Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
Lausanne, 20 de Março de 1961 [é de 1962]
Caros compatriotas
Recebemos a vossa carta do 14 de Fevereiro. Aí vai a resposta.
Agradou-nos bastante saber que a nossa secção dada a sua po[si]ção vai merecer uma atenção especial por parte dos organismos directivos do MPLA. Esperamos corresponder ao dito interesse. Disseram vocês que se iriam pôr em contacto com Léopoldville no sentido de que este centro se ponha em relação directa connosco; continuamos aguardando com o maior interesse o resultado desta iniciativa.
1) No que diz respeito à formação do nosso Comité de Acção, a sua constituição já seguiu em Janeiro para Rabat e daqui para Léopoldville onde aguarda homologação por parte do comité director. No entanto podemos vos fornecer a título de informação a lista dos candidatos votados:
a) Secretário Político – FILIPE ROMANO AMADO
b) " " adjunto – Augusto Wilson
c) Secretário para as finanças – Eurico Wilson
d) Secretário para propaganda e agitação – António Macedo
e) Secretário adjunto para propaganda e agitação – Fernando Octávio
Em princípio devemo-nos reunir todas as 2as feiras. Mas estas reuniões só abrangem os militantes de Lausanne visto os outros se encontrarem espalhados por outras cidades.
2) Recebemos com grande interesse a notícia de que tínhamos sido dispensados das cotizações mensais. Efectivamente a nossa condição económica aqui é precária e não nos permitia dar qualquer contribuição desse género.
3) Recebemos já parte das brochuras que nos enviaram (as que seguiram por avião); aguardamos as outras.
4) Assunto “Jurista”: Entrámos em contacto com a “Comissão Internacional de Juristas” em Genève. Estive lá eu pessoalmente e como das outras vezes falei com o advogado Philipe Compte. O dito advogado, como das outras vezes, mostrou-se bastante gentil. Ele disse-me que não sabia da existência do Comité Jurídico do MPLA nem tão pouco da existência de advogados angolanos. Ficou portanto muito satisfeito e prometeu entrar em contacto com vocês. No entanto já tinha entrado em contacto com o MPLA por intermédio de um amigo seu que até à data se encontrava em Léopoldville. Quanto ao trabalho sobre o problema argelino e que foi apresentado em Bruxelas, ele não foi executado por esta Comissão Internacional mas sim pela sua “congénere” em Praga: Associação Internacional dos Juristas Democráticos. No entanto ele deu-nos as indicações necessárias para obtermos o dito trabalho. Ainda relacionado com o trabalho do nosso “Comité Jurídico” seguem diversas brochuras.
5) O próprio advogado Philipe Compte também nos forneceu o dito “Rapport du Sous-Comité Chargé d’Examiner la Situation en Angola”; o exemplar que possuímos é em espanhol.
6) Quanto ao envio dos textos dos nossos artigos, conferências, etc, achamos preferível enviar para Rabat. No entanto os assuntos que disserem respeito ao Comité Jurídico em especial enviaremos para Conacry. De acordo? Se não enviem-nos sugestões. A propósito da lista e texto das assinaturas para o Agostinho Neto, a primeira lista já seguiu há muito tempo para Portugal; a 2ª vamos enviar para Rabat, para onde contamos enviar as próximas.
7) Ainda a propósito dos prisioneiros políticos enviamo-vos uma carta que recebemos, em resposta as nossas démarches da “Amnisty” and international movement for freedom of opinion and religion.
É com grande interesse que nós todos cá seguimos o desenrolar dos acontecimentos que ultimamente se têm verificado no seio da UPA.
A “malta” aqui já entrou em contacto com vários militantes da UPA e duma maneira geral a opinião deles é de que se trata duma sabotagem ou melhor duma manobra do MPLA; segundo eles o comandante Marcos Cassanga teria sido comprado etc. etc.; enfim só dizem baboseiras. No entanto as acusações que o dito Comandante faz contra o Holden não nos estranharam absolutamente nada a avaliar pelo grau de desonestidade e cinismo de que o Jonas Savimbi tem dado provas aqui. Tempos antes de se darem esses acontecimentos na UPA um grupo de 3 estudantes africanos 2 da Guiné e 1 dos Camarões (mas do UPC, que controla o maqui) que têm estado sempre perto de toda a evolução do problema angolano resolveram reunir os estudantes angolanos num esforço para tentar uma melhor compreensão entre estes, para deste modo se forçar a união dos 2 movimentos. A primeira reunião realizou-se, o Jonas Savimbi estava presente e discutiram-se os vários pontos de desentendimento entre os dois movimentos, as dificuldades da união; os ditos estudantes africanos ficaram de estudar os resultados dessa 1ª reunião e em princípio deveremos ter uma outra reunião em breve. Deixa-me acrescentar que os ditos estudantes da Guiné e Camarões são uns homens, ou melhor não são nenhuns garotos irresponsáveis; os 2 da Guiné são os representantes digamos assim do seu país aqui na Suíça. Na próxima carta enviar-vos-ei mais pormenores sobre essa reunião que serviu para se esclarecer muitos pontos.
Mas ainda falando do Jonas temos a dizer que efectivamente trata-se dum indivíduo com grandes defeitos, o principal dos quais é o culto da personalidade, depois a gabarolice, a mentira e a esperteza para a malandrice. Ainda há bem pouco tempo encontrámo-nos com alguns estudantes Ghanenses [que] diziam em conversa connosco: “Oh, se todos os angolanos forem como o Jonas..., vai a Genève passar uma semana, quando volta a Lausanne vem gabar-se de que esteve em Nova York onde falou com A,B,C.”. Enfim, uma sujeira. Ele agora desapareceu daqui. Deve ter ido para Léopoldville socorrer o compadre dele.
Esquecem-se esses senhores de que uma luta de libertação nacional tem que ser conduzida num ambiente de franca honestidade e não na prática de trafulhices e manobras de baixa conduta que só servem para desacreditar a nossa luta. Estejamos pois atentos a todas as manobras dos falsos profetas de maneira a podermos desmascarar e sabotar na devida altura todos os planos tendentes ao enfraquecimento dos ideais pelos quais nos propomos combater. Avante irmãos! Confiemos na força dos nossos direitos e no direito da nossa força!
Por uma Angola maior, em nome de todos os camaradas na Suíça
[assinatura de António R. Macedo Júnior]
P.S. IMPORTANTE. Estudantes angolanos pertencentes à UPA e ao que parece vindos de vários pontos da Europa, reuniram-se em Lucerne (Suíça) há coisa de 2 ou 3 semanas e proclamaram a União Nacional dos Estudantes de Angola cujo presidente é o Pedro Filipe! Não sabemos mais pormenores por enquanto.
Para estudos sobre a Argélia ver
ASSOCIATION INTERNATIONALE DE JURISTES DEMOCRATES
234 RUE DU TRONE
BRUXELLES 5
BELGIQUE
Carta de militantes do MPLA na Suíça (Lausanne) à Direcção