Conferência de imprensa de Bernard Dombele, da UNTA

Cota
0032.000.038
Tipologia
Conferência de imprensa
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Bernard Dombele - Secretário-geral Adjunto da UNTA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»


UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES ANGOLANOS
“UNTA”
C.P. 1277
92, rua de Tshuapa
LÉOPOLDVILLE [carimbo da UNTA]

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO SR. BERNARD DOMBELE
SECRETÁRIO-GERAL ADJUNTO DA UNTA
DECLARAÇÃO

Senhores Representantes da imprensa,
Meus Senhores,
Quero, antes de mais, agradecer a todos por terem querido assistir à minha ­conferência de imprensa que é a primeira desde a instalação oficial da nossa Representação nesta República.
Os meus agradecimentos também se dirigem às autoridades Congolesas pela sua hospitalidade para com o povo de Angola.
Sem esquecer a FGTK que pôs esta sala à nossa disposição, o que é uma prova de manifesta solidariedade da classe operária, fazemos questão de lhe render homenagem. Isto significa que entre os operários do mundo não existem barreiras apesar das ­diferentes confederações nas quais estão filiados porque temos um ­denominador comum: o trabalho, e perseguimos todos o mesmo objectivo: a independência ­económica e a salvaguarda dos interesses dos operários.
Com efeito, esta conferência tem por objectivo esclarecer a opinião pública nacional e internacional sobre a posição da UNTA.
A UNTA é um sindicato Angolano acreditado na República do Congo desde 1 de Fevereiro de 1960 com sede aqui em Léopoldville. É reconhecida por muitas outras organizações sindicais tanto nacionais como internacionais.
Há já algum tempo, pessoas que ignoram o Estatuto da nossa organização espalham o boato de que a nossa organização depende de um certo partido político.
Quem acompanha os acontecimentos de Angola de muito perto certamente não ignora a nossa posição em relação aos movimentos de libertação.
Mas não é segredo para ninguém que em todos os países onde passaram ­colonizadores, aparecem ovelhas ronhosas que procuram travar os movimentos progressistas.
A UNTA, contrariamente ao que os outros pretendem, não vai a reboque de nenhum partido político Angolano. Pelo contrário, ela quer servir de elo de ligação de todos os partidos Angolanos, apesar das diferentes ideologias políticas que os opõem já que o nosso maior desejo é a Frente Patriótica Angolana, única tábua de salvação da nossa nação, se os nossos políticos quisessem colocar-se acima de tudo.
Isso leva-me a definir perante vós a nossa posição.
A classe operária Angolana está privada de todos os direitos elementares do homem. Todas as reivindicações de condições de trabalho são selvaticamente reprimidas pela força armada dos colonos portugueses.
Não tendo liberdades sindicais, temos uma única missão: a educação clandestina dos trabalhadores que residem no interior do país.
Por conseguinte, a nossa Central pretende preparar o terreno organizando-se por regiões nas seguintes localidades:
CONGO – 31 de Janeiro
LUANDA – Catete – Nambuangongo
CUANZA-NORTE – Quitexe
A União Nacional dos Trabalhadores Angolanos “UNTA” é independente de todos os partidos políticos de Angola. No quadro da sua independência absoluta, combate toda a acção política contrária aos interesses dos trabalhadores.
É neste sentido que levamos a cabo a nossa acção num duplo plano, a saber: político e social:
a. – no plano político
contribuição decisiva à luta pela liquidação do regime colonial e à ascensão de Angola à soberania nacional, pela independência e a unidade da classe operária Africana.
b. – no plano social
luta pela supressão de todas as formas de opressão e de exploração;
luta pela liberdade e os direitos sindicais.
RELAÇÕES
Considerando por um lado, a opinião da UNTA pela independência e a unidade da classe operária Africana e, por outro lado, a necessidade absoluta da sua independência orgânica e ideológica em relação a todas as Centrais Sindicais Internacionais, as relações da UNTA são definidas da seguinte forma:
a. no plano internacional
manutenção das relações de amizade, de solidariedade e de cooperação com a classe operária Internacional e as Centrais Nacionais não Africanas.
b. estreita cooperação com as organizações dos trabalhadores dos outros países Africanos.
Também é necessário descrever brevemente as miseráveis condições de vida e de trabalho a que estão sujeitos os trabalhadores Angolanos.

OS TRABALHADORES FORÇADOS
São recrutados através de uma convenção assinada entre o colono e o Administrador. Este último dá a ordem aos Chefes tradicionais autóctones para lhe enviarem homens fortes e robustos para a cultura do café, do palmar e outras.
Esses são enviados para Tonga e Catete onde cultivam os campos sob vigilância das forças armadas. A qualquer greve contra esse regime e contra os tratamentos ­desumanos, os colonos e os militares respondem a tiro.
O trabalho forçado mobiliza mais de 50% dos trabalhadores Angolanos.
Esse sistema de trabalho forçado é acompanhado por métodos herdados do esclavagismo. É estimulado pelos agricultores e pelas empresas dos monopólios que ­desenvolvem entre eles uma forte concorrência na procura de mão-de-obra.
Os Administradores vendem cada trabalhador forçado a um preço que varia entre os 1.000 e os 1.200 escudos. E defendem-se da acusação de vender os trabalhadores afirmando que é apenas um aluguer.

OS TRABALHADORES AGRÍCOLAS E CAMPONESES
A exploração assenta nas grandes companhias concessionárias que praticam o regime de monocultura, nas grandes plantações nas mãos dos colonos portugueses e nos pequenos terrenos dos Angolanos.
A extensão das propriedades dos colonos portugueses varia geralmente entre 100 e 500 hectares. Enquanto que a mão-de-obra utilizada na produção é exclusivamente Africana, a que não trabalha sob forma de contrato obrigatório constitui um outro aspecto importante do método de exploração do camponês Angolano. Ele cultiva produtos determinados (quase sempre algodão e café), em detrimento dos produtos de consumo do camponês.
Tal é, resumidamente, a vida dos trabalhadores e dos camponeses Angolanos.
Uma vida que não é da nossa época mas da idade média.

SINDICATOS COLONIAIS
Existem dois sindicatos em Angola mas são portugueses, ou seja europeus:
1. o sindicato nacional dos empregados do comércio e da indústria;
2. o sindicato nacional dos motoristas, ferroviários e marinheiros.
São sindicatos Fascistas, Salazaristas, cujos dirigentes são nomeados pelo ­Governador-Geral e pelo Ministro das Colónias.
O direito de adesão é dado aos originários de Portugal e aos Angolanos ­assimilados, ou por outras palavras: Angolanos que têm a mesma forma de viver e os mesmos direitos que os portugueses. Bebem e comem nos hotéis de luxo reservados apenas aos Europeus.
Devemos render homenagem aos que nos ajudaram e que continuam a fazê-lo sem condições políticas, e que formam os nossos melhores quadros.
Tendo já tido a ocasião de examinar, aqui mesmo em Léopoldville, o problema de congregar todas as organizações que lutam pela libertação de Angola, tentámos, várias vezes, na mesma linha de pensamento, expor as nossas próprias concepções sobre a cooperação franca e sincera de todas as organizações.
Para acelerar a nossa independência e promover uma verdadeira política de ­libertação económica e social, impõem-se necessariamente a unidade dos movimentos ­políticos e sindicais assim como o reforço da sua frente de luta.
A participação da UNTA na conferência das organizações das Colónias portuguesas, que teve lugar em Abril último em Casablanca, contribuiu para o reforço da unidade dos países sob dominação portuguesa.
Sempre animados pelas mesmas preocupações, apelámos repetidamente aos dirigentes dos partidos políticos para a criação de uma Frente e ainda hoje reiteramos esse apelo.
Vamos manter-vos informados sobre cada passo do desenvolvimento da luta para a libertação nacional. E aqui temos, Senhores Representantes da imprensa e Meus Senhores, uma nova iniciativa tomada pelo nosso Comité sobre a elaboração de um Projecto do programa da Frente Nacional de Libertação de Angola [sic] que submeteremos aos partidos políticos.
Baseamo-nos na vontade dos trabalhadores e da população Angolana que reclamam a unidade das organizações que lutam pela libertação de Angola.
LÉOPOLDVILLE, 12 DE MARÇO DE 1962

Conferência de imprensa de Bernard Dombele, da UNTA

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