de bureaux no ­estrangeiro e uma secretaria para relacionar a ajuda exterior; Direcção Política Interior em ligação com a Secção de Informação com as seguintes sub-secções: (organização, quadros e propaganda). O Estado-Maior Exterior tem as seguintes sub-secções: Operações, Intendência e Ligações enquanto o Estado-Maior Interior tem as seguintes: Ligações, Intendên­cia, Operações, Reconhecimento e Treino. O Comité Director ficou definiti­vamente assim constituído: Mário de Andrade, Matias Miguéis, Hugo de Menezes, Luís de Azevedo Júnior, Graça da Silva Tavares, João Vieira Lopes, Desidério da Graça, Rev. Domingos ­Francisco da Silva, Deolinda R. de Almeida, José Bernardo Domingos, Georges Manteyas Freitas, João Gonçalves Benedito e José Miguel. É Presidente do Movimento Mário de Andrade e Vice-Presidente o Matias Miguéis. O Secretariado é composto de três secretários: Graça Tavares 1º secretário, Vieira Lopes 2º secretário e Desidério da Graça 3º secretário. Conselho de Guerra: Mário de Andrade, Luiz de Azevedo, por objecção do Azevedo o Graça é substituído por Vieira Lopes, José Miguel e temporariamente Matias Miguéis. Departamento de Relações Exteriores: Mário de Andrade, Luiz de Azevedo, Hugo de Menezes e Desidério da Graça. Direcção Política do Interior: Matias Miguéis e José Miguel. Segurança: José Pimentel – contra-espiona­gem. Espionagem por preencher. Secções de Secretariado: CVAAR: Rev. Domingos F. da Silva e Deolinda de Almeida; Informação: José Domingos; Finanças: Graça Tavares; Quadros: Domingos Tando; Organização: António Domingos Amaro; Juventude: Georges Freitas. REV. DOMINGOS FRANCISCO DA SILVA: Concordo com a remodelação e com as pessoas indica­das para os cargos. DEOLINDA DE ALMEIDA: Peço que me digam qual a actuação dos membros do CD que não figuram neste quadro. MÁRIO DE ANDRADE: É ao C. Director que compete reunir com os outros membros de modo a trazer maior benefício e desenvolvimento do trabalho. VIEIRA LOPES: Aceito simplesmente de trabalhar na secção de organização para a qual fui anteriormente nomeado. DEOLINDA DE ALMEIDA: Pergunta se o CVAAR é uma nova alínea ou já estava incluído? Pergunta mais se deveria se dar a este uma nova orientação. MÁRIO DE ANDRADE: Que isto dependerá de um estudo entre o C. Director e os outros membros do CVAAR. Como vou sair proponho que os restantes membros se reúnam para fazer andar o serviço. REV. DOMINGOS DA SILVA: Lamento não ter sido avisado o Presidente do CVAAR da ausência da Secretária Geral do mesmo. MÁRIO DE ANDRADE: Informa as razões que se impuseram para não ter sido feita a informação em devido tempo. EDUARDO DOS SANTOS: Interfiro quanto à insistência do Vieira Lopes. Apelo portanto para o Vieira Lopes que considere e aceite o lugar, porque não é momento de rejeitar. VIEIRA LOPES: Farei um esforço para considerar o facto. EDUARDO DOS SANTOS: Proponho que o Secretariado escreva uma carta a todos os elementos eleitos ausentes, eu encarrego-me de escrever uma carta ao Lúcio. VIRIATO DA CRUZ: Todos os membros do CD que escrevam uma carta em que reiterem o compro­misso que aceitaram. Depois da recepção das cartas deve ser afixada a lista e no caso possível fazer uma publicação nos jornais. EDUARDO DOS SANTOS: Informo que o Freitas chega no dia 30 do corrente. Foi encerrada a sessão.

Actas da Reunião do Comité Director do MPLA (22 e 23 Maio 1962). A reunião contou com a presença de Mário de Andrade, Matias Miguéis, Viriato da Cruz, Eduardo Santos, Luiz de Azevedo Júnior, João Vieira Lopes e Graça da Silva Tavares. Ordem de Trabalhos: 1 Continuação da remodelação do CD; 2 Comissão da ONU; 3 Equipas das Secções do Secretariado.

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