Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
51, Avenue Tombeur de Tabora
LÉOPOLDVILLE
À intenção do Povo Angolano [!]
É com profundo pesar e com extrema indignação que o Comité Director do MPLA cumpre o doloroso dever de informar à opinião pública angolana da [a] morte, em Angola, dos seguintes combatentes da nossa organização militar:
Tomás Francisco Ferreira; Daniel Gomes de Castro; Manuel Belo [de] Guimarães; João Gomes; Rui Victor Pinheiro de Melo (PANCHITO); Domingos Francisco; Sebastião Hungo Gomes; João Domingos; Joaquim dos Santos Francisco; Jacinto Mahumba; Almeida da Silva Miguel; Augusto Maringo; António Quimana; António Bastos; José [João] Dumba Gomes; Mendes Valada; Domingos Miguel; Sebastião Gueia Dungo; João Simão; Miguel; João Mateus.
Formando um dos esquadrões da nossa organização militar, esses filhos gloriosos da pátria angolana tinham a missão de juntar-se aos “maquis” do MPLA da [na] região dos Dembos e de levar socorros de urgência pedidos ao MPLA pelas populações da região de Nambuangongo que estavam cercadas e ameaçadas de morte pelas tropas portuguesas.
O esquadrão era portador de armas, munições, medicamentos, roupas, calçado, material de propaganda política, etc. tudo com um valor superior a meio milhão de francos congoleses.
Por meio de ciladas capciosas, explorando a confiança fraternal que os nossos guerrilheiros depositam nos combatentes de outras organizações políticas angolanas, e usando da traição, grupos armados da União das Populações de Angola (UPA) cercaram e prenderam o nosso esquadrão na região de Caluca, em território angolano, em nove de Outubro de 1961 (e não em 9 de Setembro como, por lapso, escrevemos na nossa nota ref. A/M/F, endereçada à UPA em 10 do corrente).
Depois de obrigados a fazer várias deslocações, e depois de submetidos a espancamentos, à fome e a humilhações, os guerrilheiros dos referidos esquadrões [do referido esquadrão] foram massacrados por militantes da organização militar da União das Populações de Angola (UPA), que se apoderaram das armas, munições e restantes bagagens do mesmo esquadrão.
Fontes seguras do interior de Angola informaram-nos que, entre a data da prisão do nosso esquadrão à [e a] data do massacre dos nossos amados irmãos, responsáveis dos escalões superiores da UPA consultaram-se entre si sobre o destino a dar ao nosso esquadrão.
O Comité Director do MPLA chama, por conseguinte, a atenção da opinião pública angolana, para o carácter consciente e premeditado da decisão do massacre ordenado pelos responsáveis da União das Populações de Angola (UPA).
Angolanos que se dizem lutar pela independência de Angola e para a dignidade do Povo Angolano tomaram já, por actos, a gravíssima decisão de introduzir a luta fratricida nos campos de batalha de Angola, perseguindo e liquidando fisicamente os nacionalistas e os guerrilheiros filiados a outras organizações patrióticas angolanas.
O Povo Angolano deve saber que decisões e actos dessa natureza comprometem seriamente o prestígio internacional da luta do Povo Angolano, e fazem correr o risco de as forças mundiais – que se solidarizam com a causa do Povo de Angola e a apoiam – suspenderem todo o apoio aos patriotas angolanos a fim de, justamente, não contribuírem para a luta fratricida inaugurada pela UPA.
Uma nódoa inextinguível mancha de vergonha o combate justo, heróico e glorioso do Povo Angolano. O Comité Director do MPLA está, porém, totalmente confiante em que o grande Povo de Angola saberá tomar as medidas adequadas para que actos como esse jamais se cometam sobre o sagrado solo pátrio.
Povo Angolano, prossegue o teu combate, com a justiça que te assiste e com [a] elevação de sentimento[s] que te caracterizam!
Inclinando-se diante da memória imortal dos citados filhos do Povo Angolano, o Comité Director do MPLA transmite profundas condolências às famílias e aos amigos dos patriotas massacrados.
Confiamos na justiça de Deus e do Povo soberano.
Glória eterna aos valorosos filhos do Povo Angolano, assassinados no campo da honra!
Ignomínia eterna aos carrascos dos seus irmãos!
Léopoldville, 23 de Novembro de 1961
O COMITÉ DIRECTOR DO MPLA
Comunicado «À intenção do povo angolano!» sobre morte de Tomás Ferreira e 20 outros camaradas (Léopoldville)