Acta da reunião do Comité Director do MPLA

Cota
0034.000.033
Tipologia
Actas
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
11
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público

ACTA DE REUNIÃO DO COMITÉ DIRECTOR Às 21 horas do dia 21 de Maio de 1962, estando presentes os membros do CD: Mário de Andrade, Matias Miguéis, Viriato da Cruz, Eduardo dos Santos, Luís de Azevedo Júnior e Hugo de Menezes assim como o Secretário Político, João Vieira Lopes e o Secretário Administrativo, Graça da Silva Tavares, foi apresentada a seguinte ordem do dia: l) Remodelação do Comité Director; 2) Programa de Acção; 3) Comissão da ONU; 4) Missão em Accra; 5) Equipas das Secções. MÁRIO DE ANDRADE: Abre a sessão. EDUARDO DOS SANTOS: Diz retirar-se do Comité Director porque a sua continua­ção no quadro dificulta em vez de aumentar os benefícios do movimento e por isso pede uma remodelação do CD com urgência. L. AZEVEDO JÚNIOR: Diz que não lhe convém explicar-se ainda visto necessitar de mais dados para poder pronunciar-se. MATIAS MIGUÉIS: Concorda com o Azevedo e diz que os termos postos pelo Santos não satisfazem. HUGO DE MENEZES: É mau dia para discutir porque o Eduardo está a agir debaixo de um estado anormal, devido à viagem que fez à fronteira e por isso concorda com os oradores anteriores. VIRIATO DA CRUZ: As razões que avançou o Eduardo não são suficientes por isso deve avançar outras. Situa o plano de remodelação num outro plano. Diz que há um ano vem insistindo, sem ser levado por emoções do Eduardo. Tentaremos de modificar e é de opinião de uma remodelação rápida. VIEIRA LOPES: Aceita discutir este ponto mas não aceita a demonstração do Eduardo. O Eduardo como o Viriato foram as primeiras pessoas que falaram sobre o ­afastamento dos mulatos. Conheço as realida­des actuais angolanas. Ainda hoje ouvi fazer uma exposição do Presidente sobre as acusações que nos fazem. Partindo do ­princípio de desistên­cia então demos ouvidos e razão aos que nos acusam. Temos de ter coragem. Mas quem quiser retirar-se porque é fraco ou outras razões aceito. Peço que a malta de uma vez para sempre não se deixe de maneira nenhuma amedrontar por esta calúnia. Sempre ouvi questões entre pretos e mulatos. Nunca houve é o problema como se pretende. Por acaso já se discutiu aqui que não é momento para desistências. É palavra de ordem que ninguém se retire neste momento e pede que não volte a falar mais deste assunto. GRAÇA TAVARES: Concorda em absoluto com a exposição do Vieira Lopes e pensa a insuficiência dos argumentos apresentados pelo Eduardo. Faz referência das ­reuniões anteriores em que se discutiu a impossibilidade de se remodelar o Comité ­Director. Acrescenta que seria uma traição à causa angolana neste momento retirar-se um membro do CD. MÁRIO DE ANDRADE: Analisa os pontos do Vieira Lopes sobretudo quando fala na situação especial porque temos procurado defender as posições que estão no ­programa e as posições do Comité Director. São angolanos pretos e mulatos. Os da Way ­[Assembleia Mundial da Juventude] lançaram este problema das comunidades raciais. A convi­vência de grupos étnicos diferentes. A unidade angolana não tem poderes para nos passarem certificados. A unidade existe em nós sendo mulatos, pretos ou fulos. Quanto ao caso do Eduardo deve abordar o problema de fundo. Devemos é tomar uma posição sobre as acusações que nos fazem. Que atitude devemos tomar perante as actividades deste género? A nossa presença provoca as massas e veremos se somos nós que faremos triunfar ou ceder e cair na política racista. Eu devo já dizer que não quero avançar as opiniões do Eduardo. Nós tomamos as responsabilidades perante o Povo Angolano e dentro de pouco tempo estamos certos que mudaremos a face das coisas pelas actividades militares. EDUARDO DOS SANTOS: Quando explico este problema não é debaixo de emoção, tanto mais que a minha viagem foi feliz e vi os esforços e o trabalho que se tem feito e o seu grande desenvolvimento. Só no Lufu saiu um grupo da UPA que nos procurou. Por isso não estou agindo sob emoção, é simples­mente a realidade como se apresenta. A saída do Comité Director do MPLA não quer dizer que se escusa de lutar porque está empenhado nela. Não me obriguem a manter-me. A minha decisão é para facilitar a solução do problema. Estou numa situação difícil porque todos têm a mesma opinião e pensan­do maduramente vê que nesta altura já se encontra gente capaz para levar avante a luta. AZEVEDO JÚNIOR: Como não é a primeira vez que se põe este problema deve merecer uma análise concreta. Como tenho dito deve se dar mais responsabilidades. Pergunto ao Santos, saindo do Comité Director qual a contribui­ção que ele dará e quais os meios que preconiza para que estas intrigas não possam existir. Deve ser analisado com mais sangue frio o problema. MATIAS MIGUÉIS: Estou de acordo com o que diz o Santos e pensa que a posição do Santos não é deixar o movimento. Na política também há estratégias. Na luta armada lá dentro não existe quase nada de diferenças as pessoas que existem oscilam de acordo com os movimentos que lhes dão o apoio do exterior. Acha que o movimento necessita de ver com realidade. Vamos ver com realidade. Está de acordo com a remodelação que se propõe, porque julga que depois de termos força até brancos podem lá estar. Não sabemos aqui no Congo porquê estas dificuldades. Há uma série de razões. Deve-se usar uma estratégia de modo a mostrar ao público que não somos uma organização de mulatos, de brancos ou de qualquer outra coisa. HUGO DE MENEZES: Está plenamente ciente das tácticas a adoptar porque há ­factores e postulados que não devem ser violados. Se por qualquer ofensa ligarmos, então prejudicamos tudo. Há oito dias que discutimos uma estrutura. De qualquer modo é de opinião que o Eduardo está a agir sob emoção ou então houve falta de sinceridade na discussão. Por outro lado não justificou bem. Usa uma argumentação que não é dele. Temos sido acusados de muita coisa. Temos tido muitas vitórias. Estamos perto de mudar as direcções da luta. Pretos fulos e mulatos de Ambaca ou de qualquer parte devem estar connosco. O Eduardo avança razões. Propõe que se use esta táctica que saia o Eduardo, Viriato e pretos fulos. Não pode ser. Pede ao Eduardo que está chocado por várias ofensas mas isso não conta. VIRIATO DA CRUZ: O problema do Eduardo é um problema dele e não é ­apresentado em termos válidos. Deve apresentar o testemunho da sua exposição para remodelar e para que o movimento tome como táctica e não como desistência. Como disse que há mais de um ano não se fez a remodelação. Eu não saí do Comité Director porque sou Viriato da Cruz ou porque estou chateado mas a atitude a tomar é uma táctica para procurar uma solução. Mesmo em Conakry vi o problema. O Eduardo só muito tardiamente compreendeu. Se não estava de acordo com as razões que avancei nesse momento, compreendeu-as hoje. As razões que vejo para a remodelação são estas: 1º – Após os que diziam que não havia preconceitos raciais pois estavam baseados em preconceitos colonialistas. Veio a luta de Angola surgiram uma série de contradições. Como vimos o problema dos estudantes em Portugal, lá dentro diziam-se membros do MPLA mas que postos fora voltaram as costas. Lembro-me ter lido uma carta do Pedro Sobrinho sobre a morte do Ferreira que dizia que o Ferreira era agente dos portugueses. Outra coisa que se põe. Há um problema psicológico. Não aceito que para desempenhar a minha função tenho de usar subterfúgios como procurar pessoas para falar ou para representar. Falou sobre a colonização e os seus métodos. Acrescenta – As ideias não valem pelas ideias mas sim para as realidades que elas apresentam. Devido mesmo o estarmos perto de novos acontecimentos é de opinião de uma remodelação, porque se ­insistirmos então acontecerá como aconte­ceu com o Ferreira. Só depois de estarmos em Angola é que temos força. Só depois de uma fase elevada é que o Povo compre­ende. Não é ceder às intrigas da UPA. Ela trabalha num preconceito das massas. A UPA não cria nada. É nesta base que interessa ao povo e não cedência às pressões da UPA. O Povo é como as crianças, quando ameaçadas com o papão só a criança sai quando a mãe diz que o papão já saiu do saco. Aceita que há poucos dias discutiu a não remodelação. Apresenta o caso do Freitas. Crê que Angola vencerá mas é precioso remodelar. Faz avançar a ideia porque é valoroso o argumento da saída. Apela para que o movimento não faça racismo. VIEIRA LOPES: Tenho a minha ideia e eu quero que ela seja bem conhecida. Vou fazer um retrocesso às minhas ideias. Talvez de pequeno tivesse algumas ideias de racismo mas logo que os anos foram passando concluí que o mundo não vive pelas suas colorações. Temos os estatutos. Temos que usar mais do que uma táctica, mas uma remodelação não é viável. Eu não sou membro do CD mas recuso-me a aceitar qualquer cargo. Há os oportunistas, há os mal intencionados que podem aproveitar-se disso. Há pouco tivemos a discussão da remodelação. Quando no caso do Lara era a altura que devia ser discutido o caso. O Santos não disse as razões mas adivinha-se que seja a viagem. Pergunta como o Hugo porquê o Eduardo não apresentou há mais tempo este problema. VIRIATO DA CRUZ: Apresentou argumentos sobre a existência do racismo. Analisou em seguida a condição do mulato. O Ferreira não foi morto por ser mulato e a razão é que todos que o acompanharam morreram. Repetiu o exemplo dos estudantes vindos de Portugal. Lamenta que os membros não tivessem lido o relatório que foi apresentado neste caso. A coisa existe é que alguns dizem terem sido enganados por outros. Faltou-lhes coragem. Vendo a saída dos ditos mulatos do movimento não acordo [sic]. Estarão mesmo o Viriato e o Santos seguros que a sua saída e dos elementos que apontam dará resultado? Como vamos arranjar elementos mais qualificados como o Viriato e o Eduardo. Então chegamos à conclusão que cedemos às pressões do inimigo. GRAÇA TAVARES: Apesar de toda argumentação do Viriato e os esclarecimentos do Eduardo nada me convence a aceitar a remodelação como é apresentada. Aceito uma remodelação onde continuem o Viriato, Santos e o Lúcio porque julgo estes compatriotas insubstituíveis no momento actual. Nada de ressentimentos que podem só prejudicar- -nos. O momento é decisivo e não permite desistências nem recuos. Fala-se de ­estratégia. Creio que esta estratégia é um extremo que pode custar-nos caro depois. Mantenho a minha posição de não aceitar a saída dos antigos membros do Comité Director. MÁRIO DE ANDRADE: Analisa os argumentos que se apresentaram. Está de acordo com a política pintada que se faz em todos os países, mas no caso que nos diz respeito a UPA não fez mais do que atiçar os preconceitos existentes no povo. Nós dizemos que devemos colorir para ficarem os pintados e os pretos fulos. Mais tarde numa Angola livre ou noutra fase se faça a integração de outras raças. Eu penso que este é um caso extremo o uso desta estratégia. A estratégia usada pela UPA é explorar os pontos dos pretos casados com brancas, os mulatos que estão a dirigir por trás. Tenho visto cartas com essas ameaças. Julga haver exagero como as coisas se apresentam. Propõe que para o exterior se enviem pessoas desejadas a fim de evitar choques. No interior diz que devemos equilibrar e enraizar o nosso programa. Está errado o princípio racista e ­pessoalmente está errado. Descampamos [sic] uma política e então lutamos por outra política racial que os nossos inimigos estão à espera para fazer triunfar a s/ política racista. O Eduardo e o Viriato vão pôr os princípios desta estratégia, mas podemos encontrar uma solução sem saída do problema. Está de acordo com o alargamento do CD com a inclusão de novos elementos. Não aceita trabalhar com o Snr. Freitas e que não está de acordo de defender uma política no exterior pela qual não está de acordo. Que se discuta então o alargamento do CD e dos elementos mais qualificados. Não renunciar imediatamente mas pôr o problema. Julga que vai causar muito mais dificuldades do que presen­temente achamos. As pessoas que nos acusam não podemos trabalhar com elas. Estou de acordo com o alargamento e com os homens ligados às massas. EDUARDO DOS SANTOS: Acha que o Viriato pôs o problema nos seus aspectos próprios mas esqueceu-se de alguns pontos. Quando se pôs a remodelação foi visto que só ele Eduardo e o Lúcio deviam sair do Comité Director mas que o Viriato continuaria a existir por se achar completamente impos­sível a sua saída. Quanto ao Vieira Lopes diz não perceber a insistência porquanto já há muito tempo vem pondo este problema. Pede para que se raciocine bem. Nós temos que projectar o movimento porque neste momento eu acho que a continuação no C. Director dificulta e constitui mesmo um obstáculo. Quanto à saída de alguns elementos virá criar razão às oposições da UPA. Aceita fazer tudo e diz que fará tudo e não admite qualquer oposição porque gosta do movimento tanto como todos os presentes e nunca menos. Ouvimos todos os dias e em toda a parte que o movimento é de mulatos. Estou certo que vocês são capazes de defender melhor a posição. É verdade que há dias não levantou o problema e reconheço que fiz mal. LUIZ DE AZEVEDO: Vai longa a discussão. Antes de entrar no assunto devo dizer-vos que a nossa posição tem sido anti-racial. A prova é que dou-me bem com todos. Se apoio qualquer preconceito não me acho capaz de ocupar qualquer dos lugares que ­esses dois deixam. Não tenho pretensão de vir ocupar um cargo. Julgo que há ­necessidade de alargar o C. Director. Acho ainda que temos de mudar a posição. Mantenho uma posição firme e portanto vamos fazer uma experiência e só depois desta vamos dizer que Angola não é uma tribo mas uma Nação. Na medida que se vão fazer experiências e não vão sair, estou pronto a aceitar uma vez que eles me auxiliem a fazer tudo. MATIAS MIGUÉIS: Não se está a levar a sério a discussão que o Eduardo e o Viriato põem. Exemplifi­cou o caso do jornal. Vemos que o Governo do Congo procura atirar-nos para o “governo” do Sr. Holden apesar de todas as acusações que foram feitas ao Snr. Holden. Os Estados Africanos pensam que só os pretos devem fazer a libertação da África. Aceito a experiência. Não se põe o caso que alguns vão ocupar os lugares deles. Não é mau aceitar isso porque o Eduardo e o Viriato põem as coisas claramente. Acho que estão a fazer isso para o próprio benefício do movimento e uma valorosa contribuição. HUGO DE MENEZES: O Matias acabou de dizer que a revolução não se faz num dia, por isso mesmo não aceito esta fórmula apresentada, pois que a argumentação não é apresentada só contra os mulatos mas também contra os doutores e universitários etc. Estou de acordo com a estratégia. Lembro-me quando se pôs o Boavida como Presidente do CVAAR. VIRIATO DA CRUZ: A malta está convencida em especial o Vieira Lopes e o Graça porque pensam que encontramos dificuldades e só por isso desistimos. A colonização foi feita na base do racismo. Para o negro não se fez esforços para educação. Não é uma táctica ingénua. É uma táctica defensiva e não ofensiva. Estou convencido que não faço uma política racista. Vistas as coisas o negro terá mais medo do próprio negro pela concorrência e não o mestiço. Não acredito que o movimento venha a ceder devido aos problemas raciais. É preciso ver qual é a finalidade. É a altura de pormos em termos concretos e de prevenir. O C. Director terá uma função que competia ao Congresso. Os verdadeiros órgãos executivos serão o Conselho da Guerra e o Secretariado. Uma maturação do esp. de rabulice [sic]. O que interessa ao Mário não é o C. Director mas sim as Relações Exteriores. São concessões que temos de fazer. Quanto às críticas que faz ao Freitas são de aceitar mas o C. Director pode ser alargado mesmo com o Snr. Freitas sem medo nenhum. Quanto à questão que o Hugo levanta é uma questão de princípio. É uma omopatia [sic]. Quanto ao Vieira Lopes acho que já temos muitos quadros. ­Fala-se de todos os problemas mas menos da ordem humana. Um Comité Director formado por mulatos não poderá dar palavra de ordem que seja aceite. Analisou particularmente o problema do Lara. Hugo diz que ao fim e ao cabo temos razão e essa mudança pode servir para nos acusarem de racistas. O problema da libertação de Angola e da cidadania são problemas diferentes, é uma questão de ordem jurídica. A malta tem se esquecido é que a luta de Angola é uma luta de reivindicação do negro. É um problema justo. Na saída do Mário entram novas considerações. Se em Accra não entro no PDG e no bureau são outros casos. O Mário é aceite em muitos lugares e por isso é necessário que ele continue. É uma questão de psicolo­gia. Quando se vai para uma entrevista sem a companhia de malta negra as pessoas chateiam-se. O caso do Lara teria de fechar-se em casa. Se ele não pode vir cá e ficando em Conakry chateia-se e sente-se diminuído. A malta não está a ver o trabalho que há para fazer. Um trabalho de luta não é só o militar. Se perdesse a qualida­de de Secretário-Geral daria muito mais tempo às outras questões políticas. É de opinião que o alargamen­to do CD seja feito da seguinte maneira: Mário de Andrade – Presidente, Matias Miguéis, Hugo de Menezes, Luís de Azeve­do, Desidério da Graça, Deolinda, José Domingos, Deolinda de Almeida, Graça Tavares, Vieira Lopes, Georges Freitas, Jordão de Aguiar, Jonas Josias, Rev.º Domingos da Silva e Benedito Gonçalves. Por outro lado temos de consi­derar o problema de José Domingos que se considera um bailarino. A Deolinda punha uma questão de ordem racial. Vejo na resolução do CD um passo. Leu os estatutos na parte que se refere ao Congres­so. Propõe a criação de três secretários: 1º, 2º e 3º no caso possível. A Deolinda ficaria no CVAAR assim como o Rev. Silva, o Jordão, Josias e o Freitas continu­ariam no CD sem mais cargos. VIEIRA LOPES: Fazendo um balanço dos membros do CD estou de acordo com a maioria e com esta alteração. O Viriato interrompeu dizendo: isto não é uma concessão. É uma ofensiva contra o racismo. O que temos feito para convencer a gente nos princípios? Nunca me senti bem falar nisso porque isto é o problema. VIEIRA LOPES: Tudo parece indicar como vai ser discutida a remodelação. Não está de acordo. Recusa-se a trabalhar nessas condições, sente-se constrangido. GRAÇA TAVARES: Não concorda com a argumentação do Viriato em especial no que diz que se o CD estiver constituído por mulatos não pode dar uma palavra de ordem que seja aceite. Exemplifica o caso dos estatutos que quando se fez membro e até hoje não sabe se os mesmos foram feitos por um branco, mulato ou preto, simplesmente os aceitou porque traduziam o seu pensamento e as suas necessida­des, por isso acha que todos os angolanos devem ter inteligência para não ver nas pessoas mas sim no valor da ordem. Mantém a sua posição de se fazer uma remodelação onde continuem os mulatos já existentes no C. Director. Repete a impossibilidade de substituição do Secretário-Geral, visto não encon­trar de momento indivíduo capaz de o substituir no todo ou mesmo em parte nas suas funções. MÁRIO DE ANDRADE: Analisa os membros indicados pelo Viriato para a ­remodelação do CD. Diz haver indivíduos entre eles que [não] reúnem as condições necessárias. Exemplificou o caso do Josias que faz espionagem por conta dos colonialistas. Faz algumas críticas sobre a formação do CD. Referenciou o caso do Boavida. Pediu uma explicação sobre o funcionamento do Conselho da Guerra, do Secretariado e dos outros Departamentos. Diz elaborar política com estes membros? Um órgão que faz ­executar contro­la. Viriato interrompe dizendo que não acredita no oportunismo racial. O clima racista é tão aprofun­dado e racional. Acha que estamos a precipitar o problema. Não é um problema de dar ou não contribui­ção. Acha que esta remodelação vai dar ­problemas mais graves. Acha que vai haver uma interrupção nos serviços. Peço que este projecto seja repensado. Não estou de acordo com a saída dos três membros. Peço mais informações sobre as suas responsabilidades. EDUARDO DOS SANTOS: Tem razão o que diz o Mário quanto à composição do CD [e] neste caso então faria o seguinte: Mário, Matias, Hugo, José Domingos, Benedito, Graça, Vieira Lopes, Desidério e Deolinda. Quanto à formação dos órgãos são eles que devem fazer. Propõe que não partici­pem nem o Freitas nem o Josias mas que para a substituição destes poderá entrar um indivíduo da juventu­de e o Jordão. Considerou em seguida o emprego do Jordão numa casa portuguesa e que constituía uma incompatibili­dade. Propôs que as funções do CD sejam as mesmas até aqui e que eles mesmos façam uma compo­sição. Há elementos que podem fazer continuar a nossa organização. Quanto ao V. Lopes acha que não tem valor a sua insistência de não querer continuar a colaborar, porque julga necessária a sua continua­ção. Quanto ao Graça na sua referência aos estatutos que não sabia se os mesmos foram feitos por um branco ou um preto ou mulato e no entanto os aceitou, parece uma grande verdade pois que eu penso o mesmo. Contamos com a confiança de todos. Julgo que devemos encerrar esta questão porque as atitudes do Eduardo e Viriato são inabaláveis. AZEVEDO JÚNIOR: Quanto à lista dos membros apresentados para o CD não quero dizer que sejam as pessoas indicadas. Tenho sugestões a fazer: Considerando alguns camaradas de Ponta Negra aponto o Roque bem como o Matoso Neto no Brasil para fazerem parte do CD. Não tenho mais nada a dizer, solidariza-se com a última decisão. MATIAS MIGUÉIS: Quanto aos nomes indicados não concordo com o do Jordão mas aceita o de Freitas, desacordo também com o de Josias e propõe o de Matoso Neto porque julga que é capaz de aceitar cá vir. É preciso que se pergunte: No Brasil está o Lima, ele está de acordo? Você levantou um problema que não estava a ver. Os Snrs. Freitas não sabemos quais as razões que os empurram para o C. Director. Temos cá tantas pessoas. Não sabemos até que ponto o CD seria influenciado por fora. O Rev. Silva, Matoso e outros não seriam capazes de se influenciar por fora. O que você levantou é um problema dos diabos. Diz que as dificuldades se levantam no Congo etc. mas não sabemos porquê? Eduardo interrompe para elucidar: Podemos tirar o Josias e o Freitas, ficando o Jordão. Quanto ao Matoso diz não termos possibilidades e não se sabe ainda os métodos do seu trabalho. A maioria que trabalhou connosco garante. Indico o nome do Mandjila. A remodelação impõe-se. Pela experiência que se tem vivido não tenho nada a dizer à questão de nomes. HUGO DE MENEZES: Pergunta se a questão da remodelação está assente e está em discussão só a questão dos nomes, então aceita a opinião da maioria. A questão dos nomes é fundamental. Não vejo bem como o Comité pode solucionar assuntos de importância com os Snrs. Josias, Jordão e Freitas. Não sei até que ponto não serão influenciados os restantes. É preciso ver como vão funcionar os outros departa­mentos. Julgo necessário por isso distribuir os lugares. Eduardo interveio explicando: que retirava algumas pessoas mas que mantinha os mesmos órgãos. O Mário interrompeu para dizer: que a lista ainda não foi aceite por que as opiniões apresentadas estão sendo discutidas e por isso o Viriato não deve procurar manter as suas opiniões. Hugo analisou depois a distribuição dos cargos como foram apresentados anteriormente. VIRIATO DA CRUZ: Reconheço que se deve omitir “que o Comité Director se atribui funções de Con­gresso”. Leu em seguida o artigo dos estatutos quanto à competência do Congresso e analisou a linha política do mesmo. Julgo que a maioria estaria contente se se fizer a remodelação. MÁRIO DE ANDRADE: Explica a questão dos departamentos. É preciso evitar que o CD siga uma outra política e portanto ela aceita [sic] e seja solidário de toda a linha tomada. Não se trata de fazer um novo movimento mas sim manter as mesmas ­directrizes. Acho que todos os nomes que já foram indicados devem continuar como se segue: Matias, Azevedo, Hugo, Rev. Silva (CVAAR) Benedito – C. da Guerra, Graça – Finanças, Mário (C. da Guerra), Graça, Desidério e V. Lopes respectivamente 1º, 2º e 3º secretá­rios. Secretariado V. Lopes, Graça e Desidério. Conselho de Guerra: Mário, Azevedo, Benedito e Rev. Silva. Mário continua afirmar que devemos discutir uma nova estrutura. A entrada desta gente do CD não julgo ser possível. Acho que se está a improvisar. A indicação dos cargos é inadequável. Afirma ainda que fora dos membros que já existiam os outros não têm prática nas decisões tomadas. Insiste que se lhe diga a responsabilidade de cada membro pois de outro modo recusa-se se os assuntos não forem repousados na confiança das opiniões do CD. EDUARDO DOS SANTOS: Propõe – Conselho da Guerra: Mário, Azevedo e Benedito; Viriato e Eduardo Conselheiros políticos. Secretariado: Graça Tavares e V. Lopes. Direcção Política do Interior: Matias Miguéis. Departamento de Relações Exteriores: Mário. VIEIRA LOPES: Pergunta se está a partir do princípio já que o Viriato, Santos e o Lúcio saem. Propõe que em princípio se deve assentar nisso e só depois se discute a entrada dos outros. GRAÇA TAVARES: Parece-me que todos mantêm as suas posições anteriores e não demos nenhum passo à frente, embora não concorde com a remodelação na forma apresentada pelos compatriotas Eduardo e Viriato mas atendendo-se que é uma ­experiência que se vai fazer ao mesmo tempo que constitui uma estratégia deve inclinar-se à maioria. Por outro lado não vejo dificuldades em aproveitarmos todo o esforço e boa vontade do Viriato e do Eduardo para que continuem a colaborar connosco mesmo sem os nomes hierárquicos. VIRIATO DA CRUZ: A melhor maneira de ver o problema é vermos se é viável ou não esta remodela­ção. MÁRIO DE ANDRADE: Penso que esta discussão vem mostrar-nos dados do problema. Afirmo que a remodelação é precipitada e não está de acordo e qualquer que seja a maioria e levante um problema como hei-de fazer uma política que não repousa em p­rincípios. As actividades de Conselheiros políticos não garantem. A posição que tomo é do alargamento e dar novas responsabilidades no caso actual. Sou contra as improvisações. EDUARDO DOS SANTOS: Está se a repetir a mesma coisa, afirmo que a maioria já votou e está de acordo com a remodelação, pois que a votação apresenta-se como se segue: Azevedo, Eduardo, Matias e Viriato estão de acordo com a remodelação; Mário e Hugo em desacordo. Não foram contadas as opiniões do Graça e do Vieira Lopes por não terem valor em virtude de [não] serem membros do Comité Director. MÁRIO DE ANDRADE: Esta votação vale como decisão final? VIRIATO DA CRUZ: Acho que o Hugo está a discutir mal o problema. Está se a fazer uma política séria. MÁRIO DE ANDRADE: O problema está pessoalizado. As dificuldades existem ainda no espírito. Não é fácil compreender que o Secretário-Geral é um membro qualificado do Comité Director e como tal não se pode retirar sem outras razões do CD. VIRIATO DA CRUZ: Proponho que José Miguel ocupe um cargo no CD para ­desempenhar um cargo de directo[r] no Conselho da Guerra. Interrompeu-se este ponto. MÁRIO DE ANDRADE: Apresenta como sendo um ponto simples a saída do Hugo para Accra, a fim de representar o bureau dessa localidade e o movimento. EDUARDO DOS SANTOS: Objecta: Já discutimos o problema e por isso não vejo maior importância. HUGO DE MENEZES: Levanta os problemas pessoais e da família em especial os económicos e financeiros. EDUARDO DOS SANTOS: Acho que o Hugo vai partir e leva dinheiro suficiente para organizar o trabalho no bureau. Quanto à família, o Hugo tem recebido um subsídio e este ficará automaticamente para a família. MATIAS MIGUÉIS: Parece que já ficámos de acordo quanto à partida do Hugo, não tenho mais a acrescentar. VIRIATO DA CRUZ: Concorda com o sustento da família mas deve-se fazer os ­possíveis para que a mesma siga o mais depressa possível. O movimento quando diz que subsidia deve subsidiar com o dinheiro que tem e não com o que lhe pedem. É preciso que Ghana nos ajude. Não deve deixar que se faça censura da nossa correspondência. Proponho que o Hugo leve um código para a correspondência. Falou sobre o problema do Moisés que ficou como refém por não ter pago as despesas do hotel. Propo­nho que caso haja dinheiro se pague a conta. Está no Hotel Africana. Não falar ao Barden as questões fundamentais. HUGO DE MENEZES: A correspondência só é feita com o Mário? VIRIATO DA CRUZ: Conforme as condições e depende da correspondência. EDUARDO DOS SANTOS: O Hugo deve levar o mesmo código que usamos. MÁRIO DE ANDRADE: Encerra a sessão marcando para as 21 horas do dia seguinte os outros assuntos em suspenso. * * * * * *

Acta da reunião do Comité Director do MPLA. A reunião contou com a presença de Mário de Andrade, Matias Miguéis, Viriato da Cruz, Eduardo Santos, Luiz de Azevedo Júnior, Hugo de Menezes, João Vieira Lopes e Graça da Silva Tavares. Ordem de Trabalhos: 1 remodelação do CD; 2 Programa de Acção; 3 Comissão da ONU; 4 Missão de Accra; 5 Equipas das Secções

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