Conferência de Imprensa de Bernard Dombele, da UNTA

Cota
0033.000.021
Tipologia
Conferência de imprensa
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Bernard Dombele - Secretário-geral Adjunto da UNTA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»


UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES ANGOLANOS “UNTA”
C.P. 1277
92, rua de Tshuapa [carimbo da UNTA]
LÉOPOLDVILLE
República do Congo
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO Sr. BERNARD DOMBELE
SECRETÁRIO-GERAL ADJUNTO DA UNTA
DECLARAÇÃO
Senhores Representantes da imprensa,
Meus Senhores,
Consciente das suas responsabilidades, a UNTA vê-se mais uma vez obrigada a dirigir-se à opinião tanto nacional como internacional.
Assim, agradecemos vivamente, Senhores Representantes da imprensa, Meus Senhores, terem honrado com a vossa presença, a nossa Conferência de imprensa que é a segunda desde a instalação oficial da nossa Representação nesta República.
Como anunciámos anteriormente, ninguém ignora os esforços incansáveis desenvol­vidos junto dos partidos políticos para a criação de uma Frente Nacional para a libertação de Angola.
Nem a repressão colonialista, nem as teorias reformistas que pretendem dizer que as organizações sindicais não têm nada a ver com a política, podem abafar a nossa voz mas têm de perceber que não existe liberdade política e sindical em Angola e as organizações sindicais também devem contribuir para a conquista da independência.
O papel que joga a nossa organização sindical na luta contra o colonialismo ajuda a reforçar o movimento de libertação nacional e contribui plenamente para o seu sucesso.
Apesar das divergências de pontos de vista que existem entre os partidos políticos e para os que não conhecem a brutalidade dos imperialistas, pode ser difícil apreciar os esforços que a UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES ANGOLANOS “UNTA” desenvolve.
A UNTA procura generosamente pôr à disposição do nosso país as ricas ­experiências da classe operária. Desenvolveu todos os esforços necessários para aproximar os partidos políticos mas ficámos, depois das nossas diligências, decepcionados com o ­espírito menos patriótico de alguns dirigentes fantoches que, depois de termos examinado ponto por ponto as suas exposições, constatámos que não sentem o sofrimento dos trabalhadores e do povo de Angola.

Um resumo do nosso encontro com Holden Roberto
A 23 do mês passado, o nosso Comité encontrou-se com Holden Roberto no seu Bureau para lhe entregar o projecto da Frente Nacional. Na nossa carta enviada a 10 de Março, ao Comité Director da UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA “UPA”, tínhamos pedido que o seu Comité Director se encontrasse com o nosso no Bureau da UPA. Mas Holden Roberto estava sozinho quando nos recebeu no seu Bureau.
Depois da nossa exposição, Holden Roberto opôs-se vigorosamente ao nosso projecto e afirmou-nos que não estava de acordo e que o seu Comité se oporia também a esse projecto da Frente. No entanto, Holden Roberto estava de acordo que essa Frente se fizesse no Campo de batalha em Angola.
A nossa surpresa com a formação de uma coligação UPA-PDA
Qual não foi a nossa surpresa ao tomarmos conhecimento, no dia seguinte às nossas diligências, da formação da associação UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA – PARTIDO DEMOCRATA DE ANGOLA. Dizemos surpresa porque no dia do nosso contacto com os dois partidos, um deles opôs-se ao nosso projecto.
O destino de Angola não é, nem nunca será, a obra de um ou dois partidos políticos e menos ainda de uma única pessoa, mas deverá ser antes a obra de todos os Angolanos.
Por conseguinte, a UNTA confirma a sua posição de apoiar a Frente mas que esta seja Nacional e representativa.
A formação de um Governo da República de Angola no Exílio “GRAE”
Perguntamo-nos, sem reserva, com que base de democracia os dois partidos contaram para formar um tal Governo?
Nessas condições deprimentes, a UNTA consciente das suas responsabilidades, opõe-se energicamente às ideias ambiciosas desses dirigentes que vendem a pele do leão antes de o terem morto.
Não queremos sofrer as consequências provocadas pelos abusos desses fantoches políticos, não podemos tolerar que esses abusos se reproduzam no seio dos trabalhadores e do povo de Angola. A política de divisão entre os trabalhadores do Norte, do Centro e os do Sul é um crime que a UNTA nunca poderá encorajar.
Os interesses do povo devem ser a base das preocupações de todos os políticos de Angola, mas então, não percebemos porque os partidos políticos se digladiam. Neste mo­mento, nós, trabalhadores estamos ameaçados por rivalidades regionais, tribais, de pele...
Os trabalhadores e o povo de Angola não tolerarão nunca tais erros que só ­prejudicam um verdadeiro entendimento nacional. Sempre fomos e permaneceremos partidários de uma Frente e até de um Governo, mas que este seja formado sobre bases democráticas e de todas as camadas da Nação.
Eis algumas passagens do projecto entregue a cada partido político:
– A Frente Nacional de libertação de Angola congregará todo o povo Angolano sem excepção, ou seja todos os partidos políticos, e todas as outras ­organizações
para derrubar o jugo colonial a fim de alcançar a independência real, a paz e a neutralidade;
– a liquidação definitiva e completa do sistema colonial sob todas as suas formas;
– instalar numa Angola independente, um Governo de ampla união nacional e democrático;
– aplicar uma política exterior de paz e de não-alinhamento, estabelecer relações diplomáticas com todos os países que respeitem a independência e a soberania de Angola.
A luta que a UNTA leva a cabo para a unidade de acção também é a de todas as organizações que lutam pela libertação de Angola, com todas as suas forças, incluindo a burguesia nacional. O cumprimento destas tarefas específicas depende inteiramente do papel desempenhado pela classe operária.
Nós, UNTA, pedimos às outras organizações sindicais de Angola que não se isolem dos seus associados.
Se todos os trabalhadores estivessem unidos, poderíamos jogar um papel ­importante na luta nacional contra o colonialismo e o imperialismo e tornarmo-nos assim uma ­força importante na Frente Nacional unida.
Reafirmamos a nossa posição em relação aos partidos políticos. A UNTA é ­independente de todos os partidos políticos de Angola e é a única organização sindical que agrupa, nas suas fileiras, trabalhadores de diferentes ideologias. Como também o declarámos na nossa Conferência de Imprensa de 12 de Março de 1962, combatemos toda a acção contrária às aspirações dos trabalhadores.
A UNTA como tal é a única organização sindical de Angola que mobiliza todas as forças da classe operária para apoiar a justa luta contra o colonialismo e para a supressão total do colonialismo, a fim de obter a independência real de Angola.
Para terminar, pensamos que os nossos irmãos das outras nações independentes não reconhecerão um tal Governo que não é uma emanação da vontade de todo o povo de Angola.

Agradeço a vossa atenção.

[carimbo da UNTA] LÉOPOLDVILLE, 14 DE ABRIL DE 1962

Conferência de Imprensa de Bernard Dombele, da UNTA (Léopoldville)

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados