Comunicado do MPLA sobre morte de Tomás Ferreira

Cota
0027.000.029
Tipologia
Comunicado
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»


MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
51, Avenue Tombeur de Tabora
LÉOPOLDVILLE

À intenção do Povo Angolano [!]

É com profundo pesar e com extrema indignação que o Comité Director do MPLA cumpre o doloro­so dever de informar à opinião pública angolana da [a] morte, em Angola, dos seguintes combatentes da nossa organização militar:
Tomás Francisco Ferreira; Daniel Gomes de Castro; Manuel Belo [de] Guimarães; João Gomes; Rui Victor Pinheiro de Melo (PANCHITO); Domingos Francisco; Sebastião Hungo Gomes; João Domingos; Joaquim dos Santos Francisco; Jacinto Mahumba; Almeida da Silva Miguel; Augusto Maringo; António Quimana; António Bastos; José [João] Dumba Gomes; Mendes Valada; Domingos Miguel; Sebastião Gueia Dungo; João Simão; Miguel; João Mateus.
Formando um dos esquadrões da nossa organização militar, esses filhos gloriosos da pátria angolana tinham a missão de juntar-se aos “maquis” do MPLA da [na] região dos Dembos e de levar socorros de urgência pedidos ao MPLA pelas populações da região de Nambuangongo que estavam cercadas e ameaçadas de morte pelas tropas portuguesas.
O esquadrão era portador de armas, munições, medicamentos, roupas, calça­do, material de propaganda política, etc. tudo com um valor superior a meio milhão de francos congoleses.
Por meio de ciladas capciosas, explorando a confiança fraternal que os nossos guerrilhei­ros depositam nos combatentes de outras organizações políti­cas angola­nas, e usando da traição, grupos armados da União das Popula­ções de Angola (UPA) cercaram e prenderam o nosso esquadrão na região de Caluca, em territó­rio angolano, em nove de Outubro de 1961 (e não em 9 de Setembro como, por lapso, escrevemos na nossa nota ref. A/M/F, endereça­da à UPA em 10 do corrente).
Depois de obrigados a fazer várias deslocações, e depois de submetidos a espancamentos, à fome e a humilha­ções, os guerrilheiros dos referidos es­qua­drões [do ­referido esquadrão] foram massacrados por militan­tes da organi­zação militar da União das Populações de Angola (UPA), que se apoderaram das armas, munições e res­tantes ­bagagens do mesmo esqua­drão.
Fontes seguras do interior de Angola informaram-nos que, entre a data da prisão do nosso esquadrão à [e a] data do massacre dos nossos amados irmãos, res­ponsáveis dos escalões superiores da UPA consultaram-se entre si sobre o desti­no a dar ao nosso esquadrão.
O Comité Director do MPLA chama, por conseguinte, a atenção da opinião pública angolana, para o carácter consciente e premeditado da decisão do massa­cre ordenado pelos responsáveis da União das Populações de Angola (UPA).
Angolanos que se dizem lutar pela independência de Angola e para a dignida­de do Povo Angolano tomaram já, por actos, a gravíssima decisão de introduzir a luta fratricida nos campos de batalha de Angola, perseguindo e liquidando fisicamente os nacionalistas e os guerrilheiros filiados a ou­tras organiza­ções patrióticas angolanas.
O Povo Angolano deve saber que decisões e actos dessa natureza compro­metem seriamente o prestí­gio internaci­onal da luta do Povo Angolano, e fazem correr o risco de as forças mundiais – que se solidari­zam com a causa do Povo de Angola e a apoiam – suspenderem todo o apoio aos patriotas angola­nos a fim de, justamente, não contribuí­rem para a luta fratricida inaugurada pela UPA.
Uma nódoa inextinguível mancha de vergonha o combate justo, heróico e glorioso do Povo Angolano. O Comité Director do MPLA está, porém, totalmen­te confiante em que o grande Povo de Angola saberá tomar as medidas adequadas para que actos como esse jamais se cometam sobre o sagrado solo pátrio.
Povo Angolano, prossegue o teu combate, com a justiça que te assiste e com [a] elevação de sentimento[s] que te caracterizam!
Inclinando-se diante da memória imortal dos citados filhos do Povo Angolano, o Comité Director do MPLA transmite profundas condolências às famílias e aos amigos dos patriotas massacrados.
Confiamos na justiça de Deus e do Povo soberano.
Glória eterna aos valorosos filhos do Povo Angolano, assassinados no campo da honra!
Ignomínia eterna aos carrascos dos seus irmãos!
Léopoldville, 23 de Novembro de 1961
O COMITÉ DIRECTOR DO MPLA

Comunicado «À intenção do povo angolano!» sobre morte de Tomás Ferreira e 20 outros camaradas (Léopoldville)

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados